O blog "Origem das Marcas" visa identificar o exato momento em que nasce a marca, especialmente na definição do nome, seja do produto em si, da empresa, ou ambos. "Uma marca não é necessariamente a alma do negócio, mas é o seu nome e isso é importante", (Akio Morita). O blog também tenta apresentar as circunstâncias em que a empresa foi fundada ou a marca foi criada, e como o(a) fundador(a) conseguiu seu intento. Por certo, sua leitura será de grande valia e inspiração para empreendedores.
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17 de mar. de 2021
Kofola
A bebida escura e densa se parecia com uma cerveja, mas não tinha teor alcoólico. Na verdade, a Kofola foi criada durante o período da Guerra Fria, com a finalidade de competir com a tradicional Coca-Cola e Pepsi.
De acordo com a BBC, o xarope que deu base à curiosa bebida foi inventado pelo cientista Zdeněk Blažek, em meados da década de 1950. Na época, o inventor foi contratado para desenvolver produtos nacionais capazes de competir com o mercado norte-americano.
Feito a base de frutas e extratos de ervas, o xarope de Kofo tornou-se uma das alternativas mais viáveis de consumo entre a população da Eslováquia e República Tcheca. Contudo, vale ressaltar que ainda hoje a receita original e completa permanece em segredo.
Na era soviética, produtos ocidentais eram considerados artigos de luxo. Portanto, eram encontrados apenas em algumas lojas estatais e só podiam ser adquiridos por meio de cupons fornecidos pelo Estado.
Nos anos seguintes, a bebida tornou-se popular entre os habitantes da Europa Central. Já entre as décadas de 70 e 80, era comum ouvir fornecedores oferecendo a bebida pela cidade, fato que a tornou atrativa no mercado ilegal.
Na Alemanha Oriental, pelo menos outras 14 marcas passaram a comercializar produtos similares, como Vita Cola, Quick Cola e Kaffee Cola. A República Popular da Polônia, por exemplo, tinha sua própria versão, chamada Polo Cockta. Já a antiga União Soviética criou a Baikal.
Ao contrário do que se pode imaginar, a Kofola não pode ser vista como uma imitação ou falsificação da Coca-Cola ou da Pepsi. Na verdade, trata-se de uma bebida única com fortes referências históricas e culturais.
Menos doce que a tradicional Coca-Cola, ainda hoje a bebida histórica é procurada pelos tchecos e eslovacos que vivem no Reino Unido, conforme revelou o diretor da Halusky, Anish Shah, em entrevista à BBC, em 2019.
Na Europa Central, é comum encontrar a bebida em estabelecimentos tradicionais, que fizeram questão de preservar a cor escura e densidade do xarope. De acordo com o diretor, após alguns países aderirem à União Europeia, a empresa chegou a vender mais de 3 mil litros de Kofola por mês, no ano de 2019.
Nos dias de hoje, a bebida criada pela antiga Tchecoslováquia possui uma grande variedade de sabores, sendo conhecida pelo seu gosto delicioso e pela sua importância histórica e cultural.
(Fonte: AH Aventuras na História - Victória Gearini - 14.03.2021)
14 de mar. de 2021
Planibanc
13 de mar. de 2021
Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz)
Sua sede localiza-se no bairro de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde estão os prédios históricos do antigo Instituto Soroterápico Federal – como o Pavilhão Mourisco, o Pavilhão do Relógio e a Cavalariça.
A Fiocruz está presente em 10 estados brasileiros, além de um escritório internacional em Maputo, Moçambique. Conta com 16 unidades técnico-científicas, voltadas para ensino, pesquisa, inovação, assistência, desenvolvimento tecnológico e extensão no âmbito da saúde.
As origens da fundação remontam ao início do século XX com a criação do Instituto Soroterápico Federal em 25 de maio de 1900 (cujo objetivo inicial era o de fabricar soros e vacinas contra a peste). Em 1901, passou para o governo federal, com o nome modificado para Instituto Soroterápico Federal.
Em 12 de dezembro de 1907, passou a denominar-se Instituto de Patologia Experimental de Manguinhos (referência ao nome do bairro carioca onde fica sua sede) e, em 19 de março de 1918, em homenagem a Oswaldo Cruz, passou a chamar-se Instituto Oswaldo Cruz. Em maio de 1970, tornou-se Fundação Instituto Oswaldo Cruz, adotando a sigla Fiocruz, que continua a ser utilizada mesmo depois de maio de 1974, quando recebeu a atual designação de Fundação Oswaldo Cruz.
Seu principal objetivo é a pesquisa e o tratamento das doenças tropicais. Seu trabalho não se limitou ao Rio de Janeiro nem à pesquisa e produção de vacinas. Nas campanhas de saneamento das cidades assoladas por surtos e epidemias de febre amarela, varíola e peste bubônica, teve que enfrentar uma cerrada oposição e um levante popular — a Revolta da Vacina. Ao se ocupar de condições de vida das populações do interior, deu origem a debates que resultaram na criação do Departamento Nacional de Saúde Pública, em 1920.
Em 1970, o instituto e outros órgãos federais foram congregados na Fundação Oswaldo Cruz, mais conhecida como Fiocruz, atualmente considerada uma das mais importantes instituições brasileiras de pesquisa na área da saúde.
O Castelo da Fiocruz, também conhecido como Pavilhão Mourisco ou Palácio de Manguinhos, foi projetado pelo arquiteto português Luiz Moraes Júnior com base em desenhos do próprio Osvaldo Cruz. A edificação começou a ser construída em 1905 e foi inaugurada em 1918. O edifício mescla referências mouriscas e europeias, e situa-se no alto de uma elevação, destacando-se na paisagem. Grande parte dos seus materiais foi importada, com exceção da madeira e do granito, e sua construção foi executada por mão de obra estrangeira.
A instituição que receberia seu nome, foi imaginada por Oswaldo Cruz à semelhança ao Instituto Pasteur, em Paris, reunindo a produção de vacinas e remédios, a pesquisa científica e demais atividades ligadas à saúde pública. Hoje, o edifício abriga áreas administrativas da Presidência da Fiocruz e do Instituto Oswaldo Cruz, mas está aberto à visitação, fazendo parte do circuito oferecido pelo Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz.Em 1981 o local foi tombado pelo IPHAN e é a própria Fiocruz que cuida da sua preservação e restauração, assim como de todo o patrimônio arquitetônico, arqueológico e urbanístico da Fundação.
Por sua importância histórica, cultural e científica, o Castelo Fiocruz é candidato a Patrimônio Cultural da Humanidade.
Instituto Butantan
A história do Instituto Butantan confunde-se com a história da modernização do Estado de São Paulo. Seu surgimento deveu-se a uma epidemia de peste bubônica no Porto de Santos. Temendo que a doença atingisse a capital do Estado, o governo convocou o Instituto Bacteriológico para tentar resolver o problema.
A fazenda Butantan foi desapropriada pelo Presidente de São Paulo Coronel Fernando Prestes de Albuquerque que iniciou as obras do Instituto. Seu diretor, Adolfo Lutz, mandou para essa cidade o assistente Vital Brazil. Em pouco tempo ele diagnosticou a doença e, em conjunto com o médico Oswaldo Cruz, criou um plano para controlá-la. De volta à capital, Vital Brazil foi encarregado de um serviço contra a peste no Instituto Bacteriológico. No ano seguinte esse serviço transformou-se em instituição autônoma, então denominada "Instituto Serumtherapico do Estado de São Paulo", que, posteriormente, transformou-se no atual Instituto Butantan, que ajudou a debelar a peste. Ao longo dos anos, Vital Brazil investiu na ampliação das atividades do instituto, passando a desenvolver paralelamente pesquisas referentes a soros e vacinas. Não demorou muito para que seu método inovador chamasse atenção da comunidade internacional, e já na primeira década do século XX a instituição tinha sua importância reconhecida fora do Brasil.
Em 1914, veio o grande passo rumo ao progresso do instituto, foi inaugurado o Prédio Central, futuramente batizado de "Edifício Vital Brazil". Nesse edifício foi possível alocar setores de pesquisa e produção, possibilitando o instituto uma expansão de contribuições para a saúde pública e também um aprimoramento maior em suas atividades.
