Nos últimos dias de 2023, numa transação histórica no setor de energia, a EIG, uma importante empresa americana de investimentos em energia e infraestrutura, finalizou a aquisição da Ocyan. O negócio, avaliado em US$ 390 milhões ou R$ 1,8 bilhão pela taxa de câmbio de então, canalizará os recursos para o BNDESPar, subsidiária do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). Esse pagamento visa compensar parte da dívida detida pela Novonor (ex-Odebrecht), antiga controladora da Ocyan.
A Ocyan, notadamente ausente do processo de recuperação judicial da Novonor, teve suas ações penhoradas ao BNDES. A negociação, iniciada pela Novonor em novembro de 2020 para quitar uma dívida de R$ 2,8 bilhões, foi liderada pelo BNDES, iniciando a venda da Ocyan por volta do início de 2022. De acordo com especialistas do mercado, o processo atraiu interesse de vários setores, incluindo o fundo Mubadala e a empresa americana Oaktree.
O BNDES, em comunicado de fins de 2023, destacou a transação como produto de um rigoroso processo competitivo, levando a “uma recuperação significativa de créditos para o BNDESPar”. O acordo fixa a avaliação da Ocyan em US$ 390 milhões, sendo US$ 283 milhões atribuídos à participação acionária da Novonor. O valor restante é destinado à liquidação das debêntures de participação nos lucros da empresa, desprovidas de direitos políticos. “A parcela patrimonial da Novonor será redirecionada para a BNDESPAR, auxiliando na quitação parcial da dívida do Grupo Novonor, garantida por ações da empresa. A conclusão deste negócio, condicionada a pré-condições padrão, está prevista para o primeiro trimestre de 2024”, afirmou o banco.
O diretor-gerente da EIG no Brasil, Flávio Valle, revelou que a EIG cobriria metade dos custos da transação usando seus recursos. Esse capital foi acumulado localmente em parceria com a Lake Capital, marcando o primeiro caso de captação majoritária de recursos no Brasil para tal empreendimento. Os principais contribuintes foram investidores individuais com elevado patrimônio líquido. O saldo será financiado pelo BNDES, que elaborou um acordo de project finance de sete anos para a compra de ações da Ocyan pela EIG. No último ano, 40% do empréstimo está previsto para ser reembolsado.
Com o contrato em vigor, a EIG, dona do Porto do Açu, no Rio de Janeiro, passará a deter a propriedade integral da Ocyan. A atual liderança de Roberto Prisco Ramos permanecerá, acompanhada pela formação de um novo conselho composto pelo Sr. Valle, outros investidores do EIG dos EUA e consultores independentes especializados no setor.
O interesse da EIG no negócio depende fortemente da joint venture entre Ocyan e Brookfield, denominada Altera & Ocyan. Essa entidade, única especialista em plataformas do tipo FPSO com sede no Brasil, conforme observa Valle, possui clientes como Karoon e Petrobras. Segundo o executivo, dados os contratos de longo prazo denominados em dólares e a procura sustentada de combustíveis fósseis ao longo da próxima década, este empreendimento é bastante promissor.
O portfólio da Ocyan inclui ainda outros dois ativos: uma participação de 6,5% na DrillCo, fruto da reestruturação extrajudicial da dívida da empresa, que levou à segregação de cinco sondas de perfuração que atendem principalmente a Petrobras e um segmento dedicado à manutenção e serviços de sondas no indústria de petróleo e gás.
A EIG, não limitando seu escopo ao petróleo e gás tradicionais, está de olho nas oportunidades de energia renovável para a Ocyan, área em que a empresa americana atua. “Estamos focados em parques eólicos offshore, explorando caminhos como a pré-fabricação de turbinas, pás e torres. É um terreno novo para nós”, comentou o CEO da Ocyan, Roberto Prisco Ramos.