31 de out. de 2011

Grupo Algar

          A Algar, companhia mineira com foco em telecomunicações, foi fundada pelo imigrante português Alexandrino Garcia, em 1954 em Uberlândia. Tempos depois, já sob o comando do filho Luiz Alberto Garcia, nascido em 1935, e o neto Luiz Alexandre já atuando na companhia, a empresa passou a atuar também nas áreas de agricultura, serviços e entretenimento.
          No segmento agroalimentar a Algar entrou por volta de 1978.
          Luiz Alberto Garcia, principal acionista, herdou de seu pai Alexandrino, uma espécie de cartola mágica. Trata-se do grupo ABC Algar. Durante trinta anos, Garcia não parou de sacar do chapéu negócios e mais negócios, como se fossem coelhos. Em sua época de fastígio o grupo chegou a controlar 54 empresas em setores diversos, como telefonia, eletrônica, informática, agroindústria e construção civil. A corrida terminou em 1988 - contra a parede. Depois de perder 40 milhões de dólares e quase ir à lona, Garcia deixou de lado os modos mineiros e chutou o balde. Afastou parentes do comando, vendeu e fundiu empresas, encolheu de 13.200 para 6.000 o contingente de empregados. A dieta deu certo.
          Garcia chegara à conclusão, aos 56 anos, de idade, de que era hora de abdicar do poder. Um endividamento de curto prazo de 122,3 milhões de dólares e o vermelho no balanço - foram 13 milhões de dólares de prejuízo em 1988 - lavaram-no a decidir-se pela profissionalização da gestão do ABC. Quando ele afastou-se do dia-a-dia dos negócios em 1989, o grupo estava numa situação pré-concordatária.
          Na Cie. des Machines Bull, o fabricante francês de computadores com o qual tem uma joint venture, a ABC Bull, Garcia recrutou um executivo calejado em tirar empresas do buraco, o italiano Mário Grossi, nascido em 1929. Ao assumir a vice-presidência executiva do ABC Algar, em 1989, ele teve a precaução de não afastar nenhum dos antigos diretores do grupo.
          Ao cabo de três anos de reestruturação, nos primeiros meses de 1992 o grupo ABC Algar estava mais esguio e exibia algum lucro colhido em 1991. Rossi não deixou pedra sobre pedra. Durante a reestruturação, 41 das 64 empresas existentes desapareceram do organograma. Dos 13.000 funcionários, sobraram 5.300. Os treze níveis hierárquicos que encontraram ao chegar caíram para apenas três.
          Para Grossi, o endividamento não era o principal problema. O que preocupava, mesmo, era a continuidade do monopólio estatal da telefonia, no qual a CTBC é apenas um enclave. "Queremos a competição e que o cliente decida quem vai lhe prestar serviços", disse Grossi.
          No início de agosto de 1995, com Mário Grossi como principal executivo da Algar, foi anunciada a ampliação da sociedade entre o grupo Algar, e o Bull, da França. Com a fusão, nasceu uma empresa, batizada de Algar Bul Computer & Comunication, ABC&C, com faturamento de 200 milhões de dólares. Formado por onze empresas, o grupo então recém-nascido estende seus braços para Chile, Argentina e Uruguai, além do Brasil.
          A associação com o Bull significou a divisão da Algar ao meio. Toda a área de informática foi para a ABC&C. No Algar ficaram os negócios de telecomunicações e atividades menores, como a agroindústria. Essa não foi a primeira associação do Algar com o Bull. Em 1985, os grupos criaram a ABC Bull para fabricar computadores de grande e pequeno portes. A ABC Bull, com a fusão, passou para os domínios da ABC&C.
          No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, os ventos não sopraram a favor da companhia que tem sua sede em Uberlândia, no Triângulo Mineiro.
          Os problemas começaram com a expansão do grupo em telecomunicações após a abertura do setor, sempre mantendo a operadora CTBC - Companhia Telefônica Brasil Central como eixo principal. Numa tentativa de conquistar o mercado vedado à operadora em 1967, quando o governo estatizou toda a telefonia brasileira e a CTBC teve sua área de atuação congelada no norte de São Paulo e no triângulo Mineiro, a empresa entrou com tudo na privatização da Telebrás em 1998. A CTBC atende a oitenta municípios das ricas regiões da Alta Mogiana, Alto Paranaíba, sul de Goiás, leste de Mato Grosso do Sul e Triângulo Mineiro. O grupo decidiu comprar participações em duas operadoras de telefonia móvel, a Tess, no interior paulista, e a ATL, no Rio de Janeiro. Para entrar no jogo a Algar contraiu uma dívida de 2 bilhões de reais.