Vital Brazil, a par de toda essa problemática, concomitantemente aos estudos sobre a peste, iniciou as suas pesquisas sobre o ofidismo, tema então pouquíssimo conhecido. O extenso trabalho que desenvolveu pesquisando esse assunto fez com que o Butantan rapidamente se especializasse no conhecimento herpetológico, bem como na produção de soros antiofídicos, tornando-se uma entidade ímpar em todo o mundo. Vital Brasil, inclusive, tem a primazia na demonstração da especificidade dos soros antiofídicos. Um soro específico para uma serpente venenosa europeia, por exemplo uma víbora (Vipera), é ineficiente para uma jararaca (Bothrops) sul-americana. Em viagens que fez, principalmente para os Estados Unidos, demonstrando a eficácia do soro antiofídico, a fama de Vital Brazil correu mundo.
Durante vários anos, entretanto, o Instituto Butantan funcionou em toscas dependências, contando com um corpo de funcionários bastante exíguo. Mesmo assim, de seus laboratórios brotaram importantes pesquisas no campo da herpetologia, microbiologia e imunologia, reconhecidas internacionalmente. A partir de 1914, com a construção da nova sede e a paulatina ampliação de seu orçamento, o Butantan começou a se consolidar como a mais importante instituição de pesquisa biomédica do Estado de São Paulo, e uma das maiores do Brasil.
Além das atividades diretamente relacionadas a saúde pública, o Instituto Butantan é também um importante ponto turístico, contando com um parque e quatro museus (o Museu Biológico do Instituto Butantan, o Museu Histórico, o Museu de Microbiologia e o Museu de Saúde Pública Emílio Ribas). O parque no qual o instituto está localizado possui uma área total de 750 mil m², 70 % da qual composta de fragmentos de vegetação. A entrada na área do instituto, incluindo o acesso aos parques e ao serpentário, é gratuita, mas o acesso aos museus se dá mediante aquisição de ingressos a preços populares.
A partir do final de 2009, o instituto passou a auxiliar no combate à gripe H1N1, sendo o órgão público responsável pela produção da vacina a partir de amostras fornecidas pelo laboratório francês Sanofi Pasteur.Atualmente, o Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica Sinovac Life Science, do grupo Sinovac Biotech, realiza a produção da CoronaVac, vacina contra o novo coronavírus (Covid-19) que foi aprovada pela Anvisa para uso emergencial.
9 de mar. de 2021
AgroGalaxy
Para ser uma loja de sementes, a AgroGalaxy precisa ser também uma microtrading. Originação é o serviço de coleta e venda da soja e milho prestado aos pequenos produtores (como fazem as tradings).
Como 80 por cento das vendas são "barter" (venda a prazo, na qual o comprador paga com a produção), a AgroGalaxy já possui a infraestrutura para a originação. Os demais 20 por cento das vendas totais são pagos à vista.
Hoje, a AgroGalaxy é o resultado de 6 fusões e aquisições de empresas do ramo.
Dos 80 por cento de terras agricultáveis no país, AgroGalaxy já atua em 14 por cento delas. O plano de expansão da companhia consiste em abrir mais lojas em novas regiões, adquirir empresas (M&A) e elevar a produção própria de grãos.
A AgroGalaxy se tornou uma das maiores plataformas de varejo Agro do Brasil e está presente em nove estados brasileiros. Na AgroGalaxy, a porta de saída da Aqua Capital foi o IPO da empresa em julho de 2021.
A companhia possui 93 lojas físicas, 19 silos com unidade de armazenamento de grãos, 3 plantas próprias de sementes e 2 plantas com parceiros. São 2.450 varejistas de insumos no Brasil.
Sua rede de lojas de sementes de soja e milho é responsável por 92 por cento da receita. O restante da receita vem do adubo e de defensivos agrícolas.
Pascoal, que deixou a liderança da Agrogalaxy em 2022, voltou à empresa em meados de 2023 para o que descreve como um período de transição. Ele substituiu Sheilla Albuquerque, executiva que saiu por motivos médicos, e participou das discussões que moldaram o plano de reorganização da empresa. Segundo ele, com esta reorganização a empresa passa a estar mais ajustada às atuais condições de mercado.
De acordo com o balanço referente ao terceiro trimestre de 2023, sua dívida líquida era de R$ 1,745 bilhão ao final de setembro. Naquele momento, a empresa conseguiu prorrogar dívidas de R$ 839 milhões por até três anos.
