Total de visualizações de página

6 de out. de 2011

Carrefour

          A sede mundial do grupo francês Carrefour está localizada nos arredores de Paris.       
          A primeira unidade do supermercado Carrefour no Brasil foi inaugurada em 1975. Localizada na marginal Pinheiros, na Zona Sul de São Paulo, esse hipermercado sempre foi considerado o símbolo da tradição e pujança da multinacional no país.
          De 1990 a 1993, a rede Carrefour bateu todos os supermercado brasileiros em vendas e era sinônimo de eficiência e excelência num mercado traumatizado pela pela recessão.
          Nos primeiros meses de 1994, houve uma revoada de executivos no Carrefour, então a maior rede de supermercados do país. De uma só tacada, o Pão de Açúcar, seu maior rival, contratou cinco diretores de lojas do Carrefour, entre eles o responsável pela unidade da Barra da Tijuca, uma das maiores do grupo.
          Por volta do ano 2000, o Carrefour fez uma das compras de maior destaque no caminho de seu crescimento. Trata-se da compra dos Supermercados Eldorado.
          A primeira loja (inaugurada em 1975), depois de passar por uma reforma em 2006, passou a ser considerada a mais completa e moderna da rede. Àquela altura, dezembro de 2006, o Carrefour já tinha se transformado num negócio de 12 bilhões de reais anuais e 412 lojas instaladas no país.
          Uma potência, enfim. É possível, porém, que alguém, em sã consciência, pensasse em fechar uma operação como essa? O espanhol José Luis Duran, presidente mundial do Carrefour, pensou. Logo após assumir o cargo, no final de 2004, Duran ameaçou sair do Brasil num prazo máximo de dois anos caso os resultados não melhorassem. Em 2006, o francês Jean-Marc Pueyo, presidente da subsidiária brasileira, mergulhou numa profunda reestruturação da operação.
          O Carrefour enfrentava dificuldades para operar novos formatos de supermercados no Brasil. A multi francesa havia comprado redes de supermercados regionais, como Mineirão, em Minas Gerais, Planaltão, em Brasília, e Rainha, Dallas e Continente, no Rio de Janeiro, e algumas das unidades da Lojas Americanas. As novas lojas foram reunidas em uma nova bandeira, a Champion, que marcava a entrada da rede em um novo segmento de mercado, o de lojas de vizinhança.
          Com a incorporação das lojas vieram as surpresas desagradáveis. Várias unidades adquiridas operavam na informalidade, com alto grau de sonegação de impostos. Ao regularizá-las, houve necessidade de aumentar os preços dos produtos, o que provocou a perda de clientes. Em 2006, o Carrefour desistiu de manter a bandeira Champion, com 133 unidades. Dessas lojas, 34 foram transformadas em Carrefour Bairro. As demais foram fechadas.
          Por vários meses o ultimato de Duran assombrou o negócio, mesmo que os executivos lotados na sede da empresa, localizada no bairro do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, não tocassem no assunto. O terror ficava maior à medida que o presidente mundial do Carrefour empreendia uma limpeza de dimensões globais. Duran levou ao patíbulo as operações da rede no México, no Japão, na Coreia do Sul e na Eslováquia. Dois anos antes, como responsável pela gestão financeira do grupo, ele já havia condenado a operação do Chile.
           A operação brasileira sobreviveu a esse primeiro ímpeto por causa de seu tamanho e complexidade em relação aos demais. Quando o Carrefour saiu do México, por exemplo, tinha 29 hipermercados. No Chile, não passava de cinco, e no Japão eram apenas oito lojas.
          No final de abril de 2007, o Carrefour anunciou a compra da rede de hipermercados Atacadão, do setor chamado atacarejo, por R$ 2,2 bilhões, transformando-se no "número um" do setor no Brasil em faturamento. Trata-se de uma das maiores operações no setor de varejo dos últimos anos. O Carrefour informou em comunicado que o protocolo do acordo assinado com o Atacadão, que tem uma fatia de mercado de 4% no Brasil, prevê o pagamento dos R$ 2,2 bilhões por suas 34 lojas, 17 das quais localizadas no Estado de São Paulo. (No início de novembro de 2004, o banco de investimento americano Merril Lynch teria analisado a rede Atacadão. Não ficou claro se o objetivo poderia ser a compra da rede pela área de investimento do banco, ou se a negociação estaria sendo feita em nome de um cliente (por exemplo, o Carrefour).
