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6 de out. de 2011

Estée Lauder

          Josephine Esther Mentzer (1908-2004), filha de imigrantes húngaros, nasceu nas proximidades da cidade de Nova York em 1910 e, em 1930, casa-se com Joseph Lauter (depois muda para Lauder). O nome que viria a adotar tem uma peculiaridade. Quando nasceu, seus pais queriam chamar-lhe Esty, o nome de uma tia húngara favorita de sua mãe. Quando chegou na hora de informar o nome para a certidão de nascimento, porém, sua mãe escolheu Esther por achar que Esty, sendo muito pouco usado, ninguém saberia como soletrar. Esty ficou então como o apelido dado por seus pais, que soava como Estée quando pronunciado por seu pai com seu sotaque húngaro.
          Estée Lauder ingressou no mundo dos cosméticos vendendo os cremes para a pele feitos por seu tio, um químico vienense profissional. Ele tinha um pequeno laboratório no fundos de sua casa. "Reconheci meu verdadeiro caminho no que meu tio John fazia", escreveria mais tarde. Logo, Estée prepararia suas próprias poções. Não cansava de demonstrar seus produtos para donos de loja de beleza. Se os cremes eram bons - Estée era fanática por qualidade -, certamente a vendedora era bem melhor. Convencida de que poderia obter sucesso com seus cremes, ela estudou as lojas de departamentos de Nova York até conseguir vender para o magazine de luxo Saks, na Quinta Avenida, em 1948. Diz-se que teria sido submetida à prova através de um produto contra acne desenvolvido especialmente para a filha do gerente geral dessa loja. Sua empresa, a Estée Lauder Companies, já havia fundado dois anos antes (1946), com o marido. Sua primeira essência, a Youth Dew, lançou em 1953.
          Criou truques mercadológicos, como o de dar brindes às consumidoras. Esse recurso, como muitas de suas promoções criativas, nasceu da necessidade. Ainda no início, não conseguia achar uma agência publicitária que aceitasse a verba de 50 mil dólares para fazer uma campanha. Estée resolveu gastar o dinheiro oferecendo amostras de seus produtos nas principais lojas de Nova York. A tática virou marca registrada, exaustivamente copiada depois pelos concorrentes.
          A marca fica conhecida internacionalmente quando é adotada pela loja de departamentos Harrods em Londres, no ano de 1960. Estée representa o maior "faro" existente no ramo da perfumaria. Os perfumes por ela fabricados hoje constituem mais de 70 fragrâncias.
          Em 1968, introduz a marca Clinique, uma linha de cosméticos dermatologicamente testados. Em 1973, deixa os negócios nas mãos do filho e passa a cuidar apenas do desenvolvimento de novos produtos. Passa o comando efetivo da companhia para seu filho Leonard, em 1982.
          Em duas gerações, a fechada família Lauder transformou uma linha de cremes para a pele num dos nomes mais conhecidos no mundo da beleza. O sucesso da Estée Lauder Cos., por sua vez, gerou para os membros da família bilhões de dólares e os catapultou aos mais altos escalões da sociedade nova-iorquina. Estée Lauder foi nomeada pela revista Time entre os gênios de negócios mais influentes do século XX.
          Quando a empresa começou a decair, porém, surgiram rachaduras na fachada notoriamente unida da família, resultando numa decisão que chocou o mundo da beleza. No início de março de 2008, Estée Lauder entrega o cargo de diretor-superintendente a Fabrizio Freda, um executivo da Procter & Gamble, fazendo-o tornar-se a primeira pessoa de fora na história da Estée Lauder a ocupar o cargo maior.
          Sentado em seu elegante gabinete, que é decorado com obras de arte contemporânea e dominado por uma vista arrebatadora da cidade de Nova York, William Lauder, nascido em 1960, neto da fundadora Estée, não esconde as frustrações que o levaram a abdicar do cargo para o qual foi cultivado, o mesmo que foi de seu pai, Leonard, durante 17 anos. Leonard cresceu datilografando boletos de cobrança e fazendo entregas de pacotes depois da escola, enquanto seus pais erguiam a empresa.
          Leonard virou um rapaz gregário e charmoso. Sempre vestido com roupas  impecavelmente combinadas, ele fechou negócios que garantiram espaços preciosos no piso de todas as grandes lojas americanas de departamentos numa época em que as grandes varejistas controlavam a faixa mais sofisticada do negócio da beleza. O traquejo natural de vendedor de Leonard se soma a uma grande intensidade e ímpeto. Um "workaholic", ele supervisionou a criação de um portfólio de marcas famosas - entre elas Clinique, Aveda e MAC - e liderou a marcha da empresa rumo à Europa e Ásia.
          A Aveda, adquirida pela Estée Lauder no final de 1997, foi um caso ilustrativo da implosão da fronteira entre marcas de grife e de massa. Vendidos principalmente na então rede de 2.000 salões de beleza próprios, além de suas 130 lojas, os produtos da Aveda são feitos à base de plantas frescas destiladas e essência de flores. Com faturamento na época na casa dos 4 bilhões de dólares, faltava à Estée Lauder uma linha de produtos naturais de qualidade.
          William, o filho mais velho de Leonard e Evelyn Lauder, nasceu em Nova York. Quando crescia, William nunca pressupôs que fosse passar toda a sua vida na empresa. Foi só depois que entrou na Escola Wharton da Universidade da Pensilvânia que ele começou a pensar sobre ingressar para o negócio da família. Entrou em 1986, assumindo um cargo intermediário na divisão Clinique.
          Vestido geralmente com roupas conservadoras de executivo, William é mais discreto e bem menos ostentador do que seu extrovertido e carismático pai. Ascendeu rapidamente na empresa. Em 1995, quando a família decidiu abrir o capital da companhia, ganhou assento no conselho. Em 2003, tornou-se diretor operacional. Um ano depois, o conselho decidiu que o jovem Lauder estava pronto para o cargo maior, de diretor-presidente.
          A Estée Lauder introduziu sua linha Tom Ford Beauty em 2006.
          Em 2007, a empresa passou por grandes momentos de tensão e talvez, por alguma indecisão quanto a fazer (ou não) aquisições. Durante uma reunião estratégica de rotina entre o conselho e os principais executivos, além dos assuntos importantes da pauta, outro assunto de maior grandeza passou a ser discutido: se deviam comprar a empresa francesa de produtos de beleza Alès Groupe, que vende produtos para cabelo da marca Phyto, perfumes Caron e produtos para a pele Lierac. Depois de um dia de debates, houve um impasse familiar e, ao final a empresa decidiu-se contra a aquisição. William teria saído chamuscado da reunião pelos dois lados da família. Os que estavam contra e os que estavam a favor da aquisição.
          A convivência de William Lauder na empresa não era nada cômoda. Enquanto galgava os degraus para chegar ao topo teve que suportar colegas que atribuíam a trajetória de sua carreira ao nepotismo. Depois que chegou ao topo, um dos maiores desafios foi administrar seu pai, Leonard, nascido em 1934 e presidente do conselho. Pelo menos numa ocasião, na reunião sobre a  possível compra da francesa Alès Groupe, teve também que se confrontar com seu tio Ronald, irmão de seu pai, e um dos principais acionistas da Estée Lauder.
          Em 2009, o italiano Fabrizio Freda foi o primeiro executivo de fora da família Lauder a assumir o comando do grupo Estée Lauder. Freda deixou o comando de uma das divisões da fabricante de bens de consumo da P&G. Nos primeiros nove anos no controle da Estée Lauder, ele conseguiu dar um robusto impulso na empresa, tanto no faturamento quanto no valor de mercado. Foi quando passou a aparecer em revistas especializadas como um dos executivos mais bem pagos do mundo.
          Em novembro de 2019, a Estée Lauder concluiu a compra da totalidade do capital da Have & Be, dona das marcas de cuidados com a pele Dr. Jart+ e Do The Right Thing. Em 2015, a empresa havia adquirido um terço das ações da empresa sul coreana, que está presente em 35 países. A aquisição avaliou a Have & Be em aproximadamente US$ 1,7 bilhão.
           Em meados de novembro de 2022, a Estée Lauder Cos. adquire a casa de luxo Tom Ford em um negócio avaliado em US$ 2,8 bilhões (cerca de R$ 14,9 bilhões da época), marcando a maior aquisição da empresa de beleza até então. Como parte do acordo, o Grupo Ermenegildo Zegna e a Marcolin entrariam em acordos de licença de longo prazo com o setor de moda da Tom Ford e com a Tom Ford Eyewear, de óculos, respectivamente. Enquanto a Estée Lauder afirmou que o acordo avalia o empreendimento total em US$ 2,8 bilhões, ela deve pagar cerca de US$ 2,3 bilhões, após um pagamento de US$ 250 milhões da fabricante italiana de óculos Marcolin.
          A Estée Lauder, com sede em Nova York, está espalhada por 115 países e tem hoje quase a metade do mercado de cosméticos das lojas de departamentos americanas. A M.A.C Cosmetics, referência mundial em maquiagem e presente em 75 países, faz parte do Grupo Estée Lauder. Além da MAC, que no Brasil tem mais de 54 lojas, a Estée Lauder opera também com as marcas Too Faced (para jovens) e SmashBox (assim como a MAC, ambas são marcas de maquiagem), Aramis, Clinique, DKNY e Michael Kors. O leque de marcas inclui ainda a linha de perfumes Tom Ford e as de produtos para cabelo Bumble and Bumble e Aveda. A La Mer foi lançada no Brasil em 2016. Também já foi aberta no Brasil loja da marca de perfumes Jo Malone, que é o ápice de customização, pois o cliente escolhe os ingredientes e monta uma fragrância exclusiva na loja.
(Fonte: revista Exame - 01.07.1998 / 15.12.1999 / jornal Valor - 28.02.2008 / msn - 22.09.2018 / Exame - 21.02.2018 / msn - 07.11.2019 / Estadão - 16.11.2022 - Wikipedia - partes)

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