5 de out. de 2011

Net (ex-Globo Cabo/Multicanal)

          A Multicanal inicia suas operações em 1991, após a aquisição de pequenas operadoras de TV e algumas licenças, tendo como sócio Antônio Dias Leite. A primeira operadora ficava em Campo Grande (MS). À época, ela tinha cerca de 100 assinantes.
          Nos anos de 1992 e 1993 são compradas sete operadoras/licenças, seis em São Paulo e uma em Goiás. Cada uma com cerca de 2.000 assinantes.
          Dois novos sócios, Globopar e Ralph Partners II, se unem em 1994 a Antônio Dias Leite.
          Em 30 de junho de 1996, a empresa contava com 556 mil assinantes (465 mil líquidos). Em fins daquele ano, com o objetivo de fornecer serviços de qualidade superior a de seus principais concorrentes, TVA e NET São Paulo, a Multicanal dá prosseguimento à construção de um sistema de cabos coaxiais e de fibra ótica tecnologicamente avançada, que permitiriam a oferta de um número maior de canais.
          O executivo paulista Luis Fernando Baptistella assumiu o segundo posto mais importante da empresa, a diretoria de infraestrutura e tecnologia, em setembro de 1996. Baptistella trabalhou por 25 anos na área de pesquisa e desenvolvimento da Telebras, a antiga estatal de telecomunicações. A experiência em vários projetos serviu como aval para que Baptistella assumisse uma rede de 35.000 quilômetros de cabos, que consumiu 1 bilhão de dólares e era a base dos serviços da Globocabo, como viria a se chamar a empresa três anos depois.
          Nessa época (setembro de 1996), a Globocabo, distribuidora de canais, juntamente com a Globosat, fornecedora de programas, tinham a liderança do mercado, com 700.000 assinantes contabilizados no final de 1995. O grupo participava de uma rede de onze operadoras a cabo regionais e 44 locais. Um subsidiária da Globo Cabo, a NET era encarregada da venda de programação e de publicidade. O grupo detinha, ainda, 33% do capital da Multicanal, em parceria com o empresário Antônio Dias Leite e com a GP Investimentos, do grupo Garantia.
          No momento da criação do Vírtua, provedor de acesso à Internet em alta velocidade, um dos desafios de Baptistella foi avaliar - até onde é possível, é claro - quais os recursos que a Internet viria a oferecer. Só assim ele poderia decidir o tipo, a quantidade e a capacidade de cabos que deveriam ser instalados pela empresa.
          Em novembro de 1996, a Multicanal era a maior operadora de TV a cabo do Brasil, quando medida em termos de assinantes próprios, assinantes líquidos de participações minoritárias, domicílios atingidos e milhagem de rede. Ela também operava outros sistemas de TV por assinatura, mas o maior percentual de seu faturamento provinha de transmissão a cabo. A GP Investimentos (grupo Garantia), tinha participação expressiva na Multicanal.
          Naquele mês (novembro de 1996), a companhia abriu seu capital através da emissão de ações preferenciais, autorizadas pela AGE de 31 de outubro. No dia 6 de novembro, a empresa começou a ser negociada na Bovespa. Com um patrimônio líquido de R$ 207,5 milhões e um valor de mercado de R$ 1,44 bilhão, a empresa apresentava uma das maiores relações P/VPA (Preço da ação dividido pelo Valor Patrimonial da ação) do mercado. Entretanto, em função de grandes investimentos iniciais para implantação dos cabos e estruturação da rede, o lucro ainda não havia aparecido.
          Em 1997, acelera-se expansão da rede de cabos e são adquiridas outras operadoras: Net BH, Net Anápolis e Net Piracicaba. A empresa aumenta sua participação na Net Rio.
          Em fins de 1997,  alguns chegaram a dizer que a venda da participação da GP Investimentos, formada por sete dos 13 sócios do banco Garantia, na Multicanal para as Organizações Globo tinha o objetivo de gerar caixa para cobrir as perdas do banco (com a crise asiática).
          A Globo Cabo holding aumenta, em 1999, sua participação acionária por meio da conversão de ações da Globo Cabo Participações em novas ações. A empresa até então conhecida como Multicanal Participações S.A. muda sua denominação social para Globo Cabo S.A.
