19 de jun. de 2020

Recepta

           A farmacêutica Recepta foge dos padrões do setor. Sua estrutura física se resume, a um diminuto escritório nos arredores da avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona sul de São Paulo.
          Em meados de 2006, o empresário Emílio Odebrecht enxergou nesse mercado uma oportunidade para voltar a empreender. Tornou-se assim, sócio da Recepta. Inicialmente ele deveria aplicar 8 milhões de reais na empresa e dobrar esse valor nos dois anos seguintes. O único vínculo entre o nome Odebrecht e a área de saúde até então eram os programas de filantropia patrocinados pelo grupo.
          Considerando números de meados de 2009, a grande maioria dos 31 funcionários, entre pesquisadores e médicos, se divide em vários centros de pesquisa e hospitais brasileiros.
          Apesar de minúscula, a Recepta é dona de um feito inédito: é a primeira empresa brasileira a realizar um teste de medicamentos em pacientes com câncer de ovário. A droga em teste é um anticorpo monoclonal, uma nova categoria de medicamento que tem sido bem-sucedida no controle do câncer na fase de metástase - quando a doença se espalha além do foco original.
          A Recepta é um caso bem-acabado daquilo que os especialistas em gestão chamam de inovação aberta. Basicamente, a empresa se dedica a gerir conhecimento em torno de seu principal ativo - no caso, um conjunto de patentes de quatro anticorpos monoclonais. A empresa aciona uma rede de pesquisadores que trabalham em laboratórios parceiros para produzir e testar novos medicamentos.
          Até meados de 2009, a Recepta não gerou um único centavo de receita. Além de Emílio Odebrecht, eram sócios do negócio o pecuarista Jovelino Mineiro e o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, com sede em Nova York. Foram os pesquisadores do instituto - fundado na década de 1970, pelo bilionário americano Daniel Ludwig - que descobriram os quatro anticorpos monoclonais que podiam gerar os futuros medicamentos da empresa.
          Além dos investidores privados, a Recepta se beneficia de linhas de financiamento público à pesquisa por meio da Finep e do BNDES. Tanto para Odebrecht como para José Fernando Perez, presidente da empresa, trata-se de um negócio de altíssimo risco. Eles evitam comentar sobre estimativas de receita, mas calculava-se que, uma vez comprovada a eficácia de seu medicamento, o valor da Recepta poderia ser catapultado para a casa das dezenas de milhões de dólares.
(Fonte: revista Exame - 15.07.2009).

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