Total de visualizações de página

6 de out. de 2011

Intel / Intel Capital

Intel       
          Os húngaros Leslie Vadász e Andy Grove deixaram a terra natal, arrasada pela desastrosa sucessão de nazismo e stalinismo para acreditar na arriscada aventura de erguer uma indústria de semicondutores em meio ao clima árido da Califórnia. Vadász fez parte com Grove, Bob Noyce e Gordon Moore, do grupo original de engenheiros que, em 1968, abandonou a Fairchild Semiconductor para correr o risco de, com base em um plano de negócios de três páginas cheias de erros de datilografia, fundar aquela que anos depois se tornaria a maior fabricante de chips do mundo. Em 15 de novembro de 1971, a criação do chip pela Intel (acrônimo de Integrated Electronics) permitiu uma nova era para a informática.
          Robert Noyce teve que pedir emprestado 500 dólares a sua avó para cobrir sua parte na sociedade da empresa que resultaria na atual gigante dos microprocessadores. Noyce começava a aprender - ou melhor, criar - o caminho das pedras para a terra da fartura pavimentada pelos então ainda desconhecidos capitais de risco. A ideia de muito risco associada ao lucro obsceno ainda era coisa de agiotas.
          Em 1963, Noyce convenceu a diretoria da Fairchild a construir a primeira fábrica offshore da história, aproveitando a mão-de-obra ridiculamente barata em Hong Kong, em vez de mendigar subsídios governamentais nos Estados Unidos. Nem mesmo o terreno da fábrica existia - era uma área submersa no litoral que ainda seria aterrada pelo governo local. Em Hong Kong, os montadores de circuitos e dispositivos recebiam 1 dólar por dia - o pagamento de 1 hora de um trabalhador americano. Além disso, os produtos prontos eram reexportados para os Estados Unidos praticamente sem impostos sobre o valor agregado.
          Mas foi preciso uma espécie de premonição para Noyce, Moore, Vadász e Grove, os pais da Intel, irem em frente com a ideia de apostar pesado nos circuitos integrados, a geração seguinte dos dispositivos fabricados em Hong Kong. O preço dos primeiros circuitos integrados era alto - 150 dólares. Por isso, 100% das vendas nos primeiros anos foram feitas para militares que não se importavam com os custos, mas, sim, com a diminuição do peso dos equipamentos de comunicação nas mochilas dos soldados.
          Em 1964 Noyce deu o passo decisivo: cortou os preços muito abaixo dos custos de produção e bem abaixo do que custaria montar a partir de componentes isolados. Ele estava absolutamente certo. Com o aumento da escala de produção, os custos caíram até 90%. Os engenheiros do Vale do Silício desenvolveram novos estilos de gestão e abandonaram muitos dogmas da operação de empresas de tecnologia. A mais gritante delas veio do sucessor de Noyce como presidente da Intel. Andy Grove lançou a estratégia de concentrar as atividades em mercados, em vez de produtos, uma espetacular heresia para fabricantes de coisas físicas. O modelo de Grove foi nada menos que o MCdonald's: a ideia era ter chips versáteis, mas altamente padronizados, capazes de criar combinações que pudessem satisfazer necessidades específicas do mercado. Tal como as combinações de componentes de um hambúrguer.
          Quando cada um dos oito fundadores da Fairchild SemiConductor (a antecessora da Intel) ganhou perto de 250.000 dólares num ano e meio, o imposto e renda não teve dúvida: mandou primeiro a multa por sonegação e renda ilícita e pediu explicações depois. Foi a primeira trombada de Noyce com a Receita. A segunda, mais estrondosa, fez de Noyce um agente da revolução financeira tão comemorado quanto por seus feitos tecnológicos. No surgimento do Vale do Silício, os impostos sobre ganhos de capital, a alavanca das empresas de alto risco, chegavam a 47%. Em 1978, Noyce defendeu no Congresso americano a redução da alíquota do imposto de renda sobre aplicações de risco na bolsa. Teve sucesso. O governo de Jimmy Carter derrubou a taxação para 28%.
          Gordon Moore, um dos fundadores, "batizou" um dos dogmas do modelo de negócios da Intel, a lei de Moore: o poder de processamento dos chips dobra a cada 18 meses, logo os investimentos devem ser concentrados na produção de chips mais poderosos porque eles serão mais lucrativos. Mas, esse modelo sofreu transformação após a edição do livro de Clayton Christensen, professor da Harvard Business School, The Innovator's Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail (O Dilema do Inovador: Quando Novas Tecnologias Levam Grandes Empresas ao Fracasso). Depois de Christensen, a Intel começou a desenvolver e levar a sério os chips mais baratos, menos potentes e menos lucrativos.