          Em setembro de 1999, a Microsoft comprou 11% da Globo Cabo por 125 milhões de dólares, projetando um valor de mercado em torno de 1,136 bilhão de dólares. Em novembro (1999), então sob o comando de Moysés Pluciennik, diretor-geral de telecomunicações e distribuição das Organizações Globo, a empresa já tinha deitado 23.000 quilômetros de cabos de TV por assinatura.
          A Globo Cabo, então já uma empresa de TV por assinatura das Organizações Globo, BNDESPar, Bradesco, grupo RBS e Microsoft, destacou-se durante certo tempo na bolsa de valores por ser uma das poucas empresas consideradas da "nova economia" com ações na bolsa brasileira.
          A especulação que ocorreu com as ações da Globo Cabo, principalmente durante o ano de 2000, foi avassaladora. Havia naquela ocasião um deslumbramento: especulava-se a respeito do número de clientes de TV a cabo. Além disso, são interessantes as comparações que eram feitas na ocasião e os valuations que eram projetados. Ficou famoso um relatório feito pelo banco Fator que comparava os múltiplos da empresa com os da Comcast, (maior) empresa norte-americana também de TV a cabo. A posteriori, as projeções foram vistas como uma aberração.
          E a liquidez da Globo Cabo (PLIM4) acabou gerando distorções no Ibovespa, o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo. Em outubro de 2000 a Globo Cabo representava 8% da carteira com valor de mercado de 9,7 bilhões de reais, enquanto a Vale do Rio Doce, que valia 19,4 bilhões, tinha um peso menor, de apenas 3,3%. Isso porque o índice baseava-se numa carteira teórica de ações montada apenas pelo critério de sua liquidez em bolsa.
          Em 2000, a Globo Cabo compra a Vicom, que reunia mais de 3 mil estações terrestres de telecomunicação por satélite instaladas no Brasil. Em setembro, a Net Sul (segunda maior operadora de cabo do país), que contava com 374,1 mil assinantes e 1.125,4 mil domicílios cabeados, também é incorporada.
          O mês de abril de 2001 foi difícil para o Vírtua, o serviço da Globo Cabo de acesso à internet em alta velocidade. O número de funcionários na central de atendimento aos assinantes teve de ser triplicado para dar conta de uma quantidade recorde de ligações. Uma expressiva parte dos 40.000 clientes do serviço passou cerca de 15 dias com dificuldades para utilizar a internet. No auge da crise, alguns assinantes chegaram a esperar 40 minutos ao telefone para ser atendidos. Para piorar, os técnicos do Vírtua passaram dias tentando descobrir a causa de tanta confusão. Quando o principal problema foi identificado, a conclusão pareceu óbvia demais para ser verdadeira: havia mais usuários do serviço do que a rede era capaz de suportar.
          Previsivelmente, os concorrentes do Vírtua se aproveitaram da situação. A Telefônica iniciou no mercado de São Paulo uma promoção para o serviço de banda larga, o Speedy. O mais estranho nesse episódio da falha do Vírtua foi a reação dos investidores nas ações da Globo Cabo, negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo e na bolsa eletrônica Nasdaq, nos Estados Unidos. Não houve uma associação entre a crise no serviço e o preço dos papéis da empresa, como seria natural num episódio como esse. "Essa falha não tirou o interesse das ações da Globo Cabo", disse Jacqueline Lison, analista da corretora Fator-Dória Atherino. "No preço em que estão, com as ações de tecnologia em baixa, são uma oportunidade a ser levada em conta", afirmou. Por pior que tenha sido para seus assinantes, as turbulências atravessadas pelo Vírtua não foram suficientes para derrubar os preços.
          Mas, o encanto do canto das sereias já estava se dissipando. Sinais visíveis já se faziam sentir no primeiros meses de 2001. A Globo Cabo apenas aguentou um pouquinho mais, o que foi lastimável para mais desavisados comprarem suas ações. O precipício estava a um passo. O barulho da cachoeira já era claramente audível.
