A mais famosa rede de rodízio de carnes carioca fechou a última loja em 2016, após 41 anos de funcionamento. Famosa pelos cortes nobres e pelo farto buffet, chegou a ter sete restaurantes no Rio, além de filiais em outros estados do país e até mesmo no exterior. Suas mesas eram sempre frequentadas por famosos, desde jogadores de futebol e artistas à alta cúpula da política nacional.
ERm meados de 2024, quase uma década depois da
decretação da falência da churrascaria Porcão, ícone da culinária carioca, fundos de pensão do setor público que investiram na rede fazem uma “caçada” para recuperar ativos capazes de compensar pelo menos
um pedaço de um patrimônio
bilionário deixado em aberto
com a derrocada da companhia.
Por trás da corrida estão
principalmente o fundo dos
servidores de Tocantins e do
Serpros, a estatal federal de dados. As duas entidades injetaram, juntas, ao menos R$ 700
milhões no grupo, nos anos de
2010.
Em nota enviada ao Estadão/Broadcast, a K2 consultoria, nomeada para a função de
administrador judicial, diz que
tem se dedicado “incansavelmente” para identificar todos
os ativos e que a falência é
“complexa e extensa”.
O trabalho de recuperação
dos investimentos, segundo
mostram documentos aos
quais o Estadão/Broadcast teve
acesso, levantou suspeitas sobre transações feitas durante o
período de dificuldades da rede, gerou questionamentos
em relação à postura do administrador judicial e disputas sobre ativos identificados em nome das seis empresas que hoje
compõem a massa falida, como um avião de três lugares encontrado no interior de São
Paulo e não listado inicialmente no rol de bens disponíveis.
Os recursos direcionados para a expansão dos restaurantes
nos anos 2010 foram aportados via fundos e pela compra
de papéis da empresa. Após algumas movimentações societárias, o Fundo de Investimento em Participações (FIP) FP2
passou a ter o controle do grupo. No auge, seu patrimônio
chegou a R$ 1,4 bilhão. Entre
os investidores estavam mais
de 20 fundos de pensão de servidores públicos, entre os
quais o do Estado de Tocantins e o Serpros.
Já em dificuldades, o
Porcão anunciou, em 2014, a
fusão com a churrascaria Vento Haragano, do empresário
Lucas Zanchetta. A empresa
combinada estimava ter quase
30 restaurantes e faturar R$
800 milhões. Mas os planos
não se confirmaram e, em
2017, a Justiça decretou a falência do grupo.
O ato marcava a derrocada
da rede de restaurantes que se
espalhou pelo país e no exterior a partir do status conquistado na capital fluminense. Ficou famosa como ponto de encontro de políticos e celebridades, com especial apreço por
parte de jogadores de futebol.
Foi palco de cliques de Neymar por fotógrafos de celebridades e chegou a entrar em
campo com um patrocínio numa faixa usada na cabeça pelo
ponta Renato Gaúcho, hoje
técnico do Grêmio.
O grupo carioca fundado pela família Mocellin chegou a
ter unidades nos Estados Unidos e recebeu até investimentos do banco Merril Linch. A
família e o banco, porém, deixaram o negócio.
Os fundos
de pensão tentam há anos recuperar parte do dinheiro investido. A principal forma de fazer
isso seria por meio de duas
plantas frigoríficas herdadas
do negócio falido, uma delas
em operação e arrendada para
a Marfrig, além da liquidação
de outros ativos encontrados.
Na corrida para levantar os
bens, os advogados descobriram um avião modelo SR22, da
Cirrus Design, que não havia
sido arrolado entre os ativos
no processo de falência. Os
fundos também questionam
as vendas de três imóveis e da
marca Porcão, por R$ 390 mil,
em leilões realizados em 2023.
Os recursos, somados a depósitos antigos encontrados
em nome de uma das empresas incluídas no processo, seriam suficientes para pagar as
dívidas e encerrar a falência,
alegam os fundos.
A lista de credores apresentada em 2021 soma R$ 75 milhões em débitos, embora o valor citado pela própria empresa na mesma época indicasse
um total de R$ 253 milhões em
aberto na falência.
Um dos questionamentos
dos advogados é justamente
para que o administrador apresente uma lista atualizada dos
credores e o andamento da realização de ativos. “Não é possível aos credores, terceiros interessados, massa falida e o Juízo Falimentar do RJ estimar o
valor do ativo arrecadado pelo
administrador judicial, uma
vez que não foi apresentado o
plano de realização dos ativos”, afirma a petição apresentada pelo Maia Britto Advogados, escritório que representa
o FP2.
Em nota enviada ao Estadão/Broadcast, a
K2 consultoria, nomeada para
a função de administrador judicial, nega que os recursos arrecadados sejam suficientes para quitar o passivo da falência.
A empresa estima que a dívida
total alcance cerca de R$ 900
milhões (R$ 300 milhões de
passivo trabalhista, R$ 500 milhões fiscais e R$ 100 milhões
herdadas de uma empresa antiga da Brazal).
A K2 afirma que, desde a sua
nomeação, tem se dedicado
“incansavelmente” ao processo falimentar, para identificar
todos os ativos e na consolidação do passivo. Afirma ainda
que os pleitos do FP2 serão
apreciados na Justiça, sem responder especificamente sobre
o plano de realização de ativos.
A K2 afirma ainda que a falência é “complexa e extensa, um
grupo econômico formado
por diversas empresas, com
aproximadamente 3 mil credores trabalhistas” e prossegue afirmando que o quadro geral
de credores “é vivo e atualizado diariamente, conforme as
decisões".
(Fonte: msn - 28.09.2018 (desafio Mundial) / Estadão - 07.07.2024 - Partes)
(Fonte: msn - 28.09.2018 (desafio Mundial) / Estadão - 07.07.2024 - Partes)
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