Olacyr Francisco de Moraes mostrou durante décadas ser um grande empreendedor. Filho de um vendedor de máquinas de costura, ele fundou a Constran em 1957 e, a partir dela, começou a diversificar sua atuação.
Em 1973, Olacyr tornou-se um dos primeiros grandes empresários do agronegócio ao apostar na produção de soja na Região Centro-Oeste do Brasil. Simultaneamente, passou a investir em projetos paralelos, como a construção e a administração de usinas hidrelétricas e, principalmente, da Ferronorte, uma gigantesca ferrovia de 5.200 quilômetros que iria do norte de Mato Grosso ao porto de Santos e seria o principal canal de escoamento da produção de grãos da região.
Ao embarcar em sua aventura ferroviária, Olacyr de certa forma transformou-se numa espécie de Percival Farquhar moderno. Assim como o empresário americano que foi à bancarrota depois de construir a ferrovia Madeira-Mamoré (Porto Velho a Guajará-Mirim), no início do século XX, Olacyr afundou suas empresas com seu sonho megalômano de ligar por trilhos os limites da Amazônia ao maior porto do país. Para iniciar a obra, em 1989, investiu mais de 200 milhões de dólares em recursos
próprios. A intenção era bancar a conta com as recitas da Constran, que atuava basicamente na área de infraestrutura.
A partir daí, tudo deu errado. A Constran, cuja receita vinha principalmente de obras públicas, levou sucessivos calotes de governos estaduais e prefeituras quebrados pela crise econômica que o país atravessava. Para não interromper a obra da Ferronorte, Olacyr tomou outros 200 milhões de dólares emprestados em bancos. Confiante em seu trânsito pelos bastidores do poder, acreditou que poderia liquidar esses empréstimos assim que os governadores lhe pagassem ou que a ferrovia começasse a funcionar. Não aconteceu nem uma coisa nem outra. Até fins de 2008, Olacyr não recebeu um tostão pelas obras que realizou naquela época - a dívida dos governos com o empresário chegou a 1 bilhão de reais. A Ferronorte, por sua vez, empacou na fronteira de Mato Grosso do Sul e São Paulo porque o governo paulista atrasou sete anos a construção de uma ponte sobre o rio Paraná.
Endividado e pego no contrapé pelos juros altos da década de 1990 (cerca de 18% ao ano), Olacyr sucumbiu. No início da crise tentou reverter a situação, tentando rolar dívidas, negociar com prefeitos e governadores e recuperar as empresas. Todas as inciativas naufragaram. Ele também passou a ser investigado em processo sobre superfaturamento de obras públicas, como do túnel Ayrton Senna, em São Paulo, e da usina de Xingó, em Pernambuco.
Em 2004, chegou-se a cogitar que a vida de empresário de Olacyr havia acabado quando ele foi obrigado a vender a fazenda Itamaraty, ícone dos áureos tempos de seu império. "Depois disso, a frase que mais ouvíamos de Olacyr era que ele não havia trabalhado tanto para acabar como um fracassado",
disse um amigo. Coragem para continuar tentando ele tinha.
Por quase duas décadas, Olacyr foi considerado um dos homens mais poderosos do país. Seu império de 40 empresas estava entre os dez maiores conglomerados brasileiros e seus negócios agropecuários lhe conferiam o título de maior produtor de soja do mundo e era comumente chamado de rei da soja.. Quando estava no auge, na primeira metade dos anos 1990, o patrimônio de Olacyr chegava a 1,2 bilhão de dólares, o que lhe garantia um posto entre os 200 homens mais ricos do planeta, segundo uma lista da revista Forbes. Foi quando se deu o desastre. Vergado por dívidas de 1,4 bilhão de reais, fruto de investimentos mal feitos, o império de Olacyr se desfez em escombros. Para pagar as contas, o empresário passou o período de 1996 a 2008 vendendo fazendas, usinas, imóveis e todo tipo de bens, entre eles dois jatos Citation de uso pessoal. Em fins de 2008, com 95% da fatura paga e o saldo remanescente em processo de negociação com credores, Olacyr, então aos 77 anos, se preparava para
voltar aos negócios.
Em julho de 2008, a construtora Constran, então seu único negócio remanescente, fechou com a empresa de logística ALL (hoje Rumo) seu primeiro contrato significativo em mais de uma década, no valor de 700 milhões de reais. Ao mesmo tempo, Olacyr ensaiava os primeiros passos em novas áreas, como telefonia e mineração. Sua intenção era dar início a um novo gripo, batizado com as iniciais de
seu nome, OFM.
Das novas apostas de Olacyr, a mais ousada era a que envolvia uma empresa voltada para serviços de telecomunicações pela internet, batizada de LegalPhone. O negócio girava em torno de um dispositivo que permite chamar pela internet a custo reduzido. O software foi desenvolvido por uma companhia americana, a Global IP Solutions, e a diferença para outros sistemas desse tipo é um teclado encomendado a um fabricante chinês. Com fone e caixas acústicas acopladas, o teclado permitiria ao usuário fazer chamadas de voz pelo sistema VoIP sem ter de acessar sites de internet como ocorre com
o Skype.
Olacyr negociou o lançamento do serviço com grandes operadoras de telefonia e sua expectativa era alcançar 500.000 assinantes ainda no primeiro ano de operação - o que significava uma receita aproximada de 200 milhões de reais. Tudo isso, evidentemente, no cenário mais róseo.
Olacyr de Moraes faleceu em 2015.
(Fonte: revista Exame - 05.11.2008)
O blog "Origem das Marcas" visa identificar o exato momento em que nasce a marca, especialmente na definição do nome, seja do produto em si, da empresa, ou ambos. "Uma marca não é necessariamente a alma do negócio, mas é o seu nome e isso é importante", (Akio Morita). O blog também tenta apresentar as circunstâncias em que a empresa foi fundada ou a marca foi criada, e como o(a) fundador(a) conseguiu seu intento. Por certo, sua leitura será de grande valia e inspiração para empreendedores.
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