          Em 2001, a Intel faturou 26,5 bilhões de dólares. Vadász sempre foi reconhecido como um dos engenheiros e executivos mais competentes da empresa. Mas, em 28 de fevereiro de 2002, saiu da sombra dos laboratórios e salas de reunião para enfrentar, numa audiência do Senado americano sobre pirataria digital, as maiores feras da indústria audiovisual americana - nomes como Michael Einer, CEO da Disney, e Peter Chernin, presidente da News Corporation e braço direito do magnata das comunicações Rupert Murdoch.
          O alerta de Vadász ao Congresso americano, caso aprovasse uma lei draconiana para controle de cópias digitais foi: "Isso seria puxar o freio de mão da inovação. Os investimentos sofreriam. Seria criado um dano irreparável a uma indústria vital".
          Segundo Vadász, considerando um panorama de meados de 2002, a empresa passou por transições muito importantes. Deixou de ter foco restrito nos computadores pessoais para firmar um grande comprometimento com a área de comunicação e computação para a internet.
          Em maio de 2005, assume o comando da Intel o executivo Paul Otellini, que viu-se incumbido da maior transformação dos 37 anos de história da gigante dos chips. As periódicas melhorias de performance técnica dos microcomputadores, que sempre nortearam os rumos da empresa, já não seriam suficientes para o sucesso. A Intel não queria - nem poderia - continuar vendendo apenas velocidade. O marketing seria tão ou mais importante que os avanços da Lei de Moore (expressão usada para se referir à observação feita por Gordon E. Moore, co-fundador da Intel), que garante chips duas vezes mais rápidos pela metade do preço a cada 18 meses. A própria elevação de Otellini ao cargo era um indício disso. Ele foi o quinto presidente da história da Intel - e o primeiro que não veio da área técnica.
          Nos primeiros meses de 2006, então com faturamento anual de 35 bilhões de dólares, a nova Intel tomava forma. O plano começou com um redesenho das linhas de negócio da empresa e culminou com dois anúncios surpreendentes: um novo logotipo, o primeiro em mais de 25 anos, e a morte de uma das marcas mais conhecidas do mundo da computação, o Pentium. "A Intel tem uma das marcas mais valiosas do mundo, mas queremos fortalecê-la ainda mais", disse Otellini em entrevista à revista Exame.
          Em janeiro de 2006, na principal feira de eletrônicos do mundo, a CES, Otellini anunciou uma das maiores apostas da Intel para criar um novo mercado, diretamente voltado para os consumidores. Trata-se da plataforma Viiv (pronuncia-se "vaiv"), um conjunto de tecnologias desenhado para montar computadores que fiquem na sala e possam ser operados com um controle remoto, em vez de mouse e teclado. A ideia de Otellini é ter o coração de um novo tipo de máquina, capaz de organizar-se e exibir músicas e filmes digitais. Com a explosão das conexões em banda larga e a crescente oferta de conteúdos digitalizados, a estratégia parecia lógica. Mas a Intel não era a única empresa interessada na sala de estar. Gravadores digitais de vídeo, consoles de videogame e - por que não - os próprios fabricantes de TV querem conquistar essa nova fronteira da computação. Outra preocupação de Otellini era com a concorrência cada vez mais acirrada da AMD.
          Por volta de junho de 2023, sob o comando do presidente-executivo Pat Gelsinger, a Intel tem investido bilhões na construção de fábricas em três continentes para restaurar seu domínio na produção de chips e competir melhor com os rivais AMD, Nvidia e Samsung. O acordo na Alemanha será o terceiro grande investimento da empresa em quatro dias, após uma fábrica de chips de US$ 4,6 bilhões na Polônia e uma planta de US$ 25 bilhões em Israel.
          Olhando um panorama de setembro de 2024, a Intel está realizando uma profunda reestruturação, transformando seu negócio de fabricação de chips sob contrato em uma subsidiária independente e fortalecendo sua parceria com a Amazon Web Services para o desenvolvimento de chips personalizados voltados para inteligência artificial. A empresa também anunciou a captação de US$ 3 bilhões em financiamento federal para fabricar chips destinados ao Departamento de Defesa. Esses movimentos foram revelados junto à declaração do CEO, Pat Gelsinger, que informou que a unidade de fabricação será gerida como uma empresa autônoma.
(Fonte: revista Exame - 02.06.1999 / 12.06.2002 / 01.02.2006 / 29.03.2006 / Época Negócios - 19.06.2023 / Empiricus - 20.09.2024 - partes)

Intel Capital
          A Intel Capital é o braço de investimento de risco da Intel, a maior fabricante mundial de chips. Em meados de 2002 a Intel Capital se retira da Conectiva, prestadora de serviços associados ao software livre Linux. Sócia minoritária da empresa paranaense, a Intel Capital ficou na empresa menos de três anos.
(Fonte: revista Exame - 10.07.2002) 

Nenhum comentário: