Total de visualizações de página

16 de nov. de 2020

La Pisanina

          A fabricante de calçados La Pisanina foi fundada na década de 1970 e fazia sapatos mocassin que fidelizaram de maneira impressionante seus clientes. 
          Fundada por imigrantes italianos, o nome da marca é em homenagem à Torre de Pisa, na Itália e sua tradicional caixa branca para acondicionar os pares de sapatos vinham com um pequeno desenho da famosa torre. Sob a marca registrada La Pisanina, eram impressas as três cores da bandeira italiana, verde, branco e vermelho. Um detalhe importante é que em vez de as três cores serem posicionadas em três retângulos na posição vertical, elas apareciam em três minúsculas figuras de quadrados. Não necessariamente três: é que, para formar a cor do meio, a cor branca, era usada a própria cor original da caixa, inteiramente branca. Com isso, a visualizada real das pequenas figuras se restringia aos 
quadrados das cores verde e vermelha.
          As solas de alguns modelos tinham formato bem peculiar, a ponto de haver relato de pelo menos um cliente, que foi abordado em pub londrino, em 1981, por interessados em saber onde havia comprado o sapato.
          A Pisanina tinha uma pequena rede que abrangia a loja da rua Augusta, uma unidade na Galeria Nova Barão, no centro da cidade de São Paulo e uma loja no Shopping Ibirapuera. Na década de 2000, a empresa sentiu a necessidade de atingir clientes um pouco menos abastados e abriu uma loja no início da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, na região central da cidade, que tinha em suas gôndolas sapatos mais simples. Os modelos mais sofisticados não eram vendidos nessa loja. Uma loja na rua Líbero 
Badaró também chegou a ser aberta.
          Em determinado momento da vida da empresa os proprietários resolveram trabalhar também com calçados de outras marcas. Muito provavelmente foi uma alternativa para atrair mais clientes, com um ticket mais baixo. Mas, os problemas com a qualidade de alguns desses calçados era notório.
          Um procedimento até certo ponto intrigante é o fato de que a Pisanina nunca aceitou cartão de crédito. Até aí nada demais, considerando que algumas outras lojas do comércio também não aceitavam. O pormenor, no entanto, é que o ticket era relativamente alto, o que podia afugentar muitos clientes. A explicação dos proprietários é que o custo da operação pelo cartão achatava demais as margens de lucro que já eram enxutas.
          A empresa continua hoje apenas no endereço da rua Augusta 1.229, mas os modelos que clientes fieis usaram durante tanto tempo não mais são fabricados.

Dynamo

          A carioca Dynamo foi fundada em 1993 no bairro do Leblon no Rio de Janeiro por Pedro Damasceno, Bruno Rocha e Luiz Orenstein (mais conhecido como Lula).
          O Dynamo Cougar, o primeiro fundo da gestora, ajudou-a a se tornar unanimidade no mercado brasileiro de fundos de ações.
          A gestora administra recursos dos sócios e estende esse "serviço" para outros investidores. Os sócios e funcionários sempre investiram uma parte importante de seu patrimônio nos próprios fundos. O retorno acumulado de mais de duas décadas faz com que prejuízos doam na carne, estimulando a preservação de capital.
          A Dynamo é um projeto de vida, costumam dizer Pedro Damasceno o Bruno Rudge, a segunda geração no comando da casa de estratégia única. O giro de sócios e funcionários é praticamente nulo, ainda que todos os investimentos passem por decisões colegiadas que estão longe de ser chás de comadres.
          Em 2007, a Dynamo abre um escritório em Londres, que ficou sob o comando de Bruno Rocha.
          Em 7 de outubro de 2017, aos 47 anos, Damasceno morreu após sofrer um infarto fulminante no Rio de Janeiro, onde morava. Deixa mulher e três filhas. Todos foram pegos de surpresa com a notícia, já que ele cultivava hábitos saudáveis, se alimentava bem, corria e fazia pedaladas.
          A Dynamo sempre adotou o “value investing”, filosofia de investimentos que consiste em encontrar boas empresas na Bolsa negociadas abaixo de seu valor justo e esperar, muitas vezes anos, até que as cotações dessas ações voltem a patamares razoáveis. Essa filosofia, embora muito popular nos Estados Unidos por conta da ascensão de Warren Buffett desde a metade do século passado, era pouco explorada no Brasil quando a Dynamo foi criada.
          Mas não é só pelos resultados espetaculares ou pela introdução do “value investing” ao brasileiro que a Dynamo desperta admiração e respeito no mercado: a obsessão em querer saber todos os detalhes das empresas que investe (ou pretende investir) e o “estímulo ao argumento”, forçando o debate de ideias entre os analistas da casa para que as teses de investimento convençam até mesmo quem não é especialista da empresa alvo de estudo, são alguns dos valores da Dynamo que foram disseminados para o mercado brasileiro de fundos de ações ao longo destes 24 anos.
          Tal paixão pelo trabalho fica nítida ao ver que boa parte dos primeiros sócios ainda trabalham ativamente no dia-a-dia da gestora. Entre as grandes tacadas da gestora, estão lucros com ações do Itaú, Caemi, Natura, Lojas Renner, Cielo, Ambev e XP Investimentos.
(Fonte: Exame - 12.03.2003 / livro: Conversa com Gestores de Ações Brasileiras (Luciana Seabra) / InfoMoney - 07.10.2017 - partes)

