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13 de jul. de 2020

Lanxess

          A indústria química Lanxess é originária de uma cisão mundial de parte da área de produtos químicos e polímeros da alemã Bayer, ocorrida em julho de 2004. A empresa nasceu como uma companhia sem dono, com capital pulverizado e negociado na bolsa de Frankfurt.
          No Brasil, quem assumiu o comando quando de sua criação foi o paulistano Marcelo Lacerda. Formado em direito e administração de empresas, Lacerda começou a carreira como advogado da Bayer em 1998. Galgou postos em diversas áreas até chegar a diretor financeiro da subsidiária brasileira. Na época da cisão, ele decidiu trocar um alto posto na Bayer para comandar uma empresa nova porque era a única oportunidade que via para se tornar presidente.
          A empresa no Brasil teve que inventar da noite para o dia uma identidade própria, segundo Lacerda. "E, embora a matriz tenha dado algumas diretrizes, tivemos muito espaço para criar um estilo de trabalhar", conclui.
          O estilo de trabalhar, a que Lacerda se refere, engloba, por exemplo, anúncios (ruidosos) de negócios fechados ou uma meta alcançada. Assim que o chefe toca o sino no escritório, dezenas de executivos e vendedores se reúnem para comemorar. O ritual, incorporado ao dia-a-dia da empresa por volta de meados de 2006, é o símbolo de uma nova - e agitada - cultura que Lacerda adotou na companhia.
          Mas, para que ocorram comemorações, é necessário o cumprimento de metas mais agressivas. Em contrapartida, os vendedores passaram a ter mais autonomia.
          Nem todos se adaptaram ao choque proposto pelo executivo. Dos 480 funcionários que compunham a empresa na época da cisão, 180 saíram no meio do caminho. Outras 100 pessoas foram contratadas ao longo de três anos para repor as baixas.
          Um dos desafios de Lacerda foi melhorar o ânimo dos 400 funcionários da operação brasileira, que de uma só vez perderam o sobrenome corporativo e ficaram com o negócio à época considerado menos charmoso e promissor dentro da antiga estrutura da Bayer.
          A unidade brasileira da Lanxess tem sua sede em São Paulo.
(Fonte: revista Exame - 24.10.2007)

12 de jul. de 2020

Raphy

           A Raphy Indústria Têxtil foi criada em 1.962 na Rua Silva Teles, no Brás em São Paulo, pela família Chammah confeccionando camisas.
          Em 1976 a empresa instalou sua sede própria, em uma área construída de 24.000 metros quadrados, no km 16 da Rodovia Anhanguera no município de Osasco.
          Em 2013 abriu um escritório showroom na Rua João Annes, no bairro da Lapa na capital paulista.
          Em 2014, a empresa instala-se em Camanducaia, sul de Minas Gerais, na divisa com Cambuí, com um novo centro logístico e onde possui um outlet.
          Também em 2014, a empresa inicia a criação de lojas próprias com a abertura da primeira loja no Shopping Tietê Plaza, em São Paulo, onde começou a vender no Canal Monomarca, seguindo uma tendência de mercado. Há lojas próprias também nos shoppings Cidade São Paulo, Center 3, entre outros.
          A empresa atua na linha de produtos masculinos como camisas, calças sociais, ternos, gravatas, blazers, suéter, jeans, camiseta, bermudas e cintos. 
(Fonte: revista Nova Enfoque - parte)

11 de jul. de 2020

Compagnie d'Occident

          Na década de 1710, tendo Paris como cenário, um escocês, de nome John Law, para uns, gênio das finanças, para outros, espertalhão, falsário e até mesmo assassino, estabeleceu a Compagnie d’Occident. Esta foi agraciada pela coroa francesa com os direitos de exploração de ouro no território da Louisiana, hoje um estado americano, na época pertencente à França.
          Law ofertou ações da nova companhia ao público. A aceitação foi fantástica, embora não houvesse nenhum indício da existência de ouro na Louisiana. Uma investigação mais apurada mostraria que a Compagnie d’Occident nem mesmo chegou a iniciar uma prospecção. Mas isso era um detalhe irrelevante para os especuladores parisienses. Lançaram-se ávidos à compra e venda dos novos papéis, no velho mercado de valores da Rue Quincampoix.
          Em 1720, o mercado vacilou. Um príncipe, De Conti, suscitara algumas dúvidas sobre a existência daquele ouro. John Law respondeu aos rumores contratando centenas de mendigos nas ruas de Paris. Equipou-os de pás e picaretas. Fê-los marchar pela cidade, como se se dirigissem à Louisiana. Mas, quando, algumas semanas depois, os especuladores viram os pedintes de volta, em seus pontos tradicionais, perderam as esperanças. O mercado desabou, lançando na miséria milhares de investidores.
(Fonte: livro Os Mercadores da Noite - Ivan Sant'Anna - Ed.Inversa)

