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8 de jul. de 2023

Ursu9 (água mineral)

          A água mineral Ursu9 é natural da Fonte d’Oso, no município de Oso, Ávila, na Espanha. De acordo com seus distribuidores, tem “um sabor aveludado, uma baixa mineralização e um ph 9 , que ajudam a combater a acidificação do organismo e possui benefícios antioxidantes.
          “Reza a história que, nesta zona montanhosa do sistema Central, habitavam populações de ursos que, regularmente, se deslocavam até esta fonte, para beber da sua água tão cristalina”, afirmou a marca no lançamento – dia 7 de junho de 2023, em um hotel de Madri – sobre a origem da Ursu9.
          Estima-se que a produção no primeiro ano em cerca de 50 milhões de garrafas. O produto ainda não é vendido no Brasil, mas pode ser importado diretamente da Espanha em sites especializados.
          Cristiano Ronaldo uniu o útil ao agradável mais uma vez. O veterano atacante português de 38 anos sempre teve tino para os negócios, e aproveitou seu grande futebol para se transformar em empresário de sucesso. Também é um obstinado adepto dos cuidados com a saúde, por meio de atividades físicas e alimentação saudável. Ele acaba de ‘casar’ as duas coisas ao se tornar embaixador e um dos investidores da Ursu9, marca de água alcalina, mineral e antioxidante. Bom de marketing, afirmou que a união é realização um dos “maiores sonhos” de sua carreira. O atacante do Al-Nassr, da Arábia Saudita, já tem uma série de negócios além de futebol, com participações em rede de hotéis, restaurantes, marcas de roupas íntimas e perfumes. “Estamos realizando um dos meus sonhos de vida: investir e oferecer a vocês algo que bebe da própria essência da vida e da saúde e tem desempenhado um papel vital na formação de quem sou hoje”, escreveu o jogador. De acordo com a Forbes Portugal, ele irá investir cerca de 10 milhões de euros (R$ 52,3 milhões) no produto. A relação do jogador com água é antiga. Em 2021, durante a disputa da Eurocopa, viralizou ao tirar as garrafas de Coca-Cola, patrocinadora do torneio, em uma entrevista coletiva e substituí-las por água. “Bebam água”, disse, à época.
          “Sei que o futebol vai acabar (um dia) e estou caminhando em direção ao futuro”, afirmou Cristiano Ronaldo, que na terça-feira dia 20 de junho se tornou o primeiro jogador a disputar 200 partidas por uma seleção nacional na história. “Associações de marca com celebridades funcionam melhor quando têm verdade e quando tais produtos ou serviços fazem parte da rotina do embaixador em questão”, analisa Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM. “Além de ser um tradicional defensor de hábitos saudáveis, o episódio da Euro 2021, ainda que não planejado, criou uma grande oportunidade que passa a ser explorada agora comercialmente.”
         Os benefícios à saúde, porém, vendidos pela Ursu9, são mais do que duvidosos: não é "antioxidante" e sua alcalinidade é inútil. Além disso, o vídeo promocional usa imagens falsas e a água 
custa o dobro do mesmo.
          Nenhuma água alcalina faz nada pela sua saúde. O argumento de que ele joga como meio-campista na URSU9 é que é uma água alcalina, ou seja, tem um pH alcalino, acima de sete (no caso, nove). Isso foi destacado em todos os meios de comunicação que deram eco ao evento promocional, que contou com a presença do próprio Cristiano Ronaldo, do nutricionista Aitor Sánchez e do gerente da engarrafadora, Francisco Ferreira.
          Água antioxidante é outra bobagem. Mais uma vez, mais alegações de saúde, desta vez sobre os supostos benefícios do URSU9 devido à sua capacidade antioxidante. Outra afirmação clara e direta sobre a saúde sem o respaldo dos regulamentos e, ainda por cima, que condiz com a credibilidade curativa das lágrimas de unicórnio.
          Diz a lenda que o nome da água em questão, Ursu9, vem, segundo seus proprietários, do nome do município onde é feita a coleta: El Oso, em Ávila (Ursu em latim é urso), e o número nove vem de alcalinidade. Os responsáveis ​​pelo marketing acharam que seria uma boa ideia inventar a origem do nome do município e explicam que vem de quando os ursos chegaram, há mais de 400 anos — pouco menos do que em peregrinação como quando vão a Lourdes — para beber suas águas.
          A história é linda e crível, mas acaba sendo uma farsa inventada. Há pouca dúvida de que o nome El Oso vem de uma derivação secular de lutosus, uma palavra latina que se traduz como 'barreiro' ou 'barrento'. O ambiente da coleção de água se presta mais a isso —é uma estepe de cereais com uma lagoa ocasional— do que a uma floresta caducifólia habitada por ursos, sejam amorosos ou não, como confirma o Breve Dicionário de Topônimos Espanhóis por Emilio Nieto Ballester. . Isso também foi corroborado por fontes consultadas na Câmara Municipal de El Oso.
          As fotos também são falsas. Sem deixar de lado o mote “da imaginação ao poder”, chama a atenção a falta de coerência na construção do vídeo promocional da água URSU9, com imagens que em nada se assemelham ao local onde é realizada a coleta.
         Acontece que o lugar bucólico das águas cristalinas que brotam de uma cachoeira se encontra em Portugal, mais especificamente na Serra do Açor, que parece ser a mata nativa de Legolas. A cascata tem nome: Cascata da Fraga da Pena, e pertence ao concelho de Arganil.
          Você pode comprá-lo a preço de banana. É verdade que não terá no rótulo a imagem de um urso viril raivoso, nem o glamour de Georgina (que bebe Ursu9 à beira das piscinas). Também não terá nenhum dietista-nutricionista de prestígio a avalizar as suas fantásticas propriedades, mas se estiver interessado, pode comprar a mesma água que sai da bacia hidrográfica Ursu9 em Ávila na cadeia Auchan em Portugal pela metade do preço. A água alcalina do Cristiano, Ursu9, também é vendida com marca própria? Bem, sim: esta é a ficha técnica para a distribuição de Auchan para seus fornecedores. Em garrafas de 1,5 litro, na Auchan custa 0,26€/litro. A mesma água, mas com mais glam, Ursu9 no El Corte Inglés, a 0,51€/litro.
          Mas há outro custo pior que o econômico. É o custo ambiental de gerar tanto plástico e, ainda por cima, reciclar apenas 20%. É o que indicam os números mais conservadores da realidade de reciclagem na Espanha. A água engarrafada, que contém um recurso praticamente idêntico ao que sai da torneira, é um elemento que influencia significativamente o mau problema que temos com os plásticos: o próprio Aitor Sánchez já denunciou várias vezes esse problema.
(Fonte: Estadão - 29.06.2023 / El País - 08.07.2023 - partes)

7 de jul. de 2023

Pismo

          A brasileira Pismo, fornecedora de tecnologia de processamento de pagamentos em nuvem, foi fundada por Ricardo Josua, atual CEO, Juliana Motta, head de produto, Daniela Binatti, head de 
tecnologia, e Marcelo Parise, vice-presidente de engenharia.
          Em março de 2023, o jornal Valor informou sobre as negociações, quando fontes sinalizaram a disposição da americana Visa em pagar até US$ 1,4 bilhão pela Pismo, mas houve um acordo sobre os termos – o pagamento seria todo em dinheiro.
          Em 28 de junho de 2023, a Visa concluiu a aquisição da Pismo. A Visa vai pagar US$ 1 bilhão, o que dá saída para fundos de venture capital como Softbank, Accel, Redpoint e investidores como B3 e Amazon. Também dá origem a quatro novos multimilionários, os fundadores da Pismo. É uma das maiores transações privadas envolvendo uma startup nacional nos últimos anos.
          Além de seu relacionamento com a Pismo, a Visa já conhecia outra empresa cofundada pelo Sr. Josua: Conductor (atual Dock), que foi a primeira aquisição da Visa de uma participação minoritária no Brasil em um negócio de 2018.
          A equipe de gestão da Pismo permanecerá no cargo, de acordo com o comunicado da Visa confirmando o negócio, e a transação deve ser concluída até o final de 2023. “Através da aquisição da Pismo, a Visa pode atender melhor nossas instituições financeiras e clientes fintech com soluções de core banking”, disse Jack Forestell, diretor de produtos e estratégia da Visa, em comunicado. A empresa com sede nos EUA cita que a Pismo a ajudará a fornecer suporte e conectividade a novos formatos de pagamento, como o Pix, o sistema de pagamento instantâneo do Banco Central do Brasil.
          A Visa, que não atuava em aquisições no Brasil, viu na Pismo uma plataforma de negócios consolidada com uma carteira de importantes clientes. A empresa é a infraestrutura de nuvem de bancos como Itaú, BTG, parte da operação do Citi, além da B3 e fintechs como a alemã N26. Com investimentos da Amazon e Softbank, a Pismo está em rota de expansão global, com atuação na Ásia, Europa e América Latina.
          Para Josua, o acordo com a Visa permitirá que a Pismo se expanda ainda mais globalmente no que ele define como “uma nova era para serviços bancários e pagamentos”.
          A plataforma movimenta mais de 75 milhões de contas e 40 milhões de cartões, considerando dados de junho de 2023.
(Fonte: Valor - 29.06.2023)

