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2 de out. de 2011

Tarpon

          No mundo dos pescadores, o tarpon é um peixe que vive em águas quentes e tropicais, pode alcançar mais de dois metros de comprimento e até 150 quilos. Muito bom de briga, é considerado verdadeiro troféu de pesca.
          Não foi à toa que, em 2002, José Carlos dos Reis de Magalhães, o Zeca, escolheu este nome para a sua gestora de investimentos. "Nascemos com o desejo de ser especial. Nas águas, há milhares de lambaris. Mas sempre quisemos voltar para casa com um peixe grande", conta Pedro de Andrade Faria, outro fundador da Tarpon. Marco Cauduro, também cofundador da Tarpon é dono da gestora Arbela. E Eduardo Mufarej completa o quadro de fundadores.
           Quando surgiu, a gestora reunia uma equipe muito jovem. O desafio inicial era a credibilidade. Quem entregaria recursos para meninos na casa dos 20 anos que, apesar da energia dos jovens, precisam acoplar experiências para evitar os arroubos? A resposta inicial veio de "family and friends" e a gestora começou com R$ 2,9 milhões sob gestão.
          Para superar a ausência de história e experiência, montou um conselho consultivo, formado por grandes investidores como Guilherme Affonso Ferreira, Luis Alves e Luis Stuhlberger. A Tarpon formatou um negócio que a diferencia entre as gestoras brasileiras - basicamente com cotistas estrangeiros, visão de longo prazo e investimentos em poucas companhias.
          Em 2007, num momento delicado em termos de relacionamento com os cotistas a empresa abre o capital e aumenta os recursos próprios sob gestão para investimentos. Levou um bom tempo para os cotistas entenderem que a empresa não tomaria o mesmo caminho de outras gestoras que listaram ações pelo mundo.
          Em seus primeiros dez anos de vida, a Tarpon esteve à frente de operações de destaque no mercado brasileiro. Em 2006, lançou a primeira oferta hostil de compra de controle em 27 anos no Brasil, para a Acesita. Em 2008, tentou formatar uma outra oferta, para ficar com a Sadia. E é da gestora o caso de maior sucesso de ativismo no Brasil, em sua intervenção na gestão da fabricante de produtos médico-hospitalares Cremer, em 2009. Adquiriu também a indústria de moda Morena Rosa.
          Em 2008, a Tarpon cria a empresa de energia renovável Omega, que tem participação em projetos de energia eólica e hidrelétrica em dez estados brasileiros. O fundo de private equity Warburg Pincus tornou-se acionista da Omega em 2010.
          Em fevereiro de 2015, a Tarpon entra firme na área educacional ao adquirir a Abril Educação, passando a deter 40,64% da companhia. Um ano antes já havia comprado 19,91%. Essas duas transações demandaram investimentos de R$ 1,3 bilhão, mas poderá chegar ao dobro ao estender a oferta aos acionistas minoritários. A transação marca a saída da família Civita da Abril Educação, uma possibilidade impensável na época em que o fundador Roberto Civita era vivo.
          Supersticioso, José Carlos dos Reis de Magalhães, o Zeca, fez questão de escolher o verde para ser a cor da gestora. O nome Tarpon também remete à prosperidade e multiplicação, representação simbólica do peixe. Diz a lenda que Zeca sempre sonhou em pescar um tarpon. Fisgou o seu primeiro logo após abrir a gestora, na Costa Rica. A partir daí não se sabe ao certo quantos mais foram parar em seu anzol.
          Em fins de 2012, a gestora Tarpon (Pedro Faria, da Tarpon, já era CEO da BRF internacional desde 2011), liderando um grupo de acionistas, juntou-se a Abilio Diniz, ex-proprietário do Grupo Pão de Açúcar e também sócio da BRF, para dar as cartas na BRF (resultado da fusão entre Sadia e Perdigão).
          Por mais que a intenção dos novos sócios fosse impor um ritmo mais expressivo de crescimento para a empresa, que dava sinais de ter se acomodado após o grande desafio de sua criação, a cúpula da BRF, literalmente sem mandar recado, dispensou membros da equipe de até então. Nildemar Secches, por exemplo, considerado durante muito tempo um dos mais competentes executivos brasileiros, quando esteve no comando da Perdigão e, um dos articuladores da compra da Sadia, foi despedido enquanto estava de férias em viagem em que estava incomunicável.
          A gestão de Diniz e da Tarpon começou e emitir sinais nebulosos. Galeazzi, que temia o avanço da concorrência no mercado brasileiro e achava que Faria não podia prescindir do período de experiência na operação local da BRF (os conselheiros, Abilio Diniz à frente, estavam encantados com o trabalho de Faria na área internacional), deixou o cargo em dezembro de 2014, e numa carta a conselheiros e executivos teria profetizado dias difíceis.