          O negócio não se revelou tão interessante porque o grupo não tinha fôlego financeiro para acompanhar os investimentos dos sócios nas duas operadoras. Para evitar o pior a Algar vendeu essas participações.
          Em meados de 1999, a grande dúvida do setor era se o Algar não teria ficado grande demais em pouco tempo. Na ATL, onde a Algar Telecom era majoritária (os outros sócios eram a Williams International Telecom e a SKTI), a intenção era ficar com 51% das ações ordinárias e 35% do capital total. Mas o grupo se viu obrigado a deter 73% do total. Um dos parceiros, a empreiteira Queiroz Galvão, decidiu se concentrar em seu principal negócio, a construção civil. O Algar teve de comprar sua parte por 120 milhões de reais. Depois, o grupo, a pedido do governo, assumiu um terço do capital total da Tess, que estava às voltas com um conflito entre seu acionistas - o grupo sueco Telia, a brasileira Eriline e o empresário paranaense Cecílio do Rego Almeida. Somem-se a isso as obrigações da ATL, que pagou 1,5 bilhão de reais pela concessão, 40% dos quais no ato (a Algar fez um empréstimo-ponte de 250 milhões de dólares, para honrar a sua cota).
          Nos primeiros anos da década de 2000 o grupo tinha 12 empresas controladas. A então última empresa nascida dentro da Algar foi a ACS Call Center, criada em 1999. O prédio da ACS foi construído dentro de uma fazenda de 600 hectares. O saguão do prédio da CTBC exibe um berrante ao lado de uma painel da artista plástica Tomie Ohtake. O berrante é tocado toda vez que uma meta é cumprida pela operadora.
          O ensinamento mais marcante que o fundador Alexandrino Garcia deixou para os herdeiros foi o de nunca se desesperar diante dos problemas. Seu filho Garcia, em outros tempos dono de um temperamento irascível, conseguiu dominar seus impulsos e conduzir os negócios a salvo das intempéries. O mar ajudou-o a entender que em certas ocasiões é melhor esperar as águas se acalmarem para só então imprimir maior velocidade à embarcação. Navegador com décadas de experiência, no Carnaval de 2001 navegou sozinho de Florianópolis a Búzios no Rio de Janeiro.
          Em 2003, depois de 25 anos no segmento agroalimentar, a Algar, através da ABC Inco (hoje Algar Agro), tinha números vistosos: não só exportava para a Europa como detinha a primeira posição no ranking de óleo de soja em Minas Gerais com a marca ABC. Produz também farelo com a marca Raçafort.
          No inicio de 2018, o acionista controlador vende 25% do capital social e votante da Algar Telecom para a Archy LLC, uma afiliada do fundo soberano de Cingapura GIC Investments.
          Em 8 de maio de 2021, a Algar Telecom firmou contrato para compra de 85,2% a 100% do capital social da Vogel Telecom, por R$ 600 milhões, conforme fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A aquisição foi feita pela subsidiária integral Algar Soluções em TIC. A transação poderá chegar a 100% das ações.
          Em 18 de março de 2024, a Positivo Tecnologia, fabricante brasileira de computadores e celulares fundada em 1989, anunciou a aquisição da Algar TI Consultoria S.A., divisão de serviços de tecnologia da Algar, por R$ 235 milhões. O negócio, que envolve pagamento antecipado de R$ 190 milhões e o restante de R$ 45 milhões em 12 meses com base no desempenho da empresa adquirida, é o maior da história da Positivo. Nos 12 meses encerrados em 30 de setembro de 2023, a Algar TI registrou receita bruta de R$ 459 milhões e taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 19% nos últimos três anos, conforme divulgado pela Positivo. A Algar TI tem clientes na Argentina, Colômbia e México. Esses países geram 20% da receita anual da Algar TI. “Isso nos dá internacionalização e experiência em outros mercados”, disse o executivo.
(Fonte: revista Exame - 27.04.1994 / 16.08.1995 / 28.07.1999 / revista Forbes - 18.07.2001 / jornal Valor - 01.01.2018 / 08.05.2021 / 19.03.2024 - partes)

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