14 de nov. de 2020

Tend Tudo

          A rede de materiais de construção Tend Tudo, no mais absoluto recado aos consumidores que "tem de tudo", foi fundada em 1987 pela Alcoa.
          Copiando a estratégia das lojas da rede Walmart, a maior dos Estados Unidos, que se fortaleceu primeiro no interior para só então entrar nos grandes centros, só depois de cinco anos, em 1992, com 11 lojas, a rede chega à capital paulista.
          O então diretor-geral, Geraldo da Rocha Azevedo, chegou à Tend Tudo depois de trabalhar 21 anos na Casas Pernambucanas. Ele deu à rede a cara de um varejo de bens de consumo. A Tend Tudo oferecia crediário, cartão de crédito próprio, trabalhava com telemarketing, vendia utilidades domésticas e tinha 
layout de supermercado.
(Fonte: revista Exame - 19.08.1992)

Peixe

          A marca Peixe é de propriedade da Indústrias Alimentícias Carlos de Britto.
          No início dos anos 1990, a empresa estava em baixa. Perdeu dinheiro e viu sua participação no mercado de derivados de tomate encolher de 15% em 1990 para 6,5% em meados de 1992.
          Desde 1991, sabia-se que a família Mansur, que controlava a empresa, estava disposta a vendê-la. Vendeu. A Peixe, que faturou 90 milhões de dólares em 1991, foi comprada pela Kieppe 
Investimentos, holding familiar dos Odebrecht, por 70 milhões de dólares.
          A Kieppe não era do ramo, mas desenvolvia um projeto agroindustrial na Bahia dirigido pessoalmente por Norberto Odebrecht, fundador do grupo, e procurava uma marca forte para entrar no 
mercado de conservas.
          Embora tivesse perdido espaço para a concorrência em 1990/1991, a Peixe tinha boa aceitação no Norte e no Nordeste, mercados que estavam na mira da Kieppe. "A Peixe só precisa de investimentos para tornar-se uma forte concorrente", disse João Rozário da Silva, então diretor comercial da Cica.
          Para o grupo Mansur a transação parecia vantajosa. Dono também da Vigor, da Leco e da Flor da Nata, podia então concentrar-se mais no setor de laticínios, do qual retirava 80% de seu faturamento, de 
500 milhões de dólares anuais.
(Fonte: revista Exame - 19.08.1992)