          A bolha das ponto.com estourou em 2001 e a Globo Cabo foi de roldão deixando milhares de acionistas com pó em seu portfólio. Foi simplesmente cruel. Só no primeiro trimestre de 2001, as ações caíram 33,8% como reflexo do prejuízo de 366,6 milhões de reais de 2000. Antes do estouro, nos quatro cantos do globo terrestre, só se falava em ponto.com/nova economia. Nos EUA, empresas nasciam em garagens aos borbotões e poucas semanas depois "valiam" milhões. O que elas faziam, ou pretendiam fazer, era apenas um detalhe. Aqui, olhava-se para todos os lados e, impávida, só se via uma empresa que "o mercado" classificava como da nova economia, sim, ela, a Globo Cabo. Quem comprou uma ação, por exemplo, em 15.02.2000 (R$ 4,22) e a vendeu na bacia das almas em 16.05.2002 (R$ 0,32), perdeu nada menos que 92,4% do valor investido. Os mais "rancorosos" até hoje chamam a empresa de "Globonabo".
          Sensível ao dólar, em julho de 2001 a Globo Cabo era a empresa de capital aberto com maior endividamento na comparação da dívida total com o patrimônio líquido.
          Em outubro de 2001, a Globo Cabo já tinha conversado com Telefônica, Telemar, Telecom Italia e Warner, mas era um ativo difícil de vender. A TV por assinatura no Brasil resistia a crescer.                Na gestão de Luiz Antonio Vianna, trocou o "Cabo" pelos "Serviços" passando o nome para Net Serviços de Comunicação S.A. Isso foi no início de maio de 2002. Parecia ser um sinal de que as Organizações Globo já não pareciam tão orgulhosas com seu nome. O desempenho sofrível da operadora e o escândalo que envolveu o aporte de R$ 1 bilhão desgastaram o nome Globo Cabo na hora em que tentava estrear no nível 2 da Bovespa.
          Passada num raio X, a Net era um aglomerado de 67 operadoras de vários tamanhos. Ao longo de dez anos a Net comprou e aglutinou operações. Cada uma delas possuía tecnologias diferentes de cobrança, atendimento, vendas e por aí afora. Quando se juntou tudo, o caos se apresentou. A empresa teve que partir para novos sistemas de informação. Por volta de outubro de 2002 já se via alguns resultados. O número de sistemas já havia caído de 112 para 45, e no relacionamento com o assinante, a meta era a fusão de oito sites em um só. Os números do 4º trimestre de 2002 melhoraram um pouco mais e, no segundo trimestre de 2003, pela primeira vez na história, a Net fechou no azul.
          Mas, quem achou que a babel dos sistemas era o principal problema a ser resolvido para a Globo Cabo se organizar minimamente, mal podia imaginar que o verdadeiro calvário da empresa estava no cipoal burocrático brasileiro para fechar as dezenas de empresas que se amontoavam sob seu controle. Em 2000, a empresa estabelecera a meta de encerrar 60 empresas até 2008, deixando 11 em operação. Em uma segunda fase, a expectativa era que restasse uma única empresa, a Net Serviços. Ou seja, o processo de consolidação levaria uma década. O caso mais complicado envolveu a incorporação de uma empresa de capital aberto, a CMA Participações. Não era um empresa complexa, ainda assim, fora todo o ritual burocrático normal, foi preciso seguir todo o trâmite para fechamento de empresa de capital aberto.
          Em 2004, a Telmex adquire 49% de participação na Globo Participações, sociedade que conta com a participação de 51% do Grupo Globo. A Telmex passa a integrar junto com a Globo Participações o novo bloco de controle da Net Serviços.
          Em fins de 2007, a Net, que tinha ações negociadas na bolsa de Madri, era uma das raras companhias brasileiras que já haviam iniciado os preparativos para se adaptar às mudanças impostas pelas bolsas da Europa ao conjunto de normas da União Europeia, similar à americana Sarbanes-Oxley, com medidas como a responsabilização criminal de administradores em caso de fraude.
          Em 7 de outubro de 2010, a Embratel (leia-se Telmex), pagou 3,3 bilhões de reais por 72% das ações preferenciais da Net na bolsa (os mexicanos dividiam com a Globo, o controle da TV a cabo).
(Fonte: Wikipédia / revista Exame - 25.09.1996 / Revista Investimentos - 02.12.1996 / revista Exame - 17.12.1997 / 12.07.2000 / revista Forbes Brasil - 11.10.2000 / Exame - 18.04.2001 / 09.05.2001 / 18.07.2001 / revista Carta Capital - 15.05.2002 / Forbes - 11.10.2002 / 25.10.2002 / revista Exame - 15.10.2003 / 21.11.2007 / 03.11.2010 / Inversa - 09.07.2020 - partes)

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