10 de jul. de 2020

MCassab

          Em 1928, os libaneses João Pedro Cassab, Elias Cassab e Mansur Cassab, recém-chegados ao Brasil, fundam a empresa João Pedro Cassab & Companhia em Morro Grande, no distrito de Rio Claro, SP.
          Cinco anos depois, em 1933, Jorge Cassab torna-se sócio de Mansur e a empresa passa a se chamar J.Cassab & Companhia. A empresa expande suas atividades para a região de Leme, também no interior de São Paulo.
          Na década de 1940 a J.Cassab & Companhia cria novas filiais nas cidades de Araras, Piracicaba, São Carlos e Limeira.
          Em 1948 a empresa transfere a sede para a cidade de São Paulo e inclui novas atividades ao grupo: os serviços de importação e exportação de produtos químicos e farmacêuticos.
          Na capital paulista, cria em 1950 a Companhia Mercantil de Armazéns Gerais, localizada na região da Vila Prudente, com 11 unidades de armazenamento, para armazenar a produção de algodão própria e a de terceiros.
          Em 1969 a empresa inicia atividades na área de Tecnologia Animal.
          Em 1972, Mansur Cassab, o mais inovador e ambicioso dos patriarcas da primeira geração, passa a contar com a participação do seu filho José Carlos e do genro Fábio Cutait no gerenciamento da empresa. Nesse momento, a empresa já está sediada na Alameda Campinas, em São Paulo.
          Três anos depois, em 1975, a J.Cassab ganha novo nome: M.Cassab.
          A terceira geração da família estreia no grupo em 1979. Mário Sérgio, Victor e André Cutait, os três filhos de Fábio, ingressam na empresa.
          Em 1988 o grupo cria o Laboratório de Análises Químicas e a unidade de Nutrição e Ingredientes.
          Em 1990, o Grupo M.Cassab passa a ser propriedade exclusiva de Fábio, de sua esposa e de seus filhos. A empresa continua com capital 100% nacional.
          O grupo entra no mercado de bens de consumo em 1993, com a abertura da unidade de Utilidades Domésticas.
          Em 2003, o grupo abre escritório em Shangai, na China. Duas novas unidades de negócio iniciam suas operações: Eletrodomésticos e Utensílios Profissionais.
          Em 2004, o grupo passa a ser distribuidor exclusivos da Lego no Brasil.
          Em 2007, a MCassab inaugura o escritório de Buenos Aires, na Argentina.
          Em 2009, o grupo cria a unidade de negócios M.Cassab Foods.
          Dando sequência nos investimentos para a distribuição da Lego, são inauguradas, em 2010, as brinquedotecas Lego no Hospital das Clínicas e no Hospital Sírio Libanês, ambos em São Paulo.
          A M.Cassab Foods inicia, em 2011, a operação de alevinagem no município de Rifaina, interior de São Paulo.
          O Grupo MCassab, hoje controlado pela família Cutait, continua com capital 100% nacional. Possui cinco grandes áreas de atuação: Distribuição, Nutrição e Saúde Animal, Consumo, Pescados e Investimentos Imobiliários. Juntas, englobam 14 unidades de negócio e 1,3 mil colaboradores diretos.
          A empresa é responsável pela marca Lego no Brasil e loja de utilidades domésticas Spicy
          O Grupo MCassab tem sua sede na Avenida Nações Unidas, 20.882, na zona sul de São Paulo.
          Em 2022, a MCassab,  investe R$ 170 milhões em um novo complexo operacional em Jarinu, São Paulo, para dobrar sua capacidade. A unidade terá área de armazenagem de 55 mil metros quadrados ao longo da Rodovia Dom Pedro I e abrigará fábricas de diferentes linhas de negócios da empresa, cuja atuação é bastante diversificada. Algumas estruturas já foram finalizadas e estão em operação, como os armazéns para produtos Lego e Spicy, uma fábrica de poliuretano e tanques para produtos químicos. Até o final de julho (de 2022), a construção de outras três plantas – para alimentação humana, nutrição animal e produtos para saúde – deverá ser concluída. Além das instalações em São Paulo, a empresa possui unidades industriais em Cascavel (Paraná) e Campo Grande (Mato Grosso do Sul) e centros de distribuição em Cachoeirinha (Rio Grande do Sul) e Jaboatão dos Guararapes (Pernambuco).
          O Grupo MCassab tem sua sede na Avenida Nações Unidas, 20.882, na zona sul de São Paulo.
(Fonte: site da empresa / LinkedIn / Valor 16.06.2022 - partes)


9 de jul. de 2020

BCP

          A empresa de telefonia BCP iniciou suas operações em 1998. Era a operadora de telefonia celular da banda B na Grande São Paulo.
          Depois de um começo promissor em 1998, quando chegou a deter 46% do maior mercado do país, a partir de meados de 1999 a BCP passou a assistir à queda contínua de sua participação, que chegou a 37% em meados de 2001.
          No final de 2000, o engenheiro paulistano Dante Iacovone assumiu o comando da empresa no lugar do executivo mexicano Roberto Peón. Iacovone estimou que, no máximo em quatro anos, os acionistas da empresa teriam o retorno sobre os investimentos realizados - algo como 4 bilhões de reais.
          Os obstáculos naturais que a BCP tinha pela frente tornavam-se ainda mais difíceis se considerados dois fatos. O primeiro: a enorme demanda por celular na região, que gerou uma fila de mais de 1 milhão de clientes no início das operações da empresa, deixaram de existir por volta de meados de 2001. O segundo: o aumento da concorrência. A partir de 2002, a Telecom Itália, dona de uma carteira mundial de 22 milhões de clientes de telefonia móvel, começaria a operar celulares em todo o país.
          Por muito tempo, a BCP foi uma espécie de espectadora, uma posição arriscadíssima, sobretudo numa época em que a inovação podia definir perdedores e vencedores. Esperava sua concorrente, a Telesp Celular, colocar no mercado as novidades na área de serviços para então oferecer suas alternativas.
          Um exemplo foi o lançamento do celular pré-pago, responsável por cerca de 63% das vendas totais. A Telesp Celular, controlada pela Portugal Telecom, foi a primeira a tornar o produto disponível. O mesmo aconteceu com o Wap - que permitia a navegação por sites desenhados especialmente para telefones celulares. A BCP só ofereceu algo semelhante a seu 1,7 milhão de clientes sete meses depois.
(Fonte: revista Exame - 25.07.2001)