27 de jun. de 2023

Tivio Capital

          O Banco Bradesco firmou, em 24 de agosto de 2022, parceria estratégica com o Banco Votorantim (BV) para a formação de uma gestora de investimentos independente, que terá marca própria, de acordo com comunicado ao mercado, que não detalhou os valores do negócio.
          Na transação, o Bradesco sinaliza adquirir 51% do capital da BV DTVM, que concentra a gestão de recursos de terceiros e a atividade de private banking (atendimento a clientes super-ricos do banco BV) – soluções financeiras e patrimoniais customizadas para clientes de alta renda – do BV.
          A BV DTVM tem atuação no mercado brasileiro desde 1999 e é a nona maior gestora de fundos imobiliários e também a nona maior em private banking, segundo dados da Anbima, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais.
          Entre os 18 fundos administrados pela BV DTVM, estão o Votorantim Shopping, BB Progressivo II, BB Renda Corporativa e o RB Capital Renda II.
          Já o Bradesco tem hoje (junho de 2023) mais de R$ 544 bilhões em ativos sob gestão, além de outros R$ 380 bilhões no segmento de private banking, sendo o terceiro e segundo maior gestor em cada segmento, respectivamente.
          Pouco depois de meados de junho de 2023, quase dez meses após anunciarem a parceria, Bradesco e BV deram à luz a uma nova gestora, a Tivio Capital — o nome é um neologismo da palavra “ativo.
          Para comandar a casa trouxeram Christian Egan, que tem passagens por Pactual, Credit Suisse e grupo Itaú, onde ficou por quase 17 anos e saiu no fim de 2020.
          A estratégia ainda está sendo finalizada, mas a gestora vai trabalhar tanto com ativos líquidos como ilíquidos e terá uma ampla oferta de produtos, que seguirão sendo distribuídos em grandes plataformas. A casa nasce com cerca de R$ 42 bilhões sob gestão e R$ 22 bilhões de custódia no wealth management (gestão de fortunas). 
          “A BV DTVM terá autonomia na gestão dos recursos", sinaliza comunicado do Bradesco ao mercado, “além de contar com a reputação e sólida experiência de seus acionistas”.
          A ideia é oferecer aos clientes de alta renda os chamados “fundos alternativos”, como fundos imobiliários, de agricultura, crédito, crédito de carbono, etc.
          “Eu brinco que a Tivio é uma startup que nasce com 400 anos de história (juntando a experiência de Banco do Brasil, Grupo Votorantim e Bradesco) e uma prateleira super-robusta vinda da BV Asset. Ainda assim, somos uma casa independente, com time de gestão e distribuição próprias, e vamos explorar todas as oportunidades”, diz Egan.
          Em setembro de 2024, a Tivio Capital reitera que tem como objetivo virar uma das principais gestoras de investimentos alternativos no país e, para isso, elegeu o setor imobiliário como um dos motores de seu crescimento nos próximos anos. A Tivio tem R$ 34 bilhões sob gestão, dos quais R$ 7 bilhões no segmento imobiliário. A agenda para avançar no ramo abrange a reformulação de fundos já existentes na casa, o lançamento de novos e potenciais aquisições de gestoras. “Estamos olhando as oportunidades de mercado”, afirma Adriano Mantesso. O executivo foi contratado na metade de 2023 para liderar a área. Antes disso, ele atuava na multinacional canadense Ivanhoe Cambridge chefiando os investimentos no setor imobiliário na América Latina.
(Fonte: InfoMoney - 24.08.2022 / seudinheiro - 22.06.2023 / Valor - 23.06.2023 / Estadão - 08.09.2024 - partes)

26 de jun. de 2023

Melinda Maçãs

          As maçãs contam a história dos últimos dois séculos do Trentino, se você souber ouvi-las. De fato, no final do século XIX, plantar macieiras provou ser a salvação para a comunidade do Valle di Non. Eles foram forçados a emigrar e um despovoamento progressivo parecia ser o destino certo para este vale. Mas… alguém resiste e joga a cartada da macieira, da qual não havia vestígios na região até 1850: no máximo, algumas plantas espontâneas.
          A aposta valeu a pena: não só a abundância de colheitas logo superou as necessidades da comunidade e assim começaram as exportações, como as maçãs do Val di Non obtiveram imediatamente importantes reconhecimentos em exposições internacionais do setor, começando com a Exposição Mundial de Viena de 1873, onde se recompensou a particular qualidade desses frutos e se lhes anteviu um bom futuro. Val di Non e Val di Sole descobrem que suas características de altitude, clima, exposição constituem um ecossistema único na Europa para o cultivo de maçãs, simplesmente perfeito.
          As antigas paisagens agrícolas, caracterizadas por amoreiras, vinhas, trigo sarraceno, foram substituídas no início do século XX pela prática de prados-pomares, ainda visíveis em alguns recantos do território: uma parte do campo é cultivada com pomares, com macieiras muito distantes umas das outras (os chamados patriarcas), o resto é deixado como capim, para obter forragem para os animais. No final da década de 1930, 40% das frutas do Trentino vinham do Valle di Non e 70% das exportações eram de lá. Mas é só o começo: é depois da Segunda Guerra Mundial que o cultivo se torna intensivo e a economia da maçã nesta área decola, graças a vários fatores. Em primeiro lugar, a paixão e o trabalho árduo dos agricultores, que se profissionalizam cada vez mais e colaboram entre si, associando-se a cooperativas.
          Nos anos 1960 e 1970 houve um boom: o sucesso das maçãs Val di Non trouxe empregos para todos, bem-estar e repovoamento das aldeias. A paisagem volta a ser redesenhada: devido ao aumento das temperaturas, as culturas sobem até aos 1.000 metros acima do nível do mar, a mecanização impõe parcelas maiores, plantas pequenas e próximas umas das outras, rega gota a gota, lençóis anti-granizo: o aparecimento do pomar de macieiras já não é o idílico das grandes macieiras "patriarcas" no meio dos prados. Mas assim como aquelas grandes árvores salvaram os vales do despovoamento há muitos anos, os pomares modernos também contam a história de uma comunidade, o vínculo profundo entre a terra e o homem que a cultiva e protege seus frutos, para o bem de todos.
          "O Consórcio Melinda nasceu em 1989", diz Ernesto Seppi, presidente do Consórcio Melinda, "e é o resultado de uma longa caminhada, não sem acaloradas discussões, que trouxeram muitos agricultores privados individuais, ou no máximo pequenas cooperativas em competição entre si, para vir para potencializar em conjunto um produto com características verdadeiramente diferenciadas".
          Os consumidores sempre reconheceram que as maçãs Melinda são boas, diz Seppi. "Tão boas que muitos nos copiaram e se gabaram de vir do Val di Non, quando não é verdade. Daí a necessidade de uma marca e a feliz intuição do nome Melinda, fácil de recordar e de associar a qualidade e limpeza". E que lembra bem o produto: "mela" significa maçã, em italiano.
          Melinda é um consórcio (não uma sociedade anônima, muito menos uma multinacional) que produz cerca de 400.000 toneladas de maçãs por ano: uma grande família composta por mais de 4.000 famílias de produtores associados, agrupados em 16 cooperativas, que vivem e cultivam maçãs nos vales del Noce (Val di Non e Val di Sole).
          "Melinda, como as suas maçãs, é fruto de um território especial", afirmou Seppi, "um território que assenta nas raízes sólidas da tradição mas que ao mesmo tempo soube desenvolver a agricultura do futuro, como demonstram as Células Subterrâneas, a primeira e única planta do mundo para a conservação de maçãs frescas numa atmosfera controlada, dentro de túneis escavados na rocha. Seppi salienta que todas as atividades de investigação e desenvolvimento da Melinda apontam no sentido do respeito pelo ambiente e do apoio à realidade humana e social que ali vive. Com o importante resultado de comunicar e dar a conhecer os vales da região.
          As famílias dos produtores são a garantia da qualidade e sustentabilidade de das frutas. A maçã não é como o vinho, nem como o queijo, nem como outros produtos alimentares sujeitos a uma fase industrial. Uma maçã ou colhe o bem da árvore ou nunca poderá se tornar bom novamente. A boa qualidade das maçãs Melinda nasce nos pomares, graças ao trabalho constante das famílias camponesas. O Consórcio Melinda é então responsável pela organização e gestão de todas as atividades após a colheita (armazenamento, conservação refrigerada, seleção, embalagem, expedição, promoção, venda, administração, compras, gestão de pessoal…).
          Hoje Melinda é uma realidade conhecida e apreciada em todo o mundo, mas não se pode descansar sobre os louros: "O perigo vem do excesso de oferta dos novos países emergentes no cultivo da maçã: respondemos enriquecendo a nossa oferta de novos produtos, cultivando maçãs que atendem às tendências do mercado; reforçando o compromisso de Melinda com a sustentabilidade, graças a métodos de cultivo e conservação ecologicamente corretos (em primeiro lugar as células subterrâneas); e ampliando sua oferta com tecnologias inovadoras capazes de preservar 100% a naturalidade do produto. Mais uma vez nos distinguimos pela qualidade, sem nunca descurar a necessidade de apoiar o rendimento de cada associado e agricultor», conclui o Presidente. Nesse sentido, o consórcio Melinda adquiriu a AD Chini, empresa líder no mercado de produtos processados ​​à base de frutas.


