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30 de out. de 2011

Citigroup (Citibank)

          Em 1812, Samuel Osgood, amigo de George Washington, funda o City Bank of New York. O primeiro depósito, na agência da Wall Street nº 22, foi de US$ 100.
          Durante a Guerra Civil, em 1856, é o primeiro banco a oferecer ajuda ao governo americano, no valor de US$ 70 milhões.
          No Japão, inicia operações em 1870 e no Brasil, chega em 1915.
          Em 1955, em uma operação de US$ 165 milhões, a fusão com o First National Bank of the City of Nova York resultou na primeira mudança do nome da companhia em 90 anos. O velho nome foi substituído com relutância, mas a mudança era uma condição para o acordo. Então, naquele ano, National City Bank of New York tornou-se First National City Bank of New York. Como George Moore colocou em suas memórias, "como ficou, a mudança foi uma boa ideia porque havia outros National City Banks no país, mas nenhum outro First National City. Através da fusão obtivemos relacionamentos que seriam importantes em nosso direcionamento para nos tornarmos o maior assim como o melhor banco do mundo".
          Em 1958, o First National City Bank decidiu unir-se ao êxodo e se transferiu para o centro de Manhattan. O velho lar na Wall Street, 55 estava muito congestionado e capenga para a moderna segurança e tecnologia e o banco planejava expansão. James Stillman Rockefeller, então presidente do banco, decidiu que a Park Avenue, 399 deveria tornar-se o escritório central, que incluía a filial de varejo. O novo edifício foi construído com design em vidro e aço, que era coqueluxe na época.
          No Brasil, o terreno na avenida Paulista, onde está a sede brasileira no nº 1111, foi adquirido em 1983 por US$ 28 milhões. Cerca de 20% do lucro mundial do Citi naquele ano veio do Brasil.
          No início de 1987, numa manhã ensolarada em época de férias, e a cidade estava vazia, avistou-se uma cena esquisita na Avenida Paulista, em São Paulo. Havia atiradores de elite por toda parte, carros de combate estacionados nas esquinas, soldados de farda camuflada correndo ao lado de caminhões blindados, uma operação de guerra acontecia ali, no novo centro financeiro de São Paulo (na época). A ditadura militar havia acabado há pouco tempo, e a primeira coisa que podia ocorrer é que estava-se presenciando uma revolução armada. Mas o motivo era bem menos dramático: o Citibank estava se mudando de sua antiga sede na av. Ipiranga para o novo prédio da Paulista, e naquela manhã estava sendo feito o transporte de valores do cofre do banco. Na era pré-Collor, a maior parte dos investimentos era em títulos ao portador, e o Citi tinha o maior depósito de ouro privado e o maior cofre de aluguel do país, daí a necessidade de tamanha precaução. Logo circularam rumores de que o banco tinha um cofre subterrâneo de 20 andares, equivalente à altura visível do edifício (o que era mentira, mas o banco realmente tem 5 andares de subsolo).
         Em 1987, o Citi firma-se como o maior banco dos EUA, com valor de mercado de US$ 7,17 bilhões. Assume, em 1991, o Banco Internacional da Colômbia.
          No Brasil, em 1991, depois de durante muitos anos ter restringido sua atuação a grandes empresas e pessoas de alta renda, voltou-se para a base da pirâmide. Nessa época, o Citi abriu agências e aumentou sua carteira de clientes de 80.000 para mais de 200.000 pessoas em poucos meses. A iniciativa, porém, foi um fracasso. A estrutura do banco não estava preparada para um crescimento tão rápido. A qualidade dos serviços, um dos patrimônios do Citi no Brasil, caiu significativamente. Erros em operações simples, como o pagamento de contas, tornaram-se comuns. Os novos - e muitos dos antigos - clientes se decepcionaram, migrando para a concorrência.
          No final de janeiro de 1992, o executivo argentino El Gato, como é conhecido Richard Handley, assumiu a diretoria-geral do Citi na América Latina, escolhido pela matriz, em detrimento de Antonio Boralli, o principal executivo do Citi no Brasil e o primeiro brasileiro a ocupar a presidência em 76 anos de atuação do Citi no Brasil. O substituído foi Alan MacDonald, guindado à área de corporate finance nos Estados Unidos. Handley chefiou Boralli por apenas dois meses e meio - mas eles protagonizaram, nesse curto período, uma crônica de rixas e disputa pelo poder dentro da organização. Para os amigos, Boralli caiu por excesso de competência, ou seja, Handley temia que o estilo duro e inflexível de Boralli pusesse fazer sombra a ele dentro da instituição - e tratou logo de afastá-lo. Os inimigos de Boralli apresentavam uma versão menos romântica e elegante. Para eles, Boralli caiu por incompetência mesmo. A matriz estaria de olho no brasileiro desde que, dois anos antes, a filial do Citi no país passou a integrar o Banco Central uma constrangedora lista de vinte bancos que faziam side letter - certificados de depósitos bancários de "gaveta", ilegais, indexados à correção cambial. No mesmo ano d 1990, ainda segundo os inimigos, o Citi ficou com a fama de "campeão das concordatas". Empresas que recorreram ao expediente para não quebrar de vez - com o por exemplo, Casas Pernambucanas, Cibisa e Chocolates Vitória - tinham contraído empréstimos volumosos junto a banco. A concentraçõd de clientes inadimplentes na carteira era um indício de que os instrumentos de análise de crédito eram deficientes. 
          Em maio de 1992, o executivo Alvaro de Souza assume a presidência do Citibank no Brasil. Em 1989, quando ocupava o posto de superintendente da área de investimentos do Citi, ele fora preterido em favor de seu colega Antônio Boralli. Então, depois de passar quatro anos fora do Citi, ele assumiu justamente o lugar que era de Boralli. No período em que ficou fora do Citi, Souza comandou o banco do empresário Roberto Marinho, o ABC-Roma, e dirigiu o Crefisul.
          Em abril de 1998, acontece a megafusão de US$ 83 bilhões entre Citicorp, então comandado pelo banqueiro John Reed e Travelers Group Inc., dirigido por Sandy Weil, que controlava o Smith Barney, formando o Citigroup.
          Em meados de 2001, o Citibank teria chegado muito perto da aquisição do Banco Mercantil de São Paulo, do banqueiro Gastão Vidigal. A consultoria Accenture, ex-Arthur Andersen, já teria sido contactada para avaliar a integração bancária entre as duas instituições, abrangendo as 220 agências do banco paulista, O negócio não foi concretizado.
          Continuando sua expansão no exterior, adquire, em 2001, o Banamex do México por US$ 12 bilhões e dois anos depois paga US$ 2,7 bilhões pelo sul-coreano KorAm Bank.
          Em 2003 já se tornara o maior grupo financeiro do mundo com US$1.136 trilhões de ativos. Dois anos depois, em 2005, o valor de mercado do Citi atinge US$ 238 bilhões, o maior do mundo no setor bancário.
          No início de 2006, o Citi se deparava com uma série de reveses sofridos em mercados importantes. Até início de abril, o banco estava proibido pelo Federal Reserve, o banco central americano, de fazer aquisições em qualquer lugar do mundo. As autoridades americanas alegavam que os controles internos da instituição eram falhos na detecção de irregularidades. O Citi era réu confesso em diversas infrações internacionais. No Japão, fraudes cometidas por alguns executivos do private bank fizeram as autoridades japonesas ordenar o fim dessas atividades no país em 2004. Na mesma época, operações com títulos públicos geraram problemas na França e na Alemanha. Por volta de 2005, o Citi foi multado na Austrália por ter supostamente usado informações privilegiadas em operações com ações.
          No Brasil, por volta de abril de 2006, tradicionalmente associado a grandes empresas e a uma clientela de alto poder aquisitivo, o Citibank tenta - pela segunda vez em 15 anos - disputar espaço no concorrido mercado financeiro de massa. Sob a batuta de Gustavo Marin, então presidente da operação brasileira, o banco tinha como estratégia os donos de cartões de crédito pela Credicard. Os 2,5 milhões de pessoas que ficaram com o Citi após comprar a parte do Credicard do Unibanco, em parceira com o Itaú, seriam o tanque em que o banco tentaria pescar novos clientes. Para sustentar fisicamente essa expansão, o banco planejou ampliar sua rede dos então 133 para no mínimo 600 pontos-de-venda até 2009, incluindo agências bancárias e lojas da financeira Citifinancial, lançada em 2003. Pouco depois da compra do BankBoston pelo Itaú, no início de maio de 2006, o Citibank partiu com muito apetite e contratou mais de 100 profissionais do BankBoston.
          No primeiro trimestre de 2007 compra o japonês Nikko por US$ 10 bilhões e o banco online inglês Egg por US$ 1,1 bilhão. No mesmo ano, contudo, perde US$ 6,5 bilhões no terceiro trimestre e cerca de 17 mil funcionários são demitidos. A causa principal são as perdas com títulos hipotecários no mercado subprime. Ainda em 2007, no quarto trimestre, tem prejuízo de US$ 9,83 bilhões. O CEO Charles Prince renuncia e é substituído por Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro, que ficou dois meses no cargo.
           No ano seguinte (2008), já sob o comando de Vikram S. Pandit, no primeiro trimestre as ações caem ao valor de dezembro de 1998 (US$ 22,19). Os prejuízos trimestrais continuam, e no terceiro trimestre, o quinto consecutivo de prejuízo, mais 11 mil funcionários são demitidos. No final do ano, com mais um prejuízo trimestral, desta vez de US$ 8,29 bilhões, o Citi recebe US$ 45 bilhões do governo para reforçar o capital do banco e remover ativos podres do balanço.
          Antes de o acordo ser anunciado, porém, muitos clientes do banco no Brasil - e provavelmente em todos os 109 países em que o Citi estava presente - ficaram preocupados com o futuro da instituição. O Citi, como tantos outros bancos, se tornara alvo constante de boataria de quebradeira. Num só dia, suas ações caíram 18% na Bolsa de Nova York. Seu valor de mercado, que chegou a ser de US$ 274 bilhões em 2006, caíra para US$ 20,5 bilhões em 21 de novembro (2008).
          A filial brasileira, então sob a presidência de Gustavo Marin, contribuiu positivamente para o banco suportar a crise. O Citi anunciou, em novembro de 2008, um lucro recorde no país, de R$ 1,2 bilhão no primeiro semestre de 2008. No ano mais difícil da história do banco no mundo, esse lucro deu sua contribuição para aliviar o caixa da matriz - ainda que pequena. Pouco mais que um grão de areia no mar de necessidades do banco. Na mesma semana em que Obama anunciou sua equipe (para o primeiro mandato, em novembro de 2008), o Citibank, então o terceiro maior banco do país, teve de ser salvo pelo governo com uma injeção de US$ 249 bilhões.
          Na manhã da sexta-feira, dia 16 de janeiro de 2009, aconteceu o impensável: depois do anúncio de mais um prejuízo bilionário, que fez com que suas perdas acumuladas de 2008 atingissem U$ 18,7 bilhões, o Citibank anunciou sua divisão em duas partes. O banco de investimentos, que usava a marca Smith Barney, foi vendido para o Morgan Stanley, que pagou US$ 2,7 bilhões pelas unidades da corretora. Em 2009, o governo americano aumenta a participação no Citi para 36%.
          No Brasil, no silêncio da manhã de um sábado, dia 8 de outubro de 2016, o Itaú Unibanco (vide origem da marca Itaú Unibanco neste blog) anunciou a compra da unidade de varejo no Brasil do Citibank, por 710 milhões de reais. As 71 agências, 315 mil clientes correntistas, R$ 35 bilhões entre depósitos e ativos sob gestão (valores brutos na data-base de 31 de dezembro de 2015), 1,1 milhão (?) de cartões de crédito e R$ 6 bilhões de carteira de crédito passaram para o banco brasileiro. O Citibank desiste definitivamente de atuar nesse segmento no Brasil. O varejo do Citibank na Argentina ficou com o Santander.
          Em março de 2018, então com 2.500 funcionários, metade do que tinha como banco de varejo, e sob o comando de Marcelo Marangon, o Citi finaliza o plano de investimento no setor de atacado no país.
(Fonte: site da empresa / revista Exame - 29.04.1992 / 23.12.1992 / revista América Economia - 07.05.1998 / revista Forbes 18.07.2001 / revista Exame - 26.04.2006 / revista Época - 01.12.2008 / revista IstoÉDinheiro - 21.01.2009 / Atualidades - Ruy Marinho - 02.02.2009 / jornal O Estado de S.Paulo - 28.02.2009 / G1 - 08.10.2016 / jornal Valor - 02.03.2018 - partes)

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