6 de fev. de 2023

Banco/Financeira Cédula

          Michael Stivelman, nascido em 1928, sua mãe, Riva, uma tia e três primos foram os únicos sobreviventes de uma família de 79 pessoas nos horrores da Segunda Guerra Mundial. Os nazistas invadiram sua cidade, Secureni, na Bessarábia, atualmente território da república da Moldávia.
          Stivelman chegou ao Brasil em 1948 com 100 dólares no bolso doados pelos parentes. Já no ano que chegou começou a dar aula particular de matemática no Rio de Janeiro. Logo em seguida, em 1949 e 1950, foi vendedor ambulante de relógios. Chegou a vender 300 somente no então Ministério da Guerra. Também trabalhava na joalheria dos tios. Juntou dinheiro e, com um sócio, abriu uma fábrica de joias, que passou a fornecer no atacado para outras lojas.
          Em 1963, resolveu arriscar-se na bolsa de valores e no mercado paralelo do dólar, deixando o comércio de joias. Stivelman administrava seus próprios investimentos e de clientes. Também revendia platina tanto para joalheiros quanto para uso industrial.
          Conseguiu multiplicar seu patrimônio e, em 1964, abriu a financeira Cédula, aproveitando a experiência que desenvolveu com vendas a prazo desde o tempo que chegara no Brasil.
          Um ano depois de abrir a financeira, 1965, uma nova oportunidade surgiu para Stivelman. O banco Moscoso Castro, que pertencia a um grupo de joalheiros, estava sob intervenção do Banco Central. Junto com alguns sócios, ele se comprometeu a reestruturar a instituição e renegociar suas dívidas, desde que ficasse com a propriedade do banco. Depois de um ano, 1966, com as contas saneadas, revendeu o Moscoso Castro ao Banco Mineiro do Oeste, que mais tarde, em 1970,  foi incorporado pelo Bradesco.
          A financeira Cédula (transformada em banco múltiplo em 1989) pegou carona no crescimento do Brasil e chegou a ser a segunda maior do mercado, com agências em vários estados.
          No início dos anos 1990, contudo, os seus filhos Jacques Cláudio e Eduardo decidiram fazer carreira no exterior. Sem a participação dos herdeiros, Stivelman optou por encolher os negócios, até limitar a atuação da Cédula apenas ao mercado do Rio de Janeiro. Em meados de 1998, trabalhava para cerca de 80 pequenos e médios comerciantes, financiando compras a prazo. A Cédula passou a fazer uma média de 4.000 contratos de crédito mensais, cerca de um décimo do que fazia quando era uma empresa nacional. O banco administra recursos da família, que é dona também de uma imobiliária.
          Nessa época (meados de 1998) o banco tinha patrimônio de 25 milhões de dólares. Stivelman sempre optou por investir os lucros em outros negócios. Passou a ter, por exemplo, participações acionárias em outras instituições financeiras, como BCN e Mercantil de São Paulo.
          Sentindo-se perseguido pelos fantasmas do passado durante mais de 50 anos, resolveu exorcizá-los: escreveu, com ajuda da mulher, Raquel, o livro A Marcha, lançado em maio de 1998 pela editora Nova Fronteira. "A Marcha" vem do fato de Stivelman e sua mãe, Riva, terem percorrido 1.500 em marchas forçadas. Num dos piores momentos, sua mãe, com tifo, perdeu as forças e eles conseguiram se esconder em uma vala ao lado da estrada, já em território da Ucrânia.
(Fonte: revista Exame - 03.06.1998)

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