Versione italiana
          Le mele raccontano la storia degli ultimi due secoli del Trentino, a saperle ascoltare. Alla fine dell’Ottocento, infatti, piantare alberi di melo si è rivelata la salvezza per la comunità della Valle di Non. In quegli anni, in seguito al diffondersi delle malattie che colpiscono gelsi e vite (coltivazioni fino ad allora prevalenti), molte famiglie sono costrette a emigrare e un progressivo spopolamento sembra il destino certo per questa valle. Ma… qualcuno prova a resistere e si gioca la carta della coltivazione di mele, di cui fino al 1850 non vi era traccia in zona: al massimo qualche pianta spontanea. La scommessa è vincente: non solo l’abbondanza dei raccolti supera presto il fabbisogno della comunità e comincia così l’esportazione, ma da subito le mele della Val di Non ottengono importanti riconoscimenti presso le mostre internazionali di settore, a partire dall’Esposizione mondiale di Vienna del 1873, dove viene premiata la particolare qualità di questi frutti e si predice loro un bell’avvenire. La Val di Non e la Val di Sole scoprono che le loro caratteristiche di altitudine, clima, esposizione costituiscono un ecosistema unico in Europa per la coltivazione delle mele, semplicemente perfetto.
Ai paesaggi agricoli precedenti, caratterizzati da gelso, vite, grano saraceno, si sostituisce nei primi del Novecento la pratica del prato-frutteto, ancora visibile in alcuni angoli del nostro territorio: una parte del campo viene coltivata a frutteto, con meli ad alto fusto molto distanti tra loro (i cosiddetti patriarchi), il resto è lasciato a prato, per ricavare il foraggio per gli animali. Alla fine degli anni 30 del Novecento, il 40% della frutta trentina viene dalla Valle di Non e da qui parte il 70% dell’esportazione. Ma è solo l’inizio: è nel secondo dopoguerra che le coltivazioni si fanno intensive e l’economia delle mele di questo territorio decolla, grazie a diversi fattori. Primo fra tutti, la passione e il duro lavoro degli agricoltori, che diventano sempre più professionali e collaborano tra loro riunendosi in cooperative.
          Negli anni 60-70 è boom: il successo delle mele della Val di Non porta lavoro per tutti, benessere, ripopolamento dei paesi. Il paesaggio viene di nuovo ridisegnato: a causa dell’innalzamento delle temperature, le coltivazioni salgono fino ai 1.000 metri di altitudine, la meccanizzazione impone appezzamenti di maggiore dimensione, piante piccole e ravvicinate, irrigazione a goccia, teli antigrandine: l’aspetto del meleto non è più quello idilliaco dei grandi meli “patriarchi” in mezzo ai prati. Ma come quelle grandi piante hanno salvato tanti anni fa le valli dallo spopolamento, anche i moderni meleti raccontano la storia di una comunità, il legame profondo tra la terra e l’uomo che la coltiva e protegge i suoi frutti, per il bene di tutti.