8 de jul. de 2020

Millo's Supermercado

          A assinatura da família Markakis, que comandava os supermercados Cândia, esteve presente também em outro supermercado bem sucedido. Trata-se do Millo's - moinho em grego -, que em apenas três anos de vida chegou ao faturamento anual de 41 milhões de dólares.
          Fundado em 1990, o Millo's era conduzido pelo administrador de empresas Jean Markakis, primo de Dimitrios Markakis, que comandava o Cândia. Os dois supermercados eram totalmente independentes.
          Jean nasceu na ilha de Creta, na Grécia, e vive no Brasil desde os 8 anos de idade. É naturalizado brasileiro. Como o outro ramo da família, Jean e seu pai, Demetrios, trabalhavam como atacadistas. Ao ver que as grandes redes de supermercado estavam estrangulando sua clientela, formada basicamente por mercearias e mercadinhos, resolveram pular fora.
          O início do Millo's não foi fácil. Jean não conhecia o negócio por dentro. Teve de pegar uma fita métrica e medir as lojas da concorrência para montar sua primeira unidade, em Osasco. Nilo Ferreira Leite, ex-gerente operacional do Cândia, salvou a pátria. Procurou Jean como representante da Mococa para vender leite condensado. Foi contratado como executivo da casa. E permaneceu muito tempo como diretor da loja de Osasco, de onde saíam 30 milhões de dólares por ano.
          O ponto forte do Millo's eram os serviços. Para saber o que os consumidores queriam, os gerentes passavam a tarde toda junto às gôndolas, conversando com eles. O resultado se via nas lojas: sorteios, ofertas relâmpagos, desfiles de moda entre as gôndolas, ginástica no estacionamento. Na porta, mais um serviço: para quem não tinha carro, o Millo's organizava a entrega das mercadorias nas casas através de dezenas de Kombi.
          O Millo's era uma rede com apenas duas lojas na Grande São Paulo, uma em Osasco e outra em Guarulhos e tinha, em maio de 1993, 780 funcionários.
(Fonte: revista Exame - 12.05.1993)

7 de jul. de 2020

Mills

          A Mills (Mills Locação, Serviços e Logística S.A.) foi fundada em 1952 pela família Nacht, um negócio de andaimes e escoramento que prestava serviços ao setor de construção civil. Nas décadas de 1970 e 1980 ela participou da construção de grandes obras: Ponte Rio-Niterói, em 1971, Usina Hidrelétrica de Itaipu, em 1979, e da primeira plataforma brasileira de exploração de petróleo, em 1983.
          A empresa é uma prestadora de serviços especializados. O negócio contempla o planejamento, projeto, supervisão técnica e fornecimento de estruturas temporárias para construção civil (formas para concreto, escoramento e andaimes), além de locação e venda de equipamentos motorizados de acesso (plataformas aéreas e manipuladores telescópicos). A companhia fornece para grandes projetos de infraestrutura e para construção residencial, comercial e industrial.
          A companhia abriu capital em maio de 2010. Na ocasião, o grande gatilho para a valorização do negócio seria a demanda por obras para a Copa de 2014 e para as Olimpíadas de 2016.
          No auge ela era a empresa da Copa, visto que prestava serviços em obras de estádios, aeroportos, além dos projetos de mobilidade urbana em 12 capitais do país, o que não é pouca coisa, mas os resultados não continuaram evoluindo, embora acreditava-se na época, que ainda existia muito espaço para o setor de construção pesada no Brasil e que o negócio ainda poderia render bons frutos.
          Ao final de 2014 as coisas começaram a “azedar”. Para termos uma ideia do contexto na época – os escândalos envolvendo as construtoras – a Mills teve uma receita líquida de R$ 832 milhões em 2013. Em 2019 foi apurada receita líquida de R$ 439,5 milhões.
          Em 19 de abril de 2022, a Mills anunciou a aquisição da Tecpar Equipamentos por R$ 45,8 milhões. A companhia é especializada em locação e vendas de plataformas elevatórias, além de oferecer assistência técnica. De acordo com a empresa, a Tecpar apresentou receita bruta anualizada de R$ 22,9 milhões em fevereiro, contando com uma frota de 298 máquinas, com idade média de seis anos, além de 53 em leasing operacional.
          Em julho de 2022, a Mills adquiriu a empresa Triengel, marcando a entrada no segmento de Linha Amarela (tratores, escavadeiras, carregadeiras, retroescavadeiras etc.).
          Em 9 de maio de 2024, a Mills informa a celebração de um contrato de compra, através de sua subsidiária integral, Mills Pesados - Locação, Serviços e Logística S.A., para adquirir integralmente a JM Empilhadeiras Holding de Participações Ltda., sociedade limitada, com sede em Agudos, estado de São Paulo. A JM Empilhadeiras, fundada em 1985, é uma das maiores empresas de locação de empilhadeiras, destacando-se pelo seu extenso know-how na manutenção de equipamentos a partir de investimentos constantes em tecnologia, inovação e qualificação de sua equipe. A empresa possui uma frota composta por mais de 1.900 equipamentos com idade média de 3,8 anos. Em 2023 a JM Empilhadeiras reportou uma receita bruta de R$153,5 milhões. O valor total da transação é de R$ 279,5 milhões.
(Fonte: Dicadehoje Research - 29.06.2020 / Valor - 19.04.2022 / Fato Relevante - 29.05.2024 - partes)

6 de jul. de 2020

Banco Cindam (ex-Goldmine)

          O Banco Goldmine foi fundado no Rio de Janeiro em 1989. Era controlado por Marcelo Steinfeld e seu filho Roberto, nascido em 1955. A família Steinfeld, de judeus poloneses, estabeleceu-se no Brasil na década de 1930.
          Seus administradores se notabilizaram no governo Sarney, em 1989, por ter feito dinheiro grosso especulando com ouro às vésperas da eleição presidencial. A eleição passou, mas o banco continuou na lista dos maiores investidores de ouro do país. Tal destaque não é obra do acaso. É que o banco controlado pela família Steinfeld, faz parte de um conglomerado com forte atuação nos minérios. Pertencem ao grupo duas das principais empresas do setor, a Cindam, responsável por 92% das exportações de diamantes do Brasil, e a fundidora Goldmine, também uma das maiores do país.
          Com apenas três anos de fundação, o banco conseguiu marcar o seu nome no mercado. O problema é que sua imagem ficou ligada a uma atuação nem sempre ortodoxa na praça. Ao dar algumas tacadas consideradas de mau tom no mercado de câmbio em 1991, o banco foi pilhado pelo Banco Central.
          No início de 1993, o banco decidiu passar a vida a limpo. Para enterrar as manchas do passado, promoveu uma mudança radical em sua atuação. De uma vez só, trocou de nome, adotou uma nova estratégia mercadológica, contratou executivos de primeira linha e alterou o organograma. O nome Goldmine, muito ligado ao passado, ficou restrito à fundidora. A banco passou a se chamar Cindam, mesmo nome da empresa de diamantes.
          Além das áreas de câmbio e ouro, o banco passou a atuar em outros mercados, como o de derivativos, e na administração de recursos de terceiros. Outra novidade foi a criação de um departamento de reestruturação de empresas.
          Para mudar seu perfil, o banco passou por um processo de reestruturação. Roberto Steinfeld, que era o comandante, passou a presidir o conselho de administração no lugar do pai. Nathan Blanche, um dos sócios minoritários e até então a face mais conhecida da banco, passou a responder apenas pelas áreas de câmbio e ouro.
          Com a mudança, abriu-se espaço para a contratação de dois nomes de peso oriundos de antigos governos. Para a presidência foi contratado o ex-secretário executivo do Ministério da Economia Luís Antônio Gonçalves. A área de reestruturação de empresas ficou sob a direção de Luiz Chrisóstomo, ex-superintendente do BNDES. Ambos passaram a ter participação minoritária do banco.
(Fonte: revista Exame - 03.02.1993)

5 de jul. de 2020

Boeing

          A Boeing foi fundada em 1916, na cidade de Seattle, estado de Washington, nos Estados Unidos. A história da companhia começa, porém, bem antes de sua fundação. Se hoje a empresa figura entre os maiores fabricantes de aeronaves do mundo, isso se deve a quatro homens nascidos em solo norte-americano ainda no século XIX: William Edward Boeing (1881), que começou construindo hidro aviões perto de Seattle; James Smith McDonnell (1899), que iniciou suas atividades produzindo caças a jato em Saint Louis, Missouri; Donald Wills Douglas (1892), que entrou para o ramo fabricando bombardeiros e aviões para o transporte de passageiros, na Califórnia; e James Howard "Dutch" (1895), que começou construindo aviões de treinamento, em Los Angeles, também na Califórnia. E, não por acaso, todos os quatro conheceram Glenn Martin, um dos fundadores da Lockheed Martin Corporation, antes de partirem para seus próprios empreendimentos.
          Eles iniciaram suas jornadas nos anais da indústria aeroespacial em diferentes épocas e sob diferentes circunstâncias. Mas os seus caminhos se juntaram e as contribuições de cada um são a herança comum da atual Boeing Company.
          O jovem empreendedor William Boeing, que aprendera a voar com Glenn Martin, compartilhava o seu fascínio pela aviação com o engenheiro naval George Conrad Westervelt. Assim, em 1915, juntamente com o amigo, iniciou a construção do seu primeiro hidroavião, equipado com dois flutuadores, conhecido como B&W. Antes de terminar a aeronave, porém, Westervelt viajou para a Costa Leste e, em 15 de julho de 1916, Boeing criou a sua empresa de fabricação de aviões, nomeada Pacific Aero Products Company, que um ano mais tarde seria rebatizada como Boeing Airplane Company.
          Boeing acreditava no futuro da aviação comercial. Projetou vários biplanos para essa finalidade, mas nenhum entrou em produção. Em 1919, ele e o piloto Eddie Hubbard demonstraram que os aviões poderiam ser usados para o transporte de correio internacional, levando 60 cartas de Vancouver, no Canadá, para Seattle, nos EUA.
          A Boeing terminou o ano de 1922 participando de uma concorrência com a Curtiss Aeroplane and Motor Company pelo melhor avião de caça. Curtiss, que terminara antes o seu avião, obteve o primeiro contrato do Serviço Aéreo do Exército dos EUA, mas, quando o Boeing Model 15 (PW-9) voou, seis meses mais tarde, as suas vendas e as dos seus derivados tornaram a Boeing o fabricante líder de caças durante a década seguinte, culminando com a produção de 586 aeronaves da série F4B/P-12, dos quais 14 da versão 256 (F4B para exportação) foram produzidos e entregues para a Marinha Brasileira (6) e para a Aviação Militar (8), em 1932, marcando a entrada do fabricante norte-americano no Brasil.
          O primeiro voo solo e sem escalas entre Nova York e Paris, realizado por Charles Lindbergh, em 1927, despertou um enorme interesse pela aviação e aumentou o número de fabricantes de aeronaves. Naquele mesmo ano foi criado o Boeing Air Transport (BAT) para, com um biplano monomotor Boeing Model 40A, explorar o contrato assinado pelo U.S. Post Office (Correio dos EUA). Jane Eads, repórter do jornal Chicago Herald Examiner, foi a primeira passageira do BAT. Elegantemente vestida e com estola de pele, ela fez o voo de 22 horas e meia em uma cabine não muito maior nem mais quente que uma geladeira.
          Os anos passaram, os aviões foram ficando mais modernos e a quantidade de correio e passageiros nunca mais parou de aumentar. Ainda em 1929, a Boeing e o fabricante de motores Pratt & Whitney criaram a United Aircraft and Transport Corp. (UATC), que logo começou a absorver outras empresas relacionadas com a aviação, sendo a primeira delas a Stearman Aircraft Company, que fabricava biplanos monomotores.
          Naquela época surgiu o revolucionário monoplano bimotor Monomail, que deu origem ao Boeing 247, um dos primeiros aviões modernos de passageiros, que foi construído para a United Airlines. As companhias aéreas concorrentes da United Airlines não poderiam encomendar o 247, antes que os primeiros 60 aviões fossem entregues à UA, mas a Transcontinental and Western Airlines (depois Trans World Airlines) também o queria.
          Com a recusa da Boeing de fornecer o 247, a TWA pediu a outros fabricantes o projeto de um transporte trimotor. A Douglas Aircraft Company ganhou a concorrência com o bimotor DC-1, que era maior e mais rápido que o 247. O protótipo do DC-1 e os aviões de série DC-2 deram origem ao legendário DC-3, que rapidamente atraiu novos compradores. Em 1939, estimava-se que 83% dos voos domésticos regulares nos EUA eram realizados por aviões DC-2 e DC-3. Esse bimotor revolucionou a indústria da aviação, tornando o transporte aéreo mais confiável e rentável. Isso marcou o fim da liderança da Boeing na produção de aviões comerciais por muitos anos. A empresa só voltaria a tê-la na era do jato.
          Em 1934, uma lei proibiu que os fabricantes tivessem suas próprias companhias aéreas. Por isso, a UATC se transformou em três entidades: a Boeing Aircraft Company, a United Airlines e a United Aircraft Corporation, a precursora da United Technologies. Também em 1934, o Army Air Corps (Corpo Aéreo do Exército) dos EUA solicitou um bombardeiro experimental muito pesado e de longo alcance. A Boeing respondeu com o quadrimotor XB-15 e, ao mesmo tempo, iniciou o desenvolvimento do B-17, o bombardeiro que encheu os céus da Europa durante a Segunda Guerra Mundial.
          Em 1938, a Douglas adquiriu a Northrop e depois, enquanto lançava o DC-4, a Boeing tentava concorrer com seu último hidroavião, o majestoso Model 314 Clipper, que foi o maior avião de transporte da sua época, e com o Model 307, que teve o privilégio de ter sido o primeiro avião comercial pressurizado. Na realidade era um bombardeiro quadrimotor B-17 com uma nova fuselagem aerodinâmica de seção circular, mas do qual só foram fabricadas 10 unidades.
          Enquanto perdia terreno na produção de aviões comerciais, a Boeing começava a ganhar o seu espaço no mercado militar. O primeiro bombardeiro monoplano foi o bimotor B-9, que provou que esse tipo de avião era mais veloz do que os seus contemporâneos biplanos. Dentre os caças, destacou-se o P-26 Peashooter, que voava 50 km/h mais rápido do que os biplanos da época.
          Durante a Segunda Guerra Mundial, os homens iam para a batalha enquanto as mulheres construíam aviões, ajudando na produção de mais de 60 exemplares do B-17 Flying Fortress por mês em 1942, chegando a inacreditáveis 362 bombardeiros B-17 e B-29 Super Fortress mensais em março de 1944. Num determinado momento, da fábrica de Seattle saíam 16 aviões a cada 24 horas.
          Por sua vez, a Douglas fabricou praticamente 16% de todas as aeronaves produzidas durante a guerra e, no pico da produção, a Douglas chegou a contar com 160.000 trabalhadores. Os principais aviões fabricados foram o A-20 Havoc, o A-26 Invader, o C-54 Skymaster (DC-4 militar) e, sem dúvida, o onipresente DC-3.
          Enquanto a McDonnell trabalhava como subcontratada da Boeing e da Douglas, a North American atingia novos níveis de produção, fabricando mais de 40.500 aviões. Seus principais modelos foram o avião de treinamento T-6 Texan, o bombardeiro médio B-25 Mitchell e o fantástico caça P-51 Mustang. Durante o período de pico, saía da fábrica da N.A. um avião a cada 15 minutos. Os anos imediatamente posteriores à Segunda Guerra foram marcados por grandes mudanças. Os militares cancelaram todas as suas encomendas. Fábricas da Boeing fecharam e 70.000 pessoas perderam seus empregos de uma hora para outra. A Douglas também fechou fábricas e demitiu pessoal, ficando, seis meses depois, com poucos empregados, que se dedicavam freneticamente a transformar em civis os aviões militares que haviam construído durante a guerra.
          A North American, que tinha 8.000 aviões encomendados no fim da Guerra, poucos meses depois estava com 24 pedidos e decidiu investir na produção de aviões militares. Primeiro veio o bimotor a pistão AJ Savage e, posteriormente os jatos: o B-45 Tornado e o FJ Fury, que deu origem ao famoso caça F-86 Sabre.
          Já a McDonnell, que só havia produzido peças, focou os seus esforços no desenvolvimento de aviões a jato e já no final da década começava a dividir com a Douglas praticamente toda a produção desses aviões para a Marinha e o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, numa corrida que duraria mais de duas décadas. Além disso, a empresa também produziu jatos para a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF).
          Em 1945, a Douglas lançou a série AD/A-1, um grande monomotor a pistão, que seria um êxito na Coreia e no Vietnã e logo iniciou a corrida pelos caças a jato. O fabricante achou o mercado civil e na construção de transportes militares uma saída para a crise. Terminou o desenvolvimento do DC-6 e lançou o DC-7, chamado de "Seven seas", mas a sua vida foi curta, pois a era do transporte comercial a jato estava chegando. A Douglas e a Boeing reiniciavam a concorrência na área comercial.
          A Boeing lançara o 377 Stratocruiser pouco antes da Guerra, mas os seus quatro motores Pratt & Whitney de 28 cilindros, associados às hélices quadripás, tornavam-no pouco confiável. Isso e a chegada dos jatos contribuíram para que só fossem produzidos 56 exemplares. Dados de túnel de vento, descobertos na Alemanha no fim da guerra, ajudaram os engenheiros da Boeing a projetar o primeiro bombardeiro a jato operacional multimotor, o elegante B-47.
          Em 1952, a diretoria da Boeing decidiu investir na construção do protótipo de um novo avião de longo alcance, com motores a jato. O 367-80, que daria origem ao Boeing 707, teve o seu rollout realizado em 14 de maio de 1954; em setembro do mesmo ano, a USAF encomendou o primeiro dos 700 aviões de reabastecimento KC-135 que utilizou por vários anos e, em outubro de 1955, a Pan American encomendou 20 jatos 707-120. A corrida pelo domínio do mercado do transporte aéreo a jato havia começado e a Boeing foi a primeira a largar.
          Os KC-135 tinham a fuselagem do 367-80 enquanto os 707 de série eram montados com uma célula mais larga, para poder ter instaladas fileiras de seis assentos, como no Douglas DC-8. O 707 foi fabricado em várias versões civis, militares e até para a NASA. Ele deu origem ao trimotor 727, projetado para aeroportos pequenos e com pistas curtas, e ao bimotor 737, que chegaria aos dias atuais como o avião comercial fabricado em maior número no mundo em 10 versões comerciais (do -100 ao -900ER) e algumas militares.
