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3 de out. de 2011

Sony

          Em 1945 um jovem inventor chamado Masaru Ibuka decidiu começar uma empresa entre as ruínas de um Japão mal saído da guerra. Ele alugou uma sala numa loja de departamentos semi destruída por um bombardeio em Tóquio, chamou sete funcionários, juntou 1600 dólares em economias pessoais e começou a trabalhar - sem nenhuma ideia do que fazer. O primeiro produto, uma panela elétrica para cozinhar arroz, foi um solene fracasso. Segundo Akio Morita, que se juntou à empresa pouco depois, o grupo se reunia em meio aos escombros e por semanas a fio tentava imaginar em que mercado a empresa atuaria.       
          A Sony foi fundada em 1946 por Masaru Ibuka e Akio Morita com o nome de Tokyo Tsushin Kogyo K.K. Essa empresa foi a primeira a fabricar um gravador de fita cassete no Japão.
          A partir do embrião da empresa como oficina de reparação de rádio, a Tokyo Tsushin Kogyo foi pioneira do rádio transistor do Japão, em 1955.
          Akio Morita, por volta de 1958, passou semanas a fio consultando dicionários na esperança de encontrar um nome que substituísse o original. Até se decidir por Sony, derivada da palavra latina sonu (som). "Ela casava perfeitamente com nossa filosofia e com o que pretendíamos. Não me cansei desse nome até hoje e o público também não", escreveu Morita. Nos anos 1950 existia também a expressão popular japonesa "sonny", que descrevia um jovem que fosse "inteligente e apresentável". Nos Estados Unidos, "sonny" era gíria americana para meninos. É de Morita também a frase "Uma marca não é necessariamente a alma do negócio, mas é o seu nome e isso é importante".
          Morita seria o representante da 15ª geração de sua família a assumir uma tradicional fábrica de saquê, em Nagoya, Japão, onde nasceu em 1921. A guerra interrompeu os planos de seu pai quando Morita ainda era estudante de física. Alguns anos depois, ele e o engenheiro Masaru Ibuka criavam uma companhia de telecomunicações, o embrião da Sony, trabalhando nas ruínas de uma loja de departamentos de Tóquio no pós-guerra. O primeiro salto ocorreu quando convenceu a americana Bell Laboratories a licenciar à sua minúscula companhia a tecnologia para fabricar transístores. Assim a Sony fez o primeiro rádio transistorizado do Japão, um dos menores modelos de bolso já produzidos no mundo.
          A habilidade de Morita para criar novos produtos vinha da observação. Quando se mudou com a família para Nova York, em 1963, aproveitava para estudar o mercado americano.
          Na década de 1970, a Sony derrapou. Desenvolveu o sistema de vídeo Betamax, mas não o licenciou. Concomitantemente, o gigante japonês Matsushita desenvolveu o VHS, sistema bastante inferior, e licenciou sua tecnologia. O sistema da Sony não emplacou e o VHS tornou-se um padrão mundial.
          No final dos anos 1970, porém, o lado observador do líder Morita teve seus frutos. Ele via pessoas ouvindo música nos carros e levando grandes rádios para os parques. Morita descobriu que os jovens gostavam de ouvir música aonde quer que fossem. Ele e a sua empresa criaram então o primeiro walkman, cujo lançamento foi em 1979. Não houve necessidade de pesquisas de mercado. "Nosso objetivo é levar novos produtos ao público antes de perguntar o que ele quer. O público não sabe o que é possível. Nós sabemos", disse Morita. O Walkman transformou a Sony na primeira empresa japonesa a conquistar o ocidente.
          Em fins de 1989, a Sony comprou a Columbia e a TriStar Pictures por 3,4 bilhões de dólares. Era o começo do fim de Hollywood, previu-se na ocasião. Passados cinco anos (em fins de 1994, a visão de uma Hollywood japonesa começou a ir a pique silenciosamente. Abandonada por talentos que sabiam como fazer dinheiro no ramo, a Sony admitiu que seu investimento na Columbia e na Tristar foi dizimado: riscou 2,7 bilhões de dólares do valor do negócio, anunciando que não poderia mais ter esperanças de recuperar o que aplicou nos dois estúdios. O futuro dos japoneses em Hollywood passou a apresentar-se sombrio.
          Em 1993, depois de sofrer um derrame, Morita deixa o comando da Sony. O grupo já envolvia uma gravadora, a CBS Records, e um estúdio de cinema, a Columbia Pictures. Morre de pneumonia em 3 de outubro de 1999, em Tóquio.
          Em 1996, a Sony entra no segmento de computadores pessoais criando a marca VAIO. Na criação da marca, as letras "V" e "A" formam um símbolo analógico, enquanto as vogais "I" e "O" se combinam para compor um sinal digital binário, representando a transição da Sony do analógico para o digital. Em 6 de fevereiro de 2014, a Sony anuncia a venda de sua divisão de PCs ao fundo de investimento Japan Industrial Partners.
          Em 15 se setembro de 2020, em comunicado enviado a varejistas, a Sony informa que a fábrica na Zona Franca de Manaus será fechada em 2021. A empresa produz eletrônicos na planta e deixará de vender diretamente a sua linha de televisores, áudios e câmeras. Afirma ainda que manterá a área de “games”, soluções profissionais, música e entretenimento - entre eles o playstation, principal produto que é importado. Ainda segundo a empresa, a “decisão visa fortalecer a estrutura e a sustentabilidade de seus negócios, para responder às rápidas mudanças no ambiente externo.”
          Fabricante do PlayStation, a Sony anunciou em fins de janeiro de 2022, a compra da desenvolvedora americana de jogos eletrônicos Bungie, conhecida por ser a criadora das franquias Destiny e Halo. O investimento de US$ 3,6 bilhões é uma resposta da Sony ao movimento da Microsoft, que duas semanas antes comprou a Activision Blizzard, por US$ 68,7 bilhões. Fundada em 1991, a Bungie foi subsidiária da empresa de Bill Gates entre 2000 e 2007.
(Fontes: revista Exame - 07.12.1994 / 15.12.1999 / Wikipédia / revista Forbes Brasil - 12.09.2001 / Exame - 13.04.2005 / Exame.com-MSN - 24.08.2015 / Exame - 04.08.1993 / livro: Coletânea HSM Management / msn - 19.09.2018 / Valor - 15.09.2020 / Eleven Financial - 01.02.2022 - partes).



