O Cotonifício Rodolfo Crespi foi inaugurado em 1897 no bairro da Mooca, em São Paulo.
Foi fundado por Rodolfo Crespi, que importou alguns teares e adquiriu outros em São Paulo. A empresa proporcionava muitos empregos. Ficava próxima à estação da Hospedaria dos Imigrantes, e era o primeiro lugar onde os “oriundi” procuravam trabalho; havendo vagas, estavam empregados.
Em 1898, entre as ruas dos Trilhos, Taquari, Visconde de Laguna e Javari começou a construção de um gigantesco prédio, de três andares, com quase 50 mil metros quadrados, num terreno de 30 mil metros quadrados, que abrigaria a fábrica do Cotonifício Rodolfo Crespi. Projetado pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Bianchi, tornou-se um relevante patrimônio cultural dos primórdios da era industrial de São Paulo devido à sua arquitetura, e também foi representativo da própria história da industrialização e de suas relações de trabalho na cidade de São Paulo..
A empresa foi o primeiro estabelecimento brasileiro de fiação industrial de algodão em grande escala. A fábrica, que ocupava uma área de 24.000 metros quadrados, dividia-se em duas partes: a fiação de algodão, com 14.000 fusos, e a fiação de desperdícios, com 3.000 fusos, 500 teares e 300 teares dobrados, tinha fiação, tecelagem, tinturaria e malharia. Chegou a consumir 3 mil cavalos força em energia elétrica e duzentas toneladas mensais de óleo em suas caldeiras, funcionando 24 horas por dia.
Foi uma das primeiras indústrias paulistas a receber energia elétrica.
Os principais produtos fabricados eram, evidentemente, trançados de algodão, xales e coberturas, colchas, fazendas, artigos de algodão para mercearias, etc. Na fábrica trabalham diariamente cerca de 1.500 pessoas, entre homens, mulheres e crianças.
Em julho de 1917, com a decisão de parar a produção, as operárias de duas fábricas têxteis do Cotonifício Rodolfo Crespi deram início a uma greve que rapidamente se estendeu para outras categorias da cidade e depois pelo país. Apesar de fortemente reprimida pela Força Pública, a greve geral foi mantida por 36 dias. Entre as conquistas das reivindicações inscritas na plataforma da greve estavam a abolição do trabalho noturno das mulheres e também a proibição da exploração, nas fábricas, oficinas etc, do trabalho de menores de 14 anos.
O Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube foi fundado no ano de 1924 em uma modesta salinha, fruto da fusão do Extra São Paulo Futebol Clube e do Cavalheiro Crespi Futebol Clube, tradicionais clubes da várzea do bairro da Mooca formados por operários italianos, empregados da fábrica de tecidos da família Crespi.
Na ocasião decidiu-se por manter as cores do Extra São Paulo - vermelho, preto e branco - como sendo as oficiais da nova agremiação, aproveitando deste clube a maioria dos jogadores que já gozavam de certo prestígio nos "campinhos do bairro".
Em contrapartida, o Cavalheiro Crespi F.C. cedeu a sua sede social - localizada na Rua dos Trilhos, nº 42 (antigo), preservando como data simbólica de fundação do clube o dia 20/04/1924.
No dia 24 de abril de 1925, o Conde Rodolfo Crespi, cede um espaço de sua propriedade para que ali se construísse o campo de futebol, na área que ficava entre a Rua Javari (à época Rua Javry) e rua dos Trilhos. Local este, onde ainda hoje fica o Estádio Conde Rodolfo Crespi. Aquele espaço, antes era utilizado como cocheira de seus cavalos que corriam regularmente no Jockey Club de São Paulo (antigo Hipódromo da Mooca na rua Bresser.
Uma campanha fantástica realizou o Cotonifício Rodolfo Crespi F.C. na conquista do título de Campeão Paulista da 2º Divisão no ano de 1929. Foram 16 partidas, 13 vitórias, 02 empates e 01 derrota, com 46 gols marcados e apenas 13 gols sofridos. No dia 26/01/1930 o Cotonifício Rodolfo Crespi F.C. venceu por 1 x 0 a A.A. Republica no Estádio da Rua Javari, gol marcado por Piccinin. Com esta conquista, o clube fora convidado a participar da Divisão Principal do Futebol Paulista.
No dia 19/02/1930, em Assembleia Geral Extraordinária, a diretoria do clube da Mooca resolveu mudar o nome da agremiação. Saía de cena o romântico Cotonifício Rodolfo Crespi F.C. e surgia o Clube Atlético Juventus. O nome Juventus é uma homenagem à Juventus de Turim na Itália. A ideia partiu do cofundador da equipe, o benemérito empresário Italiano Conde Rodolfo Crespi, que era originário da cidade de Busto Arsizio (Província de Varese), e que acabara de regressar de viagem ao seu país de origem, onde (de passagem pela região do Piemonte) assistiu a uma partida da Juventus de Turim, com a qual se entusiasmou, levando-o a sugerir que a agremiação da Mooca passasse a se chamar Clube Atlético Juventus.A familia Crespi ficou quase trinta anos na diretoria do Clube , mas em 1950 se afasta.
Cotonifício e a Revolução de 1934:
Em 22 de julho de 1924, durante a revolução, conhecida como Revolta Paulista, que pretendia destituir o Presidente Artur Bernardes, o prédio do cotonifício foi atingido por um violento bombardeio aéreo das forças
legalistas federais, sendo praticamente destruído. Foi algo que marcou a cidade na época, pois este foi o maior conflito bélico já ocorrido na cidade de São Paulo.Reconstruída, a empresa seguiu em frente até meados de 1950.
A empresa passou por longos períodos de grande prosperidade e só começou a enfrentar dificuldades na década de 1950, devido a seus equipamentos terem ficado obsoletos. Fechou em 1963.
O imenso prédio ficou vazio, abandonado e sofrendo a deterioração do tempo de 1963 até 2003, quando uma rede de hipermercados alugou o edifício central e outros anexos do Cotonifício Crespi. Inicialmente a notícia foi bem recebida pelos moradores da Mooca, até que dessem conta do fato de que o projeto de "restauro" previa a própria demolição do prédio. Apenas a fachada do histórico prédio foi preservada .
Sua demolição total – iniciada em 2004 – só não ocorreu por ter sido impedida por moradores e pela Associação dos Moradores e Amigos da Mooca - Amo a Mooca.
A pedido do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da prefeitura de São Paulo, "o Ministério Público interditou a demolição e passou a mediar um processo de negociação entre o DPH, o Grupo Pão de Açúcar, o empresário Fernando Crespi e a associação.
Hoje, o Cotonifício abriga uma rede de supermercados no local (Assaí). Mas, o imóvel é tombado.
Rodolfo Enrico Crespi nasceu em 1874, em Busto Arsizio, na Itália. Era filho de Pia Travelli e Cristoforo Benigno Crespi, um industrial da área têxtil, que descendia de uma tradicional família italiana, remanescente do Império Romano.
Incentivado por Enrico Dell’Acqua, proprietário da empresa em que trabalhava, emigrou em 1893 para o Brasil. Logo que chegou, instalou uma pequena tecelagem no bairro da Mooca.
Em 1898, inaugurou o Cotonifício Rodolfo Crespi, em um enorme prédio de três andares, localizado na esquina da Rua dos Trilhos com a Rua Taquari, com fundos para a Rua Visconde de Laguna.
A empresa foi o primeiro estabelecimento brasileiro de fiação industrial de algodão em grande escala.
Em 1902, o Sr. Giuseppe Crespi, irmão de Rodolfo, veio para São Paulo para ajudar na gerência da companhia. Foi nomeado secretário da empresa.
Durante todos esses anos, Rodolfo Crespi atuou em diversas áreas sociais e empresariais. Como empresário, fundou a Banca Italiana di San Paolo, que se tornaria a Banca Francese e Italiana per l’America del Sud, predecessora do Banco Sudameris.
Lançou o jornal “Il Piccolo”, em língua italiana, que mantinha uma linha editorial favorável ao regime fascista de Benito Mussolini e era lido por milhares de imigrantes. Foi também Presidente do Circolo Italiano.
Na área social foi responsável pela criação do Colégio Dante Alighieri, que levantou com recursos próprios e doações do governo italiano.
Junto com os operários do Cotonifício, fundou o Clube Atlético Juventus, tendo batizado com seu nome o estádio de futebol.
Durante sua trajetória, Rodolfo Crespi recebeu duas honrarias do governo italiano. Em 1907, o título de Cavaliere del Lavoro (Cavalheiro do Trabalho) e o título de Conde, dado em 1928, pelo Rei Vítor Emanuel III da Itália.
Casou-se com Marina Regoli Crespi com quem teve quatro filhos: Renata, Adriana, Dino e Raul, todos condes e condessa.
Faleceu em São Paulo no dia 27 de janeiro de 1939 aos 64 anos.
(Fonte: JM - Jornal da Mooca - 03.05.2019)