          Em 2 de janeiro de 2015, aos 40 anos, Pedro Andrade de Faria, sócio da gestora Tarpon assumiu o comando da BRF global. Empolgado com o sucesso do primeiro ano da nova gestão, Faria começou a segunda fase da estruturação da BRF - um processo que hoje é conhecido internamente como "tarponização-ambevização" da companhia. Faria levou da Tarpon Rodrigo Vieira - que administrava 120 funcionários na gestora e assumiu a área de RH de uma empresa com 110.000 empregados. José Alexandre Carneiro, também da Tarpon, assumiu a vice-presidência de finanças da América Latina e depois foi transferido para a operação brasileira. Para tocar a área de marketing no Brasil, escalou Flávia Faugeres, executiva com 20 anos de experiência em empresas como a cervejaria Ambev e a rede Burger King. Em menos de quatro meses, Flávia passou de vice-presidente de marketing a diretora-geral de Brasil, segundo cargo mais importante da companhia. Era sinal de que Pedro Faria queria instalar na BRF o estilo "faca nos dentes, sangue nos olhos" que tanto lucro deu aos acionistas da Ambev.
          Mas a BRF não era a Ambev e no início de 2016 Flávia decidiu deixar a empresa. Assumiram Leonardo Byrro, oriundo da Tarpon, e Rapael Ivanisk, ex-Inbev.
          Em 2016 os problemas começaram a aparecer com fatores inversos à bonanza de uma ano antes - e de forma acelerada. Primeiro, a conjuntura mudou: o dólar caiu, o milho subiu, a gripe aviária desapareceu dos Estados Unidos e o preço da carne bovina caiu. A diretoria financeira havia mudado a política de compra de milho, tida como conservadora e cara demais. Essencialmente, a BRF, maior compradora de milho do Brasil, tinha o equivalente a um mês de estoque daquilo que é seu maior insumo. Em busca de eficiência financeira, esse estoque diminuiu para poucos dias de consumo. Essa mudança  foi feita às vésperas de um repique médio de 70% no preço do milho, o que deixou a BRF nas mãos das tradings especializadas em grãos. Um concorrente chamou a nova política de compras da BRF de "insanidade típica de quem só pensa na planilha e esquece que existe um mundo real lá fora".
          Após e prejuízo de quase 400 milhões de reais em 2016, Abilio assumiu os erros  numa conferência com analistas em que pouco se ouviu a voz de Pedro Faria. A primeira decisão do comitê de crise criado pelo conselho foi a demissão de Rodrigo Vieira e José Alexandre Borges, vice-presidentes de marketing e finanças, respectivamente. O codiretor responsável pelo mercado interno, Rafael Ivanisk (ex-Inbev), pediu demissão. Abilio Diniz, tão afeito à contratação de consultores, se desentendeu com o consultor Vicente Falconi, conselheiro e chefe do comitê de recursos humanos da BRF. O desentendimento teria sido motivado pelo congelamento dos salários dos funcionários nos últimos três anos. Falconi deixou o conselho na assembleia de abril de 2017.
          Em 31 de agosto de 2017, o conselho de administração da BRF, leia-se Abilio Diniz, anuncia a saída de Pedro Faria, que ficou no cargo até o último dia do ano e voltou para a Tarpon.
          Entre 2015 e 2017 a Tarpon sofre resgates líquidos em seus fundos. A Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em março de 2017, resultou em regates de fundos soberanos e de pensão, regidos por severas regras de governança. Considerando dados de fevereiro de 2018, a BRF ainda representa 40% de seu principal fundo. A participação da Tarpon na BRF, que já foi de 11%, cai para 8% e é decrescente.
          Em 5 de março de 2018, a Tarpon, via BRF, vê novamente seu nome nas páginas policiais de jornais. Na "Operação Trapaça", nova fase da "Carne Fraca", que mira fraudes laboratoriais perante o Ministério da Agricultura, tendo a Bf como um dos alvos, foi preso o sócio da Tarpon e ex-presidente da BRF, Pedro Faria que exerceu o cargo de 2015 a 31 de dezembro de 2017.
          As fraudes tinham como finalidade burlar o Serviço de Inspeção Federal (SIF/MAPA), do Ministério, e, com isso, não permitir que a pasta fiscalizasse com eficácia a qualidade do processo industrial da BRF. As investigações indicam que a prática das fraudes contava com a anuência de executivos do grupo empresarial, bem como de seu corpo técnico, além de profissionais responsáveis pelo controle de qualidade dos produtos da própria empresa.  A compra foi realizada pela Saber, a holding de educação básica da Kroton,
          Em 23 de abril de 2018, a Tarpon vende sua fatia de 73,35% na Somos Educação para a Kroton, pelo total de R$ 4,57 bilhões. A compra foi realizada pela Saber, a holding de educação básica da Kroton. A Tarpon conseguiu um forte ganho com esse acordo. Em 2016, a gestora desembolsou R$ 1,8 bilhão pela operação.
          Em 22 de julho de 2020, a Tarpon compra, por meio do novo braço 10b, a Agrivalle e eleva sua aposta no campo. O investimento foi de R$ 160 milhões.
(Fonte: revista Forbes Brasil - 09.05.2001 / jornal O Estado de S.Paulo - 18.05.2009 / jornal Valor - 08.05.2012 / 03.09.2014 / 10.02.2015 / Apresentação reunião Apimec - 31.10.2014 / jornal Valor - 06.10.2015 / 10.01.2017 / revista Exame - 29.03.2017 / Veja.com - 01.09.2017 / 05.03.2018 / jornal Valor - 23.04.2018 / 24.04.2018 - partes)

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