13 de nov. de 2020

JJ Invest

           A JJ Invest foi fundada por Jonas Jaimovick, nascido em 1962. JJ Invest é o nome fantasia da Spritzer Consultoria Empresarial, criada no final de 2015.
          No início, o endereço da empresa era na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, local nada usual para um empreendimento financeiro. Os clientes que quisessem ter um contato direto eram recebidos em uma antessala pequena, de aspecto antigo e em reforma, com parte da estrutura com problemas.
          Formado em engenharia da computação pela PUC-Rio, Jaimovick começou sua carreira como estagiário na Ágora, corretora de valores. Em seu perfil no LinkedIn, consta que passou cinco anos na empresa. “Ele deve ter ficado um ano, um ano e meio. Não foi mais de um ano e meio”, disse A., que falou com Época sob condição de anonimato. Com o processo de automatização da corretora, acabou demitido. Em seu perfil no LinkedIn, a narrativa é mais nobre: além dos cinco anos na empresa (de 2001 a 2006), ele afirma que, em 2003, trabalhou no back office (área administrativa) com foco em renda fixa e foi efetivado para a mesa de atendimento e operações.
          Demitido, Jaimovick iniciou uma trajetória profissional instável, errática, com uma série de períodos de desemprego. Apaixonado por futebol, ele foi indicado por um ex-colega de trabalho para atuar como vendedor na loja do Flamengo, onde ficou por pouco tempo. Na sequência, tentou voltar ao mercado financeiro. No LinkedIn, Jaimovick afirma ter trabalhado como operador da Bolsa na Citi Intra Corretora e na área comercial da SLW, corretora de valores e câmbio, por dez meses, entre junho de 2008 e março de 2009.
          O que aconteceu entre março de 2009 e outubro de 2010 é um mistério. Mas, no final do último ano do governo Lula, enquanto a Bolsa — que já não se chamava Bovespa — esperava chegar aos 5 milhões de CPFs cadastrados e realizava a maior capitalização da história, a da Petrobras, Jaimovick atuava como analista financeiro na CHL Desenvolvimento Imobiliário. Durou pouco: em fevereiro de 2011 já estava fora. Dois meses depois, ainda de acordo com seu LinkedIn, atuou como coordenador de compliance e controle interno no Banco Cédula, de crédito, do qual saiu em setembro de 2011.
          O próximo registro profissional é de junho de 2012, quase um ano depois, como analista de planejamento estratégico da Rede D’Or de hospitais. Saiu em outubro de 2012.
          O ano de 2013 começou com o aumento do preço do quilograma do tomate — que subiria mais de 100% entre janeiro e abril daquele ano —, mas, para Jaimovick ao menos, guardava boas perspectivas. Em janeiro ele entrou na LPA — Lar Protegido das Américas, uma residência terapêutica, mas para trabalhar no administrativo e financeiro. Segundo o que consta em seu LinkedIn, permaneceu na empresa até agosto de 2015.
          De 2015 em diante, passou a valer-se de seus contatos no mercado financeiro — e dos contatos de seus contatos — para pedir dinheiro emprestado. As quantias variavam, mas, segundo uma fonte, ele chegou a pedir R$ 50. Dizia não ter dinheiro para comer. “As pessoas davam dinheiro, ele não pagava, depois pedia de novo."
          Por volta do início de 2016, Jaimovick voltou à cena em grupos de WhatsApp. Todo dia, depois do fechamento do mercado, ele postava o gráfico de uma opção qualquer que tinha subido no dia e dizia: “Quem me ouviu teve esse lucro”. Pessoas que não o conheciam se perguntavam: “Quem é esse cara?”. Aos poucos, ganhava a confiança delas e passava a cuidar de seus investimentos. Ao mesmo tempo, ampliava o número de grupos de WhatsApp nos quais vendia seu suposto talento financeiro. Para poder justificar o que afirmava nos grupos — que conseguia atingir lucros altíssimos —, começou a mandar mensagens dizendo que o dinheiro havia rendido 10% ao mês. O burburinho sobre suas façanhas aumentava cada vez mais.
          Diante do retorno prometido — dez vezes maior que o do investidor Bernard Madoff, condenado a 150 anos de prisão em 2009 por um esquema de pirâmide financeira —, Jaimovick começou a atrair dois tipos de investidores. Em um primeiro grupo estavam aqueles que, sem conhecer a realidade do mercado financeiro, acreditaram na promessa de ganho fácil. No segundo grupo, aqueles que, conhecendo a realidade do mercado financeiro, quiseram ganhar dinheiro fácil. A maior parte dos investidores da JJ Invest concentrar-se-ia no primeiro grupo.
          Em agosto de 2017, a CVM emitiu um primeiro comunicado no qual afirmava que “Jonas Spritzer Amar Jaimovick e Spritzer Consultoria Empresarial Eireli – Me (a JJ Invest) não estão autorizados por esta Autarquia a exercer quaisquer atividades no mercado de valores mobiliários” por não haverem preenchido “os requisitos previstos na regulamentação da CVM”. Ela determinou, ainda, “a imediata suspensão da veiculação no Brasil de qualquer oferta de serviços de administração de carteiras de valores mobiliários e de consultoria de valores mobiliários”, sob risco de multa diária de R$ 5 mil, e relatou indícios de crime ao Ministério Público.
          Ao longo de 2018, Jaimovick começou a atuar no segmento pelo qual é apaixonado: o futebol. Não como investidor, mas como patrocinador — ou mecenas. Em janeiro, começou a patrocinar o Macaé Esporte Clube. Em fevereiro, assinou parceria com o Centro de Futebol Zico; já patrocinava o Jogo das Estrelas, partida beneficente que conta com a participação de jogadores como Neymar Jr. Em setembro, afirmou patrocinar 12 clubes fluminenses de futebol. Ao longo do segundo semestre, passaria a patrocinar o Atlético Carioca, o Boa Vista e o Madureira, além da equipe de remo do Botafogo. No auge, concedeu um patrocínio de R$ 1 milhão ao Vasco, pelo período de um ano. Em janeiro de 2019, o clube suspendeu o contrato, por falta de pagamento da parcela referente àquele mês.