Com as mudanças anunciadas, a empresa reduzirá parte de sua rede de distribuição, mas continuará atendendo produtores nos 14 estados onde atua atualmente. As operações serão organizadas em cinco unidades de negócios, cada uma abrangendo alguns estados, em vez das atuais verticais “norte” e “sul”.
7 de mar. de 2021
Avenida (Grupo Avenida)
O grupo tem suas lojas físicas localizadas nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste e também vende através de uma plataforma online de comércio eletrônico.
Os sócios da empresa são as pessoas físicas Ailton Caseli, Christian Caseli e Rodrigo Caseli.
28 de fev. de 2021
Indigo AG
A Indigo AG foi fundada em Boston, nos Estados Unidos, em 2016. A startup americana aplica microbiologia à agricultura.
O uso dos microrganismos corretos torna as lavouras mais produtivas e resistentes a problemas climáticos como a falta de água. Os pesquisadores da Indigo identificam no campo espécies que crescem mais saudáveis do que outras e procuram os microrganismos naturais associados a essas plantas.
Depois disso, os microrganismos são testados para compatibilidade com defensivos, fertilizantes e métodos de plantio. A combinação é feita com recursos de inteligência artificial e big data. O banco de dados da empresa tem mais de 70 mil cepas.
A companhia também atua em crédito agrícola. Nesse segmento, a Indigo oferece operações via “barter”, como são conhecidas as trocas de grãos por insumos agrícolas, sem intermediação financeira.
A companhia atua na América Latina desde 2017. A Argentina foi a primeira operação fora dos EUA. No Brasil, começou em 2018, com três funcionários
O sistema de crédito, lançado no Brasil em 2019 e na Argentina em 2020, permite acessar outro serviço da empresa, o Semente Pronta. O tratamento biológico de sementes tem o intuito de
potencializar a rentabilidade da lavoura. Está disponível para as culturas de soja, milho e algodão.
A companhia mantém parcerias em pesquisas com a Universidade de São Paulo (USP) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), além de laboratórios privados como o gaúcho Agronômica, especializado em diagnóstico fitossanitário.
A empresa obteve, em meados de fevereiro de 2021 o primeiro registro no Brasil para um de seus
produtos baseados em microrganismos.
A Indigo Ag superou em 2020 o valor de US$ 3,5 bilhões. Hoje, no Brasil, são mais de 50 funcionários. A participação da região da América Latina no faturamento global é de 40%.
(Fonte: Época Negócios - 17.02.2021)
19 de fev. de 2021
Codelco
Juan Pablo Dávila, de 32 anos, operava no mercado futuro de cobre na bolsa de metais de Londres (London Metal Exchange −− LME) para a empresa na qual trabalhava, a Codelco, chilena, maior mineradora de cobre do mundo. “Operava”, é modo de dizer. Sua função se limitava a vender no mercado futuro parte da produção da Codelco, para garantir o preço. Ou seja, Dávila era um hedger.
Pois bem, certo dia, no final de 1993, Juan Pablo, ao vender alguns contratos futuros de cobre, se enganou na hora de pressionar as teclas do computador e apertou “compra” ao invés de “venda”. Só
quando recebeu o fill (confirmação da operação), Dávila percebeu o erro.
A solução para o caso era óbvia: vender o lote em dobro e realizar o prejuízo ou, quem sabe, até mesmo o lucro (o cobre poderia ter subido desde o instante da operação inicial) e comunicar o caso aos
seus superiores.
Mas não. Como o mercado de cobre continuou caindo, Dávila resolveu recuperar o prejuízo fazendo preço “mérdio”. Comprou mais. Caiu mais ainda. E assim por diante, durante vários dias, sem que o hedger, que se transformara em especulador, nada revelasse à diretoria.
Se os corretores em Londres acharam estranho um produtor de cobre comprar cobre futuro, guardaram a estranheza para si. Afinal de contas, todo dia a empresa, além de gerar gordas corretagens
para a casa, depositava religiosamente as margens devidas e comparecia com o ajuste.
Só quando o prejuízo se elevou a 200 milhões de dólares é que a direção da Codelco ficou sabendo. E, tal como fizera seu funcionário, escondeu o fato do governo e do público. Mas, como sempre acontece nessas ocasiões, alguém lá de dentro deu com a língua nos dentes e surgiram rumores. E você sabe como são rumores. “A Codelco quebrou”; “a LME não tem caixa para suportar o
tranco”; “o Chile vai declarar moratória de sua dívida externa”.
