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29 de jan. de 2022

Gilbarco

          A Gilbarco é uma fabricante de bombas para posto de gasolina, de São Paulo.
          Em 1989, os então controladores da empresa - a Gilbarco americana e o grupo Monteiro Aranha - compraram a Sadoll, uma companhia francesa que atuava no mesmo mercado da Gilbarco. A ideia era que a incorporação de um concorrente, ao aumentar o volume de fabricação, faria crescer o poder de fogo da Gilbarco.
          A aquisição da Sadoll acrescentou apenas 5% ao faturamento da Gilbarco. Em contrapartida, na outra ponta da contabilidade, as despesas haviam dobrado. Junto com a Sadoll, a empresa herdou uma montanha de impostos atrasados, pendências trabalhistas e outras dívidas que simplesmente passaram despercebidas na hora da incorporação. Para manter seus 720 funcionários, 40% mais do que antes da expansão, a Gilbarco começou a se endividar. Houve um corte de 250 empregados, mas o efeito colateral foi amargo: a situação financeira complicou-se ainda mais com as indenizações que tiveram de ser pagas aos demitidos.
          A empresa vivia no pior dos mundos em meados de 1990. Vendas em baixa, preços defasados, prejuízo no balanço e uma dívida de 10 milhões de dólares, que correspondia a 60% de seu faturamento, compunham um quadro desolador. No auge da crise, a empresa trocou de presidente, promovendo um diretor, o executivo Eduardo Ranieri, para o cargo número 1.
          Um dos primeiros documentos que Ranieri firmou, em agosto de 1990, foi justamente o pedido de concordata. "Foi a situação mais constrangedora que já enfrentei na vida", disse. Abalado, ele chegou a cogitar de pedir demissão, mas desistiu.
          Partiu do empresário César Duarte, presidente da Veeder Root, fornecedor de computadores para as bombas de gasolina da Gilbarco e um de seus maiores credores, a primeira atitude de apoio. Assim que soube da concordata, Duarte pegou seu automóvel e foi até o escritório de Ranieri, em Guarulhos, vizinha de São Paulo, demonstrar sua confiança em Ranieri. Confiança, no caso, significava crédito - uma mercadoria que costuma ficar escassa nessas horas.
          A compreensão dos parceiros nunca faltou a Ranieri. Após recompor a dívida junto aos bancos, tendo de dar como garantia seu próprio apartamento, ele rapidamente transformou a empresa num negócio capaz de atrair interessados em sua compra. Pouco antes de completar um ano do pedido de concordata, a Gilbarco foi vendida ao grupo Clifford, formado por investidores ingleses.
          A troca de dono foi a senha para Ranieri recolocar a empresa nos trilhos. A primeira providência foi a informatização da área de suprimentos. A venda de terrenos e a economia proveniente do fechamento de filiais deficitárias geraram mais receitas. Na linha de produção, os esforços resultaram num novo modelo de bomba. De uma participação de 45% no mercado interno, pulou para 60%.
          Em fevereiro de 1993, Ranieri podia respirar com mais sossego. Dívida equalizada, vendas superiores ao período antes da concordata, e o lucro, enfim, voltou a frequentar o balanço da companhia.
(Fonte: revista Exame - 03.03.1993)

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