          Siamo un consorzio (non una società per azioni, né tantomeno una multinazionale) che produce ogni anno circa 400.000 tonnellate di mele: una grande famiglia fatta di oltre 4.000 famiglie di soci produttori, raggruppati in 16 cooperative, che vivono e coltivano il melo nelle Valli del Noce (Val di Non e Val di Sole).
          «Melinda, come le sue mele, è il frutto di un territorio speciale», premette Ernesto Seppi, Presidente del Consorzio Melinda.
          «Un territorio che poggia sulle solide radici della tradizione ma al contempo è stato capace di sviluppare l’agricoltura del futuro, come dimostrano le Celle Ipogee, il primo e unico impianto al mondo di conservazione di mele fresche in atmosfera controllata, all’interno di gallerie scavate nella roccia. Ci tengo a sottolineare che tutte le attività di Ricerca e Sviluppo di Melinda puntano nella direzione del rispetto dell’ambiente e del sostegno alla realtà umana e sociale che ci vive. Con l’importante risultato di comunicare e fare conoscere le nostre valli, trainando così anche tutti gli altri comparti».
          Sono le famiglie dei produttori la garanzia della qualità e della sostenibilità dei nostri frutti. Le mele non sono come il vino o come il formaggio o come altri prodotti alimentari oggetto di una fase industriale. Una mela o si raccoglie buona dall’albero o buona non potrà diventare mai più in alcun modo. La bontà delle mele Melinda nasce solo nei frutteti, grazie al costante lavoro delle famiglie contadine. Al Consorzio Melinda tocca poi l’organizzazione e la gestione di tutte le attività successive alla raccolta (stoccaggio, frigo-conservazione, selezione, confezionamento, spedizione, promozione, vendita, amministrazione, acquisti, gestione del personale…).
          «Il Consorzio Melinda nasce nel 1989», racconta Seppi, «ed è frutto di un lungo percorso, non privo di accalorate discussioni, che ha portato tanti singoli agricoltori privati, o al massimo piccole cooperative in competizione tra loro, a riunirsi per valorizzare tutti insieme un prodotto con caratteristiche davvero non comuni». Del resto, i consumatori hanno sempre riconosciuto che le nostre mele sono buone. «Così buone che tanti ci copiavano e si fregiavano di venire dalla Val di Non, quando non era vero. Di qui la necessità di un marchio e la felice intuizione del nome Melinda, facile da ricordare e da associare a qualità e pulizia».
          Oggi Melinda è una realtà conosciuta e apprezzata nel mondo, ma non ci si può sedere sugli allori: «Il pericolo viene da un eccesso di offerta da parte di nuovi paesi emergenti nella coltivazione delle mele: noi rispondiamo arricchendo la nostra proposta di nuovi prodotti, mele accattivanti che vanno incontro ai trend del mercato; rafforzando l’impegno di Melinda sul fronte della sostenibilità, grazie a metodi di coltivazione e conservazione rispettosi dell’ambiente (in primis le celle ipogee); acquisendo AD Chini, azienda leader nel mercato dei prodotti trasformati a base di frutta, e potenziandone l’offerta con tecnologie innovative in grado di conservare al 100% la naturalità del prodotto. Ancora una volta ci distinguiamo per la qualità, senza mai trascurare la necessità di sostenere i guadagni di ogni singolo socio e agricoltore», conclude il Presidente.

25 de jun. de 2023

Gevisa

          Gevisa era uma fábrica de locomotivas, resultado da associação entre a GE e a Villares. Foi criada 
em 1993, com uma administração compartilhada.
          Para a definição do nome da empresa, não foi necessária muita criatividade. Simplesmente foi feita a junção de GE, mais a primeira sílaba de Villares e mais o S.A. de Sociedade Anônima.
          Sob o predomínio gerencial dos homens da GE, era praticamente certo, também, que a empresa
americana assumiria o controle acionário.
          A Gevisa, porém, acabou em 1996.
(Fonte: revista Exame - 22.05.1996)

