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7 de jul. de 2024

Porcão Churrascaria

          A Porcão Churrascaria foi criada em 1975, no Rio de Janeiro.
          A mais famosa rede de rodízio de carnes carioca fechou a última loja em 2016, após 41 anos de funcionamento. Famosa pelos cortes nobres e pelo farto buffet, chegou a ter sete restaurantes no Rio, além de filiais em outros estados do país e até mesmo no exterior. Suas mesas eram sempre frequentadas por famosos, desde jogadores de futebol e artistas à alta cúpula da política nacional.
          ERm meados de 2024, quase uma década depois da decretação da falência da churrascaria Porcão, ícone da culinária carioca, fundos de pensão do setor público que investiram na rede fazem uma “caçada” para recuperar ativos capazes de compensar pelo menos um pedaço de um patrimônio bilionário deixado em aberto com a derrocada da companhia. Por trás da corrida estão principalmente o fundo dos servidores de Tocantins e do Serpros, a estatal federal de dados. As duas entidades injetaram, juntas, ao menos R$ 700 milhões no grupo, nos anos de 2010.
          Em nota enviada ao Estadão/Broadcast, a K2 consultoria, nomeada para a função de administrador judicial, diz que tem se dedicado “incansavelmente” para identificar todos os ativos e que a falência é “complexa e extensa”. O trabalho de recuperação dos investimentos, segundo mostram documentos aos quais o Estadão/Broadcast teve acesso, levantou suspeitas sobre transações feitas durante o período de dificuldades da rede, gerou questionamentos em relação à postura do administrador judicial e disputas sobre ativos identificados em nome das seis empresas que hoje compõem a massa falida, como um avião de três lugares encontrado no interior de São Paulo e não listado inicialmente no rol de bens disponíveis.
          Os recursos direcionados para a expansão dos restaurantes nos anos 2010 foram aportados via fundos e pela compra de papéis da empresa. Após algumas movimentações societárias, o Fundo de Investimento em Participações (FIP) FP2 passou a ter o controle do grupo. No auge, seu patrimônio chegou a R$ 1,4 bilhão. Entre os investidores estavam mais de 20 fundos de pensão de servidores públicos, entre os quais o do Estado de Tocantins e o Serpros.
          Já em dificuldades, o Porcão anunciou, em 2014, a fusão com a churrascaria Vento Haragano, do empresário Lucas Zanchetta. A empresa combinada estimava ter quase 30 restaurantes e faturar R$ 800 milhões. Mas os planos não se confirmaram e, em 2017, a Justiça decretou a falência do grupo. O ato marcava a derrocada da rede de restaurantes que se espalhou pelo país e no exterior a partir do status conquistado na capital fluminense. Ficou famosa como ponto de encontro de políticos e celebridades, com especial apreço por parte de jogadores de futebol. Foi palco de cliques de Neymar por fotógrafos de celebridades e chegou a entrar em campo com um patrocínio numa faixa usada na cabeça pelo ponta Renato Gaúcho, hoje técnico do Grêmio. O grupo carioca fundado pela família Mocellin chegou a ter unidades nos Estados Unidos e recebeu até investimentos do banco Merril Linch. A família e o banco, porém, deixaram o negócio.
          Os fundos de pensão tentam há anos recuperar parte do dinheiro investido. A principal forma de fazer isso seria por meio de duas plantas frigoríficas herdadas do negócio falido, uma delas em operação e arrendada para a Marfrig, além da liquidação de outros ativos encontrados. Na corrida para levantar os bens, os advogados descobriram um avião modelo SR22, da Cirrus Design, que não havia sido arrolado entre os ativos no processo de falência. Os fundos também questionam as vendas de três imóveis e da marca Porcão, por R$ 390 mil, em leilões realizados em 2023. Os recursos, somados a depósitos antigos encontrados em nome de uma das empresas incluídas no processo, seriam suficientes para pagar as dívidas e encerrar a falência, alegam os fundos. A lista de credores apresentada em 2021 soma R$ 75 milhões em débitos, embora o valor citado pela própria empresa na mesma época indicasse um total de R$ 253 milhões em aberto na falência.
          Um dos questionamentos dos advogados é justamente para que o administrador apresente uma lista atualizada dos credores e o andamento da realização de ativos. “Não é possível aos credores, terceiros interessados, massa falida e o Juízo Falimentar do RJ estimar o valor do ativo arrecadado pelo administrador judicial, uma vez que não foi apresentado o plano de realização dos ativos”, afirma a petição apresentada pelo Maia Britto Advogados, escritório que representa o FP2.
          Em nota enviada ao Estadão/Broadcast, a K2 consultoria, nomeada para a função de administrador judicial, nega que os recursos arrecadados sejam suficientes para quitar o passivo da falência. A empresa estima que a dívida total alcance cerca de R$ 900 milhões (R$ 300 milhões de passivo trabalhista, R$ 500 milhões fiscais e R$ 100 milhões herdadas de uma empresa antiga da Brazal). A K2 afirma que, desde a sua nomeação, tem se dedicado “incansavelmente” ao processo falimentar, para identificar todos os ativos e na consolidação do passivo. Afirma ainda que os pleitos do FP2 serão apreciados na Justiça, sem responder especificamente sobre o plano de realização de ativos. A K2 afirma ainda que a falência é “complexa e extensa, um grupo econômico formado por diversas empresas, com aproximadamente 3 mil credores trabalhistas” e prossegue afirmando que o quadro geral de credores “é vivo e atualizado diariamente, conforme as decisões".
(Fonte: msn - 28.09.2018 (desafio Mundial) / Estadão - 07.07.2024 - Partes)

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