          O negócio de Jaimovick chegou a ter R$ 400 milhões sob gestão, segundo fontes do mercado, até a emissão, em janeiro de 2019, de um comunicado ao mercado feito pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão responsável pela regulação do mercado de capitais no Brasil, alertando que Jonas Jaimovick e sua empresa não estavam autorizados “a exercer atividade de administração de carteiras e consultoria de valores mobiliários”. O comunicado foi seguido por 1.800 pedidos de retirada de dinheiro da JJ Invest — o que deixou a empresa em uma situação delicada —, por pedidos de demissão de funcionários, pelo início de uma investigação que corre sob sigilo na Polícia Federal, pela autorização do bloqueio judicial de R$ 1 milhão da conta JJ Invest e pela — ao que tudo indica — fuga de Jonas Jaimovick.
          A revista Época teve acesso a um extrato de investimento em nome da JJ Invest em CDB Flex Empresarial, pela Caixa Econômica Federal. Segundo o documento, o CDB tinha data de validade para 12 de fevereiro de 2019 e R$ 2 milhões aplicados. A rentabilidade do CDB varia segundo a taxa de juros ou a taxa CDI contratada e é tributada de acordo com o prazo de retirada do dinheiro. A tributação varia de 22,5% a 15% ao ano sobre os ganhos de capital, além do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A rentabilidade de um CDB que pague 95% do valor do CDI é em torno de 6% ao ano — sem contar os impostos. Lembrando: a JJ Invest prometia ganhos de 10% ao mês.
          Em 4 de janeiro de 2019, a CVM emitiu um novo comunicado, nos mesmos moldes do de 2017. O segundo alerta, veio após uma mensagem enviada aos investidores pelo próprio Jaimovick em 26 de dezembro de 2018, na qual afirmava: “Em primeira mão, queremos informar que a JJ Invest agora tem um gestor credenciado da CVM e da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais)! Agradecemos muito a sua confiança e desejamos que, em 2019, possamos realizar muitos sonhos! Estamos sempre à disposição!”.
          O segundo comunicado da CVM alterou a rotina da JJ Invest. Investidores começaram a entrar com uma série de pedidos de retirada de dinheiro. De acordo com um funcionário do edifício onde funciona(va) a JJ Invest — agora na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, outro endereço atípico para empresas desse tipo, que se concentram no Leblon e no centro do Rio de Janeiro —, nos primeiros dias do ano a entrada do prédio ficou lotada de investidores que pediam seu dinheiro de volta. Funcionários se demitiram e Jaimovick começou a anunciar vagas de emprego em seu perfil no Facebook, alegando que a empresa estava em processo de reestruturação. Nas duas ocasiões em que a CVM emitiu o comunicado, o site da empresa (jjinvest.com.br) estava fora do ar. Tampouco foram encontrados perfis da JJ Invest nas redes sociais. O perfil de Jaimovick no Facebook — onde publica frases de autoajuda — estava público no início do ano. Depois foi fechado.
          Outro fato chamou a atenção do mercado em janeiro de 2019. Entre 11 de dezembro de 2018 e 10 de janeiro de 2019, as ações da Ideasnet, empresa de tecnologia da qual Jaimovick era o principal acionista no início do ano, caíram 68% e movimentaram R$ 2,6 milhões no dia 10 de janeiro (quando caíram 24,8%) — valor muito acima da média da empresa. A B3 — a Bolsa de São Paulo — pediu explicações quanto à movimentação. Segundo a empresa informou na ocasião, a queda se deu em razão das vendas realizadas por seu principal acionista — a Spritzer Consultoria Empresarial, a JJ Invest. A ação da Ideasnet, que em novembro de 2018 chegou a valer R$ 9,90, valia R$ 3,18 na segunda-feira 18 de março. A Spritzer Consultoria Empresarial não consta mais na lista de principais acionistas disponível no site da B3.
          O paradeiro de Jaimovick era um mistério. No início de 2019, ele estava hospedado em um hotel do centro do Rio de Janeiro, de onde só saía com seguranças. No dia 11 de fevereiro, gravou o vídeo dentro do escritório da JJ Invest. No dia 14, atendendo a pedidos, gravou outro, com uma edição do jornal O Globo em mãos, para mostrar que estava no Rio. Não era possível, no entanto, atestar que estivesse na capital fluminense.
          Muitos buscavam referências sobre Jaimovick, que nunca chegou a ter nenhuma estrela ou patente entre os engravatados do Leblon.  Segundo apurou a revista Época, Jaimovick passou por vários escritórios de agentes autônomos, onde é possível ficar um tempo operando informalmente com a licença de outro.
          Em fevereiro de 2019, o empresário desapareceu com pelo menos R$ 170 milhões de 3 mil clientes, dentre eles, celebridades e atletas. Com a promessa de dinheiro fácil e rápido engambelou desavisados e aproveitadores.
          Uma das suspeitas das autoridades é que a JJ Invest funcionasse como uma pirâmide financeira, sistema em que o ingresso de novos investidores financia o lucro elevado dos investidores antigos, um esquema insustentável e que, em algum momento, estoura e deixa muita gente no prejuízo.
          Em 9 de novembro de 2020, a Delegacia de Defraudações do Rio de Janeiro prendeu o dono da JJ Invest, Jonas Jaimovick, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Jonas Jaimovick é apontado como o responsável por operar o maior esquema de pirâmide financeira ativo no país.
          Jaimovick ainda responde a mais 30 inquéritos no Rio de Janeiro. Também há processos em São Paulo, Maranhão, Recife e Ceará, e ações na esfera cível pedindo ressarcimento ao próprio Jonas e à JJ Invest. Além do dono da empresa, outras sete pessoas foram indiciadas por suspeita de obtenção de lucro com a pirâmide financeira. As informações obtidas pela delegacia indicam que a operadora de investimentos oferecia às vítimas um lucro de 10% a 15% por mês com a intenção de aumentar o número de clientes e, em consequência, os lucros.
          Em algumas situações a intenção do golpista é, desde o começo, enganar os incautos. Isso ocorre, por exemplo, nos esquemas de pirâmides financeiras ou venda de títulos públicos falsos. Mas em outros casos o golpe vai evoluindo a partir de uma atividade originalmente bem intencionada. Exemplos famosos foram os esquemas de captação de recursos para a engorda de bois ou criação de avestruzes.
          Não é possível saber, nesse momento, em que grupo a JJ Invest está enquadrada. A empresa é acusada de dar um calote de R$ 170 milhões em mais de 3 mil investidores.
(Fonte: Revista Época (Danilo Thomaz)- 21.03.2019 / Money Times - 09.11.2020 / A Gazeta - 09.11.2020 / IstoÉdinheiro - 09.12.2020 - partes)