English version:
          In the second world war, while serving in the Japanese navy, Akio Kyuzaemon Morita met a fellow enthusiast for technology, Masaru Ibuka. In 1946, the two started a telecommunications company called Tokyo Tsushin Kogyo, with 20 employees, the precursor of Sony.
          As things turned out, Mr Ibuka looked after research and product development while Mr Morita went out to raise the money and sell the goods. Mr Morita's great early coup was to persuade America's giant Western Electric to license its transitor know-how to his tiny firm (a move that infuriated Japan's powerful trade ministry, which was by-passed). After his chastening experience in Dusseldorf, Mr Morita journeyed on to Eindhoven in the Netherlands where the great Dutch electrical group, Philips, had its headquarters. Here was a company in a small country that had created a global brand. "If Philips can do it," he wrote to Mr Ibuka, "perhaps we can also manage."
          Clearly, the tongue-twister, Tokyo Tsushin Kogyo, had to go. Mr Morita combined the Latin word for sound, sonus, with the English expression "sonny-boy" to give an impression of a company that was full of energy and youthful exuberance. Keeping things to essentials underlay many of Mr Morita's creative decisions. In the late 1970s he asked the engineers at Sony to build a miniature stereo sound system. People could listen to music while exercising, he said. The  walkman has become synonymous with Sony, and imensely profitable. Sony charges a hefty premium for the creative content its brand name implies.
          There were disasters too. The Betamax video recorder was one. Though considered marginally better than the VHS recorder launched a year later in 1975 by the Japan Victor Company (both were based on an American design), the Sony version left little room for future improvement. Worse, Mr Morita upset manufacturers who wanted to make the Betamax recorder by driving too hard a bargain. The VHS design prospered and Mr Morita's Betamax lay dead in the water. A foray into Hollywood in 1989 also turned out to be an ill-judged, costly adventure. Whit that, the man who built up Sony as a global enterprise almost brought it to its knees.
          Mr Morita gave the impression of being a contradiction. Those close to him speak of the two sides to his personality. There was the strict Japanese traditionalist, the eldest con of a 300-year-old sake-brewing family in Nagoya who disinherited his own eldest son, Hideo Morita, for marrying without his consent. To the outside world he was jovial, talkative and incandescent personality who illuminated a room and fired imaginations. It was an act Mr Morita worked hard to perfect. With his tanned skin from skiing and tennis, bluish eyes, rare among Japanese, and mane of white hair parted in the middle, he looked the dandy. Hideo Morita called his father a "consummate performer" whom no one outside the inner family ever saw unmasked. "He had to act as the most international-understanding businessman in Japan," was how the son described him to John Nathan for his book, "Sony: The Private Life", published in September 1999. Like Soichiro Honda and other entrepreneurs of his generation, Mr Morita embraced the outside world, America especially, because there was so little to be exploited in post-war Japan. The domestic market was sewn up by pre-war giants such as Toshiba, Hitachi, Mitsubishi and relative newcomers like Matsushita. But embracing the outside world did not mean thAT Mr Morita enjoyed it.
(Fonte: The Economist - October 9th 1999)

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