10 de mar. de 2022

BRIC/BRICS

          Jim O'Neill é o economista que, trabalhando no Goldman Sachs, criou a famosa sigla BRIC, dando origem ao grupo que inicialmente reunia os grandes países emergentes — Brasil, Rússia, Índia e China — e que mais tarde ganhou um “S ”, passando a  BRICS, quando a África do Sul (South Africa) aderiu.
          Em 2001, ao concluir seu estudo, O'Neill previu que os quatro países emergentes deveriam se tornar, até 2050, a maior força econômica mundial, superando os países do G6 em termos de PIB, que são Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália.
          Até 2013, tanto a Rússia quanto o Brasil tiveram taxas de crescimento econômico que confirmaram a trajetória prevista pelo trabalho de O'Neill. Desde 2014, eles tiveram uma expansão que sempre foi menor do que o projetado, e continuam de mãos dadas – uma conduta que parece agradar ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro – como retardatários do bloco. Na Rússia, os principais motivos da semi-estagnação são bem conhecidos: as sanções econômicas impostas pelas potências ocidentais após a anexação da Crimeia em 2014 e a queda do preço do petróleo, principal produto de exportação do país.
          A humanidade não merecia isso. Depois de enfrentar durante dois anos uma guerra mundial de saúde, provocada pela Covid-19, passou a enfrentar a partir de 24 de fevereiro de 2022 uma guerra convencional, detonada pela vontade do autocrata russo Vladimir Putin.
          A invasão da Ucrânia pela Rússia foi uma das ameaças iminentes ao planeta, capaz de impedir a recuperação global iniciada com a redução da pandemia. Analistas não acreditavam que Putin fosse tão insano a ponto de autorizar uma invasão no momento em que o mundo estava começando a superar a pandemia. Ele provou que é.
          Apesar de suas reservas de US$ 630 bilhões e sua energia nuclear, um legado da antiga União Soviética, o desempenho econômico da Rússia nas últimas duas décadas tem sido patético. Jim O’Neill, em entrevista recente ao jornal Valor, disse que a Rússia quer “socar acima de seu peso econômico”, ou 2% do PIB global. Na entrevista, O'Neill observou que a Rússia e o Brasil foram uma "grande decepção" nas últimas duas décadas: não conseguiram crescer suas economias no patamar previsto pelo trabalho.
          Após a declaração de O'Neill, o economista Robinson Moraes, do Valor Data, comparou os dados projetados no estudo original do BRICS com o crescimento real nos últimos 21 anos. O resultado comprova a afirmação. A Rússia ainda é pobre, mas arrogante (fingindo ser rica), a ponto de invadir um país vizinho e ameaçar o mundo com seu arsenal nuclear. Seu crescimento acumulado no período foi de 90,8%, contra uma expectativa de 134,8% indicada no trabalho do Sr. O'Neill.
          O desempenho do Brasil é ainda mais decepcionante, na parte inferior do grupo: crescimento de 54,2% contra uma previsão de 109,2%. China e Índia brilharam e expandiram seu PIB muito além das previsões - o que levou O'Neill a dizer que, em vez de BRIC, deveria ter criado a sigla IC.
          Para a doença da estagnação brasileira existem diferentes diagnósticos. Os economistas mais ortodoxos sustentam que ela decorre das políticas irresponsáveis ​​dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT), especialmente de Dilma Rousseff, que desencorajou investimentos com sua irresponsabilidade fiscal. Os heterodoxos argumentam que a economia entrou em colapso por causa da queda das commodities e depois que a política radical de contenção de gastos e austeridade fiscal se tornou predominante em 2014/15.
          As declarações do Sr. O'Neill, de qualquer forma, parecem marcar o triste fim dos BRICS, que se uniram, criaram um banco, mas não evoluíram para um relacionamento efetivo. Agora que um dos membros do grupo invadiu seu vizinho europeu, a ineficácia do grupo ficou ainda mais evidente. O próprio banco BRICS suspendeu os empréstimos à Rússia.
          As Nações Unidas aprovaram uma resolução condenando o ataque russo na Ucrânia e pedindo a retirada imediata das tropas. O Brasil votou a favor da resolução, embora com algumas reservas – a
posição de Bolsonaro é neutra. China e Índia se abstiveram.
          Num encontro dos BRICS em Joanesburgo, realizado em agosto de 2023,m foi anunciado que seis novos países irão aderir ao bloco. São eles: Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Como não dá para aumentar a sigla para BRICSAAEEEI (fica impronunciável) o jeito é usar BRICS +.
          Agora, pergunta-se, o que poderão ter de interesse ou atividade em comum Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã, os integrantes do BRICSAAEEEI ou do BRICSAAEEEI + , pois há outros querendo entrar?
(Fonte: jornal Valor - 07.03.2022 / Os Mercadores da Noite - Ivan Sant'Anna - 02.09.2023 - partes)

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