24 de jun. de 2023

Ivix

          A Ivix foi criada em 1992 pela IBM e pela Villares para distribuir os computadores IBM/Risk. O nome da empresa vem provavelmente da palavra formada usando as iniciais dos nomes das associadas: IBM e Villares, adicionando um "X" de multiplicação, que na época já tinha adeptos no mercado.
          Em princípio, havia um equilíbrio de forças na nova empresa. Cada uma possuía 49% do capital. Os outros 2% pertenciam a um ex-executivo da IBM.
          A IBM entrou com tecnologia e produto. A Villares, com sua empresa Villares Control, prestadora de serviços de informática. Além disso, pela Lei de Informática, a IBM não podia atuar nesse mercado 
sem a parceria de uma empresa brasileira.
          A Ivix cresceu rápido. Em 1994, faturou 23 milhões de dólares. A expansão de sua base de clientes se deu às custas de gigantes como a Hewlett-Packard. Aos poucos, porém, a Ivix foi ganhando cada vez mais a cara da IBM, como empresa de marketing e vendas. A Villares, ao contrário, tinha seu enfoque na produção.
          Conquistar um cliente da HP era uma festa para a Ivix. Era natural. A HP e a IBM são concorrentes mundiais. "Para a Villares isso não tinha a menor importância", disse Luís Roberto Demarco Almeida, gerente geral da Ivix. "Para a IBM é estratégico." A parceria com a Villares também estava emperrando os negócios da Ivix. A IBM não permitia que a subsidiária namorasse seus clientes. Afinal, havia um estranho no ninho, a Villares. Ou seja, a Ivix só podia crescer em terrenos nos quais a IBM não atuava.
          No começo de 1995, a IBM comprou a parte da Villares. Em seguida, acabou com a barreira comercial imposta à Ivix. Resultado: só das parcerias com a matriz, a Ivix recolheu 17 milhões de dólares a mais em 1995. Mais: a aliança perdeu o sentido para a IBM com o fim da reserva de mercado. "Desde o início, a IBM queria 100% da Ivix", disse Demarco. Como se vê, foi um casamento de 
conveniência e, como tal, teve vida curta.
(Fonte: revista Exame - 22.05.1996)

23 de jun. de 2023

NPA

          Quando os microcomputadores começaram a invadir os lares dos brasileiros, um pequeno acessório passou praticamente despercebido: o mouse pad. Distribuído comumente como brinde, quase ninguém vislumbrou então a chance de ganhar um bom dinheiro com a venda desses retângulos de borracha que servem de suporte para o mouse.
          Sorte do alemão Gregor Nolzen e do paulista Paulo Pedroso, que resolveram mudar a rota de seus negócios e passar a fabricar esse produto.
          Para criar o nome da empresa não pensaram durante muito tempo. Simplesmente juntaram as primeiras letras do sobrenomes. O "A" provavelmente vem de "Artes" ou algum termo assemelhado.
          Casado com a irmã de Pedroso, Nolzen, nascido em 1964, trabalhava na Alemanha como decorador. Disposto a tentar a sorte no Brasil, ele desembarcou em São Paulo no final de 1989. Pedroso, na época, era gerente de vendas da rede de hotéis Méridien. Decidiram montar em sociedade uma agência de turismo, mas o negócio naufragou com a entrada do Plano Collor. Passaram um tempo como representantes de fabricantes de chaveiros e de artigos de couro até que entraram de sócios na Brindes Visão.
          No início de 1993, chegou às mãos de Pedroso um mouse pad importado. "Esse brinde vai explodir", pensou Pedroso. Com exceção de Nolzen, os demais sócios não se entusiasmaram tanto com o produto. Resultado: os dois deixaram a empresa para dedicar-se exclusivamente à fabricação de mouse pad.
          Em 1995, a receita global atingiu 700.000 reais, consolidando a posição da NPA como a maior
fabricante de mause pads do Brasil.
          Considerando dados de meados de 1996, a NPA, a empresa da dupla, tinha em seu portfólio mais de 200 clientes no Brasil. Alguns exemplos: IBM, Microsoft, Bradesco, Unibanco, Itaú, Esso e Olivetti. E já se preparava para exportar para países do Mercosul.
          Desde o princípio, a estratégia utilizada pela dupla foi a terceirização de todo o processo de produção. No escritório da empresa, localizado no bairro paulistana da Lapa, trabalhavam só três pessoas. Eles compram a matéria prima de vários fornecedores e depois mandam cortar, imprimir,
montar e embalar o produto em cerca de dez empresas diferentes.
          Foi durante os dois anos que permaneceu como gerente de vendas da rede Méridien que Pedroso teve a oportunidade de fazer contatos com inúmeras companhias. Tratou de reativar esses contatos quando abriu a NPA. Paralelamente, ele montou um cadastro com todas as empresas do setor de
informática, de escolas a fabricantes de computadores e softwares.
          As primeiras vendas foram para a Proceda, a Word Perfect e a Novell. Mas logo começaram a ser procurados por empresas bem distintas, interessadas em oferecer a seus clientes um brinde barato e de utilidade garantida.
          "Quando foi lançado o Windows 95, fomos nós que fabricamos os mause pads distribuídos pela Microsoft", disse Nolzen. "A empresa precisa estar bem organizada para não atrasar pedidos".
(Fonte: revista Exame - 22.05.1996)

Emmepi Eyewear

           Muitos exemplos de riquezas e habilidades discretas se espalham pela região de Belluno, uma cidadezinha situada a 160 quilômetros ao norte de Veneza, perto da fronteira austríaca. Exemplos marcantes são os grupos Luxottica (hoje EssilorLoxottica), Safilo e Marcolin para citarmos apenas 
empresas do segmento de armações para óculos.
          Outro exemplo é o caso de Delfo Monti, proprietário da Emmepi Eyewear, empresa que tem vendas anuais de cerca de 3 milhões de dólares (dados de 1996). Seus 22 funcionários montam cerca de 200.000 armações de óculos por ano.
          Uma simples armação de óculos contém um mínimo de doze pares de componentes, e Monti trabalha com cerca de oitenta fornecedores locais. É como a indústria de relógios suíços. Centenas de microempresas familiares, muitas com um único funcionário, dividem o trabalho entre si: uma produz 
parafusos, outra as hastes, ainda outra é especializada na coloração.
          Giovanni Bergagnin fabrica partes complicadas das hastes metálicas usadas pela Emmepi em sua própria empresa de 1 milhão de dólares, num povoado vizinho. Vista de fora, sua fábrica não parece grande coisa, mas por dentro está repleta de equipamentos de primeira linha. Tambores de óleo e rolos de fios de níquel e prata estão empilhados no pátio. No interior da fábrica, dezessete funcionários trabalham debruçados sobre máquinas de estamparia metálica trazidas da Alemanha e sofisticados 
equipamentos CAD/CAM.
          Como Bergagnin conseguia sobreviver à concorrência dos fabricantes da Coreia e de Taiwan, cujos custos são mais baixos? Com um produto de qualidade superior. Com as mãos pretas de óleo de máquina, Bergagnin mostra um componente de haste com formato tão intrincado quanto um nó de marinheiro. Se antes fazia componentes simples de hastes, os componentes passam agora por quinze operações diferentes, explica.
(Fonte: revista Exame - 22.05.1996)

22 de jun. de 2023

Zani

          Zani é uma pequena ferramentaria e fundição de alumínio situada em Lumezzane, um vale estreito situado no norte da Itália logo ao norte de Brescia, com população de 24.000 pessoas.
          O que se destaca nessa região é a sua prosperidade. Na província de Brescia, o PIB per capta é muito acima das médias encontradas na Suíça, na Alemanha ou nos Estados Unidos.
          Desse pequeno vale saem produtos que vão para o mundo inteiro. É o que acontece com o grupo Zani, que fabrica moldes e matrizes para automóveis Mercedes e Audi, submetralhadoras Uzi e ferramentas Black & Decker. Nascido em 1927, Bruno Zani, o dono da empresa, era o tipo de administrador que acompanha a produção de muito perto. Ele vivia num apartamento pequeno no andar de cima da fábrica. Durante o dia, dirigia as operações em seu gasto uniforme de trabalho.
          Zani começou como gravador de pistolas e candelabros. Quando conseguiu economizar dinheiro suficiente, comprou suas próprias máquinas. Os primeiros produtos foram ferramentas para fabricar garfos e colheres baratas, vendidos às fábricas de talheres das redondezas. Era um empreendimento familiar - o trabalho era dividido entre Bruno, sua mulher e os seis filhos do casal. "Minha mulher chegou a trabalhar enquanto amamentava", recorda Bruno. "Com o bebê num braço, ela operava a máquina com a outra mão."
          Considerando números de meados de 1996, a Zani tinha 75 funcionários e um faturamento anual de 10 milhões de dólares. Havia em Lumezzane uma empresa para cada doze habitantes. Os dois lados da estrada sinuosa que serpenteia entre as montanhas ostentam uma sucessão ininterrupta de oficinas e fábricas, em sua maioria metalúrgicas produzindo torneiras, válvulas, autopeças e pratarias.
          A Itália não é muito receptiva às indústrias enormes de produção em massa. O país deve sua prosperidade às várias centenas de milhares de pequenas empresas familiares como a de Bruno Zani, que capitalizam o know-how quase artesanal e a engenhosidade dos italianos, resultando em produção de primeiríssima qualidade.
(Fonte: revista Exame - 22.05.1996)