O Americas Trading Group (ATG), uma plataforma de negociação de ativos financeiros, foi fundado por Arthur Machado, que sempre buscou transformar a empresa na nova bolsa de valores do país, chegando a fechar uma parceria com a New York Stock Exchange (NYSE) anos atrás. O plano há
anos é se tornar concorrente da bolsa brasileira B3.
No entanto, o empresário foi preso por volta de 2019 por suspeita de envolvimento em fraudes contra fundos de pensão. O Postalis, fundo de pensão dos Correios, foi um dos primeiros investidores na ATS e um dos responsáveis pelo déficit do fundo. Nesse ponto, a ATG teria começado a procurar um comprador.
Em 7 de fevereiro de 2023, vem a lume que a gigante de Abu Dhabi, Mubadala Capital, concordou em comprar o Americas Trading Group (ATG), com planos de lançar nova bolsa de valores no Brasil.
O movimento ocorre logo após fundo de Abu Dhabi fechar rodada de investimentos na Cerc, fintech que registra ativos financeiros. No final de 2021, a Cerc já havia pedido autorização ao Banco Central para abrir uma central depositária de ativos, passo necessário para ter uma bolsa de valores.
O projeto do fundo é reviver os antigos planos da ATG de criar uma nova bolsa de valores no Brasil, dizem as fontes, reacendendo uma questão que paira sobre a bolsa de valores brasileira há anos.
“O cenário global é desafiador, mas vemos potencial de crescimento e um mercado de capitais maduro. Um de nossos objetivos é promover, por meio de nossos investimentos, maior acesso a mercados e ferramentas para execução otimizada de ordens para grandes corretoras, investidores institucionais e gestores de recursos”, disse Oscar Fahlgren, chefe do escritório da Mubadala Capital no Brasil, em comunicado.
O acesso ao depositário central já gerou uma batalha entre a ATG e a B3 no passado. A ATS, empresa do ATG, entrou em arbitragem contra a B3 há alguns anos, alegando que a bolsa havia estipulado preços altos para o contrato de prestação de serviços para utilizar sua compensação. Argumentou na época que os preços inviabilizavam o projeto de uma nova bolsa no país. Além do Mubadala, alguns fundos brasileiros também teriam analisado o ativo.
Após a fusão entre BM&FBovespa e Cetip, em 2017, o regulador antitruste CADE estabeleceu que a B3 deveria disponibilizar sua infraestrutura de mercado para terceiros e que, caso não houvesse acordo entre as partes, a arbitragem seria o foro para eventuais discussões.
Em 2019, as partes chegaram a um acordo sobre o preço e um pedido à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para a criação de uma bolsa ainda estava aberto, mas foi indeferido na época por não atender a todos os requisitos. Um novo pedido ainda não foi apresentado.
Em janeiro de 2023, durante almoço com jornalistas, o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, disse que a concorrência era um tema recorrente nas discussões da empresa. “Já estamos preparados há algum tempo para todo tipo de concorrência”, disse o executivo, lembrando que já lida com concorrentes no mercado de balcão. A concorrência também deve aparecer no mercado listado, depois que a CVM permitiu a negociação em bloco nos mercados de balcão organizados.
Para o Sr. Finkelsztain, ter outros players competindo no mesmo mercado é um fator positivo para “desencadear criações”. “Mas será difícil competir com a B3 porque ela é eficiente no que faz”, disse. “Costumávamos temer que a tecnologia tornasse possível algo que não tínhamos visto, mas o tempo mostrou que na maioria das vezes os concorrentes tentam copiar o que fazemos.”
A B3 tem apostado em dados para diversificar suas fontes de receita. Em 2021, comprou a empresa de big data Neoway, a maior aquisição desde a fusão da BM&FBovespa com a Cetip. Em
2022, adquiriu a Neurotech, confirmando sua estratégia de avançar em tecnologia e análise de dados.
A ATG está conversando (junho de 2024) com grandes investidores institucionais no exterior e no Brasil para garantir liquidez à sua Bolsa de Valores mobiliários, concorrente da B3 e que deve operar a partir do segundo semestre de 2025. Como contrapartida, esses agentes – a maioria grandes bancos e empresas de tecnologia especializadas em transações de alta frequência – terão acesso a uma participação acionária. “Vários acordos de confidencialidade foram firmados”, disse o presidente da ATG, Claudio Pracownick. “O passo seguinte será o Mubadala definir quanto será a participação colocada à disposição destes investidores”, acrescenta
A Mubadala Capital, que tem como principal investidor o fundo soberano de Abu Dhabi, adquiriu em 2023
pouco mais de 70% da ATG, dando início à constituição de uma segunda Bolsa no Brasil. O restante está
em um fundo de investimento em participações (FIP)
sob gestão da Angra Partners e executivos da ATG.
(Fonte: jornal Valor - 07.02.2023 / Estadão - 07.06.2024)
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