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30 de out. de 2011

Banco Santos

          Natural de Santos, o economista Edemar Cid Ferreira fundou, em 1969, a corretora que deu origem ao Banco Santos. Seus detratores viam nele a ambição de se tornar um novo Assis Chateaubriand. Ferreira comandou, junto com o editor Pedro Paulo de Sena Madureira e seu curador, Nelson Aguilar, eventos que conquistaram grande público: a 22ª Bienal Internacional de São Paulo (1994), com um público de mais de 400 mil pessoas e a Mostra do Descobrimento (2000) que recebeu quase 2 milhões de visitantes.
          Em 2002, o Banco Santos inaugura o Santos Cultural. Para Edemar, o Santos Cultural tinha como missão preservar a memória do Brasil, formando coleções de cartas náuticas, fotografias, cerâmicas marajoaras, documentos históricos, objetos de arte plumária indígena e outras.
          O prédio localizado na rua Hungria, na zona oeste de São Paulo, virou a grande vitrine do Banco Santos a partir de 2002, quando passou a abrigar a sede da instituição. Ele era decorado por muitas obras de arte e tinha uma área para exposições no térreo.
          Quem queria preservar a memória do país, porém, não conseguiu preservar a própria empresa.  A usina de fraudes montada por Edemar Cid Ferreira teve suas portas fechadas em novembro de 2004, quando o Banco Central decretou a intervenção na instituição financeira, após descobrir que a situação financeira do banco vinha se deteriorando rapidamente e que o déficit patrimonial (diferença entre dívidas e os bens e crédito) seria de R$ 700 milhões.
          Relatórios internos do Banco Central (BC) mostram que a autoridade monetária já considerava que o banco tinha desequilíbrio estrutural em julho de 2002. E a demora para uma intervenção teria sido como um mecanismo de defesa da burocracia: "como não têm proteção legal, os inspetores esperam que o paciente esteja em estado terminal antes de ministrar a primeira aspirina", diz um ex-diretor do BC à revista Exame..
          Se às vésperas da intervenção do Banco Santos o saque de R$ 2 milhões feito pelo então presidente do Senado José Sarney (PMDB) surpreende, o que dizer então de outros R$ 60 milhões que sangraram os fundos administrados e geridos pela instituição em apenas sete dias úteis de novembro de 2004? Ou dos R$ 333 milhões que já haviam abandonado o barco ao longo do mês anterior, alardeando para os técnicos do BC que a informação privilegiada de alguns já tinha, e há muito, sido compartilhada entre vários?
          Não fosse assim, o Banco Santos não teria ficado sem liquidez já um dia antes da sua intervenção, em 12 de novembro. Quem correu para lá no dia 10 comprou o bilhete e perdeu o bonde. Em outras palavras, pediu o resgate das cotas e na manhã seguinte não viu um tostão: dia 11, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), nada mais pôde ser retirado dos fundos do Santos, em uma clara demonstração de que foi preciso estourar o sinal vermelho para que uma faixa amarela finalmente lacrasse a instituição na noite de sexta.
          Sarney, amigo pessoal do mecenas Edemar, foi um, apenas um, dos 967 atentos cotistas de fundos do Santos que deram outro rumo para suas aplicações entre setembro e novembro de 2004. Não era para menos. Quem acompanhava de perto os números da instituição não precisava consultar agências de rating ou jantar na mansão cinematográfica de R$ 50 milhões de Edemar para supor que a quebradeira era uma questão de tempo.
          O BC afastou Edemar Cid Ferreira e então diretores do controle da instituição e nomeou Vanio Cesar Aguiar como interventor. No entanto, as novas informações obtidas pelo interventor levaram o BC a recalcular o rombo na instituição, que seria de R$ 2,2 bilhões, e não de R$ 700 milhões. Diante desse novo quadro, o interventor e representantes dos antigos controladores do Banco Santos não foram capazes de elaborar um plano que permitisse sua reabertura - que poderia incluir a venda de seus ativos e agências para outra instituição financeira, por exemplo. Com isso, o BC decidiu decretar a liquidação da instituição no dia 4 de maio de 2005.
          Entre os fundos de pensão que tinham recursos em fundos exclusivos na instituição estavam o Bases (Banco Baneb), Capof (Banco do Estado do Maranhão), Centrus (Banco Central), Ceres (Sistema Embrapa e Embrater), Eletra (Celg), Elos (Eletrosul), Fapa (Emater do Paraná), FIPECq (Finep, Ipea, CNPq, Inpe e Inpa), Fundação Alpha (empresas de Curitiba), Fusan (Sanepar), Geap (INSS), Marisol Seguridade (Marisol), Previg (Tractebel Energia), Real Grandeza (Furnas) e Regius (Banco de Brasília).
          Levantamento da Secretaria de Previdência Complementar (SPC), informa que 41 fundações tinham dinheiro no Banco Santos, entre elas fundos como Funcef (Caixa), Fibra (Itaipu), Postalis (Correios), Infraprev (Infraero) e vários institutos próprios de previdência de estados e municípios.
Depois que o Banco Santos foi à falência, o famoso (e suntuoso) prédio na rua Hungria, na zona oeste de São Paulo (Marginal Pinheiros), foi desocupado. Em 2006, ele passou a ser a sede do escritório de advocacia Pinheiro Neto.
          Em meados de 2006, depois da prisão de Cid Ferreira, os credores do Banco Santos passaram a procurar novos culpados. Na tentativa de reaver parte do dinheiro que perderam, eles começaram a investigar a firma de auditoria Ernst & Young, responsável pela análise dos balanços, e o JP Morgan, que assessorou o banco na captação de 100 milhões de dólares apenas oito meses antes da intervenção. "Se descobrirmos algum erro, vamos processar essas empresas", disse Jorge Queiroz, coordenador do comitê de fiscalização da falência do Banco Santos.
          Em novembro de 2016, antes do leilão de 719 obras de arte do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira (previsão de arrecadação de pelo menos 10 milhões de reais), do montante devido pela instituição, 1,2 bilhão de reais tinha sido recuperado, mas ainda faltavam outros 2,2 bilhões.
          Edemar Cid Ferreira morreu em 13 de janeiro de 2024, aos 80 anos.
(Fonte: revista Forbes Brasil - 11.10.2000 / revista Investidor Institucional - dezembro 2004 / revista Exame - 17.08.2005 / Folha online - 20.09.2005 / Exame - 19.07.2006 / UOL - 01.11.2015 / revista Veja São Paulo - 16.11.2016 / Estadão - 14.01.2024 - partes)


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