          Em 1960, a Boeing adquiriu a fabricante de helicópteros Vertol Aircraft Company e as suas aeronaves Chinoook realizaram inúmeras missões no Vietnã e em outros conflitos. O enorme 747, cujo primeiro voo foi realizado em 9 de fevereiro de 1969, foi construído quando os congestionados aeroportos e o aumento do tráfego aéreo indicaram a necessidade de um avião comercial com grande capacidade e alcance. Em 1988, voou o 747-400, a quinta versão e a última a ser fabricada até o lançamento do 747-8, cujo primeiro voou ocorreu em 2010. Nos 20 anos seguintes ao lançamento do -400, foram anunciadas as versões -500 e -600, mas nunca saíram do papel.
          De volta à década de 1950, após os dois acidentes fatais do pioneiro Comet, a Douglas decidiu lançar o seu jato comercial, mas só o anunciou após o voo inaugural do Dash 80. O DC-8 entrou em serviço em 1959, sendo seguido pelo bimotor DC-9, concorrente do 737, em 1965. A fusão McDonnell Douglas foi anunciada em 1967, que, um ano depois, anunciou o DC-10, fabricado em várias versões civis e no modelo KC-10 para a USAF. Ele foi seguido pelo MD-11, que nunca atingiu as especificações do projeto. Outros projetos da MDD foram a modernização dos DC-9, como MD-80/90, incluindo o MD-95, que foi fabricado pela Boeing como 717.
          Em meados da década de 1950, a North American iniciou o projeto do F-100 Super Sabre, do superbombardeiro supersônico XB-70 Valkyrie e do avião foguete para pesquisas X-15. Posteriormente, nos anos 1960, desenvolveu o OV-10 Bronco, o T-2 Buckeye e o T-39 Sabreliner e, em 1967, combinou as suas operações com a Rockwell Standard, passando a se chamar North American Rockwell Co., nome que mudou para Rockwell International, em 1973.
          Os anos 1970 levaram a Boeing a uma crise, da qual sairia em meados da década seguinte, quando decidiu lançar simultaneamente os modelos 757 e 767 em suas várias versões. Em 1990, transportou 675 milhões de passageiros e, em 1994, foi realizado o rollout do Boeing 777, o maior bimotor a jato em operação no mundo.
          Após a sua criação, a MDD estudou vários projetos, fabricou sob licença o AV-8 Harrier II, desenvolveu o sucessor do F-4 Phantom, o bem-sucedido F-15 Eagle e, em 1975, venceu a concorrência que deu origem ao F/A-18 Hornet, cujo descendente direto é o muito mais moderno F/A-18E/F Super Hornet, que poderá equipar a Força Aérea Brasileira. Em 1984, a Hughes Helicopters passou a fazer parte da McDonnell Douglas e, em 1991, voou pela primeira vez o avião cargueiro C-17 Globemaster III.
          Em dezembro de 1996, ocorreu a fusão entre a Boeing e a Rockwell International Corp., passando a se chamar Boeing North American Inc. e operar como subsidiária da Boeing. Em 1º de agosto de 1997, a Boeing realizou com seu componente North American a maior das fusões da indústria aeronáutica ao assumir a McDonnell Douglas. Em 1998, o grupo já era a maior fabricante de jatos comerciais e militares do mundo. Tinha 145 clientes, funcionários em mais de 60 países e operações em 20 estados americanos.
          Ao adquirir a McDonnell Douglas por 13,3 bilhões de dólares, a Boeing não se tornou apenas a maior empresa aeroespacial do planeta. A fusão marca também o fortalecimento da companhia americana na disputa com a europeia Airbus pelo domínio do mercado mundial de aviões. Reforçada depois de ir às compras, a nova Boeing, com 200.000 funcionários e previsão de faturar 48 bilhões de dólares em 1997, passou a controlar 60% do mercado mundial de jatos comerciais. Também reforça sua presença no setor de aviação militar e de defesa americano, no qual faturava 5 bilhões de dólares anuais, a metade do que colhe a McDonnell Douglas nessa área.
          O que aconteceu com a McDonnell Douglas, cujos DC-3, DC-4 e DC-6 já chegaram a ser os donos dos céus, a ponto de precisar ser vendida? Precaução em excesso parece ser a explicação mais provável para a fase difícil que a empresa vinha atravessando. Nas duas décadas anteriores ao negócio, decisões que envolviam grandes investimentos eram frequentemente proteladas. Resultado: para se tornar a empresa novamente competitiva seria necessário um investimento de 15 bilhões de dólares em 10 anos. "Com as margens de lucro praticadas no setor, isso não faz sentido para nós", disse Harry Stonecipher, o primeiro executivo sem o sobrenome Douglas a comandar a companhia, ao explicar que, dois meses antes, a empresa resolvera cancelar a execução dos projetos do seu novo modelo MD-XX.
          E a Boeing continuou a crescer. Como em todas as fases de crescimento houve problemas: não faltaram crises, greves e disputas com seu principal concorrente, mas não há dúvida de que as gigantes da aviação que surgiram como Boeing, Douglas, McDonnell e North American estão agora trabalhando como uma só empresa.
          No início de 2004, com base numa denúncia anônima, a Boeing destacou uma comissão para investigar a vida pessoal de Stonecipher, então CEO da empresa. Segundo a denúncia, Stonecipher, casado e com filhos, relacionava-se com uma executiva da empresa. Depois de dez dias, o conselho diretor chamou Stonecipher para uma conversa e mostrou o conteúdo da apuração para ele. Em conjunto, decidiram que não havia mais condições para que ele permanecesse na empresa. Na nota oficial, a Boeing fez questão de destacar duas informações: Stonecipher não estava sendo demitido por causa de seus resultados - considerados satisfatórios pela companhia - e não havia nenhuma relação de subordinação entre ele e a tal executiva. A questão que fica é: até onde vai a liberdade de cada funcionário - ou melhor, até onde a empresa tem o direito de vigiá-lo. É cada vez menor o espaço dado para que o empregado tenha uma vida privada, mesmo que isso não interfira em nada no cotidiano da companhia. Ao demitir Stonecipher por adultério, a empresa expôs a vida pessoal do executivo e de sua esposa, Joan, ao mundo inteiro. Se esse comportamento não trazia prejuízo de nenhuma espécie para a companhia, deveria ser um assunto do casal, da vara da família e da tal executiva em questão. Ao agir dessa forma, a Boeing cruzou a fronteira e transformou o privado em público.