12 de nov. de 2020

Banco Crefisul

          O Banco Crefisul foi adquirido em janeiro de 1978 por Henrique Sergio Gregori, quando foi convidado pelo Citibank para formar uma sociedade. O Citibank procurava um sócio brasileiro com 
experiência internacional. Mais tarde, passaram a fazer parte da sociedade os herdeiros e sucessores de Gregori, através da empresa BCH Participações S/C Ltda.
          A administração do Crefisul sempre contou com a experiência de profissionais do mercado e do Citibank. Inclusive a função de diretor superintendente, por decisão dos sócios Gregori e Citibank, era 
ocupada por funcionários do Citibank.
          Em 1989, Gregori iniciou conversações com o Citibank visando a reestruturação da organização, redefinição dos objetivos e do futuro do banco, possivelmente passando pela alienação das ações do 
Banco Crefisul a terceiros.
          Entre 1990 e 1992, Citibank e os herdeiros e sucessores de Henrique Sergio Gregori implementaram a reestruturação organizacional do Crefisul e, entre várias medidas, eliminaram o cargo de diretor superintendente, transferindo suas funções ao presidente. O cargo de presidente passou a ser preenchido por funcionário do Citibank, de forma a preparar o banco para o término da associação da família Gregori com o Citibank. Nessa época, passou pelo Crefisul o executivo Alvaro de Souza, que ocupara o cargo de superintendente da área de investimentos do Citi. Em maio de 1992, ele retorna ao Citibank no Brasil e assume a presidência.
          Por volta de 1994, com a regulamentação dos bancos múltiplos, Citibank e Crefisul caminhavam para atuar nos mesmos segmentos do mercado financeiro, terminando a complementaridade entre as 
instituições, fator essencial para parceria de sucesso almejada por Gregori.
          Em comunicado de 9 de agosto de 1994, a BCH Participações informa a venda do banco Crefisul ao grupo Itamarati.
(Fonte: revista Exame - 23.12.1992 / 17.08.1994 - partes)

