Quando colocou os pés no Brasil pela primeira vez, em 1928, o sonho de Yoshio Yamada, comerciante de frutas de uma pequena cidade do Japão, era fazer da Amazônia um grande celeiro. Foi com essa ideia romântica que voltou ao Japão para constituir uma empresa e atender às outras exigências para tomar posse de uma gleba de 100.000 hectares no interior do Pará, onde pretendia assentar imigrantes japoneses. Não deu. Com a revolução de 1930, a concessão de terras acabou sendo anulada e Yoshio acabou tendo o primeiro contato com uma particularidade do Brasil que viria a conhecer muito bem: a instabilidade das regras do jogo.
Mesmo sem as terras, Yoshio resolveu tentar a sorte no país, mais precisamente na Amazônia. Depois de viver da lavoura e do pequeno comércio em Ourém e Igarapé-Açu, interior do Pará, Yoshio mudou-se para Belém.
Em 1942, quando o Brasil declarou guerra aos países do Eixo, Yoshio, assim como muitos outros japoneses radicados no país, passou a ser hostilizado. Foi durante uma temporada no presídio São José, em Belém, que começou a se dedicar à pintura. Na falta de material, usava carvão e as paredes do presídio como tela. O tema de seus quadros, expostos em mostras em Belém, Rio de Janeiro e Tóquio, era frequentemente a Amazônia.
Depois de deixar a prisão, foi confinado, junto com a mulher, Aki, e os três filhos - dois outros nasceram ali -, no campo de concentração de Tomé-Açu, de onde só saiu no final da guerra.
Com as economias amealhadas nos anos seguintes graças ao comércio de hortaliças e carvão vegetal, Yoshio, então com 54 anos, fundou, em 1950 a Y. Yamada & Cia. A partir daí, passou a vender de tudo: vergalhões, arames farpados, ferragens, motores marítimos, máquinas de costura (Mitsubishi, importadas do Japão), sementes e adubos químicos. Em 1957, comprou um grande lote de fogões a gás e introduziu o sistema de crédito em Belém. No início dos anos 1960, embarcou com força numa grande novidade. Com a chegada da televisão a Belém, Yoshio passou a vender televisores Philips, em
36 prestações. Daí em diante o voo foi de cruzeiro.
Tempos depois, transformou-se na maior rede de lojas de departamentos do Pará, o carro-chefe do grupo de 11 empresas que no início do novo século atuava nas áreas de processamento de dados, factoring, comércio de automóveis, turismo e pecuária de corte.
Depois de vencer a chamada década perdida - os anos 1980 - com a consolidação da loja de departamentos, a empresa deu em 1992 um passo estratégico. Para se firmar como um nome forte no varejo em tempos de intensa competição, passou a atuar também no ramo de supermercados. Os responsáveis pela explosão nas vendas de 1994 a 1998 foram os pipoqueiros, feirantes, flanelinhas, manicures, empregadas domésticas, ambulantes e outros representantes da economia informal que descobriram uma coisa rara. Para ter crédito em uma das 23 lojas da Yamada em Belém e em outras 6 no interior do estado, os clientes não precisavam, necessariamente, estar empregados ou ter uma fonte
de renda segura e estável.
Fernando Teruó Yamada, nascido em 1955, casado com uma médica em Belém e pai de três filhos, diretor financeiro da empresa no ano de 2000, é representante da terceira geração dos Yamadas encarregada de tocar os negócios da família. Nessa época, seu pai, Junichiro, nascido em 1928, um dos cinco filhos do patriarca Yoshio, falecido em 1973, ainda ocupava a presidência do grupo e exercia,
informalmente, as funções de ombudsman da empresa.
Considerando o ano de 2000, das maiores redes do país, apenas C&A, Arapuã, Riachuelo e Lojas Americanas disputavam o mercado local. Foi nesse vácuo que os grupos varejistas locais, como Yamada, Líder e Visão - tidos como muito agressivos na hora de defender seu território -, conseguiram firmar-se.
(Fonte: revista Exame - 15.11.2000)