Muito tempo depois, em 1982, Ernesto fundou com seu pai e irmãos a marca Harald (cujo segmento é o de barras, bases e coberturas para confeitarias e restaurantes) que presidiu por 38 anos. Até que, em junho de 2020, no meio da pandemia do coronavírus, começou sua mais nova aventura no mundo dos chocolates, inaugurando a Danke.
A empresa já nasceu com uma forte preocupação com a sustentabilidade de toda a cadeia e, por isso, construíram em Altamira, no Pará, em plena exuberância da Floresta Amazônica, sua unidade fabril, pertinho dos mais de 100 pequenos agricultores familiares que fornecem cacau para a Danke, permitindo 100% de rastreabilidade. As caldeiras da fábrica são movidas a biomassa, o que reduz a emissão de carbono na atmosfera.
Neugebauer explica que, sem querer desmerecer a produção de cacau da Bahia mas, na sua opinião, o futuro do cacau está indo lá para o Pará. Ele acha que não só no Brasil mas em âmbito global as produções seguem para mais perto da linha do Equador. Há muitas áreas para crescer e o sul do Pará é enorme e tem muita terra que se tornou pasto. A floresta foi destruída. O cacau pode ajudar a recuperar esses locais. É uma cultura muito especial, já que a sua árvore é uma espécie de sub-bosque, com folhas largas e grandes. É uma planta desenhada para crescer na sombra. Também não tolera vento e, se estiver dentro de uma floresta, está protegida, também do stress hídrico. Ou seja, na floresta, o cacaueiro encontra um bioma adequado, já que pede um ambiente de solo fértil.
Até por volta de 2000, Ernesto Neugebauer estava muito focado em consolidar a Harald. E aí começou a ver a invasão dos chocolates belgas no Brasil e isso lhe indignava. E explica: "O Brasil é o país que reúne tudo de melhor para ter excelentes chocolates: temos cacau, somos o terceiro maior produtor de leite em pó, somos um grande produtor de açúcar, temos uma condição rara. Aqui é a terra do chocolate! Temos todas as matérias-primas de sobra, tudo num lugar só. Isso não existe em nenhum outro lugar no mundo!"
Em 1988, Neugebauer já visitara algumas fazendas de cacau na Bahia, que já estavam fazendo um ótimo trabalho com relação à qualidade, como a fazenda Leolinda do João Tavares, o Vale Potumuju, da Juliana Aquino, e viu que esses e outros produtores estavam produzindo cacau de excelente qualidade.
Não tem segredo, explica, para se fazer um chocolate bom tem que ter um cacau com baixo amargor, um cacau suave, com uma acidez muito equilibrada. E a missão da Danke é fazer o melhor chocolate do mundo, mas não para meia dúzia de pessoas. Quer fazer isso para se ter um consumo democrático, por um preço acessível.
(Fonte: Grão Especial)