Banco / Corretora Fator

          O Banco Fator foi fundado em 1967, inicialmente como uma corretora, que foi fundada por Ivan Sant'Anna, em sociedade com a financeira Decred. A Fator Corretora de Títulos S.A. foi fundada no Rio de Janeiro, na travessa do Ouvidor, dentro do conglomerado financeiro, comercial e industrial, conhecido como grupo Ducal.
          De início, a corretora funcionava no jirau da loja da financeira Decred. Era somente o fundador, Ivan Sant'Anna, uma secretária e um office boy. Logo o espaço se mostrou insuficiente para a empresa, que se mudou para o número 19 da mesma travessa, onde ocupou um andar inteiro. Agora, havia vários operadores de pregão (Ivan, inclusive), operadores de telefone (que passavam ordens para a Bolsa), brokers, que se comunicavam com os clientes, back office, contabilidade etc. Sempre na travessa do Ouvidor, a corretora se mudou para o nº 23, ocupando todo o prédio (uns três ou quatro andares). Havia uma sala só para as meninas que passavam as ordens para a Bolsa, um salão para os assessores (que foi como a corretora passou a chamar os brokers), mesa de renda fixa, setores administrativos etc. A Fator saiu da travessa do Ouvidor e foi para a avenida Rio Branco, onde alugou, e reformou luxuosamente, dois andares no edifício Martinelli, ao lado do prédio do Jornal do Brasil.
          A Fator era ligada a um enorme conglomerado, com cadeias de lojas de roupas (Ducal), de venda de eletrodomésticos (Bemoreira), de fábricas de ternos (Sparta), supermercado (Dado), fora uma série de empresas sediadas no Rio Grande do Norte, entre elas uma das maiores indústrias têxteis do país (Seridó).
          Um bull market do mercado brasileiro de ações se iniciou no final de 1967 e foi até o segundo semestre de 1971. Na disparada da bolsa nacional, a Fator tinha que acompanhar o ritmo. Criou  o Fundo Apollo de Investimentos, administrado por um sócio egípcio-israelense.
          Num dos três andares ocupados pela empresa, funcionava a corretora. Dois andares acima, o fundo, com toda sua estrutura de vendas, além de uma lanchonete onde tudo era de graça para os corretores, que percorriam o Rio de Janeiro batendo de porta em porta. A Fator já tínhamos uns 200 funcionários.
          Foi nessa ocasião (a Bolsa só subindo) que a Fator decidiu criar uma modalidade de investimento que consistia em planos de aplicações contratadas, por 60 meses, através de carnês. Os clientes-alvo eram bebês recém-nascidos. A coisa funcionava do seguinte modo: a corretora tinha agentes em maternidades e cartórios de registro civil que coletavam os nomes dos bebês que nasciam.
          A Fator assinou contrato com uma multinacional fabricante de artigos de higiene infantil. Ela fornecia, de graça, a título promocional, talcos, xampus, cotonetes, escovinhas de cabelo, tudo isso embalado em graciosas caixas coloridas com os logotipos da empresa e do Apollo (um foguetinho), homenagem à primeira nave a chegar à Lua, em 1969.
          Agora, imaginem só a cena: estando o bebê com uns 30 dias, chega na casa onde ele mora uma corretora ou corretor da Fator trazendo um lindo presente para a Soninha. Junto com o estojo, um carnê e um folheto explicativo de como se poderia, através do mercado de ações, garantir o futuro daquela criança. Bastava pagar as 60 parcelas e, com certeza, renová-las, já que a Bolsa de Valores iria subir para sempre – era o que se pensava na ocasião.
          Os jornais da época publicavam o ranking dos fundos, não só suas rentabilidades como também os tamanhos de suas carteiras. No primeiro quesito, a Fator não fazia feio. No segundo, éramos disparados o maior. Graças a um estratagema de marketing de meu sócio egípcio: ao invés de passar a carteira do fundo, a empresa enviava às redações o total dos carnês programados, mesmo aqueles que ainda estavam na primeira ou segunda parcela.
          Veio então a virada. Num determinado dia do final de 1971 a bolsa virou e tomou rumo sul. Com ela, o valor da cota do Apollo. Não houve jeito. Primeiro os clientes pararam de pagar os carnês. Depois foram à Fator resgatar o pouco que sobrara da queda. Um corretor plantonista ainda argumentava:
“Mas, meu amigo, é na baixa que se ganha dinheiro na Bolsa. Desista desse resgate, continue pagando suas prestações. Aos 18 anos seu filho terá uma pequena fortuna.” “Meu amigo é o cacete”, respondia o cliente. “Minha mulher e eu economizamos todo mês, já pusemos oitocentos cruzeiros em nome da Marilinha e agora a cota não vale nem duzentos. Passa isso logo para cá, antes que eu me aborreça.”
Foi assim que o Fundo Apollo foi morrendo aos poucos, até que acabou de vez. Muita gente nem foi pegar os trocados que sobraram.