          A Boeing hoje tem sede em Chicago. Recentemente, foram lançados os modelos 737 MAX, equipados com modernos motores mais econômicos e ecoeficientes.
          Em 2 de julho de 2020, a Boeing Company lançou um press release que, na prática, significa o fim da Era dos Jumbos. De acordo com o comunicado, o último 747-800 sairá brevemente das linhas de montagem nos arredores de Seattle.
          O primeiro voo comercial de um wyde body (que é como são chamados esses gigantes do ar) aconteceu em 21 de janeiro de 1970. Nesse dia, um 747 da Pan Am decolou de Nova York para Londres, iniciando uma linha regular. Até então os maiores jatos comerciais eram o Boeing 707, o Douglas DC-8, o Convair 990, o britânico Comet 4 e o soviético Ilyushin Il-62. A cabine de passageiros desses aviões tinha apenas um corredor, com três assentos de cada lado na classe econômica. Dois, na primeira. Não havia executiva.
          Já nos jumbos eram dois corredores, geralmente com quatro poltronas no meio e três de cada lado da aeronave. Ou seja, na classe econômica, cada fila comportava 10 passageiros. Com o tempo, eles foram evoluindo: após o 747-100, vieram o 200, 300, 400... A versão que ainda está sendo fabricada teve sua denominação simplificada para 747-8 e é usada quase que só para cargueiros.
          A aeronave presidencial americana, mais conhecida como Air Force Number One, é um Boeing 747. Com diversas adaptações de conforto e segurança, é claro. Pelo que se sabe, além dos Estados Unidos, apenas outro país se deu ao luxo de ter um jumbo a serviço do presidente. Foi a Argentina de Carlos Menem.
          Isso numa época em que o ocupante do palácio do Planalto era obrigado a voar no Sucatão, um 707 de segunda mão, comprado da Varig. O velho jato andou dando sustos em Sarney, Collor, Itamar e FHC. Lula trocou a “carroça aérea” por um Airbus VC-1A. Como não podia deixar de ser, também levou apelido: AeroLula. Após servi-lo, assim como a Dilma e Temer, transporta hoje Jair Bolsonaro.
          Voltando à Boeing, com a alta do preço do petróleo, o 747, com suas quatro turbinas, foi se tornando economicamente inviável. A empresa então passou a produzir o 757 e o 767, birreatores, justamente os modelos usados pelos terroristas nos ataques de 11 de setembro de 2001. Mais tarde, vieram o 777 e o 787 (Dreamliner).
          Para cada aeronave produzida em Seattle, a Airbus respondia com uma equivalente. A liderança do mercado passou a oscilar entre um e outro fabricante.
          Surgiu então o Max. Seu conceito revolucionário, em termos de custo por milha voada e autonomia de voo, conseguia substituir tanto os voos das aeronaves de média distância como das de longa. A brasileira Gol, por exemplo, transportava nos Max até 186 passageiros na linha São Paulo/Orlando. Sem escalas.
          Veio então a sequência de tragédias e contratempos para a Boeing.
− Outubro de 2018: um Max da empresa indonésia Lion Air cai no mar de Java alguns minutos após decolar do aeroporto de Jacarta.
− Março de 2019: Max da Ethiopian Airlines se espatifa no solo logo após partir de Adis Abeba.
− Boa parte das companhias aéreas, inclusive a Gol, que possuíam aeronaves Max em suas frotas, as imobilizaram no solo.
− Após aflitiva demora a FAA, Federal Aviation Administration, dos Estados Unidos, proíbe os voos do modelo até que a causa dos dois acidentes tenha sido totalmente esclarecida e as eventuais falhas de projeto reparadas.
          Desde então, pilotos de prova da Boeing estão pilotando 737 Max sobre as águas do Oceano Pacífico, decolando de pistas da costa oeste americana das quais saem direto para o mar, sem pôr em risco as pessoas em terra. Agora a FAA autorizou oficialmente os testes, tendo a bordo especialistas da agência, para ver se permite que os Max voltem a voar. Se as modificações feitas pela Boeing forem aprovadas (e tudo indica que serão), o Max poderá voltar a ser vendido para as empresas aéreas. Após a interdição do avião, diversas empresas devolveram unidades. Muitas cancelaram encomendas. Em contrapartida, outras transportadoras, como a Ryanair, assinaram contratos de compra.
          Dando tudo certo, antes do final de 2020 teremos os Max de volta aos ares. Resta saber como os viajantes se comportarão. No caso do Lockheed Electra e do Boeing 727, que também foram aeronaves problema no início, com diversos acidentes fatais, os modelos recuperaram a confiança dos usuários. O novo Max pode se tornar um dos aviões mais seguros da história, tão testado que foi.
          A Boeing Company não irá falir. Tio Sam não pode abdicar de sua única fabricante de aviões de grande porte.Trata-se do segundo maior fornecedor do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A fabricante dispensou a ajuda que o governo americano lhe ofereceu. Preferiu lançar 25 bilhões de dólares em obrigações próprias, com diversos vencimentos. O mercado absorveu todo o lote.
(Fonte: revista Exame - 16.3.2004 / AeroMagazine - 04.09.2012 / Empiricus - Ivan Sant'Anna - 06.07.2020 / revista Exame - 01.01.1997 - partes)