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29 de jan. de 2025

United Rentals

 


          A United Rentals foi fundada por Brad Jacobs, um empresário americano que também criou outras duas empresas de capital aberto: Waste Management e XPO. Juntas, essas três empresas possuem um valor de mercado superior a US$ 150 bilhões, considerando números de janeiro de 2025. Jacobs fundou a companhia com foco em construir uma empresa que fosse o ponto fora da curva em um setor muito complicado de se operar: com altos custos de manutenção, baixo poder de precificação e alta concorrência, muitos analistas achavam o setor péssimo. Para se ter uma ideia, Wall Street preferia o setor de aviação comercial por possuir barreiras de entrada relevantes para se iniciar uma operação.
          O fundador conseguiu ver nos desafios do setor a oportunidade de construir uma empresa vencedora: em 1997, Jacobs iniciou a consolidação do setor de locação de equipamentos nos Estados Unidos adquirindo mais de 200 pequenos players, o que proporcionou à United Rentals ter vantagens competitivas de escala, otimização de custos administrativos e aumento das margens operacionais. Com a abrangência nacional, a empresa conquistou poder de barganha junto com as montadoras para comprar equipamentos com descontos.
          Após inúmeras aquisições, as dores do crescimento acelerado chegaram junto com a Grande Crise Financeira, em 2008. Diante das dificuldades do setor de construção civil, as ações da empresa caíram de US$ 35 para US$ 5.
          A crise de 2008 fez com que a United Rentals enfrentasse uma queda relevante das receitas, dado que a empresa tinha uma carteira pulverizada de clientes regionais/pequenos. Por conta da queda de receita e dos investimentos realizados, o endividamento da companhia acelerou e ela precisou se desfazer de parte da sua frota de máquinas para sanar suas dívidas.
          Nesse momento entram em cena dois executivos que mudaram a trajetória da companhia: Michael Kneeland assume como CEO e ele coloca Matt Flanery (atual CEO) como diretor executivo de operações. Para colocar a United Rentals de volta aos trilhos, os dois iniciam a implementação de uma cultura com foco em eficiência operacional.
          O primeiro passo foi direcionar esforços para conquistar clientes com abrangência nacional de modo a aumentar a previsibilidade das receitas, bem como, alinhar os interesses das filiais com a matriz.
          Na época, a United Rentals tinha um sistema de gestão descentralizado, reflexo das diversas aquisições anteriores, com muitas filiais semiautônomas. A política de remuneração dos gerentes das filiais baseava-se no EBITDA individual de cada unidade, o que incentivava o crescimento de receita e lucro operacional, mas desencorajava o aproveitamento eficiente da frota. Era mais fácil inflar o EBITDA adquirindo máquinas novas do que otimizando o uso das existentes.
          Para resolver esse problema, Kneeland implementou uma política de remuneração onde 70% do bônus dos gerentes era baseado nos resultados distritais. Essa mudança incentivou a colaboração entre filiais próximas, que passaram a compartilhar máquinas e clientes para melhorar o desempenho geral da matriz.
          Outras mudanças significativas incluíram grandes investimentos em tecnologia para padronizar contratos e preços entre filiais, além de modernizar processos internos e logísticos. Essas iniciativas aumentaram a produtividade operacional e elevaram a margem operacional de 15% em 2011 para 22% em 2013.
          Após Michael Kneeland e Matt Flanery “arrumarem a casa”, a estratégia passou a ser guiar um crescimento mais agressivo via aquisições de seus concorrentes. Entre 2011 e 2018, a companhia adquiriu 4 dos 10 maiores players do setor de rentals dos Estados Unidos para aumentar sua frota e fortalecer seu posicionamento como “One-Stop Shop”, oferecendo diversas soluções para os seus clientes.
           Os processos operacionais e a cultura de integração entre a gestão das filiais, fez com que as aquisições fossem integradas rapidamente, tornando a United Rentals uma máquina de gerar valor.
       n nnO crescimento via M&As é uma estratégia vigente até hoje na United Rentals: em janeiro de 2025 ela comprou a H&E Equipment Services por US$ 4.8 bilhões, trazendo mais 64 mil equipamentos e 160 filiais para a United Rentals.
          Com isso, destacamos duas vantagens competitivas que, unidas ao sucesso dos M&A’s, a tornam ela uma empresa vencedora.
1) Escala e consolidação do mercado
     Nos primeiros anos, a United Rentals focou em consolidar o setor ao promover diversas aquisições de pequenos players. Isso trouxe vantagens competitivas fundamentais, como a criação de economia de escala, aumento da frota e expansão da carteira de clientes por meio de aquisições. Esse ganho de escala também resultou em maior poder de barganha, permitindo à United Rentals obter melhores condições em suas compras de máquinas, algo que pequenos players não conseguem replicar.
2) Criação do “custo de troca”
     A United Rentals se tornou a "One-Stop Shop" do setor ao oferecer mais de 5 mil categorias de equipamentos. Essa ampla gama de opções facilitou a venda cruzada nos clientes que ela já possuía e aumentou o valor percebido por eles ao construir um relacionamento sólido com os clientes e priorizando o lifetime value (LTV) ao invés de ganhos de curto prazo. Um exemplo disso é a sugestão proativa de devolução de máquinas subutilizadas, o que gera confiança e fidelidade dos clientes, criando um custo de mudança (switching cost) significativo. Em outras palavras, ao longo dos anos, a United Rentals “deixou dinheiro na mesa” e repassou parte dos ganhos aos seus clientes.
          Essas vantagens fizeram com que a frota da United Rentals crescesse de 410 mil equipamentos em 2013 para mais de 1,5 milhão de equipamentos em 2025, consolidando ainda mais sua liderança no setor de rentals.
          A United Rentals é a maior companhia do setor de locação de equipamentos (ou, em inglês, “rentals”) dos Estados Unidos, possuindo uma fatia de 15% de participação do mercado e uma frota de máquinas com mais de 5.000 categorias de equipamentos. A frota da United Rentals é composta por:
33% de plataformas elevatórias ("aerial");
30% de empilhadeiras e transpaleteiras ("material handling");
25% de linha amarela ("earthmoving");
12% de outros tipos variados de máquinas.
          A United Rentals viu seu valor de mercado sair de US$ 550 milhões em 2008 para US$ 51 bilhões em 2025.
(Fonte: Market Makers - 29.01.2025)

28 de jan. de 2025

DeepSeek

          A DeepSeek é uma empresa privada chinesa de tecnologia fundada em fins de 2023 por Liang 
WenFeng, um gestor de fundos multimercados chinês.
          Em dezembro de 2024 a empresa lançou um modelo de IA que, segundo afirma, foi desenvolvido em dois meses por menos de US$ 6 milhões. Seu modelo têm código aberto. Ou seja: pode ser melhorado pela comunidade de desenvolvedores. O diferencial do aplicativo em relação a outros robôs de IA, como o ChatGPT, é sua capacidade de articular o raciocínio antes de apresentar uma resposta, aponta Frank Downing, diretor de pesquisa de Internet de Nova Geração da gestora americana Ark.
          "Assim como a série "o" da OpenAI, o R-1 utiliza o raciocínio em cadeia para lidar com desafios complexos de lógica e matemática, gerando respostas mais precisas e coerentes do que os modelos convencionais de linguagem ampla. Os índices de referência indicam que não apenas rivaliza com o modelo fechado o1 da OpenAI, mas também supera outros concorrentes do mercado".
           Pouco depois de meados de janeiro de 2025, a DeepSeek apresentou outro modelo que concorre com o ChatGPT da OpenAI, mesmo tendo de lidar com rígidas restrições dos EUA sobre chips, incluindo alguns modelos da Nvidia, apontam analistas da corretora americana Wedbush. "Não está claro se a DeepSeek encontrou uma maneira de contornar essas restrições e quais chips usou, e haverá muito ceticismo sobre essa questão, considerando que a informação vem da China".
          Uma reportagem do Wall Street Journal faz outras ressalvas. O valor divulgado pela DeepSeek não inclui os custos de pesquisa e desenvolvimento, nem várias outras despesas. Além disso, a empresa treinou seu modelo com chips da Nvidia estocados, em vez de infraestrutura chinesa, o que não é uma estratégia viável a longo prazo, já que os EUA podem continuar a restringir exportações de chips para o gigante asiático. O fundador da DeepSeek informou ao governo de Pequim que as restrições dos EUA às exportações de chips já são um problema.
          Considerando números de janeiro de 2025 a empresa conta com cerca de US$ 8 bilhões em 
ativos.
(Fonte: Valor - 25.01.2025)

18 de jan. de 2025

PPSA

          Até 2010, a exploração de petróleo no Brasil se fazia pelo regime de concessão: a petroleira paga ao governo bônus de assinatura, royalties e participação especial. Criou-se, então, o regime de partilha, para a área do pré-sal, no qual, em vez de participação especial, o governo recebe parte do óleo e gás natural extraídos. É um sistema complexo: calcula-se o custo das empresas, separa-se quanto do óleo e gás natural extraídos representa lucro, e retira-se deste a parte do governo, o excedente em óleo da União. O governo tem que arcar com os custos de transportar, armazenar e vender o óleo e o gás recebidos. A PPSA (Pré-Sal Petróleo S.A.) foi a estatal criada para lidar com esta complexidade.
          O regime de concessão é capaz de gerar a mesma renda para o governo que se obtém na partilha, bastando ajustar as alíquotas das participações governamentais. Por isso, tanto o regime de partilha quanto a PPSA são desnecessários e impõem custo elevado ao país, como mostra Décio Oddone no livro “Para não Esquecer: Políticas Públicas que Empobrecem o Brasil”. A PPSA, que nem precisava existir, está se tornando mais um canal de política parafiscal do governo. Em 26 de dezembro foi publicada a lei no 15.075, que autoriza a remuneração da empresa por fora do orçamento fiscal. Até então, a totalidade dos valores obtidos com a comercialização do óleo e gás natural da União entrava no orçamento, descontadas só despesas diretas com operações de vendas e tributos, sendo vedado descontar custos operacionais, investimentos ou remuneração à PPSA.
          A empresa era remunerada por contrato de gestão com o MME (Ministério de Minas e Energia), cujos valores eram registrados no orçamento fiscal. Assim, tanto as receitas da comercialização do óleo e gás natural da União quanto as despesas da PPSA transitavam integralmente pelo orçamento.
          Pela nova lei, passou a ser permitido descontar custos e remuneração da PPSA antes de se colocar no orçamento os recursos da comercialização do óleo e gás, acabando-se com a remuneração da empresa via orçamento do MME. Ou seja, entram menos receitas no orçamento e a remuneração e custos da PPSA deixam de aparecer na despesa orçamentária. A PPSA poderá elevar seus custos e receber remuneração maior do que a atual.
          Em2024, o MME pagou R$ 124 milhões à PPSA pelos seus serviços, e a receita com venda de óleo e gás natural da União foi de R$10bilhões. Se a regulamentação da nova lei destinar 10% dessas receitas para a PPSA, a empresa terá receita oito vezes maior. Esses valores se multiplicarão nos próximos anos. A PPSA estima que a comercialização do excedente em óleo da União gerará R$ 17 bilhões em 2025, chegando a R$ 95 bilhões em 2030. No período 2025-2034, a expectativa média de receita é de R$ 50 bilhões por ano.
          Esse dinheiro permitirá alimentar, por fora do orçamento, políticas de compras de navios, subsídios ao gás natural e quantas outras o governante de plantão desejar, além de inflar a folha salarial e bancar prodigalidades na PPSA.
          A empresa comemorou, em seu site, a “nova lei [que] permite autonomia financeira da PPSA”, sugestivamente ilustrada por uma chave de ouro em meio a uma chuva de folhas douradas. Ao mesmo tempo, já anunciou concurso para contratar 100 empregados e formar cadastro de reserva, mais que dobrando o efetivo, que hoje (início de 2025) é de 63 funcionários.
          Parte do excedente em óleo da União passa a pertencer à PPSA. Uma empresa desnecessária foi transformada em uma bilionária máquina parafiscal.
(Fonte: Folha 11.01.2025)

17 de jan. de 2025

Ma'aden

          A estatal de mineração saudita Ma’aden é uma das maiores mineradoras do mundo.
          A Ma'aden era totalmente de propriedade do governo saudita até 2008, quando metade de suas ações foram oferecidas na Bolsa de Valores Saudita (Tadawul). Em junho de 2018, a participação do governo aumentou com o Fundo de Investimento Público (PIF) administrado pelo príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman.
          A empresa saudita deve abrir um escritório em São Paulo para avançar iniciativas focadas em mapeamento geológico e parcerias no Brasil. O anúncio foi feito pelo ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira no Future Minerals Forum, evento que reúne as principais mineradoras do mundo.
          A inauguração do escritório estaria prevista para fevereiro e março (2025), fortalecendo as relações bilaterais entre o Brasil e a Arábia Saudita, dois países ricos em recursos naturais. A Ma’aden, , traria expertise e tecnologias avançadas que podem beneficiar o setor mineral do Brasil. Foi mencionado o valor de cerca de R$ 8 bilhões para mapeamento geológico no Brasil”.
          A economia da Arábia Saudita é fortemente dependente do petróleo, mas nos últimos anos, o país tem se engajado em uma estratégia de diversificação econômica. Esta iniciativa faz parte do plano “Vision 2030”, uma estratégia de transformação que visa reduzir a dependência de petrodólares expandindo para outros setores estratégicos, como mineração, turismo, energia renovável e inovação.
          A nação árabe deu um passo significativo em sua estratégia de usar a riqueza do petróleo e gás para expandir seu papel na indústria global de mineração ao adquirir uma participação na unidade de metais básicos da Vale.
          De acordo com o Ministro da Indústria e Recursos Minerais da Arábia Saudita, Bandar Ibrahim Alkhorayef, os esforços na transição energética incluem o aumento do uso dos recursos minerais do país. “Minerais críticos são essenciais para a cadeia de suprimentos e a transição energética”, disse ele.
          Apesar dos avanços econômicos, a Arábia Saudita continua sendo uma monarquia teocrática absoluta, onde o rei é o chefe de estado e governo. O Reino da Arábia Saudita é criticado por seu histórico de direitos humanos, incluindo a prisão de dissidentes, acadêmicos e ativistas.
(Fonte: Valor - 16.01.2025)

9 de jan. de 2025

Edge Group

          Criada em 2019, o a estatal de armamentos dos Emirados Ártabes Edge Group reúne hoje mais de 40 empresas de alta tecnologia e defesa e investe aqui desde 2023 — foi o primeiro país fora dos Emirados a receber investimentos.
          A empresa tem cerca de quatro anos, foi lançada em 2019, e foi uma fusão ou uma conglomeração das empresas de defesa que existiam nos Emirados. Então, essas empresas têm histórico diferente. A Edge Group, como empresa total, tem quatro anos, mas as outras empresas têm um legado bem maior, com mais tempo de histórico. Essas empresas se fundiram, cerca de 25 empresas, há quatro anos.
          Considerado um país pacifico e distante dos grandes conflitos que atormentam o mundo, como a Guerra da Ucrânia ou o Oriente Médio, o Brasil chamou a atenção Edge Group
          Nos últimos meses de 2024, o Edge Group aportou mais de R$ 3 bilhões no Brasil. Esse número engloba a compra de 50% da SIATT (sigla para Sistemas Integrados de Alto Teor Tecnológico), empresa brasileira especializada em armas inteligentes e sistemas de alta tecnologia, com sede em São José dos Campos, interior de São Paulo, e a Condor Não Letais, no Rio de Janeiro. O valor também inclui investimentos em outros projetos com a Marinha do Brasil de monitoramento da costa marítima e fabricação de mísseis antinavio de longo alcance e mísseis supersônicos.
          Rodrigo Torres, CFO da companhia, afirmou que país reúne algumas vantagens. A primeira delas são empresas produtivas, eficientes, e competitivas na área de defesa. Atualmente, o país conta com um polo tecnológico em São José dos Campos, onde estão companhias como a Embraer, além do ITA, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, considerado um dos centros de educação mais avançados do Brasil.
          “A ideia do Brasil é virar um foco para a América Latina. Internacionalmente, o nosso foco e objetivo é sempre a América Latina, a África e o Sul da Ásia. Temos visto com bons olhos esse desenvolvimento nesses lugares”, explica.
 “A Edge é uma empresa realmente de defesa, mas é uma empresa que é um pouco diferente das outras, onde o foco é talvez menos na parte convencional e mais na parte de tecnologia” (Imagem: Divulgação)
          A ideia inicial era aumentar a soberania de defesa dos Emirados. Mas, com o progresso obtido nos últimos quatro anos, principalmente com as aquisições internacionais que começaram a ser feitas, viu-se também um grande interesse na internacionalização da empresa. Assim, a empresa vem de um foco talvez mais doméstico e agora busca a internacionalização.
(Fonte: Money Times - 08.01.2025)

8 de jan. de 2025

Península Participações / O3 Capital

          A Península Participações é o family office de Abilio Diniz.
          A organização iniciou a captação de recursos de terceiros em 2021, com um acordo em que o family office de Abilio Diniz manteve o controle do negócio, com 51% do capital, enquanto os demais sócios e gestores detinham os 49% restantes. Na época, a gestora começou a operar com R$ 1,75 bilhão, sendo a maior parte desse valor — R$ 1,5 bilhão — oriunda da família Diniz.
          Inicialmente, a gestora O3 Capital foi criada em 2014 para administrar exclusivamente parte dos recursos financeiros da família Diniz. Sete anos depois, a gestora abriu suas operações ao mercado, em parte como uma estratégia para reter talentos.
          No final de 2024, a O3 Capital, gestora da Península Participações, demitiu seus empregados e encerrou as operações voltadas à captação de recursos de terceiros. Paralelamente, a Península passa por alterações na liderança, quase um ano após a morte de Abilio Diniz, incluindo a saída de Flavia de Almeida do cargo de CEO.A captação da O3 ficou abaixo das expectativas.
          Fontes ouvidas pelo “Valor” apontaram que os cortes de pessoal na O3 começaram em novembro de 2024, quando surgiram rumores sobre o encerramento das atividades. A organização, que iniciou as operações com 18 funcionários em 2021, enfrentou dificuldades para sustentar o modelo.
          A crise enfrentada pelos fundos multimercados nos últimos anos, marcada por saques bilionários e dificuldades para entregar resultados em um cenário de mudanças bruscas, impactou a estratégia da gestora. Procurada pelo jornal Valor para comentar o assunto, a Península afirmou que implementou uma “revisão estratégica” no negócio, envolvendo uma reorganização de funções e o encerramento das operações no varejo. 
          Questionada sobre uma possível relação entre a interrupção das atividades e o falecimento de Abilio Diniz, ocorrido em fevereiro de 2024, a Península não se manifestou.
          Entre as mudanças de destaque está a reestruturação na liderança da Península. A executiva Flavia de Almeida, uma das principais pessoas de confiança de Abilio, deixou a presidência da empresa, que passou a ser liderada por dois executivos. Almeida segue como membro do Conselho de Administração da empresa, cargo que ocupa há cinco anos.
(Fonte: BP Money - 08.01.2024)

6 de jan. de 2025

Encyclopaedia Britannica

          A Encyclopaedia Britannica foi muito além de suas origens no século 18, como editora de uma obra de referência elaborada por três impressores escoceses. Com o passar dos anos, a enciclopédia se tornou um peso pesado do setor de conhecimento, tanto literalmente (a edição de 32 volumes de 2010, a última a ser impressa, pesava 58,5 kg), quanto figurativamente, contando com contribuições de milhares de especialistas. 
          Em 1995, a Encyclopaedia Britannica foi adquirida pelo investidor suíço Jacob E. Safra.
          Por quase 250 anos, a Encyclopaedia Britannica foi uma série de tomos com letras douradas que lotavam as estantes, muitas vezes comprados para mostrar que seus proprietários se importavam com o conhecimento. Era o tipo de mídia física que se esperava que morreria na era da internet e, de fato, em 2012 a editora anunciou que estava encerrando a versão impressa. A edição de 32 volumes de 2010, foi a última a ser impressa. Os céticos se perguntavam como a Britannica, a empresa por trás das 
enciclopédias, poderia sobreviver na era da Wikipédia. A resposta foi adaptar-se aos tempos.
          O Britannica Group, como a empresa é conhecida atualmente, administra sites, incluindo o Britannica.com o dicionário online Merriam-Webster, e vende softwares educacionais para escolas e bibliotecas. O grupo também vende software de agentes de inteligência artificial (IA) que sustenta
aplicativos como chatbots de atendimento ao cliente e recuperação de dados.
          A Britannica descobriu não apenas como sobreviver, mas também como se sair bem financeiramente. Em uma entrevista, Jorge Cauz, seu CEO, disse que a editora teve margens de lucro de cerca de 45%. A empresa também está avaliando abrir seu capital, operação por meio da qual poderia buscar uma avaliação de cerca de US$ 1 bilhão, de acordo com uma pessoa próxima da empresa. Isso poderia proporcionar um retorno considerável para o seu proprietário, Jacob E. Safra, que, em uma ação judicial em 2022, citou um banco de investimentos ao avaliar a Britannica em US$ 500 milhões.
A empresa diz que seus sites atraem mais de sete bilhões de visualizações de páginas por ano,
com usuários em mais de 150 países. “Temos mais usuários agora do que jamais tivemos”, disse Cauz.
          Ela também se tornou um símbolo de status aspiracional, com clientes pagando quase US$ 1.400 
pela última edição impressa.
          A Wikipédia, com seu conteúdo gratuito e dezenas de milhares de editores ativos, interrompeu esse antigo modelo de negócios, especialmente depois que um estudo de 2005 – contestado pela Britannica – descobriu que as duas enciclopédias não estavam muito distantes uma da outra em termos de precisão. Ao eliminar o produto que definiu a empresa por mais de dois séculos, disseram os executivos, eles puderam investir mais recursos em produtos feitos para a era digital. Quando a última Encyclopaedia Britannica foi impressa, a empresa já havia iniciado seu conjunto de sites e softwares educacionais. Agora, ela vê uma oportunidade potencialmente ainda maior no crescimento das ferramentas de IA generativas, que podem ajudar a tornar o aprendizado mais dinâmico e, portanto, 
mais desejável.
          Cauz disse que a Britannica fez experimentos com essa tecnologia nas últimas décadas. Ela adquiriu a Melingo, a empresa que produz seu software de agente de IA, em 2000, devido à sua força em processamento de linguagem natural e aprendizado de máquina. Além disso, tem duas equipes de tecnologia, sediadas em Chicago e em Tel Aviv. A popularidade de chatbots como o ChatGPT convenceu seus executivos de que precisavam investir mais nesse espaço. A Britannica agora usa IA na criação, verificação de fatos e tradução de conteúdo para seus produtos, incluindo a enciclopédia online Britannica. E também criou um chatbot que se baseia nos estoques de informações da enciclopédia online, o que, segundo Cauz, tem maior probabilidade de ser preciso do que os chatbots mais generalizados, que podem ser propensos a “alucinações”, um termo oficial para inventar coisas. Assim, 
o site da Britannica adverte os usuários a “verificar todas as informações importantes”.
          A empresa tem mais projetos relacionados à IA generativa em andamento: um software de ensino de inglês que usará a tecnologia para alimentar avatares e personalizar lições para cada aluno, um programa para ajudar os professores a criar planos de aula e um dicionário de sinônimos renovado para o site Merriam Webster que pode lidar com frases, não apenas com palavras. Também se beneficiou da maior atenção dada ao software educacional, especialmente depois que o isolamento durante a 
pandemia aproximou mais professores e alunos às ferramentas de aprendizagem virtual.
          E essa demanda se reflete em seu desempenho financeiro. A Britannica está a caminho de praticamente dobrar sua receita em relação a dois anos atrás, quando deveria arrecadar cerca de US$ 100 milhões. E também está buscando expandir sua presença global, inclusive em países como Índia, Brasil e Tailândia.
(Fonte: Estadão - 01.01.2024)