          Pois bem, os bebês de 1971 tinham, em 2021, 50 anos de idade. Ivan Sant'Anna diz não conhecer nenhum deles. Ou até pode ser que conheça sem saber. De uma coisa, ele tem certeza. Ou, melhor, quase certeza. Se o Fundo Apollo tivesse durado até hoje, tendo atravessado todos os bull e bear markets da Bolsa nesses últimos cinquenta anos, transposto a hiperinflação, com suas tablitas e confiscos, o cotista recém-nascido de 1971 poderia estar bem de vida graças a ele.
           Em 11 de maio de 1977, o Banco Central decretou intervenção no Banco Independência, intervindo no grupo Independência (o antigo Ducal), do qual a corretora Fator fazia parte.
          O Independência vendera CDBs do banco para diversos clientes, mas o Banco Central o desobrigou a reembolsá-los, já que não eram papéis de sua emissão. O Independência tinha agido apenas como intermediário.
          Mas, Ivan Sant'Anna disse o seguinte: "Acontece que eu tinha um sério problema de consciência. Meus clientes haviam adquirido papéis Ivan Sant’Anna e não Independência. Eles confiavam em mim.
Naquela noite, ao chegar em casa, fiz algumas contas e concluí que meu dinheiro pessoal dava para reembolsar todo mundo. Só que ficaria sem nada, com exceção de nossa casa, por sinal financiada pelo Banco Nacional da Habitação – BNH. Minha mulher concordou que era melhor pagar todo mundo e ir à luta. Procurar um emprego, como as pessoas normais fazem nessas horas. Aliás, ela já tinha o dela, como professora universitária. Pois bem. Paguei".
          Como Sant'Anna ainda era dono da carta patente da corretora Fator, e de uma distribuidora do mesmo nome, usou de um estratagema para vendê-las por um bom preço. Pediu a um amigo banqueiro que lhe fizesse uma proposta, por escrito, de compra das duas cartas patentes. Não lembra mais do preço, mas era algo como 400 mil dólares, em valores de hoje. Cada pretendente que chegava com uma oferta menor, ele exibia a carta do banqueiro. “Já tenho essa proposta aqui”, ele dizia. Assim, acabei vendendo corretora e distribuidora por um valor maior, valor esse que lhe permitiria viver uns dois ou três anos sem maiores preocupações.
          A concretização da venda da corretora Fator, por Ivan Sant'Anna, ocorreu em 1979.
          O Fator transformou-se em banco múltiplo em 1990, quando deixou de ser apenas uma corretora.
          Em fevereiro de 1993, depois de dezessete anos como braço direito de Abilio Diniz no grupo Pão de Açúcar, o executivo Sylvio Luiz Bresser Pereira resolveu ser patrão de si próprio. Desde o início daquele mês, ele ocupou a cadeira de sócio-diretor do banco múltiplo Fator, com sede no Rio de Janeiro. No Fator, Sylvio Luiz tinha cinco sócios, com participações praticamente equivalentes.
          Hoje, como Banco Fator, a empresa é sediada no bairro Itaim Bibi, em São Paulo.
          As principais especialidades do Fator são Investment Banking, Private Banking, Seguros Corporativos, Gestão de Recursos, Intermediação de Títulos e Valores Mobiliários e Fusões & Aquisições.
          O Fator é um conglomerado financeiro que visa atender os desafios de seus clientes, especialmente empresas de médio e pequeno portes. A Fator Administração de Recursos faz gestão ativa de fundos de investimento. A Fator Corretora executa intermediação de operações na Bolsa de Valores, com atendimento especializado e completo portfólio de produtos para a execução das estratégias de investimentos dos clientes.
          Desde 2008, a Fator Seguradora atua com especialização no mercado de seguros de infraestrutura e seguros financeiros estruturados.
          Em maio de 2021, o Banco Fator vendeu a sua corretora para o BTG Pactual.
          Em junho de 2021, o Banco Fator nomeou João Antonio Lopes à presidência da instituição. Sob novo comando, o Banco Fator quer voltar no tempo. A nomeação de Lopes é simbólica dessa jornada que redireciona o grupo para atividades de mercado de capitais e reconstrói o modelo de “partnership”. O economista Gabriel Galípolo deixou a instituição após quase quatro anos na liderança.
          Lopes já estava no conselho de administração desde o ano passado, mas muito antes disso, em 1996, foi o responsável pela criação do segmento corporate, quando havia apenas a corretora e Walter Appel, hoje controlador, era um acionista minoritário na sociedade, com oito sócios.
          A venda da Fator Corretora para o BTG Pactual, em maio de 2021, já foi parte desse redesenho do qual Lopes participou. Embora não abra o valor da transação, os recursos, segundo o executivo, vão ter um efeito saneador no balanço e deixar para trás uma sequência de prejuízos. O banco fechou 2020 com R$ 29,2 milhões negativos, sendo que a corretora sozinha teve perda líquida de R$ 11,2 milhões.
(Fonte: revista Exame - 03.03.1993 / LinkedIn / ValorInveste - 23.06.2021 / 06.07.2021 / Mercadores da Noite/Inversa - 23.10.2021 / 15.11.2021 - partes)

