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30 de jan. de 2022

Verolme

          O estaleiro Verolme, do Rio de Janeiro, entrou em desequilíbrio financeiro tendo como causa o gigantismo. O estaleiro já foi um dos dez maiores do mundo. No final da década de 1970 chegou a empregar 9.000 pessoas. A empresa sofreu por não ter sido capaz de fugir da dependência do governo, seu maior cliente.
          Nas mãos dos empresários Peter Landsberg, ex-presidente da Shell, e seu genro, Paulo Kós, o Verolme foi-se endividando cada vez mais. Em meio ao processo de deterioração financeira, os empresários esboçaram uma tentativa de diversificação ao comprar uma fazenda agropecuária no Mato Grosso. A operação só serviu para comprometer ainda mais a sua liquidez.
          Em setembro de 1990, o Verolme carregava uma dívida de 110 milhões de dólares. Foi quando pediu concordata.
          Em setembro de 1991, o estaleiro Verolme foi comprado pelo empresário Nelson Tanure.
          Até marco de 1993, já tinha depositado na Justiça 12 milhões referentes às chamadas dívidas quirografárias - nome dado aos débitos contraídos sem garantias reais - com bancos e fornecedores. O Verolme devia 50 milhões de dólares a seis bancos - Bamerindus, Citibank, Chemical Bank, Crefisul, Unibanco e Sumitomo. Para quitá-las recorreu a dações de imóveis e pacotes de ações. O Citi, por exemplo, ficou com 18% do capital. Com esses trunfos, o estaleiro pediu a desistência da concordata. Sua saúde, no entanto, ainda inspirava cuidados.
          Para diminuir os efeitos do desastre, o Verolme demitiu 2.000 funcionários, metade do contingente de 1986, o último ano que deu lucro. A folha de pagamento passou a pesar um pouco menos nos custos. Em compensação, as demissões geraram uma dívida de 15 milhões de dólares em salários atrasados e indenizações trabalhistas. Para saldá-la, o Verolme aproveitou para livrar-se das 1.000 residências de sua propriedade em Jacuacanga, nas vizinhanças da matriz, em Angra dos Reis. Os imóveis eram utilizados como residência dos funcionários.
          Em alguns casos, os funcionários preferiram trocar a dívida por ações da empresa. Com isso, o estaleiro reduziu mais 2,1 milhões de dólares de suas dívidas trabalhistas. No total, os empregados receberam cerca de 10% do capital do estaleiro, montante que os fez ter direito a um lugar no conselho de administração.
          Apesar dos esforços para equacionar as dívidas, o Verolme ainda não se recuperara considerando março de 1993 como base. Faltava o principal: encomendas. Desde que pediu concordata, o Verolme não conseguiu novos contratos. Os dois navios para a Petrobras e as duas corvetas para a Marinha, então em construção, foram contratados antes do naufrágio. Era quase nada. A capacidade ociosa do Verolme era elevada: 70%. Tanure pretendia integrá-lo a seu outro estaleiro, o Emaq. A intenção era racionalizar a produção das duas empresas, à espera de uma retomada da construção naval em todo o mundo. "Estamos nos preparando para ter muitas encomendas quando esse momento chegar", disse Nobuo Oguri, presidente do Verolme.
(Fonte: revista Exame - 03.03.1993)

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