          Em meados de outubro de 2009, informações vindas das cercanias de Paris surpreenderam o ambiente de negócios. Acionistas indignados com lucros considerados insuficientes pressionavam a empresa a se desfazer de duas de suas maiores operações - a China e a bola da vez para os investidores, o Brasil. Pelo menos à primeira vista, a ideia carecia de lógica. Então dono de um faturamento anual superior a 89 bilhões de euros, o Carrefour crescia, basicamente graças a esses dois mercados. No Brasil, onde era vice-líder no varejo, a rede contava com mais de 560 lojas, um colosso com faturamento de 22 bilhões de reais. Na China, onde o Carrefour chegou por volta de 1999, havia 456 lojas em funcionamento. Mas, segundo o diário francês Le Monde, era exatamente essa a proposta de dois dos maiores acionistas do grupo - o aristocrático Bernard Arnault, dono do conglomerado de luxo LVMH, e o americano Thomaz Barrack, controlador do fundo de private equity Colony Capital, que juntos detêm 13,5% de participação.
          Apesar do desmentido, com demora, de que suas operações brasileira e chinesa estariam à venda, a revista Exame apurou que representantes de Arnault e Barrack continuavam a conversar com a rede americana Walmart, a maior varejista do mundo. A pressão para que o Carrefour se desfaça de uma operação tão importante - e com um enorme horizonte de crescimento - revela o viés claramente financeiro de Arnault e Barrack. Em 2007, a dupla pagou 4 bilhões de euros para entrar no bloco de controle do grupo com o objetivo de obter retorno de 30% do investimento em cinco anos. Eles só não contavam com a crise de 2008. E, como se sabe, as negociações não evoluíram.
          Em 16 de fevereiro de 2020, a empresa divulga que o Carrefour Brasil comprou 30 lojas da rede Makro, por R$ 1,95 bilhão. O objetivo é acelerar a expansão do Atacadão, marca de "atacarejo" do Carrefour. Com a aquisição, o Atacadão passa a ter 217 pontos de venda. Segundo comunicado, as lojas ficam em 16 estados e no Distrito Federal e as bandeiras serão convertidas em até 12 meses. A transação também envolveu a compra de 14 postos de gasolina.
          Em 24 de março de 2021, o Carrefour anuncia a compra da totalidade das ações do Grupo Big Brasil por R$ 7,5 bilhões. A rede Big pertence a uma sociedade entre a firma de private equity Advent International e o Walmart. Essa aquisição expandirá a presença do Carrefour em regiões onde tem penetração limitada, como o Nordeste e Sul do país. O negócio está sujeito à avaliação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a expectativa do Carrefour é obter o aval do regulador até 2022. O negócio também prevê que o Carrefour passará a administrar a bandeira Sam''s Club, através de um contrato de licenciamento com o Walmart.
          Em 26 de janeiro de 2022, o Cade determina que o Carrefour deve vender onze unidades para concluir a compra do Grupo Big Brasil. As unidades já foram listadas pelo Conselho e estão localizadas no Rio Grande do Sul, Ceará e Pernambuco.
          No início de setembro de 2022, o Carrefour inaugurou as quatro primeiras lojas convertidas da bandeira Maxxi, o atacarejo do Grupo Big, para a marca Atacadão. A companhia estima que em outubro o número de aberturas de conversões alcançará vinte lojas.
          Em fato relevante divulgado em 11 de abril de 2023, um ajuste de até R$ 1 bilhão no valor pago pelo Carrefour ao fundo de private equity Advent e Walmart para o BIG, ocorreu após meses de negociação e atritos que afetaram até a equipe de gestão da empresa. No dia seguinte, a direção do Carrefour informou que ajustes contábeis relacionados a diferenças de valor já haviam sido feitos em 2022. O problema surgiu depois que a assessoria jurídica do Carrefour identificou diversos passivos trabalhistas do Big não provisionados, no valor de R$ 2 bilhões, relativos ao período sob controle do Walmart. O problema foi verificado depois que o CADE deu sinal verde para o negócio, em maio de 2022.
(Fonte: revista Exame - 12.05.1993 / 13.04.1994 / 10.11.2004 / 28.12.2006 / 21.10.2009 / Folha-Efe - 23.04.2007 / Eleven Financial - 17.02.2020 / Valor - 24.03.2021 / Eleven Financial - 26.01.2022 / Valor - 05.09.2022 / 12.04.2023 - partes)

Nenhum comentário: