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31 de out. de 2011

Antarctica

          Louis Bücher, de uma família de cervejeiros de Wiesbaden, Alemanha, chega a São Paulo em 1868 e abre uma pequena cervejaria, na qual emprega arroz, milho e outros cereais, em vez de cevada. Em 1882 associa-se a Joaquim Salles, proprietário de um abatedouro de suínos, localizado no atual bairro da Água Branca, estabelecimento que tinha o nome de "Antarctica". Salles possuía uma "máquina de fazer gelo" em seu abatedouro, com capacidade ociosa. Procurando uma nova serventia para sua "máquina", associou-se a Bücher, cervejeiro, que necessitava de gelo.
          Criou-se assim em 1885 (alguns consideram 1888, o ano da criação) na Água Branca, a primeira fábrica de cerveja do país, com tecnologia apropriada para a cerveja de baixa fermentação, a "Antarctica Paulista — Fábrica de Gelo e Cervejaria", dirigida por Louis Bücher. A produção inicial da nova cervejaria foi muito pequena, de 1000 a 1500 litros diários, logo aumentados para seis mil. Em 12 de fevereiro de 1891 a empresa passou a chamar-se Companhia Antarctica Paulista, agora uma sociedade anônima.
          Sobre o nome Antarctica, é interessante citar que o primeiro logo feito para reproduzir a decantada cerveja, trazia dois ursos brancos polares sobre um campo de gelo, supostos habitantes do continente antártico, a Antártica (na marca, grafada como Antarctica). Mas por não haver ursos no pólo sul, o símbolo logo mudou para os dois pinguins sobre um campo de gelo, que prevalece até hoje.
          A empresa tinha 61 acionistas e 2245 contos de réis de capital inicial. Entre os acionistas estavam João Carlos Antonio Zerrener, alemão, e Adam Ditrik (Dietrik?) von Bülow, dinamarquês, ambos naturalizados brasileiros e proprietários da empresa Zerrener, Bülow e Cia., de Santos, importadores, exportadores e corretores de café. Ambos desempenharam um papel fundamental na modernização da empresa, fornecendo equipamentos importados da Alemanha e colocando à disposição da nova sociedade 860 contos de réis de seu próprio capital.
          Em 1893 a desvalorização da moeda brasileira deixou a firma em situação de insolvência. Foi quando Zerrener e von Bülow assumiram o controle da empresa e os acionistas decidiram por unanimidade reduzir o capital para 1710 contos de réis e o crédito concedido pela firma Zerrener e Bülow foi transformado em ações, tornando ambos majoritários da empresa cervejeira.
          Os problemas financeiros não duraram muito. Em 1899 o capital da empresa passou a 3500 contos de réis, empregava trezentos funcionários, produzia 50 mil hl anuais de cerveja e cinquenta toneladas de gelo por dia.
          Seis anos depois (1905), a Antarctica comprou sua maior concorrente em São Paulo, a Cervejaria Bavária, de Henrique Stupakoff, por 3700 contos de réis, quando seu capital já era de 8500 contos. Nessa época a Antarctica Paulista estabeleceu um acordo com a maior cervejaria carioca, a Companhia Cervejaria Brahma, regulando os preços e os volumes de venda em todo território nacional. Foi o primeiro cartel da cerveja no país, e não seria o último.
         Em 1902 o capital da empresa era de dez mil contos, pagando altos dividendos aos acionistas — de apenas 3% em 1891, de 6 a 20% de 1898 a 1901, estabilizando-se em 10% em 1906. A segunda unidade fabril da Antarctica foi aberta no bairro da Mooca em 1904, para onde mais tarde foi transferida a sua sede. A produção de água mineral iniciou-se em 1909 e dois anos depois construiu-se uma sede em Ribeirão Preto. No início dos anos 1920, com um capital de 12750 contos de réis a produção era de 250 mil hl anuais.
          Sob o comando de Zerrener, a Antarctica sempre cultivou como virtudes a obediência a normas internas e a condenação ao personalismo. Esse estilo foi reforçado no final da década de 1930, quando, com a morte de Zerrener, uma fundação criada por ele assumiu o controle acionário da Antarctica. Batizada de Antônio e Helena Zerrener, a fundação possuía, em meados de  1995, 87,7% do capital total da empresa.
          Em 1920 a Antarctica mudou-se da Água Branca para a Mooca, na Avenida Presidente Wilson, para as antigas instalações da Cervejaria Bavária, onde está até hoje. Uma das razões da mudança talvez tenha sido a proximidade das fábricas de sabão das Indústrias Matarazzo, que empestavam o ar de toda região. Foi também nessa época, em 1921, que a Antarctica vendeu ao então "Palestra Itália", hoje Palmeiras, o terreno onde está o clube (razão do nome "Parque Antarctica"), por preço e prazo "de égua"... Uma das cláusulas da transação era um "contrato perpétuo" de venda dos produtos da companhia.
          Adam von Bülow e Zerrener trabalharam quase três décadas juntos até 1923, quando Adam morreu. Foi aí que Carl Adolph Von Bülow, filho de Adam, assumiu a empresa, mas as ações do pai foram divididas com os outros cinco irmãos. Mais tarde, com a morte de Zerrener, criou-se a Fundação Antonio e Helena Zerrener para administrar os bens deixados a parentes da Alemanha. As irmãs de Carl Adolph aproveitaram para vender suas ações à fundação, que passou a controlar a empresa. A família von Bülow, antes com metade do controle da cervejaria, ficou com pouco menos de 30%, em 1936. A participação acionária do núcleo familiar foi diminuindo até a fusão da Antarctica com a Brahma em 1999, quando foi criada a Ambev.
          A partir de 1930 tanto a Antarctica como a Brahma passaram a eliminar quase todos os concorrentes, processo na realidade iniciado em 1904 e mantido também com relação à importação das cervejas estrangeiras, graças a pressões, influências e poder das duas empresas sobre as autoridades responsáveis pela política alfandegária.
          Com essa atitude a cerveja nacional era um produto caro para o consumidor comum. O salário diário de um serralheiro em 1919 correspondia a seis a oito garrafas de cerveja. O de um operário têxtil, de quatro a dez garrafas e o de uma faxineira somente duas e meia garrafas de cerveja Antarctica. Contavam que, na década de 1920, em Lins, no interior paulista, uma cerveja custava duzentos réis. Se gelada, trezentos.
          Em anúncio veiculado no dia 23 de setembro de 1939 na revista O Cruzeiro, e outro no diário Folha de Santos, em 26 de junho de 1930, a Antarctica promovia sua linha bock de bebidas com um anúncio que mostrava que seu consumo era adequado para os dias frios: Tip-Top, a saborosa cerveja de inverno da Antarctica. Em 14 de junho de 1907, a Companhia Antarctica Paulista registrara a cerveja Tip Top sob o nº 881 da Junta Comercial do Estado de São Paulo.
          Em 1960, a Antarctica compra a cervejaria Bohemia, localizada em Petrópolis, estado do Rio de Janeiro.
          Em 1990, a Antarctica perde o primeiro lugar no mercado de cervejas para a sua rival Brahma. E, se até ali Antarctica e Brahma só "distribuíam" toda a sua produção, a situação mudara sensivelmente. A Brahma fora comprada pelo Garantia e logo, uma profunda reforma transformou-a, rapidamente, numa empresa moderna, agressiva em seu marketing e ferozmente determinada a competir. O problemas (para a Antarctica) não pararam aí. Com menos dinheiro no bolso, os consumidores procuraram as marcas mais baratas. Garrafas com rótulos da Kaiser, que irrompeu no mercado com o poder de fogo da Coca-Cola, da Skol, braço da própria Brahma, e da atrevida Schincariol começaram a circular com mais frequência na mesa dos bares.
          Poucos anos depois, em meados de 1995, a Antarctica esteve perto de reconquistar o primeiro lugar. No período outubro/novembro de 1994, a empresa tinha 30,4% do mercado nacional de cervejas, contra 27,8% no bimestre anterior. No mesmo período, a Brahma caiu caiu de 33,9% para 31,9%. Nos três anos anteriores, a Antarctica promoveu uma série de mudanças, com o objetivo indisfarçável de reconquistar o primeiro lugar. Foi a mais profunda e radical revolução de sua longa história. Todos os valores foram questionados. Alguns abandonados, outros reforçados. "", disse Victório Carlos De Marchi, um dos membros do conselho de administração da Antarctica.
          De Marchi tem uma longa história de relação com a empresa: seu pai era sócio, desde 1967, de uma distribuidora de bebidas em São Paulo. Na Antarctica, isso era fundamental. De Marchi jogou todo o seu prestígio nas mudanças da empresa. Entregou grande parte da tarefa para alguns de seus discípulos, como Paulo Pereira, o diretor de marketing. Pereira foi um dos desenhistas do Projeto Excelência 2.000. A seu lado, estavam dois gerentes da Antarctica e sete consultores da Andersen Consulting, em trabalho que foi iniciado em maio de 1993.
          No seu processo de mudança, a Antarctica já podia contar com realizações significativas. Eis algumas delas: o número de empresas do grupo Antarctica estava sendo reduzido de 22 para apenas oito; entre 1990 e 1994, o quadro de funcionários passou por um forte enxugamento. Eram 22.500, diminuiu para 16.500; diminuiu a idade e tempo de casa de seus 200 principais executivos na área industrial. O mesmo aconteceu na diretoria de marketing; a rede de distribuição também foi invadida pelo novo espírito. As cerca de 900 revendas passaram a profissionalizar suas estruturas e modernizando-se.
          Os primeiros passos da grande virada da Antarctica começaram a ser dados em 1990, com a contratação de duas agências de publicidade agressivas e renovadoras, a DM9 e a W/Brasil. para substituir a Progres. Na mídia, passou a patrocinar eletrizantes campanhas publicitárias povoadas por gente como Madonna, Ray Charles e até Kim Basinger, ou esquentadas pelo som e pelo ritmo de Daniela Mercury e Jorge Benjor. Saíram Sargentelli e suas mulatas e os dois sujeitos que diziam "viemos aqui para beber ou para conversar?". O guaraná, dono de 21% do mercado de refrigerantes do país, tinha como slogan "Puro e natural". Um novo slogan foi criado: "Esse é o sabor".
          A Antarctica Bock foi lançada em 1994, pegando carona no sucesso da Kaiser Bock, não foi tão bem recebida, e durou apenas alguns anos no mercado. 
          Em março de 1999, a cervejaria americana Anheuser-Busch, fabricante da Budweiser, estaria aumentando sua participação na Antarctica Empreendimentos de 5% para 10% em mais cerca de 70 milhões de dólares somados aos 50 milhões de dólares referentes aos primeiros 5% da Antarctica. O prazo para finalização do negócios seria até setembro. Já em meados de 1993, a associação, cujas negociações se arrastavam há mais de um ano, quase foi levada a cabo.
          Em julho de 1999 a Antarctica une-se à Brahma, formando a Ambev - American Beverege Company (vide origem das marcas AmBev InBev AB Inbev neste blog). Na bagagem, a Antarctica levou uma série de marcas: Antarctica, Serramalte, Bohemia, Bavária, Kronenbier, Caracu, Malzbier, Original e Polar.
          A partir do mês de março de 2018, as latas e garrafas da marca lançada em 1885 ganharam um design que resgata sua história, revigora os icônicos pinguins e se inspira nos símbolos do samba carioca para modernizar sua identidade visual. Uma das principais mudanças está nos pinguins que acompanham a marca desde sua fundação. Eles receberam tratamento especial e ficaram mais vistosos e emblemáticos. A “faixa azul” que acompanhou os rótulos de Antarctica ao longo de todo o século XX também está de volta, assim como brasão de cevada, ausente nas últimas versões dos rótulos. Por certo tempo, “Faixa Azul” foi sinônimo de Antarctica. Por isso, nada mais óbvio do que tê-la de volta modernizada, mas resgatando essa tradição.
          No início de 2024, proposta da prefeitura de São Paulo prevê o restauro de três imóveis industriais históricos (e tombados) da Mooca, transformando-os em equipamentos públicos, com uso a ser definido. A lista abrange a antiga fábrica da Companhia Antarctica, na Presidente Wilson, a Tecelagem Labor, na Rua da Mooca, e as Oficinas Casas Vanorden, na Borges de Figueiredo.
(Fonte: livro Os Primórdios da Cerveja no Brasil - Sérgio de Paula Santos - texto de Edgard Köb / vidavibrante.com / Dalmir Reis Jr (Propagandas Históricas) / revista Exame - 26.08.1995 / 10.12.2003 / São Paulo Antiga - 02.07.2009 / Veja SP - 22.06.2017 / Grande Nomes da Propaganda - 28.03.2018 / Estadão 12.01.2024 - partes)
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AmBev InBev AB Inbev

AmBev         
          Era o ano de 1988 quando os banqueiros do Banco Garantia Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira compraram a Brahma, uma pequena cervejaria com sede no Rio de Janeiro.
          Marcel Telles foi alçado por Lemann à presidência da Brahma em 1989, escolhido entre os melhores executivos do banco Garantia. A Marcel deve ser creditada a decisão de investir agressivamente no marketing da Brahma e da Skol, de apostar na expansão internacional dos negócios da empresa, que abriu uma fábrica em 1996 na Argentina. Em 1994, a Brahma já havia expandido as operações para a Argentina, Paraguai e Venezuela.
          Carlos Alberto Sicupira, desde que deixou o dia-a-dia da Lojas Americanas, no início de 1992, passou a dedicar-se à atividade de caçador de novos negócios. Vislumbrou possibilidades de sociedades ou mesmo aquisição de várias empresas. Pouquíssimas foram as que interessaram. Entre elas estava a Indústrias de Bebidas Müller, de Pirassununga (SP), fabricante da aguardente 51, procurada pela GP Investimentos em 1992/1993. A família Müller, porém, recusou-se a conversar sobre o assunto.
          A Brahma se expandiu exponencialmente, mas, pasmem, quem realmente fez a empresa crescer foi a marca Skol, que ultrapassou a Brahma e assumiu a condição de cerveja mais consumida no país.
          Em meados de abril de 1999, num almoço no restaurante Fasano (ou Gero?) em São Paulo, onde estavam Marcel Telles da Brahma e Victorio De Marchi, da Antarctica, um dos assuntos foi a dívida que cada empresa tinha em dólares, pouco tempo depois da desvalorização do Real, ocorrida no início daquele ano. Não necessariamente por causa disso, mas dali teria surgido a ideia da fusão das duas empresas. Em um esquema de sigilo absoluto, o assunto foi levado a outros membros das diretorias das duas empresas e, batido o martelo, uma equipe foi montada para analisar todos os dados das empresas, o que não era pouco. Abrangia as diversas marcas de cerveja, refrigerantes, caminhões, dezenas de unidades fabris, fornecedores e centenas de revendedores. Nenhuma notícia poderia vazar antes da divulgação oficial simultânea para todo o mercado. Depois de 75 dias de um trabalho exaustivo feito em um andar do prédio da agência DMB&D, participante da equipe, Antarctica e Brahma se uniram para criar a Companhia de Bebidas das Américas - AmBev. "AmBev", saiu na realidade do nome da filial criada nos Estados Unidos: American Beverage Company. O nome, Ambev, sugerido por Marcel Telles já na primeira reunião, indicava que a empresa queria crescer nas Américas, segundo Victorio De Marchi, ex-presidente da Antarctica e conselheiro da Ambev.
          Ao apresentar a Ambev, em julho de 1999, a Antarctica, de 3,3 bilhões de reais de faturamento, e a Brahma, de 7 bilhões de reais, lançaram o Brasil de forma espetacular na era das megafusões. Com 16.500 funcionários, 50 fábricas e produzindo 8,9 bilhões de litros de bebida por ano, a AmBev passou a ser a quinta maior empresa de bebidas e a terceira maior cervejaria do mercado - no mundo. Passou a ser um gigante com fôlego e apetite para co  mprar ou abrir fábricas no exterior, justificando o slogan de "multinacional verde-e-amarela".
          No dia 11 de novembro de 1999, a Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, finalmente divulgou o parecer sobre a fusão da AmBev. E o alvoroço foi enorme. A AmBev tinha discursos prontos para cinco decisões diferentes da secretaria, entre elas até um parecer totalmente contrário à fusão. Não passou pela cabeça de ninguém, porém, que a Seae pudesse falar na venda de uma marca inteira, com todos os seus ativos. Mas foi o que aconteceu. A sugestão recaiu sobre a Skol. A explicação é que a Skol só tem cervejas, enquanto a Brahma e Antarctica trabalham também com refrigerantes, águas e outras bebidas. Não teria lógica mandar a AmBev se desfazer da cerveja Antarctica e continuar com o guaraná Antarctica. Lógica é o que mais faltou à Seae na opinião da AmBev. "Se vendermos a Skol, será a primeira vez em que as companhias ficam menores depois de uma fusão", disse Marcel Herrmann Telles. A decisão do Cade ainda estava por vir.
          A AmBev teve que vender a marca Bavaria (então com 4,5% do mercado, a Bavaria foi vendida para a canadense Molson, por US$ 98 milhões, em 2000), por imposição do Cade. Mas, além das marcas Brahma, Brahma Extra, Skol e Antarctica, ficou ainda com as marcas Bohemia, Original, Caracu e Serramalte que pertenciam à Antarctica.
          Poucos meses depois da fusão, no final de 1999, a Skol era a líder de vendas em cervejas, com 26,8% do mercado de marcas pílsen, o mais disputado. A Antarctica tinha 12,9% do mercado. A Brahma aparecia com 21,3%, a Kaiser possuía 14,5% e a Schincariol, 8,7%.
          Nos cinco anos seguintes a companhia ganhou mercado na América do Sul. Um ano depois de a fusão ter sido aprovada pelo Cade em 2000, a Ambev já havia comprado duas fábricas no Uruguai. Nos primeiros dias de maio de 2002, a Ambev compra participação na Quilmes argentina, deixando bem clara a vontade expansionista na América Latina. Pagou US$ 346,7 milhões por 37,5% do capital total da Quinsa, detentora da marca Quilmes, então dona de 69% do mercado argentino. E ficou com a opção de ficar com o controle no futuro. A Quilmes tinha fábrica também na Bolívia, no Chile, no Paraguai e no Uruguai.
          Em julho de 2017, a AmBev adquiriu um conjunto de marcas de bebidas mistas pertencentes à Mark Anthony Group, no Canadá, por US$ 350 milhões.
         Em dezembro de 2017, a empresa anuncia a aquisição da Tenedora, titular de quase a totalidade da Cervecería Nacional Dominicana. A compra envolveu o pagamento de US$ 926,5 milhões à E. León Jimenez (ELJ) e foi finalizada em janeiro de 2018, quando então a AmBev passou a ter 85% de participação na Tenedora e os outros 15% ficaram com a ELJ.
          Considerando a marca Antarctica, no passado, os consumidores falavam das cervejas de determinada fábrica. Em entrevista à revista Exame, em março de 2018, Victorio De Marchi foi perguntado se isso se perdeu e se a receita das marcas tradicionais mudou. De Marchi explicou que "havia certa preferência mesmo. Em São Paulo, as cervejas de Ribeirão Preto ou de Agudos eram as mais valorizadas. A Antarctica de Joinville (Santa Catarina) era a melhor do mundo, muito famosa. Mas mantivemos as fórmulas originais, o mercado é que mudou."
          Em agosto de 2018, a companhia inaugurou o Centro de Inovação e Tecnologia Cervejeira (CIT) -, um dos mais modernos centros de inovação cervejeira do mundo, localizado no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trata-se do sexto centro do grupo AB Inbev no mundo, com cerca de 80 pessoas, sendo mais de 10 mestres-cervejeiros, com a missão de fermentar novas ideias para o mercado brasileiro. Dois lançamentos saíram de lá: a Skol Hops e Skol Puro Malte. Em menos de um ano no mercado, Skol Hops já estaria apresentando volumes equivalentes às vendas da linha Brahma Extra, e a Skol Puro Malte teria chegado para ser a primeira puro malte leve do mercado.
          No início de 2020, foi estabelecida em Lages, na Serra catarinense, a Fazenda de Lúpulo Santa Catarina. Já nos primeiros meses, o lúpulo plantado rendeu uma colheita que foi destinada à produção da primeira cerveja feita em escala industrial com lúpulo brasileiro. A produção ficou por conta da Lohn Bier, de Lauro Müller (SC), e resultou no rótulo Green Belly (barriga verde), uma Hop Lager que foi vendida em uma edição limitada. No segundo momento do projeto, foi criado um viveiro que vai ter a capacidade de produzir 60 mil mudas de lúpulo na etapa inicial. As mudas serão doadas para agricultores familiares na região, que pela temperatura fria e a alta incidência solar tem condições favoráveis para o cultivo. A fazenda Santa Catarina é um projeto da Ambev, que toca o projeto com um braço de inovação. O objetivo é incentivar a produção de lúpulo para atender ao mercado nacional, deixando o setor cervejeiro menos dependente das importações.
          Em setembro de 2020, a Ambev inaugurou uma fábrica de latas com capacidade para produzir 1,5 bilhão de latas por ano devido à maior demanda de clientes que bebem em suas casas, uma vez que a pandemia de Covid-19 afetou a demanda em bares. Esta é a primeira fábrica de latas da Ambev e está localizada em Sete Lagoas, no estado de Minas Gerais.
          Desde a segunda metade de dezembro de 2020, a Ambev começou a vender e entregar produtos da Beam Suntory em pontos de São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul e região Nordeste. A nipo-americana Beam Suntory, terceira maior fabricante mundial de destilados, atrás da inglesa Diageo e da francesa Pernod Ricard, fechou acordo com a Ambev para a distribuição de seu portfólio no Brasil.
          O portfólio da Ambev conta com cervejas, conforme descrito no parágrafo abaixo, refrigerantes (Guaraná Antarctica, Sukita e outros), H2OH! (suco/refrigerante), chás (Lipton), isotônicos (Gatorade), energéticos (Fusion), sucos (do bem), e AMA, a água mineral que destina 100% de seu lucro para projetos que levam acesso à água potável para famílias do semiárido brasileiro.
          Atualmente, como resultado de aquisições, fusões e criação de novas marcas, o portfólio de cervejas da AmBev (em território brasileiro), abrange as seguintes marcas: Brahma, Skol, Antarctica, Original,  Serrana, Serramalte, Bohemia (838 Pale Ale, Aura-Lager, 14-Weiss, Magna Pils), Caracu (desde 1899), Malzbier, Kronenbier (sem álcool), Polar (somente no RS), Nossa (somente em PE), Magnífica (somente no MA), Colorado, Wäls, Kona, Stella Artois, Budweiser, Spatn, Leffe, Corona, Becks, Goose Island e Hoegaarden.
          Suas unidades fabris estão espalhadas pelo país: Almirante Tamandaré (PR), Anápolis (GO), Aquiraz (CE), Camaçari (BA), Contagem (MG), Itapissuma (PE), Jacareí (SP), Jaguariúna (SP), Lages (SC), Louveira (SP), Piraí (RJ), Sapucaia do Sul (RS), Sete Lagoas (MG).
          Considerando dados de abril de 2018, a AmBev está presente em 19 países, sendo que a principal operação é a do Brasil, com mais de 32 mil pessoas, que responde por 53% da receita.
          Em junho de 2021, a Ambev divulga que vai começar a importar o vinho argentino Dante Robino para comercializar no aplicativo Zé Delivery. É a primeira vez que a companhia importa a bebida para o Brasil. A vinícola é da Ambev desde fevereiro de 2020, quando a subsidiária Quilmes comprou a marca na Argentina.     
          Em agosto de 2021, a Ambev anunciou a criação de uma nova unidade na companhia que ficará dedicada a cuidar de seu portfólio de bebidas alcoólicas diferentes de cervejas. Este movimento mostra a multinacional brasileira seguindo os passos de sua holding global que tem ampliado seus investimentos no universo de bebidas alcoólicas para além do mercado de cerveja. No primeiro semestre de 2021 cerveja representou 75% do volume vendido e 85% da receita líquida da Ambev. A nova unidade se chamará Future Beverages and Beyond Beer ( Bebidas do futuro e além da cerveja, em tradução livre) e já conta com um portfólio de oito produtos que possuíam sua operação realizada de forma separada. Essas marcas que devem ganhar uma estratégia, planejamento e operação mais coesos são a bebida mista Beats (que não se chama mais Skol Beats), os hard seltzers Mike’s e Isla, os vinhos em lata Somm e Blasfêmia e o vinho em garrafa Dante Robino. Para comandar a nova unidade, a empresa selecionou Daniela Cachich, que era a vice presidente de marketing da PepsiCo (a Pepsi é distribuída pela Ambev no país). A nova unidade de bebidas da empresa terá atuação em toda a América do Sul. Com esta mudança a Ambev dá foco no desenvolvimento e escalonamento de linhas de produtos com grande potencial de crescimento na região, onde o mercado de cerveja já atingiu um ponto de maturação em volume vendas bastante grande.
          Em 12 de abril de 2022, a Ambev apresentou um “novo capítulo” de sua história aos investidores. “Dizer que somos uma empresa de bebidas não nos representa mais inteiramente”, disse o CEO Jean Jereissati ao Valor. O grupo quer ser, cada vez mais, uma plataforma, que vá além da venda de cerveja ou refrigerantes e inclua alimentos e até serviços, como crédito e geração de energia renovável. “A empresa conquistou o mundo”, disse o executivo. “Mas quando completamos 20 anos [em 2019], repensamos como seriam os próximos 20 anos e ficou claro que o que nos trouxe aqui não era o que nos levaria até lá.” A empresa agora quer fazer alianças, como as que já tem com BRF, M. Dias Branco ou Pernod Ricard, para vender aos seus clientes salame, biscoito e vodca.


InBev
          Em 2004 os empresários, então já com o fundo 3G Capital (vide origem da marca 3G Capital neste blog), estavam prontos para levar a companhia a patamares globais. Em março daquele ano a AmBev e a belga Interbrew anunciaram uma fusão que combinava a quinta e a terceira maiores cervejarias do mundo criando a maior empresa do planeta em termos de volume. A empresa passou a chamar-se InBev com a junção de parte das palavras Interbrew e AmBev. A negociação foi entre a Ambev, a Braco (controladores da Brahma) e os belgas.
          No final de março de 2007, a Ambev adquire da cervejaria portuguesa Cintra, suas unidades de Piraí (RJ) e Mogi-Mirim (SP) (apenas os ativos, não a marca), por US$ 150 milhões. Juntas, as duas fábricas tinham capacidade de produção de 420 milhões de litros de cerveja e 280 milhões de litros de refrigerante por ano.


AB InBev
          Em julho de 2008 a InBev anunciou o maior negócio da história até então do setor cervejeiro em todo o globo: um acordo para comprar a fabricante da Budweiser, por U$ 52 bilhões. Estava formada a Anheuser-Busch Inbev (AB Inbev). O acordo foi levado a cabo dois meses antes da bancarrota do banco americano Lehman Brothers, quando o mundo praticamente mergulhou no caos financeiro, mas o andamento do processo aparentemente ocorreu sem interferências.
          Com a compra da Anheuser-Busch, a empresa garantiu uma fatia de 50% na cervejaria mexicana Grupo Modelo. Em junho de 2012 a AB Inbev comprou a metade restante da Modelo por US$ 21,1 bilhões, transação que foi concretizada um ano depois, em junho de 2013, após conseguir a autorização do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O negócio ampliou sua posição no México e a AB Inbev teve oportunidade de expandir as marcas da mexicana, inclusive da Corona, por todo o mundo.
          No mercado norte-americano, porém, a dona da marca de cervejas Modelo (que inclui a Modelo Especial) não é a AB InBev, mas sim a gigante americana Constellation Brands. Isso ocorre porque após a aquisição da Modelo pela AB InBev, desde de 2013 a companhia foi obrigada a não ter a propriedade da marca nos Estados Unidos devido uma ação da autoridade de garantia da concorrência norte-americana numa forma de enfraquecer um possível monopólio de mercado.
          Em outubro de 2015, depois de rejeitar três propostas, a anglo-sul-africana SABMiller, número dois do mundo no setor de cervejas, aceitou oferta de compra da líder do setor, a AB InBev. O valor foi o equivalente a 104 bilhões de dólares (96 bilhões de euros), uma das maiores aquisições da história. A aquisição da antiga rival deu origem à maior cervejaria do mundo, com 29% de participação de mercado.
          A fusão fará com que a companhia americana de tabaco Altria (proprietária da Malboro) e a família colombiana Santo Domingo, fabricante da cerveja Bavaria, representada por Alejandro Santo Domingo, passem a ser sócias da nova empresa.
          Se a transação for concretizada como previsto, o novo grupo terá em seu portfólio as marcas de cerveja americana Budweiser e belga Stella Artois, mais a mexicana Corona, a alemã Beck's, a belga Hoegaarden, a brasileira Skol e a australiana Victoria Bitter pertencentes à AB InBev, assim como a italiana Peroni, a tcheca Pilsner Urquell, a chinesa Snow e a holandesa Grolsch da SABMiller.
          Em abril de 2016, a Anheuser-Busch InBev (AB InBev) aceita a oferta feita pelo grupo japonês Asahi Group, de € 2,55 bilhões (US$ 2,9 bilhões), para adquirir as marcas europeias Peroni e Grolsch (da família Meantime) e os seus respectivos negócios localizados na Itália, Holanda e no Reino Unido. As marcas pertencem à SABMiller e a sua venda faz parte das ações tomadas pela AB InBev para garantir a aprovação de órgãos regulatórios europeus da fusão entre a companhia e o grupo anglo-sul-africano de bebidas. O negócio está condicionado à conclusão da fusão entre a AB InBev e a SABMiller.
          No final de setembro de 2016 os acionistas da SABMiller aprovam a oferta de aquisição da empresa feita pela Anheuser-Busch InBev por mais de 100 bilhões de dólares, abrindo caminho para reforçar o posto de liderança do grupo que controla a Ambev entre os fabricantes globais de cerveja.
          A partir de julho de 2021, Michel Doukeris passou a ser o CEO da AB InBev. Seu perfil é semelhante ao de Carlos Brito, que dirigiu a empresa por 15 anos: sério e muito focado no trabalho. Natural de Lages, em Santa Catarina, Doukeris, nascido em 1974, está na empresa desde 1996. Fontes próximas à empresa afirmam que a expectativa é que ele use ferramentas digitais, como tecnologia de dados, mais eficientemente. Isso pode aproximar o consumidor da AB InBev e tornar a operação mais ágil.
          Em meados de 2023, vem a lume que a AB InBev está se desfazendo parcialmente de uma parte de seu portfólio de cervejarias artesanais seguindo tendência das grandes nos EUA.  A AB-InBev, anunciou a venda de oito marcas artesanais que incluem algumas das suas cervejarias adquiridas nos últimos 10 anos. Quem compra é a Tilray Brands, uma empresa canadense focada no mercado de cannabis, mas que tem ampliado suas aquisições para dentro do mercado de cerveja artesanal nos Estados Unidos. A venda inclui as cervejarias Breckenridge Brewery, Blue Point Brewing Co. 10 Barrel Brewing Company, Redhook Brewery, Widmer Brothers Brewing. Além destas, a marca de cerveja Shock Top, a marca de cidras Square Mile Cider e a marca de hard seltzer HiBall Energy também fizeram parte do negócio que foi concretizado por um valor de 85 milhões de dólares. A transação inclui a força de trabalho, cervejarias e brewpubs relacionados as respectivas marcas. Com uma taxa de crescimento oscilante, muito diferente dos níveis meteóricos dos anos 1990/2000, o mercado de cervejas artesanais não parece ser um segmento tão interessante para grandes conglomerados, sendo uma categoria mais adequada ao interesse de empresas de uma menor magnitude.
          Enquanto a AB InBev acaba de vender uma parcela de suas marcas, a Constellation Brands, outra gigante do mercado norte-americano, saiu totalmente do segmento de artesanais vendendo as suas 4 marcas dentro do segmento. Mais recentemente a japonesa Sapporo anunciou que está se desfazendo da Anchor Brewing considerada a primeira cervejaria artesanal dos EUA. Mesmo com a venda a AB InBev ainda possui 12 cervejarias artesanais, com destaques como Goose Island e Elysian Brewing, mas parece não ter o mesmo interesse em manter um portfólio tão extenso com marcas que não apresentem um nível de crescimento almejado pela companhia.
          AB InBev vive também um momento de reorganização devido a queda acelerada em vendas de seu produto de maior volume, a Bud Light, o que levou recentemente ao anuncio de um corte de sua força de trabalho.
          Em 15 de dezembro de 2023, Marcel Telles doou ao filho, Max Herrmann Telles, sua participação na AB InBev, a maior cervejaria do mundo. O empresário doou as ações que detinha em uma entidade que exerce o controle da BRC, empresa por meio da qual Telles e os seus sócios Jorge Paulo Lemann e Carlos Alberto Sicupira detêm participação indireta na AB InBev. A BRC possui 50% de uma organização que, por sua vez, detém 33,47% das ações da AB InBev, segundo o site da companhia.
(Fonte: revista Exame - 12.01.2000 / revista Carta Capital - 15.05.2002 / revista Forbes Brasil - 05.12.2003 / jornal Folha de S.Paulo - 28.03.2007 / revista Exame - 09.06.2013 / jornal Valor online - 16.09.2015 - jornais diversos - 13.10.2015 / jornal Valor online - 20.04.2016 / MSN Reuters - 29.09.2016 / revista Exame - 21.03.2018 / jornal Valor - 09.05.2018 / IstoÉDinheiro - 09.11.2018 / 28.02.2019 / MoneyTimes - 23.09.2020 / NSC Total - 09.10.2020 / Valor - 18.01.2021 / Folha de S.Paulo - 07.06.2021 / Catalisi - 11.08.2021 / Valor - 12.04.2022 / Catalisi - 15.06.2023 / 08.08.2023 / Estadão - 27.12.2023 - partes)

6 de out. de 2011

Cerveja Bavaria

          Em 1905, a Cia Antarctica Paulista comprou sua maior concorrente em São Paulo, a Cervejaria Bavaria, de Henrique Stupakoff, por 3700 contos de réis, quando seu capital já era de 8500 contos. Nessa época a Antarctica Paulista estabeleceu um acordo com a maior cervejaria carioca, a Companhia Cervejaria Brahma, regulando os preços e os volumes de venda em todo território nacional. Foi o primeiro cartel da cerveja no país, e não seria o último.
          Em 1920 a Antarctica mudou-se da Água Branca para a Mooca, na Avenida Presidente Wilson, para as antigas instalações da Cervejaria Bavaria, onde está até hoje. Uma das razões da mudança talvez tenha sido a proximidade das fábricas de sabão das Indústrias Matarazzo, que empestavam o ar de toda região (da Água Branca).
          Ao apresentar a Ambev, em julho de 1999, a Antarctica, de 3,3 bilhões de reais de faturamento, e a Brahma, de 7 bilhões de reais, lançaram o Brasil de forma espetacular na era das megafusões. Com 16.500 funcionários, 50 fábricas e produzindo 8,9 bilhões de litros de bebida por ano, a AmBev passou a ser a quinta maior empresa de bebidas e a terceira maior cervejaria do mercado - no mundo. A marca Bavaria estava, naturalmente, acompanhando o vasto portfólio de marcas de cerveja da Antarctica para a nova empresa, a Ambev.
          No dia 11 de novembro de 1999, a Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, finalmente divulgou o parecer sobre a fusão da AmBev. E o alvoroço foi enorme. A AmBev tinha discursos prontos para cinco decisões diferentes da secretaria, entre elas até um parecer totalmente contrário à fusão. Não passou pela cabeça de ninguém que a Seae pudesse falar na venda de uma marca inteira, com todos os seus ativos. Mas foi o que aconteceu. A sugestão recaiu sobre a Skol. A explicação é que a Skol só tem cervejas, enquanto a Brahma e Antarctica trabalham também com refrigerantes, águas e outras bebidas. Não teria lógica mandar a AmBev se desfazer da cerveja Antarctica e continuar com o guaraná Antarctica. Lógica é o que mais faltou à Seae na opinião da AmBev. "Se vendermos a Skol, será a primeira vez em que as companhias ficam menores depois de uma fusão", disse Marcel Herrmann Telles. A decisão do Cade ainda estava por vir.
          Em 2000, por imposição do Cade, a Ambev teve que vender a marca Bavaria. Então com 4,5% do mercado, a Bavaria passou para as mãos da canadense Molson, por US$ 98 milhões.
          Em março de 2002, a Molson desembolsa 800 milhões de dólares pela brasileira Kaiser (vide origem da marca Kaiser neste blog). De imediato, a compra da Kaiser livra a Molson de uma intimidade incômoda. A Bavaria, até então, dependia da distribuição da AmBev, uma obrigação imposta pelo Cade. Com os negócios, as marcas locais da Molson passaram a deter quase 18% do mercado brasileiro. A compra da Kaiser pela Molson foi o primeiro lance da disputa com a Ambev pelo mercado das Américas.
          Antes da aquisição da Kaiser, a Molson estava praticamente limitada ao seu país de origem. No Canadá, detinha 45% do mercado, o que lhe dava uma liderança apertada sobre a Interbrew. Além disso, a Molson tinha uma participação quase insignificante nos Estados Unidos. Sem condições de enfrentar diretamente a Anheuser-Busch, gritantemente maior, sua opção mais lógica seria arriscar no mercado brasileiro.
          Sob o guarda-chuva da Molson, porém, a Kaiser (que englobava a Bavaria) foi perdendo mercado consistentemente. Na gestão dos canadenses, a empresa perdeu quase 10 pontos percentuais em sua participação de mercado. Passou, segundo a ACNielsen, sua fatia a apenas 8,1% no início de 2006. Isso fez com que a Kaiser, comprada por 800 milhões de dólares em 2002, fosse vendida aos mexicanos da Femsa, por menos de 9% desse valor (68 milhões de dólares).
          Para a Molson Coors, a passagem pela cervejaria brasileira deixou de ser a promessa de expansão num mercado em que a presença global faz cada vez mais diferença, para transformar-se numa tragédia financeira.
          Assim que os mexicanos da Femsa, capitaneados pelo executivo José Antonio Fernández ("El Diablo"), assumiram a empresa, promoveram um forte programa de corte de custos, reposicionando as marcas (Kaiser, Bavaria e Xingu) e implementando um inédito conservadorismo na administração da companhia. Tudo isso tinha um só objetivo: levar a Kaiser de volta ao caminho do lucro.
          Desde o início de 2010, quando a Heineken comprou os negócios de cerveja da Femsa, a Kaiser, incluindo a Bavaria e Xingu, mais a marca Sol, lançada no Brasil em outubro de 2006, passaram a pertencer 100% aos holandeses e fabricadas pela Heineken Brasil.
          A Bavaria é produzida pela CKBR S.A., onde o K significa Kaiser, em Jacareí, interior de São Paulo.
(Fonte: revista Exame - 31.03.1993 / 03.04.2002 / 26.04.2006 - partes)

Cerveja Kaiser

          A origem da cervejaria Kaiser é uma história de autodefesa que tem por trás um pacato empresário mineiro, apreciador de bons vinhos, cigarrilhas holandesas e charutos cubanos. Luiz Otávio Pôssas Gonçalves, um advogado de Belo Horizonte, jamais pensou em ser dono de uma grande cervejaria. Tampouco sonhou em, um dia, incomodar as gigantes da época, Brahma e Antarctica, quando criou a Kaiser, em 1982, em Divinópolis, a 124 quilômetros de Belo Horizonte. Ele queria apenas evitar que seus negócios naufragassem.
          Dono de uma fábrica da Coca-Cola, Gonçalves vinha perdendo mercado para os refrigerantes da Brahma e da Antarctica, que usavam e abusavam da venda casada. Gonçalves resolveu desempatar o jogo e passou a fabricar cerveja. A primeira investida nesse sentido foi tentar comprar uma pequena fábrica mineira, a cervejaria Alterosa. A Antarctica percebeu a manobra e foi mais rápida: ofereceu 30% a mais pela empresa e obrigou Gonçalves a recuar.
          O desespero já batia à porta quando Gonçalves resolveu arriscar todo o capital que acumulara na construção de uma cervejaria. Detalhe: ele nada entendia de cerveja. Valeu-lhe sua boa estrela. Por acaso conheceu nessa época Manuel Barros, um português que fugira da revolução angolana e vivia em Manaus. Cervejeiro de profissão, Barros montara no passado várias fábricas para a Heineken holandesa. Contratado por Gonçalves, Barros projetou os equipamentos e em nove meses a Kaiser colocou sua primeira garrafa no mercado.
          Para chegar à receita ideal, entretanto, a empresa jogou 700.000 litros de cerveja no ralo. Apesar do desperdício inicial, a Kaiser logo mostrou que veio para ficar. A fábrica de Divinópolis era mais eficiente que as das centenárias cervejarias brasileiras. Ela usa um processo de maturação e fermentação em tanques fechados, sem interferência ambiental.
          Gonçalves estava acostumado a conquistar o mercado a unha. Começou cedo no mundo dos negócios e aprendeu a duras penas que para crescer é preciso garra. Aos 17 anos desistiu de estudar, por total incompatibilidade com a vida escolar.
          A união da Kaiser com a Coca-Cola foi um sucesso que se espraiou para o resto do país. Em poucos anos, dez fabricantes da Coca-Cola eram sócios da Kaiser. A própria Coca-Cola Internacional passou a deter 10% da cervejaria.
          A holandesa Heineken também entrou na parceria e passou a ser o maior acionista individual da Kaiser, com 12,2% do capital. No início da década de 1990, a Heineken fez acordo com a Kaiser para a fabricação da cerveja no Brasil. Além de fabricar, a cervejaria brasileira era responsável também pela distribuição da Heineken.
          Em maio de 1992, sob a coordenação da executiva Susy Blumberg, a Kaiser colocou na praça a Bock, cerveja de inverno com a qual a Kaiser pretendia incomodar a Antarctica e a Brahma. As vendas da Bock foram quatro vezes maior do que o estimado. Um mês depois de lançada, a cerveja sumiu das ruas, por falta de insumos. Foi a primeira bock do mercado brasileiro, cerveja de forte teor alcoólico e associada ao clima frio, por isso sua produção é sazonal. Foi considerada a melhor bock do mercado nacional, mas sua fabricação é inconstante. Desde 2012 deixou de ser fabricada com regularidade.
          A Kaiser logo atingiu participação no mercado de cerveja de 11,6%, em 1993. Em julho daquele ano bateu em 12,9% segundo o Instituto Nielsen. Na Grande São Paulo chegou a 22,3%. No final de 1993, as cervejas saíam de seis fábricas: duas em São Paulo e uma nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia.
          E a vingança veio a cavalo. Se Gonçalves criou a Kaiser para ter cerveja para poder fornecer junto com a Coca Cola para não ser trucidado por fornecedores da Brahma e Antarctica, que segundo ele usavam e abusavam a venda casada, agora era a Coca Cola que, fortalecida com seu refrigerante, e usando sua força, fazia com que em shopping centers inteiros a única cerveja que podia ser encontrada era a Kaiser.
          Por volta de 1993, a Kaiser vinha roubando fatias do mercado da Brahma e da Antarctica. Nos primeiros meses daquele ano, o grupo cervejeiro argentino Quilmes, que também engarrafava a cerveja holandesa Heineken, então dona no Brasil de 12,2% do capital da Kaiser, teria feito uma oferta pela cervejaria brasileira. O valor oferecido, segundo estimativas do setor, beirou os 300 milhões de dólares. Não levou. Ao contrário, os acionistas da Kaiser seguiam investindo na empresa e se preparavam para o lançamento de outra marca: Kaiser Böck, cerveja encorpada para ser consumida no inverno.
          No início de setembro de 1994, a Heineken aumentou sua participação de 12,2% na Kaiser, para 15%. A ampliação da fatia seria uma forma de tornar mais palatável, à empresa holandesa, a anunciada associação entre a Kaiser e a Miller, dos Estados Unidos. Em parceria, o trio se preparava para combater a entrada no Brasil da Budweiser, que estava finalizando uma joint venture com a Antarctica.
          Em meados de 2000, a Kaiser colocou-se à venda, mas transcorreu mais de um ano sem ela ter conseguido convencer algum comprador estrangeiro de que valia o que pedia. Diante disso, a empresa teria partido para uma nova estratégia: valorizar seu passe. Um movimento nesse sentido foi a compra da marca de cerveja preta Xingu. Por volta de agosto de 2001, a Kaiser estaria de olho na Schincariol, então terceira maior empresa do setor no Brasil. Com um portfólio de produtos mais abrangente e uma rede de distribuição independente da Coca-Cola, sua acionista com 10% de participação, a empresa - que negava qualquer pretensão expansionista - poderia se tornar mais atraente para eventuais compradores estrangeiros,  entre eles, a Anheuser-Busch, a South African Breweries (SAB), e a holandesa Heineken, que já detinha 14% da cervejaria.
          A partir de fevereiro de 2002, na tentativa de conquistar o consumidor carioca, a Kaiser passou a comercializar a cerveja escura Xingu no Rio de Janeiro. Até então, a participação da Kaiser naquele mercado era pra lá de modesta: meros 3% com a marca Santa Cerva.
          Em março de 2002 a canadense Molson Coors desembolsa 765 milhões de dólares pela Kaiser. Em 2000, os canadenses já haviam desembolsado 98 milhões de dólares para ficar com a Bavária e mais cinco fábricas desmembradas da Ambev. De imediato, a compra da Kaiser livrou a Molson de uma intimidade incômoda. A Bavária, até então, dependia da distribuição da AmBev, uma obrigação imposta pelo Cade (a Ambev era obrigada a distribuir, e a Molson/Bavária não tinha outra opção). Com os negócios, as marcas locais da Molson passaram a deter quase 18% do mercado brasileiro. A compra da Kaiser pela Molson foi o primeiro lance da disputa com a Ambev pelo mercado das Américas.
          Em maio de 2003, os canadenses acabaram de fazer uma avaliação de suas 29 distribuidoras no Brasil, todas engarrafadoras da Coca-Cola. Dali para a frente, a Kaiser premiaria as de bons resultados e aplicaria corretivos nas ruins que se concentravam no Nordeste e no Rio de Janeiro. A marca chegava a cerca de 450.000 pontos-de-venda, quase 10% menos que em 2002. Uma possibilidade era a própria Kaiser assumir a venda de cervejas diretamente para bares e restaurantes. No Canadá, a Molson distribui sua cerveja e também a de outras marcas, como a holandesa Heineken.
          Sob o guarda-chuva da Molson, porém, a Kaiser foi perdendo mercado consistentemente. Na gestão dos canadenses, a empresa perdeu quase 10 pontos percentuais em sua participação de mercado. Passou, segundo a ACNielsen, sua fatia a apenas 8,1% no início de 2006. Isso fez com que a Kaiser, comprada por 765 milhões de dólares em 2002, fosse vendida à mexicana Femsa, dona da marca Sol, em janeiro de 2006, por um valor bem inferior, 68 milhões de dólares.
          Para a Molson Coors, a passagem pela cervejaria brasileira deixou de ser a promessa de expansão num mercado em que a presença global faz cada vez mais diferença, para transformar-se numa tragédia financeira.
          Assim que os mexicanos da Femsa, capitaneados pelo executivo José Antonio Fernández ("El Diablo"), assumiram a empresa, promoveram um forte programa de corte de custos, reposicionando as marcas (Kaiser, Bavaria e Xingu) e implementando um inédito conservadorismo na administração da companhia. Tudo isto tinha um só objetivo: levar a Kaiser de volta ao caminho do lucro.
          Logo após a aquisição, Fernández despachou 15 executivos de sua confiança para uma imersão na sede da Kaiser em São Paulo. Com a chegada do time, instalou-se um previsível clima de intranquilidade nos escritórios da empresa - período que foi batizado por alguns funcionários de "efeito tequila". Imediatamente, diretores que ocupavam postos-chave foram remanejados ou deixaram a empresa para abrir espaço para os executivos mexicanos. O então presidente, Fernando Tigre, contratado pela Molson para iniciar um processo de reestruturação em 2004, teve sua saída anunciada em março e deixou a empresa em 17 de abril (2006). Em seu lugar, assumiu o presidente da Femsa na Argentina, Miguel Ángel Peirano, um dos principais colaboradores de El Diablo.
          A Femsa imprimiu uma rígida hierarquia em que todas as decisões são precedidas de uma consulta a Monterrey, no México, onde fica a sede mundial da Femsa. Com faturamento total de 10 bilhões de dólares em 2005, a Femsa era a maior empresa de bebidas do México. Antes da chegada da Molson, vendas e distribuição eram feitas pela equipe da Coca-Cola, sua antiga controladora. A Molson decidiu criar uma equipe própria, com 1.200 vendedores espalhados pelo país. Os resultados não vieram. E a estrutura montada custou à Kaiser 100 milhões de reais por ano. Com a Femsa, toda a venda volta a ser feita pela equipe da Coca-Cola - um processo que já havia sido iniciado por Tigre.
          Como novo fator complicador, uma concorrente novata, a agressiva cervejaria Petrópolis, incomodava cada vez mais. Com as cervejas Itaipava, Crystal e Petra, a Petrópolis já detinha (em abril de 2006), 6% do mercado - marca atingida, sobretudo, graças à fragilidade da Kaiser.
          Em outubro de 2006, os mexicanos lançaram por aqui a cerveja Sol, para fazer par com a Kaiser, com fórmula diferente da mexicana, lançada em 1899. A Femsa pretendia recuperar o mercado perdido pelas marcas Kaiser e Bavaria, que então não passavam de 7,8%. Foi uma grande decepção para a Femsa. Apesar dos mais de 300 milhões de reais investidos em seu lançamento, a Sol nunca chegou a ter nem sequer 1 ponto percentual de participação nas vendas - em grande medida porque a bebida não caiu no gosto do consumidor e era difícil encontrá-la em bares e restaurantes.
          Por volta de outubro de 2007, a Femsa encontrou o culpado por seu fraco desempenho nos últimos tempos: a empresa de pesquisas Nielsen, que mede o mercado de cervejas no país. Os mexicanos perderam a paciência e romperam o contrato após meses de negociação tentando convencer a Nielsen a ampliar a cobertura dos pontos de pesquisa. Segundo a Femsa, em 2004 os pontos-de-venda cobertos pela Nielsen representavam 87% do volume de cerveja. Em 2007, não chegavam a 60%. Essa queda aumentaria em muito a margem de erro.
          No início de 2010, a Heineken comprou os negócios da Femsa. A Kaiser, agora pertence 100% aos holandeses. A Kaiser, assim como a Bavaria, Xingu e Sol, passou a ser fabricada pela Heineken Brasil.
(Fonte: revista Exame - 31.03.1993 / 12.05.1993 /  20.07.1994 / 14.09.1994 / 05.09.2001 / 23.01.2002 / 03.04.2002 / 11.06.2003 / 26.04.2006 / 08.11.2006 / 07.11.2007 / 10.03.2010 / 15.12.2010 / Veja SP - 22.06.2017 / site Rebolinho- partes)

31 de out. de 2011

Adriática / Original (cervejas)

Cerveja Adriática       
          A Companhia Cervejaria Adriática (originalmente Cia. Cervejaria Adriática S.A.), produzia, em 1911, as marcas Operária, Primor, Brilhante e Cachorrinha. Na fusão com a Companhia Antarctica Paulista, em 1945, apenas a cerveja Original foi mantida no portfólio. A Companha Antarctica Paulista se uniu à Cia. Cervejaria Brahma, em 1999, formando a AmBev.
          Em outubro de 2015, a AmBev relança a Adriática - puro malte. Quem passa a produzir é a Antarctica e é distribuída em garrafas de 600ml. Ela tem aproximadamente 10 IBUs (unidades de amargor), é menos amarga que a Serramalte,  Tem uma coloração dourada brilhante, puxando para uma tonalidade mais acobreada. No aroma, um dulçor do extrato de malte presente, somado com um herbal. No paladar. o amargor é equilibrado e leve, mas não remanescente. É encontrada em 500 pontos de venda distribuídos entre Rio de Janeiro, Ponta Grossa, Curitiba, São Paulo e Ribeirão Preto. Os bares que a servem prezam as cervejas de garrafa de 600ml.
          O lançamento aconteceu no Boteco Original, na cidade de Ponta Grossa, Paraná. A cerveja, com novo rótulo "super premium" foi feita na fábrica recém inaugurada e pegou emprestado a receita da cerveja que era produzida na cidade no início do século 20 e que circulou até 1945.
          A Adriática que volta, é precursora da Original. Ela é puro malte e uma das marcas que acabou ficando para trás na fusão da Companhia Cervejaria Adriática e Companhia Antarctica Paulista. Sabor agradável, leve, amargor levíssimo e aromas levemente herbais.
          É uma homenagem à Companhia Cervejaria Adriática e às raízes pontagrossenses da empresa.

Cerveja Original
          A história da cerveja Original começou em 1906, quando um jovem chegado da Alemanha, Henrique Thielen, fundou a Cervejaria Adriática, em Ponta Grossa, onde hoje está instalado o ‘Shopping Antartica’. Utilizando equipamentos trazidos de seu país natal, Henrique produziu seus primeiros rótulos: Operária, Primor, Brilhante e Cachorrinha.
          Posteriormente, a cerveja Adriática entrou em circulação. Em 1928, a cervejaria passou a produzir a cerveja Original tipo Pilsen. No seu rótulo constava “Para amantes de cerveja fortemente dosada com lúpulo, e que ganhou distribuição para o Rio e São Paulo. Em 1945, a família Thielen vendeu a Cervejaria Adriatica para a Cia. Antarctica Paulista. Foi aí que ela ganhou o nome que tem até hoje: Antarctica Original. O rótulo ainda mantém alguns elementos originais – como o fundo amarelo, a tipologia e o losango azul com a inscrição “pilsen”. Hoje a Original faz parte do portfólio da Ambev.
(Fonte: site Maria Cevada, por Amanda Henriquezs / MHM, por Leonardo Filomeno - partes)

6 de out. de 2011

Cerveja Skol

          O costume de tilintar os copos e encontrar o olhar de um parceiro de bebida quando você os "skol", está enraizado na tradição guerreira viking de garantir que ninguém tenha envenenado sua bebida.
          "Skål", em sueco e em dinamarquês (por onde andavam os Vikings), significa nosso cumprimento "saúde", quando estamos tomando bebida alcoólica. Provavelmente, nessas línguas a pronúncia de "Skål" deve ser bem próxima à nossa pronúncia para "skol". Essa seria um das versões para a origem da marca Skol.
          Em 1970, a companhia anglo-holandesa Skol chega ao Brasil para concorrer com as líderes Brahma e Antarctica, que juntas dominavam 80% do mercado de cervejas. A empresa coordenou o lançamento da primeira cerveja em lata do país.
          Em 1980, a marca foi comprada pela Companhia Cervejaria Brahma, que tinha sede no Rio de Janeiro.
          Era o ano de 1988 quando os banqueiros do Banco Garantia Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira compraram a Brahma.
          A Brahma se expandiu exponencialmente mas, pasmem, quem realmente fez a empresa crescer foi a marca Skol, que ultrapassou a Brahma e assumiu a condição de cerveja mais consumida no país. O embrião do crescimento da Skol baseado em inovação surgiu em 1996, quando a Skol foi escolhida pela antiga cervejaria Brahma para atingir o que se considerava um distante mercado potencial: jovens de 18 a 25 anos de idade que se considerassem "descolados" demais para consumir o mesmo produto que os pais.
          Então quarta colocada no mercado nacional, a Skol passou a investir em eventos como shows de rock e música eletrônica e adotou uma linguagem irreverente para lidar com esse público - a companha "desce redondo" ajudou a marca a alcançar a liderança de mercado em 1998, de onde nunca mais saiu. 
          Em meados de 1999, a Brahma (empresa), se fundiu com a Antarctica formando a AmBev - American Beverage.
          No dia 11 de novembro de 1999, a Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (Seae), finalmente divulgou o parecer sobre a fusão da AmBev. E o alvoroço foi enorme.
          A AmBev tinha discursos prontos para cinco decisões diferentes da secretaria, entre elas até um parecer totalmente contrário à fusão. Não passou pela cabeça de ninguém que a Seae pudesse falar na venda de uma marca inteira, com todos os seus ativos. Mas foi o que aconteceu.
          A sugestão recaiu sobre a Skol. A explicação é que a Skol só tem cervejas, enquanto a Brahma e Antarctica trabalham também com refrigerantes, águas e outras bebidas. Não teria lógica mandar a AmBev se desfazer da cerveja Antarctica e continuar com o guaraná Antarctica.
          Lógica é o que mais faltou à Seae na opinião da AmBev. "Se vendermos a Skol, será a primeira vez em que as companhias ficam menores depois de uma fusão", disse Marcel Herrmann Telles. A decisão do Cade ainda estava por vir.
          A AmBev teve que vender a marca Bavaria, então com 4,5% do mercado, por imposição do Cade. Teve que vender também alguns outros ativos mas nenhuma outra marca.
          Poucos meses depois da fusão, no final de 1999, a Skol era a líder de vendas em cervejas, com 26,8% do mercado de marcas pílsen, o mais disputado. A Antarctica tinha 12,9% do mercado. A Brahma aparecia com 21,3%, a Kaiser possuía 14,5% e a Schincariol, 8,7%.
          A Skol foi a primeira a lançar uma embalagem transparente diferenciada, ainda em 2002. Desde então, foi pioneira com a garrafa big neck, de 500 ml, e com a latinha de 269 ml. Com isso, conseguiu manter sua participação de mercado na casa dos 31% entre 2006 e 2011, período em que as principais marcas da Ambev perderam espaço.
          Na busca por inovação nem tudo deu certo. Variações como a Skol Ice, lançada no final dos anos 1990, e a Skol Lemon, em 2006, não ficaram mais do que dois anos no mercado.
          Em novembro de 2010, a Skol tornou-se a primeira marca da América Latina a patrocinar a transmissão ao vivo de um show pelo YouTube. Cerca de 6 milhões de pessoas assistiram ao espetáculo online com vários artistas sertanejos, como Luan Santana. No dia da transmissão, o show foi o tópico mais comentado no Twitter no mundo durante mais de 14 horas.
          Em pesquisa com consumidores jovens, os executivos da Skol perceberam que a maior resistência ao consumo de cerveja estava na sensação de estufamento. Uma nova fórmula foi então desenvolvida. Batizada de 360º, ela chegou ao mercado paulista em outubro de 2010 e em todo o país, em 2011.
          Em junho de 2018, a AmBev se prepara para lançar mais uma versão da marca Skol, em garrafas de 600 ml. Trata-se da Skol Hops. Em texto captado da empresa extraoficialmente consta: "Skol Hops é uma cerveja puro malte diferente. Sua receita é feita com lúpulo aromático exclusivo que, além de conferir aroma e sabor únicos à cerveja, dá uma sensação muito refrescante a cada gole."
(Fonte: revista Exame - 15.05.2002 / 09.02.2011 - partes)

Cerveja Serrana

          A AmBev anunciou, em 28 de setembro de 2004, o lançamento da cerveja Serrana, pilsen que se posicionou no mercado onde já estavam a Skol, Brahma, Nova Skin, Antarctica, Kaiser e Bavaria. De acordo com a companhia, a novidade seria comercializada apenas no auto-serviço e, portanto, na versão em lata. Fabricada na unidade de Jacareí (SP), a cerveja foi distribuída para a Grande São Paulo, Baixada Santista e região metropolitana de Campinas. O preço sugerido era de R$ 0,89 a R$ 0,92, valor que a posicionou entre a Antarctica e a Brahma, ambas marcas da AmBev.
          O nome da cerveja presta homenagem às serras do interior do Brasil, que inspirou a identidade visual e posicionamento de marca da cerveja.
          A fórmula foi resgatada do acervo da Companhia Antarctica Paulista e data do início do século XX. Tratava-se de um projeto piloto procurando atender à demanda por cervejas de sabor mais elaborado. A empresa avisou que não haveria campanha de marketing em massa para divulgar a novidade. Em vez disso, a aposta seria no ponto-de-venda, com materiais de apoio de venda e ações de degustação. O investimento realizado para desenvolver a nova cerveja não foi revelado. Segundo a AmBev, fez parte dos R$ 370 milhões destinados ao marketing de toda a companhia para aquele ano (2004).
          A companhia ressaltou que a ideia de lançar a cerveja nasceu de pesquisas realizadas com os consumidores, que apontaram um crescente público que volta a dar valor às coisas antigas. A Serrana, explicou a então gerente de inovações da AmBev, Lizandra Freitas, resgatou um sabor do passado, com caráter artesanal. "A Serrana surgiu do casamento do acervo da AmBev com a obsessão por pesquisas de mercado que temos para identificar novas tendências, movimento essencial para a área de inovações", comentou ela.
          A marca, porém, teve sua produção descontinuada e ficou durante muito tempo fora do mercado.
          Em 2018, a Serrana foi reintroduzida ao mercado com a finalidade de oferecer aos consumidores uma cerveja de qualidade a um preço acessível, sendo vendida a R$ 1,99. E chegou com DNA mineiro, com fabricação na Cervejaria Nova Minas da AmBev, em Sete Lagoas, Minas Gerais. De cor dourada e sabor leve e refrescante, característico das cervejas pilsen de qualidade, a cerveja Serrana é atualmente distribuída apenas no canal de auto-serviço (redes de supermercados e similares), e pode ser encontrada atualmente apenas na embalagem lata 473ml.
          Mesmo que a divulgação maior tenha sido de uma cerveja com sotaque mineiro, em lata de 473ml, é possível encontrar a cerveja Serrana em supermercados em Santa Catarina, em latas de 350ml. É produzida na unidade da Ambev em Lages, que fica na região serrana de Santa Catarina. Chegou aos supermercados a partir de setembro de 2018.
(Fonte: Agência Estado - Jornal O Estado de S.Paulo - 28.09.2004 / Portal Revista Visão - 10.09.2018 / Wikipédia - partes).

12 de mar. de 2024

Antarctica München / Brahma München / Pérola / Malt 90

Antarctica München
          Mais encorpada e saborosa do que a clara pilsen, a cerveja escura da Antarctica começou a ser fabricada em São Paulo no início do século XX. München significa Munique, em alemão. Já faz alguns anos que não se vê mais por aí.


Brahma München
          Cerveja de grande sucesso nas décadas de 1940 a 1970, mas que foi perdendo espaço para as tradicionais pilsen. München significa Munique, em alemão. Deixou de ser fabricada no início dos anos 2000.


Pérola
          Fabricada em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, a cerveja Pérola foi famosa no Brasil todo, principalmente no seu auge, entre os anos 1950 e 1970. Nos anos 1990, a fábrica fechou.


Malt 90
          Cerveja de grande repercussão na mídia nos anos 1980 (foi a cerveja oficial do primeiro Rock´n´Rio), dizia ser a bebida do futuro, mas não caiu no gosto popular. Ficou marcada como uma cerveja...
(Fonte: Veja SP - 22.06.2017)

6 de out. de 2011

Cerveja Serramalte

     




















          Fundada em 1957, a Cervejaria Serramalte, da cidade de Getúlio Vargas, do Rio Grande do Sul, teve seu controle assumido pela Companhia Antarctica Paulista em 1979.
          A cervejaria que daria origem à Serramalte foi fundada em 1953, com o nome Cervejaria e Maltaria da Serra Ltda, em Getúlio Vargas. Fundada por Plácido Scussel e os irmãos Salim Buaes e Felix Buaes a partir da Cervejaria Ruschel, a cervejaria também teve o nome Cervejaria Polka, até julho de 1957, quando lançou o rótulo e se tornou conhecida como Serramalte.
          Serramalte é uma cerveja tradicional, encorpada e de baixa fermentação. Tem mais malte em sua composição e passa por um processo de fabricação mais longo do que a maioria das cervejas.  É a pedida perfeita para aquele churrasco com os amigos. Uma tradicional cerveja brasileira que possui maior quantidade de malte em sua composição que outros rótulos similares, o que lhe confere um aroma discreto bem agradável.
          Em algum momento, a Serramalte lançou a cerveja Kronebier Serramalte, também em garrafas de 600ml, mas este rótulo ficou relativamente pouco tempo no mercado.
          Em 1999, a Companhia Antarctica se une à cervejaria Brahma, formando a AmBev. Portanto, a Serramalte pertence hoje ao portfólio da Ambev.
          Hoje o rótulo que leva seu nome é consagrado como uma Premium American Lager, de cor amarelo claro, e muito refrescante.
(Fonte: Empório da Cerveja - parte)

15 de dez. de 2023

Cerveja Kronenbier

          Durante o ano de 1991 a Companhia Antarctica Paulista investiu cerca de 3 milhões de dólares no projeto de fabricação de uma cerveja sem álcool. Em novembro daquele ano foi lançada a cerveja "Kronenbier" (Kronen, em alemão, significa coroa, em português).
          Basicamente, a tecnologia de fabricação da cerveja  Kronenbier difere na fase de fermentação, realizada em baixas temperaturas, com a presença de levedura específica e sob condições controladas do seu metabolismo celular. É composta de extrato primitivo leve, tem cor clara, baixa fermentação, aroma e sabor típicos e amargor acentuado. Foi a primeira cerveja sem álcool do Brasil. Através do processo de fabricação a cerveja fica com um teor alcoólico menor do que 0,5% de álcool, sendo considerada sem álcool.
          Esse lançamento corroborava com o fato de no início da década de 1990 o consumo de cerveja sem álcool no Brasil ter começado a se popularizar. Naquele momento haviam apenas marcas importadas oferecendo tal produto.
          Lá pelos idos das décadas de 1960/1970, a Serramalte, pertencente à Antarctica, antes da união desta com a Brahma, formando a AmBev, lançou o rótulo Kronenbier-Serramalte, que tempos depois saiu do mercado.
          Em 2013 a AmBev lançou a Brahma Zero, a terceira cerveja sem álcool da empresa, ao lado da Liber (com teor alcoólico de 0,0%) e da Kronenbier.
          Em 2014 a Ambev foi condenada a pagar 1 milhão de reais a consumidores de Santa Catarina por vender a cerveja Kronenbier com o rótulo "sem-álcool" quando a cerveja continha 0,3g de álcool por cada 100g.
          Com a condenação da Ambev por vender a Kronenbier sem álcool (quando ela tinha quantidade residual de 0,3g de álcool por cada 100g), a AmBev acabou descontinuando sua produção.
(Fonte: Wikipédia)

Propaganda Antiga Cerveja Kronenbier - Cod.24/10/17-887 ...

6 de out. de 2011

Jesus (Guaraná Jesus)

           No começo do século XX, Jesus Norberto Gomes, nascido em 1891, mudou-se para a capital, São Luís, no Maranhão, e foi trabalhar na farmácia Sanitária, como lavador de vidros. Ali, acabou adquirindo noções de farmácia e manipulação, com o então proprietário.
           Mais tarde, ingressou na faculdade e formou-se farmacêutico. No final, acabou comprando o pequeno comércio.
           Em meados da década de 1910, lançou medicamentos com a sua grife, todos com a marca Jesus. Na década de 1920, Gomes queria inventar uma bebida que agradasse seus netos e começou a fabricar um refresco com gás que serviu também para presentear os amigos. Essa iniciativa surgiu a partir da sugestão de um amigo, médico, para que fabricasse a magnésia fluída gaseificada, grande sucesso da época, conforme informa a filha do farmacêutico, Ilva Saldanha.
           Para isso, Gomes importou uma máquina gaseificadora alemã. Depois de ter o pedido de licença da produção da magnésia negado pelo Laboratório Bromatológico Nacional (RJ), o farmacêutico desenvolveu a fórmula definitiva do guaraná e registrou-o com Cola Guaraná Jesus, hoje guaraná Jesus. Ironicamente o farmacêutico era ateu e foi excomungado da Igreja Católica após ter se envolvido em uma briga com um padre em São Luís.
           Os Gomes mantiveram a produção em fábrica própria até 1960, quando venderam a unidade para a Antarctica (hoje AmBev, após a fusão com a Brahma). A fórmula do guaraná entretanto ficou com a família. Isso fez com que a Antarctica desistisse da produção nos anos 1970.
           Em 1982, o grupo Coca-Cola conseguiu adquirir a fórmula original. A bebida tem sabor de canela e cravo e é cor-de-rosa. Por volta do ano 2000, o guaraná Jesus foi incluído na lista de pontos e produtos turísticos do Maranhão. Com grande participação no mercado de guaranás do Maranhão, é distribuído também em estados como Tocantins e para lojas especializadas de São Paulo. Há pedidos para o guaraná Jesus também em vários países.
          Desde 2001 o refrigerante é marca da Coca-Cola, mas só a partir de 2016 resolveram distribuir para outros estados como um produto de linha “premium”. Além do Maranhão e Tocantins, o Guaraná Jesus agora é distribuído em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal
(Fonte: jornal Folha de S.Paulo - 03.04.2000 / jornal Gazeta Mercantil - 27.10.2003 / Almanaque SOS 30.07.2020 - partes)

Cerveja Baden Baden

          A Cervejaria Baden Baden nasceu a partir da união de três empresas: a Sheps do Brasil, a The Beer Store e a Choperia Baden Baden.
          O famoso restaurante de cozinha alemã Choperia Baden Baden, fundado em 1985, na cidade de Campos do Jordão, estado de São Paulo, por José Vasconcelos, era um dos principais clientes da Sheps do Brasil, empresa construtora de marcas e distribuidora seletiva de cervejas gourmet inglesas e canadenses, de propriedade de Alberto Ferreira e Aldo Bergamasco.
          Com a crise de desvalorização do real em janeiro de 1999, conhecida como Efeito Samba, Alberto e Aldo procuraram Vasconcelos para discutir, em uma reunião realizada na própria Choperia, o acordo comercial que existia entre eles, pois, com a consequente alta das moedas estrangeiras, o custo de importação havia aumentado significativamente, o que poderia inviabilizar a comercialização, caso todo o modelo de precificação das cervejas não fosse revisto.
          Após encontrarem uma boa solução econômica para continuarem oferecendo as cervejas Spitfire, Bishops Finger e Original Porter, os três amigos continuaram na mesa do restaurante, conversando sobre a criação e desenvolvimento do segmento de cervejas gourmet no Brasil. Foi nesse momento que tiveram a ideia de fabricar a própria cerveja artesanal, tomando, como referência, as cervejas importadas pela Sheps do Brasil.
          Entretanto, nenhum dos três tinha qualquer experiência na fabricação de cervejas. Foi então que Alberto e Aldo se lembraram de Marcelo Moss, um cliente da Sheps do Brasil, que havia sido proprietário do The Beer Store, um bar em São Paulo, concebido a partir do conceito de ”Brew On Premises”, ou seja, um local que oferece equipamentos para que o cliente faça sua própria cerveja. Como o bar havia encerrado suas atividades recentemente, os equipamentos provavelmente ainda estariam disponíveis.
          Assim, na semana seguinte, uma reunião foi realizada com a presença de todos os quatro, que discutiram a viabilidade do projeto durante todo o fim de semana. E, apesar de todos os potenciais desafios e problemas que naturalmente surgiriam numa empreitada dessa natureza, decidiram por seguir em frente. Nascia, assim, a Cervejaria Baden Baden.
          No segundo semestre de 1999, a construção da fábrica foi iniciada, na cidade de Campos do Jordão, com a proposta de aderir ao movimento The Craft Beer Renaissance, que, como o próprio nome já diz, fomenta o renascimento da cerveja artesanal, produzida de forma paciente e meticulosa, mas também valorizando, acima de tudo, a felicidade e o prazer de fabricar boas cervejas. O nome “Baden Baden” foi naturalmente escolhido como homenagem ao icônico restaurante, local onde a ideia da fabricação surgiu. O nome do restaurante, por sua vez, apesar de não termos condições de confirmar aqui, pode ter sido dado em homenagem à cidade alemã Baden-Baden situada na região administrativa de Karlsruhe, no estado de Baden-Württemberg. Era conhecida como Aurélia Aquense ou apenas Águas durante o período romano. Fica relativamente próxima à divisa com a França (Rio Reno), mais ou menos no meio do caminho entre as cidades de Stuttgart na Alemanha e Estrasburgo, na França.
          Nessa mesma época, a Ambev foi criada, resultado da fusão entre as cervejarias Companhia Antarctica Paulista e Companhia Cervejaria Brahma. Carlos Hauser, um dos melhores mestres-cervejeiros do Brasil, com especialização na Alemanha, à época com mais de 40 anos de experiência no mercado, decidiu deixar o gigante que se formava na indústria cervejeira e unir-se ao ambicioso projeto de fabricar, em pequena escala, as primeiras cervejas gourmet no Brasil.
          Oriundo da Companhia Antarctica Paulista, Carlos Hauser foi o responsável, durante muitos anos, pela fabricação do famoso chopp da Choperia Pinguim, localizado na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo. Como a proposta da Cervejaria Baden Baden era aderir ao The Craft Beer Renaissance e produzir pequenos lotes, somente dos melhores estilos de cervejas artesanais, Carlos Hauser dedicou-se, com muito afinco, no desenvolvimento de receitas exclusivas, baseado no vasto conhecimento dele e de sua família, que, há quatro gerações, vinha fabricando cervejas europeias.
          Em 2000, depois de meses de testes com diversas receitas, nasceu a primeira cerveja da marca, o Chopp Red Ale. Em abril de 2001, foram lançadas as primeiras cervejas engarrafadas: Red Ale, Pilsen Cristal, Lager Bock e Stout Dark Ale. Muitas cervejas diferentes foram criadas desde então, sendo a maior parte para fazer parte do portfólio regular de produtos, mas também algumas como edições limitadas comemorativas, como as tradicionais Celebration de Inverno (Double Lager Bock) e a Christmas Beer (Ale).
          Em 2007, a Schincariol, então a segunda maior cervejaria do Brasil, acabou adquirindo a Cervejaria Baden Baden, por um valor não divulgado.
          Em 2011, 50,45% do capital do Grupo Schincariol foi adquirido pela Kirin Holdings, do Japão, por R$ 3,95 bilhões. No fim do mesmo ano, o Cade aprovou a compra de 100% da empresa, com o valor pago de R$ 2,35 bilhões pelos 49,55% restantes das ações.
          Em 2017, a Brasil Kirin foi adquirida pela Heineken, que assumiu o controle de todas suas marcas anteriores, incluindo a Baden Baden. O valor da aquisição foi de R$ 2,2 bilhões.
          A Cervejaria Baden Baden produz 15 rótulos de cerveja: American IPA, 5 Grãos, Witbier, Chocolate, Bock, Weiss, Golden, Red Ale, Stout, Cristal, 1999, Celebration Inverno, Christmas Beer, Tripel e 15 Anos.
(Fonte: Wikipédia - parte)

Cachaça (Caninha) Tatuzinho

          A ideia de criar em Piracicaba uma fábrica de bebidas partiu de Paschoal D´Abronzo, imigrante italiano vindo ao Brasil em 1896. Fixou residência em Piracicaba onde criou seus cinco filhos (Maria, Humberto, Luzia, Anna e Suzana). Em 1909, instala uma fábrica na Travessa Mania Maniero, Vila Rezende, e passa a produzir refrigerantes (“Jatubaína”, “Gengi-Birra”, “Gasosa”, “Maçã” e “Moranguinho”), xaropes (groselha, capilé, tamarindo, abacaxi, limão) e vinagre. Estava fundada a D'Abronzo Sociedade Anônima.
          No final dos anos 1930, Paschoal começou a engarrafar a pinga adquirida de um distribuidor, Antonio Basaglia. Ele vendia o aguardente em barris de 100 ou 200 litros. Porém, era um volume muito grande para o consumidor final. Seu filho, Humberto, teve a ideia de comprar os barris e envazar garrafas de 750 ml. (medida ainda utilizada pela maioria das garrafas de vinho). O mercado crescia e passaram a ser comprados tonéis de 5 mil e 10 mil litros. Foi uma revolução na época.
          “A decisão foi motivo de controversas na família, pois ela foi tomada por Humberto D´Abronzo durante viagem de seu pai, Paschoal”, diz Pasqual D´Abronzo Neto. Ele partiu de Piracicaba para Congonhas do Campo, Minas Gerais, a fim de se encontrar com parentes, numa época em que uma viagem dessas demorava uma semana e a visita se estendia por semanas. Naquela vez, ela durou três meses. Quando retornou, Paschoal viu Humberto transformar a fábrica de refrigerante em indústria de engarrafamento de caninha. Foi uma atitude de risco, mas que o tempo consolidou como lucrativo. A D´Abronzo cessa a fabricação de xaropes e refrigerantes em 1953 e um ano depois passa exclusivamente a engarrafar caninha.
          Humberto D´Abronzo é o exemplo de imigrante que soube aproveitar a vida. Era o tipo de pessoa que tinha por hobby o trabalho. Acumulava diversas funções (foi diretor do basquete masculino local, presidente do XV e lançou-se na política). Era um empreendedor nato. Tinha a filosofia de que só se ganhava dinheiro quando se gastava dinheiro. Era formado como contador, mas tinha uma visão mais ampla do mercado. Foi o responsável pela área comercial da Indústria de Bebidas Tatuzinho. “Como fabricante, não gostava da caninha pura, mas tinha uma queda pelo vinho nos almoços de família e, nas festas caseiras, exigia sempre batida de caninha com maracujá”, lembra seu filho Pasqual D´Abronzo. Como bom italiano, se aliou a um processo administrativo familiar condenado hoje pelos MBAs e administradores de sucesso. A diretoria da empresa era composta por familiares. Seus cunhados – Antonio Martinelli, Sisto Cório e Jorge César de Vargas – comandavam as negociações com o varejo, vendiam o produto e levavam o nome da “Noiva da Colina” para muitas cidades, principalmente do sul e sudeste brasileiros. Rio de Janeiro, São Paulo, Santos e norte do Paraná eram os principais centros consumidores da Caninha.
          O nome “Caninha Tatuzinho” tem sua história. Caninha pois era feita com uma cana especial, mais fina. Pinga e cachaça sempre foram nomes pejorativos. Quem gosta de ser chamado de “pinguço” ou “cachaceiro”? Caninha dava um tom de aperitivo, base para coquetéis e batidas. Dizem que Tatuzinho veio em decorrência, sem comprovação histórica, de um indivíduo que, quando bebia, deitava e rastejava no chão como um tatu.
          Anna D´Abronzo diz que “produzir e engarrafar refrigerante nos anos 1940 era enfrentar concorrência com outras marcas que se proliferavam e a aguardente ainda era um mercado não explorado”. A cerveja ainda era um investimento alto e concentrado nas mãos de empresas de grande porte como a Brahma e a Antarctica. A gigante americana Coca-Cola começa a realizar violentas investidas no mercado brasileiro.       
          A Tatuzinho se expande comprando terrenos na travessa Maria Elisa e na avenida Rui Barbosa, em prédios ainda hoje existentes e utilizados pelo comércio da Vila Rezende.
          O processo unia o industrial e o manufaturado. Anna D´Abronzo recorda que após ser mecanicamente engarrafada e sua tampinha lacrada, funcionários da linha de produção colocavam uma fita de papel no gargalo que era o selo do governo para produtos industrializados e na sequência embalada em papel de seda e colocada em caixas. As caixas eram uma história à parte. Anna diz que “eram caixas de madeira, pesadas e que comportavam 24 unidades de garrafa”. Ela considera as atuais caixas de plástico um invento engenhoso. “As caixas de madeira não se estabilizavam uma em cima da outra, tinham seu fundo arrebentado facilmente fazendo com que as garrafas caíssem e quebrassem”. A Tatuzinho tinha um marceneiro que ficava à disposição da empresa 24 horas por dia para remendos nessas caixas, pois, se faltasse a caixa, o produto não poderia seguir para a venda. Possuía uma frota de 70 caminhões que a cada viagem transportavam 6 mil garrafas cada um.
          Máquinas do leste europeu e da Argentina foram adquiridas possibilitando o envazamento de até 45 mil garrafas por hora, capacidade na época alcançada apenas pela Brahma e Antarctica no segmento cervejeiro. No transporte de uma das máquinas, que pesava 62 toneladas, de Santos para Piracicaba, houve a necessidade de interromper o trânsito na Via Anchieta. A máquina ocupava a pista toda. A D´Abronzo instala 12 tonéis de 800 mil litros cada um em sua chácara situada no bairro Itaperu para atender a demanda nacional.
          A D´Abronzo Sociedade Anônima fabricou a Caninha Tatuzinho de meados dos anos 1940 a 1969. Quando vendida em 1969, os novos proprietários decidiram dar continuidade a um mercado já conquistado, sendo que por anos a Tatuzinho foi a mais consumida no território nacional. Hoje, o produto, apesar de dificilmente ser encontrado nos super e hiper mercados locais, ainda tem a apresentação pela qual se notabilizou. “O Grupo 3 Fazendas manteve o mesmo rótulo (criado por Felício Rotundo, dono de uma gráfica em São Paulo que fazia embalagens para a Kibon), o mesmo nome e a mesma composição alcoólica da caninha Tatuzinho fabricada nos anos 1950 e 1960 demonstrando ser ainda um produto que provoca a venda”, diz Pasqual D´Abronzo Neto.
          Comerciais nas emissoras de rádio eram comuns. Como na época a tv ainda estava em desenvolvimento, o grande entretenimento das massas era o rádio. Os principais programas de auditório tinham o patrocínio da Tatuzinho. Isso na capital paulista, no Rio de Janeiro e no Paraná. O jingle “Me abre a garrafa” foi veiculado nas rádios e nas tvs por mais de cinco anos. Caiu no gosto público, assim como o aperitivo.
          Nas principais rádios do interior paulista, a Tatuzinho patrocinava os programas de auditório, as transmissões esportivas e os programas de futebol. A TV Record e a TV Tupi foram as principais propagadoras da marca Tatuzinho em todo o país. Conseguiu-se, também, após muita negociação, que o jornal “Gazeta Esportiva” aceitasse colocar abaixo de seu cabeçalho na primeira página o slogan “Tatuzinho – O Melhor Aperitivo Nacional”, algo inconcebível para a liberdade de imprensa.
          Um fator interessante a se ponderar é que a Caninha Tatuzinho, considerando o ano de 2006, cultivava ainda uma extensa lembrança na mente do consumidor, principalmente pela maciça divulgação feita nos anos 1960. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro da Cachaça apresentam um fato curioso. A Caninha Tatuzinho é uma das quatro marcas mais consumidas no mercado brasileiro de cachaça. Ela detinha 7,2% do mercado, segundo estimativas para 2006 apontadas pelo Instituto, embora o consumo interno viesse diminuindo num ritmo de 2 a 3% ao ano e a exportação tinha se estagnado nos últimos cinco anos.
          Quem não se lembra do bordão “O melhor aperitivo nacional” ou do jingle veiculado nas rádios e tvs que cantava “Ai tatu, Tatuzinho, me abre a garrafa e me dá um pouquinho”? Por volta de 2005, um documentário veiculado pela TV Cultura apontou esse comercial como um dos cem mais lembrados pelo consumidor. A Rede Globo, quando exibiu especiais sobre os seus 30 anos, incluiu o comercial num desses programas. É possível encontrar referências desse comercial no Youtube (www.youtube.com).
          Anna D´Abronzo, diretora-secretária por quase 30 anos da D´Abronzo Sociedade Anônima, lembra que, desde a venda em 1969 da marca para o Grupo Três Fazendas (hoje Indústrias Reunidas de Bebidas Tatuzinho 3 Fazendas, com sede em Rio claro), tornou-se clara que a propaganda em cima da bebida diminuiu. Durante muito tempo foi comum ligar Piracicaba à marca Tatuzinho, embora a fábrica situada na Unileste tenha sido desativada.
          Publicitários conhecem este fenômeno e dizem que, quanto maior a massificação na divulgação de uma marca, maior será sua lembrança no consumidor. Daí surgiram as corriqueiras pesquisas top of mind, lembrando a marca que primeiro vem à cabeça do comprador. Quem não se lembra da cerveja número um ou da cerveja dos amigos? São peças que mesmo tendo passado mais de dez anos desde o término da divulgação, ainda merecem um espaço em nossa lembrança.
          O publicitário Osvaldo Luis Baptista, professor da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) e tecnólogo do marketing no varejo, lembra que “a propaganda age como um tempero na mente do consumidor, pois a memória tem lembrança de coisas que fazem da nossa vida um momento inesquecível”. Ele até se recorda de publicidades da Caninha Tatuzinho vistas e ouvidas quando era criança e, portanto, quando não tinha idade apropriada para ser um consumidor da bebida. “A explicação mais plausível é a frequência e impacto da mensagem e envolvendo a mídia de massa, pontos de venda que, nesse caso, seriam os bares, empórios, armazéns, enfim, todo varejo de bebidas”.
(Fonte: jornal A Província - Piracicaba - 24.10.2012 - texto original de Edson Rontani Júnior -Matéria publicada no Jornal de Piracicaba de outubro de 2006).