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22 de out. de 2023

Sardi's (restaurante)

          Em 1968, em Nova York, o Sardi’s vivia seu apogeu. Dramaturgos, agentes e colunistas de jornais disputavam mesas no restaurante, trocando olhares, fofocas e farpas. Foi nesse ano que um jovem imigrante croata, Josip Petrsoric, começou a preparar drinques para todos eles.
          Aos 23 anos, Joe começou carregando caixas de bebidas, mas logo foi promovido para o bar. Àquela altura, não interagia diretamente com clientes como Jackie Gleason, Lauren Bacall, Sammy Davis Jr. e Raquel Welch. Preparava 2 mil drinques por dia, número quase inacreditável. “Eu era uma máquina.”              
          Em 1972, Vincent Sardi Jr., o proprietário na época, reparou nele e o chamou ao seu escritório: “Joe, quero que você atenda no bar”. Ele teve medo, seu inglês não era bom. Mas Sardi prevaleceu.
          O Sardi’s foi como um lar para Petrsoric, que logo de cara mostrou-se animado por estar no centro das atenções, assim como seu irmão, Mike, que havia emigrado para a América antes e conseguido trabalho como chef do restaurante.
          Petrsoric, 78 anos, diz que oferece tratamento educado tanto a estrelas quanto para os membros dos elencos, diretores, produtores, letristas e compositores de produções da Broadway. “Para mim, todo mundo é humano.” Muitos anos atrás, ver Lucille Ball o fez entender algo sobre a fama. “Ela odiava ser velha”, lembra. “Ela não estava feliz. Deve ser muito difícil ser tão popular. Isso entra no seu cérebro e, então, você se dá conta de que não é para sempre e tem que colocar os pés no chão.” Ainda assim, ele teve seus favoritos. O ator que mais gostava de servir era Jack Lemmon. “Ele era uma pessoa real. Vinha sempre que estava em Nova York. James Gandolfini, Vanessa Williams, eles eram legais. Paul Newman era muito quieto. A esposa do ator, a atriz Joanne Woodward, “vinha com ele, e toda vez que ele ia ao banheiro, ela o esperava na porta, não sei por qual razão.” Expulsar bêbados do bar era uma tradição para ele. “Você diz gentilmente: ‘Hora de ir’. E eles vão”, diz Petrsoric. “Certa vez, chegou um cara carregando duas armas. Vi que ele era maluco e disse: ‘Vamos dar uma festa privada’. Ele respondeu: ‘OK, estou indo.’ Não quero machucar ninguém. Eu me preocupo com todos. Tive que levar muitas pessoas para casa quando ficaram bêbadas.”
          Em uma noite pouco depois de meados de 2023, o barman, conhecido por todos como Joe, encerrava seu expediente, pronto para se aposentar após 55 anos. 
          Desde que a notícia da aposentadoria de Petrsoric foi divulgada, os frequentadores do bar têm se aglomerado, pedindo para que ele lhes sirva um último drinque. “Ele está aqui há muito tempo e viu de tudo”, diz Max Klimavicius, sócio-gerente do Sardi’s. “Veja como ele é jovem. Ele ainda tem muita energia, está sempre sorrindo.” 
          Josip Petrsoric preparou bebidas no Sardi’s, em Nova York, durante 55 anos, mas chegou a hora da aposentadoria
(Estadão - 13.10.2023 - Tradução: Livia Buelon Gonçalves)

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