6 de out. de 2011

Cia. Melhoramentos / Editora Melhoramentos / Altea

          O ano é 1877. Percebendo uma oportunidade de negócios, Antônio Proost Rodovalho, o Coronel Rodovalho, constrói em sua fazenda às margens do Rio Juqueri-Guaçu dois fornos para produção de cal. O local logo passa a ser conhecido como Caieiras, que mais tarde deu o nome ao município de Caieiras. No mesmo ano, Rodovalho funda a Companhia Cantareira e Esgotos, e obtém contratos oficiais para obras de saneamento e urbanização em São Paulo. No ano seguinte, a companhia constrói o reservatório da Consolação, em São Paulo, com 6.500 m³ de água. Prevendo a importância que o papel terá na crescente economia paulista, Rodovalho decide produzi-lo. Em 1887, inicia-se a construção da fábrica de papel, a cargo da empresa alemã Gebrüder Hemmer. Em 1889 é proclamada a República.
          No dia 4 de abril 1890, uma das máquinas produz papel pela primeira vez. Em 12 de setembro, no Salão Nobre do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, ocorre a fundação da Companhia Melhoramentos de São Paulo. Quatro anos depois, Otto Weiszflog, um jovem alemão de 24 anos que teria papel decisivo no futuro da Melhoramentos, chega a São Paulo, vindo de Hamburgo. Após um breve período nos negócios com café, passa a trabalhar para o também hamburguês M. L. Bühnaeds, no ramo de papelaria, encadernação, livros em branco e importação de papel. Seu irmão, Alfried Weiszflog, chega em 1896.
          Fundada em 12 de setembro de 1890 e miscigenada com a história da cidade de São Paulo, a Companhia Melhoramentos iniciou suas atividades à luz das profundas transformações econômicas e sociais decorrentes do crescimento vertiginoso excitado pela expansão do café. Na onda desse progresso, começou suas atividades com a produção de cal na cidade de Caieiras (SP) – o batismo da cidade é consequência dessa atividade – seguida pela produção de papel e celulose, tornando-se líder nacional no segmento e também tendo uma presença bastante expressiva nos mercados editorial e gráfico.
          Em 1900 a Companhia Melhoramentos começa a fornecer papel para a M. L. Bühnaeds & Cia. onde trabalham os irmãos Weiszflog, e Rodovalho deixa a Melhoramentos. A Bühnaeds & Cia. continua crescendo e em 1905 constrói sua sede na rua Líbero Badaró, 73. Bühnaeds liquida sua posição societária, Otto e Alfried tornam-se donos. No ano seguinte, a segunda máquina de papel entra em funcionamento na Melhoramentos.
          Para resolver os problemas de abastecimento e escoamento da produção da cal, tijolos, telhas e papel de Caieiras, é inaugurada em 1908 uma linha férrea exclusiva ligando a fábrica da Melhoramentos a São Paulo. A falta de energia leva a Melhoramentos a criar suas próprias soluções: em 1912 começa a plantação de eucaliptos, para fornecer lenha para os fornos de cal e cerâmica, e são construídas uma barragem e uma usina de energia elétrica para movimentar a terceira máquina de papel, que entra em funcionamento em 1913. Nesse mesmo ano, aos 75 anos, morre o Coronel Rodovalho.
          Em 1915 a Weiszflog Editora publica o livro infantil O Patinho Feio, o primeiro livro impresso no Brasil. Durante a I Guerra Mundial, Alfried Weiszflog deixa o Brasil e se fixa em Buenos Aires. O irmão mais novo, Walther, o substitui. Enquanto isso, a Melhoramentos eleva sua produção de papel, chegando a 1.125.759 quilos em 1919. Nesse ano a propriedade em Caieiras é ampliada para 3.323 alqueires paulistas, e é inaugurada a Igreja de Nossa Senhora do Rosário na Melhoramentos. Em 1920, a Weiszflog Irmãos consegue reunir capital e adquire a Melhoramentos. A junção das duas empresas acontece com a incorporação da Weiszflog pela Melhoramentos.
          Os irmãos Weiszflog como sucessores de Rodovalho, em 1923, tomaram a decisão histórica de investir em florestas plantadas, como fonte de matéria-prima da celulose. Plantaram então araucárias, cuja celulose produziram no início da década de 1940 e se decepcionaram porque, embora produtora de uma fibra longa, de alta qualidade, a árvore tinha um crescimento extremamente lento.
          É construída uma nova gráfica na Lapa, inaugurada em 1923. O papel higiênico Sul América, o primeiro do país, e também o Papel Volga, toalhas de papel para salões de barbeiro, são lançados em 1928. A produção editorial também cresce, chegando nesse mesmo ano a um catálogo de 248 títulos, com 670.000 livros impressos. Em 1929 uma nova máquina de papel é comprada, a MP IV; ela chegaria apenas em 1933. A produção da Melhoramentos atinge 7.400 toneladas de papel para indústria, impressão, cartões, cartolinas, papel de seda e outros em 1937. Finalmente, em 1938, é publicado o livro O Filho do Trovão, de Barros Ferreira, o primeiro a ostentar a indicação Edições Melhoramentos.
          A máquina de papel V começa a funcionar em 1940 e no ano seguinte o nome da empresa é mudado para Companhia Melhoramentos de São Paulo, Indústrias de Papel. A Fazenda Levantina, em Camanducaia (MG), com 12.000 hectares, passa a fazer parte da Melhoramentos em 1942, e no ano seguinte inicia-se ali a produção da primeira celulose brasileira. Em 1946, em Caieiras, graças ao trabalho de Gerhard Reimann, obtém-se a produção de celulose a partir de eucalipto, um feito de repercussão mundial.
          Em 1960 é inaugurada a Livraria Melhoramentos no Largo do Arouche, em São Paulo. Quatro anos depois a empresa adquire a Fazenda Santa Marina, em Bragança Paulista, com 200 alqueires. 1965 é o ano do lançamento do papel higiênico Mimoso, o primeiro papel higiênico decorado do Brasil. Em 1969 é constituída a Melbar, sociedade entre a Melhoramentos e a americana Dresser Magcobar, para utilização da lixívia gerada pela fábrica de celulose na produção de lignosulfonatos para a indústria de dispergentes e emulsionantes. A tecnologia de produção de celulose é inovada em 1982 com o início da produção de polpa de celulose do tipo CTMP a partir de eucalipto, inaugurando mundialmente a fabricação de papel higiênico a partir dessa madeira.
          À frente de seu tempo desde a fundação da empresa, a Editora Melhoramentos se distingue no mercado editorial brasileiro pelo pioneirismo das obras, dos autores e dos avanços aos quais se dedica. Em 1990, lançou o primeiro dicionário digital no Brasil. Em 2009, lançou o primeiro dicionário para leitura em iPhone, iPad e iPod Touch do país. Em 2010, disponibilizou para esses suportes as primeiras obras de literatura infantil nacional com livros de Ziraldo.
          Em julho de 1994, a Melhoramentos Papéis S.A. adquire 100% do capital da K-C Brasil Ltda., subsidiária da Kimberly-Clark Corporation.
          No ano de 2009, após estudos de reformulação dos seus negócios, a Melhoramentos vendeu os ativos de fabricação de papeis tissue (papéis higiênicos, toalhas e guardanapos) para a chilena CMPC e passou a focar sua operação no mercado editorial, no plantio de florestas (nas unidades localizadas nos municípios de Camanducaia (MG), Bragança Paulista (SP) e Caieiras (SP), na produção de fibras de alto rendimento, destinadas a fabricantes de papel cartão, com sua indústria localizada em Camanducaia (MG), e na área de gestão imobiliária.
          Com gestão sustentável, garantida pelo reconhecido selo internacional FSC ® (Forest Stewardship Council), a Melhoramentos Florestal explora atividades de manejo das espécies pinus e eucaliptus. Seu viveiro favorece o desenvolvimento ideal da vegetação ali plantada, e o sucesso alcançado no plantio das mudas e na colheita das florestas permite a manutenção das áreas de preservação permanente.
          A Melhoramentos Fibras produz as fibras de celulose TGW (Thermo Ground Wood), BTGW (Bleached Thermo Ground Wood) e o Neolux, usadas como matéria-prima por fabricantes de papel cartão premium e tissue.
          A Área de Gestão Imobiliária responde pelo desenvolvimento de projetos habitacionais na região de Caieiras (SP). Além disso, essa divisão desenvolve relacionamento institucional com as autoridades públicas e a comunidade, garantindo a proteção das fazendas.
          A Casa Melhoramentos, um empreendimento imobiliário que abriga os escritórios do conglomerado empresarial, foi remodelada para acolher empresas e empreendedores para a realização de exposições, eventos e reuniões de trabalho – principalmente – aqueles destinados à promoção da cultura, arte, educação e entretenimento.
          A Companhia Melhoramentos de São Paulo é uma empresa 100% nacional, de capital aberto, tendo entre seus principais acionistas as famílias que originalmente fundaram a empresa. Atua nos segmentos editorial, papel e celulose e imobiliário.
          Os descendentes de Alfried Weiszflog, da Editora Melhoramentos, eram em número de 52, considerando como base o ano de 2004, ano em que a empresa teve um faturamento de 437 milhões de reais.
          Durante muitos anos, a Melhoramentos enfrentou problemas significativos de liquidez, levando à venda de partes das suas propriedades como forma de recuperar a estabilidade financeira. Em uma transação notável em 2016, o grupo vendeu um terreno de 12,8 mil metros quadrados situado entre os municípios paulistas de Cajamar e Caieiras por R$ 387,4 milhões para a CCR, que tinha planos de desenvolver um novo aeroporto no local. Porém, sete anos depois, com o projeto ainda não realizado, a CCR devolveu aproximadamente 30% do terreno à Melhoramentos, aderindo ao acordo contratual.
          Em 2020, a Melhoramentos orientou a sua estratégia no sentido de aumentar o valor sem liquidar os seus ativos. Essa mudança de abordagem rendeu frutos até 2022, conforme evidenciado pela duplicação da receita líquida para R$ 201 milhões, passando de uma operação anteriormente deficitária para lucrativa. Apesar destes avanços, os “novos” Melhoramentos permanecem significativamente menores em comparação com a sua estatura histórica, especialmente antes da venda do seu negócio de tissue à CMPC do Chile em 2009.
          Com o seu atual enquadramento societário (início de 2024), a Melhoramentos oferece aos potenciais parceiros diversos modelos de colaboração, quer diretamente nos seus negócios core – como a Altea, a Editora Melhoramentos, ou o seu segmento de produção de fibras – quer através do envolvimento em projetos específicos.
          Em meados de junho de 2024, é divulgado que a Melhoramentos vai construir uma fábrica de embalagens sustentáveis. A empresa pretende desembolsar R$ 40 milhões para levantar em Camanducaia uma planta para produzir embalagens biodegradáveis à base de fibra de celulose. A ideia é fabricar embalagens 100% compostáveis, feitas de matéria-prima renovável que se decompõe naturalmente em até 75 dias. Projetadas para resistir à gordura, umidade e temperaturas extremas, as embalagens poderão ser usadas desde o freezer até o forno a 220 graus. “Os seres humanos produzem cerca de 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano, sendo metade destinada a embalagens de uso único que poluem aterros, rios e oceanos. As embalagens de fibra de celulose representam uma mudança significativa para um futuro mais sustentável, facilitando a reutilização, reciclagem ou compostagem”, afirma Carolina Alcoforado, diretora de novos negócios e inovação da Melhoramentos. De largada, a fábrica terá capacidade para 60 milhões de embalagens por ano e deve entrar em operação no primeiro trimestre de 2025 e será instalada no parque fabril que a Melhoramentos já mantém no município (Camanducaia). O projeto foi desenvolvido em parceria com a startup israelense W-Cycle, especialista em soluções de embalagens sustentáveis. 
          A Melhoramentos, considerando números de meados de 2024, é dona de cerca de 40% do território de Caieiras, cidade da região metropolitana de São Paulo com 95 mil habitantes. Originalmente do ramo de produção de papel e do mercado editorial, a empresa prepara a conversão de antigos terrenos de plantação de eucalipto em dois centros logísticos e também em um empreendimento residencial.
          Desde 2020, a Melhoramentos passara por reestruturação com foco em rentabilidade, ampliando digitalização e criando produtos à base de matérias-primas renováveis para o setor de embalagens. Como parte da estratégia, a Melhoramentos criou a Altea, empresa que já nasceu com terrenos que totalizam 152 milhões de m² e abrangem áreas com potencial para projetos logísticos, industriais, turísticos, residenciais e ambientais. Os terrenos ficam no entorno de São Paulo e no sul de Minas Gerais. Na frente residencial, a Altea, liderada por Carolina Alcoforado, já lançou o condomínio horizontal Swiss Park, na região de Caieiras, e outros cinco projetos similares estão em fase de estudos.           Lançado em parceria com a Swiss Park Incorporadora, o condomínio tem 92 lotes residenciais a partir de 275 m², 23 lotes comerciais a partir de 420 m², 74 lotes mistos a partir de 400 m² e 69 mil m² de áreas verdes. No total, em Caieiras e região, a empresa tem 33 milhões de m² para a criação de projetos logísticos, residenciais ou mistos. Em Bragança Paulista (SP), são 6,5 milhões de m² para projetos residenciais. Por fim, em Camanducaia (MG), são mais 113 milhões de m² para turismo ecológico, residências e empreendimentos mistos.
          Na área de logística, a empresa tem hoje participação em dois centros de distribuição em Caieiras, com área bruta locável de 330 mil m². Os empreendimentos são resultado de parcerias com os fundos de investimentos Brix e Cosmic. “Entramos no negócio com um sócio e oferecemos a terra e o conhecimento local. Ao longo do tempo, criaremos novos projetos e participaremos do equity (capital), e a nossa entrada na incorporação no futuro”, afirma Carolina.
          O CEO da Melhoramentos, Rafael Gibini, diz que os terrenos são uma herança de quando a empresa atuava de forma vertical no mercado, produzindo o papel para seus livros. “No passado, o mote era da árvore ao livro. Chegamos a ter até livrarias. Mas o negócio foi se transformando. O papel, a gente não produz mais. Produzimos fibra, que vendemos ao mercado. Por ter a fazenda com o plantio de eucalipto, podemos usar a madeira para criar nossos produtos ou comercializá-la, como já fazemos.” Segundo Gibini, os ativos imobiliários foram herdados dessa estratégia ligada à cadeia de papel e celulose. “Começamos a ver nessa gestão a oportunidade que tínhamos nas mãos.” Entre 2020 e 2023, o crescimento de receita da empresa foi de 27% ao ano. A iniciativa imobiliária pode ajudar a empresa a mudar sua principal fonte de receita atualmente, que é majoritariamente o comércio de madeira. A meta é manter um crescimento ordenado do negócio imobiliário e continuar com matas nativas, buscando uma gestão de terras de forma sustentável, inclusive com comercialização de créditos de carbono.
(Fonte: site da empresa - Trecho extraído das páginas 37 e 38 da publicação : “A Celulose de eucalipto – uma oportunidade Brasileira” de Luiz Roberto de Souza Queiroz e Luiz Ernesto George Barrichelo / revista Exame - 29.09.2004 / / Valor - 05.02.2024 / IstoÉDinheiro - 23.06.2024 / Estadão - 21.08.2024 - partes)

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