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6 de out. de 2011

CSN / CSN Cimentos / CSN Mineração

          O Brasil só daria o primeiro grande passo rumo à industrialização durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Como no conflito anterior, o estrangulamento do comércio internacional obrigou o país a buscar soluções locais, passando a produzir parte do que antes era importado.
          Além do contexto econômico, entretanto, dessa vez houve um fator político determinante. Mantendo-se numa posição ambígua no início da guerra, o Brasil cerrou fileiras contra o nazismo depois de um acordo com os Estados Unidos que viabilizaria a construção da primeira grande usina siderúrgica. Fundada em 1941, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, a Companhia Siderúrgica Nacional - CSN entrou em operação em 1946.
          A CSN, de 1979 a 1991, somou cerca de 5 bilhões de dólares de prejuízo. Como estava no vermelho, recebia aportes do governo: foram mais de 7 bilhões no mesmo período. No início dos anos 1990, a CSN estava em situação tão deplorável que o governo Collor cogitou em fechá-la.
          Sua privatização estava prevista para o dia 22 de dezembro de 1992, mas um pacote de restrições ao programa de privatizações, do governo Itamar Franco, adia todos os leilões, a começar pelo da CSN. Na cabeça de Itamar, as estatais brasileiras eram, no conjunto, um espécie de sétima maravilha do mundo. Só que, movidos pela fria realidade dos balanços, os investidores - de dentro, fora ou de onde forem - não partilhavam do entusiasmo ufanista de Itamar. Dentre uma série de medidas foi incluída a remoção de todas as diretorias de siderúrgicas que ainda estavam sob controle estatal, não se sabe bem por quê. Em meio a tanto desvario, não chegou a surpreender a demissão de mais um executivo de estatal que, como Wilson Brumer na Vale do Rio Doce, se moldou por padrões de excelência dignos das mais competentes empresas privadas. O demitido, Roberto Procópio de Lima Netto, foi afastado da CSN, muito mais por suas virtudes do que por qualquer outro motivo. Lima Netto conquistou o apoio à ideia da privatização dos aguerridos operários dessa estatal que é o berço da moderna industrialização do país. Ao assumir a CSN em abril de 1990, vindo do grupo Monteiro Aranha, ele encontrou Volta Redonda, onde fica a usina, em pé de guerra. Enfrentou uma greve de sessenta dias de imediato, mas não se intimidou. Demitiu 6.000 funcionários, enxugou custos e investiu em produtividade. Em 1991, a CSN, deficitária crônica, gerou lucro. 
          Em abril de 1993, a CSN, considerada um dos pilares mais sólidos do estatismo nacional, é privatizada. Arrematada por 1,05 bilhão de dólares, a Companhia Siderúrgica Nacional sai de sua longa letargia e começa a operar como empresa privada. O artífice do grupo dos cinco ganhadores, e escolhido para a presidência da companhia é Roberto Procópio Lima Netto. O consórcio foi formado por Docenave, Bamerindus, Vicunha, a trading Emesa e o clube de investimentos dos empregados da CSN. Além desse consórcio, quatro bancos privados - Itaú, Real, Nacional e Bradesco - entraram como acionistas minoritários. O grupo Vicunha ficou com 9,3% da siderúrgica. Cinco meses depois já era possível notar algumas transformações: a melhora nas relações entre patrões e empregados; 11% do capital da empresa já estava nas mãos de empregados e aposentados da siderúrgica; o comércio local aumentava sensivelmente suas vendas; abriam-se novas vaas de emprego na região e a valorização dos imóveis da região era realidade.
          Benjamin Steinbruch, nascido em 1954, primogênito do co-fundador do grupo Vicunha Mendel Steinbruch, não podia ser considerado um especialista em mineração ou em siderurgia. Porém, com seus sócios, viu no negócio uma oportunidade para escapar do cerco sofrido pela indústria têxtil brasileira. Até então um desconhecido, começou a despontar no setor de aço.
          Em maio de 1996, a CSN convida a executiva Maria Silvia Bastos Marques para comandar a empresa. Mais do que para comandar, para reestruturar a companhia, privatizada 3 anos antes. Sua missão: preparar a CSN para enfrentar a competição numa economia cada vez mais globalizada. Antes do parto de seus dois filhos gêmeos, Olavo e Catarina, ela se dedicou à reengenharia e à participação da CSN na privatização da Light, com base em sua experiência em desestatização da época em que trabalhava no BNDES.
          Em 1997, o Steinbruch arremata a Vale em uma disputa com Antonio Ermírio de Moraes. Steinbruch irrompia a cena corporativa brasileira como o jovem controlador de duas das maiores companhias do país. Em 2002, depois de dois anos de negociações, houve o descruzamento das ações da CSN e da Vale, em definitivo. Steinbruch vendeu sua fatia na Vale para a Previ e o Bradesco.
           Antes um ralo de dinheiro, nos primeiros oito anos após a privatização, a CSN acumulou 1,7 bilhão de dólares de lucro. "Passou a ser muito diferente, um complexo com usina, minas, ferrovia e porto, e auto-suficiência em energia", disse o economista João Luis Barroso, diretor executivo da empresa.
          Se até então a estratégia de se valer da mão forte de grandes bancos para expandir seu império parecia sob controle, em 2015, Benjamin Steinbruch tem em mãos um de seus maiores desafios: equacionar uma dívida líquida de R$ 22 bilhões da CSN, disparada principalmente pela conjuntura, com a queda de 70% do preço do minério de ferro, ao longo de quatro anos. Para ajudar-lhe na empreitada, em março de 2015 contratou o executivo Paulo Caffarelli, ex-vice presidente do Banco do Brasil, para ser seu braço direito na empresa. Steinbruch precisaria agir rápido, se quisesse continuar mantendo a alcunha de Barão do Aço, que a revista britânica The Economist lhe impingiu após a privatização da CSN.
           Em 2016, com mais de 20 mil colaboradores, a CSN passou a ser uma multinacional de, além de siderurgia, também mineração (mina Casa de Pedra), cimento, logística e energia. Atua em toda a cadeia produtiva do aço, desde a extração do minério de ferro, até a comercialização de produtos siderúrgicos de alto valor agregado.
          Uma divergência sobre os rumos da diretoria da CSN e de outras empresas familiares tornou pública a disputa entre os primos em janeiro de 2018. Na época, Benjamin Steinbruch disse que não reconheceria mais o acordo de acionistas do grupo e não aceitava as indicações feitas por Clarice para os conselhos das empresas da família Steinbruch. Em março daquele ano, Clarice e Léo entraram na Justiça pedindo a dissolução das sociedades que os filhos da família têm nas empresas do grupo.
          Em maio de 2021, decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo encerrou uma disputa, que já durava pelo menos três anos, entre herdeiros do grupo de controle da CSN. A segunda câmara reservada de Direito empresarial do TJ-SP negou um pedido de dissolução das empresas do conglomerado da família Steinbruch. A decisão favoreceu o empresário Benjamin Steinbruch e seus irmãos em detrimento dos primos Leo e Clarice — que, em contrapartida, recuperaram seus direitos políticos nas empresas.
          Em 2021, Benjamin Steinbruch decidiu abrir o capital da CSN Mineração, e planejava fazer o mesmo com a CSN Cimentos, que tem feito importantes movimentos de consolidação para se expandir na indústria de cimento.
          Em 30 de junho de 2021, a CSN anunciou que sua subsidiária CSN Cimentos chegou a um acordo para adquirir a Elizabeth Cimentos, do fundo Farallon, por R$ 1,08 bilhão. De acordo com a empresa, a compra adiciona uma capacidade produtiva de 1,3 milhão de toneladas por ano para a CSN Cimentos, com atuação relevante no Nordeste, via equipamentos modernos e “substanciais reservas de calcário de alta qualidade”.
          Na manhã de 10 de setembro de 2021, a CSN informou que a sua subsidiária CSN Cimentos assinou contrato para adquirir os ativos do grupo Holcim (antiga LafargeHolcim) no Brasil. A operação envolve o valor de US$ 1,025 bilhão (cerca de R$ 5,33 bilhões). A CSN explica que a aquisição dos ativos adiciona uma capacidade produtiva de 10,3 milhões de toneladas de cimento por ano à CSN Cimentos, por meio de plantas localizadas no Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, além de substanciais reservas de calcário de alta qualidade e unidades de concreto e agregados. Com a aquisição dos ativos da LafargeHolcim, a CSN salta de três unidades produtivas para nove unidades no Sudeste — quatro em Minas Gerais, três no Rio de Janeiro, uma em São Paulo e uma no Espírito Santo. A aquisição também agrega à cimenteira uma fábrica na Paraíba e outra em Goiás.
          Em 24 de novembro de 2021, a CSN adquiriu a totalidade das ações da fabricante de embalagens para alimentos, a paranaense Metalgráfica Iguaçu. A operação, ainda a ser aprovada pelos acionistas, vai tornar a Iguaçu subsidiária integral da CSN.
          Em 4 de julho de 2022, a CSN e sua controlada CSN Energia informaram que assinaram contrato para aquisição da Chapecó, que detém o direito de exploração da usina hidrelétrica Quebra-Queixo, localizada em Santa Catarina, pelo preço base de 427,5 milhões de reais. As partes vendedoras são a Astra Infraestrutura I, fundo de investimento em participações administrado pela Reag Administradora de Recursos, e a BMPI. A usina Quebra-Queixo tem uma capacidade instalada de 120 megawatts médios. O objetivo da aquisição é "fortalecer a estratégia de expansão dos negócios da CSN, através de investimentos em energia renovável e autoprodução para a maior competitividade dos seus negócios", disse a empresa em fato relevante.