O mercado inteiro começou a avaliar, e principalmente a superavaliar, a questiúncula. Sim, porque 200 milhões de dólares num mercado mundial de derivativos de mais de 500 trilhões anuais são uma questiúncula. Era como um décimo de milímetro de fio de cobre na fiação de um Airbus A380,
aquele “jumbão” de dois andares que pode levar até 800 passageiros.
Logo o mercado se esqueceu da Codelco e de Juan Dávila. Ele foi julgado por fraude e passou sete anos atrás das grades.
(Fonte: Ivan Sant'Anna - 21.01.2021)
Ford Corcel
Entre as muitas histórias dos 67 anos em que a Ford produziu automóveis no Brasil, uma das mais curiosas é a que se passou nos bastidores da decisão do nome do Corcel. Em fins de 1967, a Ford do Brasil se preparava para lançar esse novo modelo com grande investimento publicitário. Motor Renault, o Corcel viria a ser um enorme sucesso de vendas no Brasil dos anos 1970.
O nome oficial do carro, Ford Corcel, havia sido sugerido por Mauro Salles, que na época dirigia a Salles Interamericana, a agência de publicidade que detinha a conta da montadora no Brasil.
“Não seria melhor chamá-lo apenas de Corcel?”, argumentavam os executivos da multinacional. Eles temiam usar a marca Ford em um carro com motor Renault. O Corcel tinha plataforma francesa e
meio alemã, com um design brasileiro, criado por Roberto Araujo e outros estilistas.
Aos 35 anos, jovem e talentoso publicitário, Mauro Salles resolveu contrariar a opinião dos executivos brasileiros da Ford. “Bobagem, não é a primeira vez que isso acontece”, reagia. E despejava conhecimentos adquiridos no tempo em que havia sido jornalista especializado em automóveis. “A Ford francesa já chamou de Ford Vedete um carro desenvolvido pela Simca com motor V6”, argumentava.
Após longas discussões, a diretoria da Ford do Brasil rendeu-se aos argumentos de Mauro Salles, mas anunciou que o nome teria de ser aprovado pelo board da Ford, em Detroit. Mauro ficou furioso ao saber que a simples definição do nome de um carro dependeria do board da empresa. Mas seguiu para Detroit, acompanhado do presidente e do diretor de Marketing da Ford do Brasil. De repente, viu-se
diante do poderoso Lee Yacocca, na época o CEO mundial da Ford, e do próprio Henry Ford II.
Numa reunião à tarde, Salles fez explanação de sete minutos para justificar a escolha do nome. Foi fácil. A Ford tinha uma tradição de dar nomes de equinos a seus carros - Mustang, por exemplo, é um cavalo bravio das planícies americanas - e Corcel, em português, significa “cavalo muito corredor”. Todos os diretores aprovaram o nome Ford Corcel sem ressalva.
Envaidecido, Salles criou coragem para vestir a carapuça de jornalista e fazer a Henry Ford II a mesma pergunta que fizera aos executivos de São Paulo: “Senhor presidente, desculpe a pergunta, mas
por que o nome de um carro precisa ser aprovado pelo board e pelo dono da companhia?”
Henry Ford II deu um sorriso de satisfação, mas não disse uma palavra. Puxou Salles pelo braço, saiu da sala, chamou o elevador e o levou para fora do prédio. Foi um reboliço, conta o próprio Salles, hoje aposentado, aos 88 anos: “Naquela época, os walk-talks eram enormes, do tamanho de um sapato número 42. Com esses ‘sapatos’ na mão, os seguranças corriam de um lado para o outro dizendo
palavras em código. Não estava no script essa saída de Henry da sala de reuniões.
No térreo do prédio da Ford em Detroit havia um grande hall. Henry Ford II puxou Salles para fora do saguão de entrada, caminhou sobre um gramado e indicou com o dedo para o alto. Salles levantou a cabeça e viu, já iluminado naquele início de noite, o enorme logotipo oval escrito “Ford
Motor Headquarters”.
“Tá vendo, é o meu nome que está lá. Para mexer com o meu nome, só com a minha autorização”, disse Henry.
(Fonte: Jornal Valor - 12.01.2021)