          A CSN venceu, em 29 de julho de 2022, o leilão de privatização da geradora de energia elétrica gaúcha CEEE-G, após disputar o ativo em modo viva voz com a Auren Energia. Por meio da Companhia Florestal do Brasil, a CSN ofereceu R$ 928 milhões pela geradora hidrelétrica, um ágio de 10,93% sobre o preço mínimo de R$ 836,9 milhões definido em edital. A oferta bateu a última proposta oferecida pela Auren Energia, do grupo Votorantim e do CPPIB, que havia ofertado R$ 927,2 milhões.
          Em 6 de setembro de 2022, o empresário Benjamin Steinbruch da CSN assinou um cheque de R$ 5,2 bilhões (US$ 1,025 bilhão), e concluiu a compra da cimenteira LafargeHolcim Brasil, anunciada um ano antes. O negócio foi aprovado pelo CADE. Em fato relevante, a CSN informou que sua subsidiária CSN Cimentos S.A., que concentra as operações de fabricação e comercialização de cimento do grupo, assume 100% das ações da LafargeHolcim (Brasil) S.A. O grupo Holcim passa a se chamar CSN Cimentos Brasil S.A. e passa a ser uma subsidiária integral.
          As aquisições da Elizabeth e da LafargeHolcim elevaram a CSN à posição de segunda maior produtora de cimento do Brasil, atrás apenas da Votorantim Cimentos e à frente da InterCement Brasil. A produção total anualizada e as vendas da nova CSN Cimentos estão estimadas em 12 milhões de toneladas – volume a ser confirmado até o final de 2023.
          A CSN já possui uma usina termelétrica (235 MW) na siderúrgica de Volta Redonda (RJ) e participações nas hidrelétricas de Itá (região Sul) e Igarapava (entre Minas Gerais e São Paulo).
          A LafargeHolcim traz receita líquida de R$ 2,15 bilhões obtida em 2021, com EBITDA de 64,2%, para a CSN Cimentos. Dez unidades operacionais (usinas integradas, usinas e blending) nos estados da Paraíba, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás e São Paulo serão integradas pelo grupo, com capacidade de 10,3 milhões de toneladas por ano.
          Após os dois negócios, a CSN Cimentos passa a ter 13 fábricas no Brasil.
          Em 22 de novembro de 2022, quase cinco anos depois de tornar pública a disputa societária, a família Steinbruch informou que chegou a um acordo sobre as participações acionárias dos primos Léo e Clarice, representados pela holding CFL, e Benjamin, Ricardo e Elizabeth, da holding Rio Purus, na CSN. O acordo deixa um gosto amargo para Léo e Clarice, já que Benjamin Steinbruch, presidente da CSN, manterá seu poder e influência em uma das maiores siderúrgicas do país. A holding CFL terá participação direta de 10,25% na siderúrgica, segundo o acordo, que ainda precisa ser aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Essa ramificação da família Steinbruch, no entanto, não poderá vender sua participação de uma só vez quando o negócio for aprovado pelo órgão antitruste. Há um bloqueio de nove meses para começar a vender essas ações, e elas não podem ser vendidas todas de uma vez. A Vicunha Aços é a principal acionista da siderúrgica da família Steinbruch, com 50,2% do capital votante da CSN. A Vicunha Aços é 100% controlada pela Vicunha Steel, que tem dois sócios: a Rio Purus, com 60%, e a CFL, com os 40% restantes. Pelos termos do acordo, o CFL deixará a estrutura da Vicunha Aços, que será integralmente controlada pela Rio Purus – representada por Benjamin, Ricardo e Elizabeth. Com isso, a Vicunha Aços passará a deter 40,9% do capital da siderúrgica. A Rio Iaco Participações, subsidiária da Rio Purus, continua com uma participação equivalente a 3,45% da CSN. As duas ramificações também são acionistas majoritárias da Vicunha Têxtil, além do Banco Fibra, diversos negócios imobiliários e do agronegócio.
          Em comunicado divulgado em 31 de outubro de 2023, a CSN informou sobre o acordo com a Talavera para a aquisição de 18,61% de participação na Panatlântica, uma empresa que atua no mercado de aços planos. Por meio dessa operação, a siderúrgica aumenta sua participação na Panatlântica para 29,91% do capital da companhia. O pagamento dos R$ 150 milhões será feito em moeda corrente nacional, dividido em seis parcelas anuais.
(Fontes: Coleção Folha - Fotos antigas do Brasil - Volume 10 - A Indústria / revista Exame - 23.12.1993 / 14.04.1993 / 29.09.1993 / 01.01.1997 / 30.05.2001 / revista Época Negócios - outubro 2015 / Capital Aberto - 22.05.2021  / Valor - 01.07.2021 / 10.09.2021 / 25.11.2021 / 17.05.2022 / Reuters - 04.07.2022 / Infomoney - 29.07.2022 / Valor - 08.09.2022 / 22.11.2022 / Suno - 01.11.2023 - partes)

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