9 de nov. de 2020

Isolux (Grupo Corsán)

          A espanhola Isolux, com sede em Madri, desembarcou no Brasil em 2011 com planos ambiciosos de investir mais de R$ 5 bilhões em infraestrutura e decidida a transferir sua sede para o país.
          De 2011 a 2015, o grupo espanhol construiu cerca de 4 mil quilômetros de linhas de transmissão no Brasil. Desse total, detém a concessão de cerca de 3 mil quilômetros, como o Linhão de Tucuruí, que interliga Manaus e Macapá ao sistema interligado nacional. A companhia também administra a concessão de 680 quilômetros das BRs 116 e 324, na Bahia.
          Mas, em 2015, começou a enfrentar uma série de dificuldades e rescindir contratos com o poder público.
          Um dos casos mais notórios foi a rescisão do contrato com o governo paulista para construção de estações da Linha 4 – Amarela do Metrô. Na época, a empresa alegou que houve demora de 27 meses na entrega dos projetos e a uma constante revisão do cronograma, que seria concluído com 75 meses de atraso.
          Em meados de janeiro de 2015, o grupo Isolux Corsán entrou com um processo de recuperação extrajudicial referente às suas operações no Brasil. A renegociação de dívidas da empresa com seus credores, fora das vias judiciais, envolve as subsidiárias Isolux Ingenieria, Isolux Projetos e Instalações, Isolux Projetos, Investimentos e Participações e Corsan-Corviam.
          Em 27 de dezembro de 2018, credores do Grupo Isolux no Brasil (Corsan-Corviam Construccion S.A do Brasil, Isolux Ingenieria S.A. do Brasil, Isolux Projetos e Instalações Ltda, Isolux Projetos Investimentos e Participações Ltda Isolux Corsan do Brasil), aprovaram seu plano de Recuperação Judicial durante assembleia realizada para esse fim.
          Um apagão atingiu praticamente todo o Estado do Amapá na noite de 3 de novembro de 2020, quando um incêndio danificou uma subestação na capital Macapá. Várias cidades relataram dificuldades no abastecimento regular de água e alimentos. A energia somente começou a ser restabelecida parcialmente no dia 7. A subestação e a linha de transmissão que falharam são da Gemini Energy, que é gerida por fundos de investimento. A concessão, formalmente chamada de Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), pertencia à Isolux, que entrou em recuperação judicial na Espanha. No fim de 2019, a linha foi comprada pela Gemini, que pertence a dois fundos de investimentos: a Starboard e a Perfin.
          A distribuição da energia elétrica para todo o estado do Amapá é feita pela Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), empresa de economia mista, sendo o Governo do Estado do Amapá seu principal acionista.
(Fonte: IstoÉDinheiro - 29.01.2016 / SEGS - 07.01.2019 / Terra - 07.11.2020 - partes)

5 de nov. de 2020

Celulose Irani

          Em 1939 e 1940, com o início da Segunda Guerra Mundial começavam as dificuldades para exportações e importações de produtos industrializados. O Brasil importava muito papel e pasta de celulose, e o produto estava com dificuldade de chegar aos portos brasileiros. Surge assim, um novo ramo industrial, o de papel e celulose.
          Diante deste contexto, no Rio Grande do Sul, a Companhia Vinícola Rio Grandense de Caxias do Sul viu o mercado de vinhos finos diminuir. Como detinha boa reserva de capital, decidiu investir em outro mercado: o de papel e celulose.
          Para um estudo de viabilização, os diretores da vinícola, Galeazzo Paganelli e José Moraes Vellinho resolveram enviar um emissário em busca de pinheirais nos estados do Paraná e de Santa Catarina. Essa tarefa foi atribuída a Alfredo Fedrizzi, homem de confiança que durante onze anos provara sua dedicação e sua habilidade na sociedade Vinícola Rio Grandense.
          Na madrugada de um dia de inverno em 1940, Alfredo Fedrizzi como líder da expedição, acompanhado de Paulo Pasquali e dos técnicos em araucária João Turra e Emílio Tedesco, partiu rumo ao Oeste de Santa Catarina e posteriormente ao Paraná. A missão do grupo era reconhecer duas fazendas oferecidas à Vinícola Rio Grandense para construir a fábrica de papel.
          O local escolhido foi a Fazenda São João do Irani, no município de Cruzeiro do Sul, em Santa Catarina. Faltava implantar a fábrica. Tarefa difícil, pois na região não havia estradas. O último marco de civilização era Vargem Bonita a 25 quilômetros de distância.
          No início de 1941, em Campina da Anta (local da Fazenda São João do Irani), Fedrizzi construiu o primeiro rancho de madeira lascada a machado à beira do Rio da Anta, pequeno afluente do Rio do Mato. Segundo relatos, Fedrizzi gostava muito de batizar os locais e os animais e por isso mudou o nome do local para Campina da Alegria, nome usado até hoje. Na mesma época, iniciou, à base de pás, picaretas e carrinho de mão a construção de uma estrada de 25 quilômetros, em plena mata fechada. Após 10 meses de trabalho a estrada estava pronta com dois metros de largura.
          Em 6 de junho de 1941, depois de grande jornada, Fedrizzi fez surgir a fábrica de papel que recebeu o nome de Celulose Irani Ltda. A construção do primeiro prédio da Celulose Irani iniciou em 1942, ano em que a olaria já estava em funcionamento. Além dos tijolos, a olaria fornecia telhas e a serraria, as madeiras para a construção da fábrica. Em 1942 foram instalados os primeiros equipamentos industriais: um britador com acionamento hidráulico, as primeiras caldeiras “J. Martins” e a primeira máquina a vapor para geração de energia.
          Após o atraso por causa da guerra, em 1943 foi instalado o primeiro desfibrador a vapor para a fabricação da primeira pasta mecânica. No final de 1943 e início de 1944, foi montada ao lado das caldeiras, outra máquina a vapor chamada Béllis. Era uma máquina usada em navio. Essa máquina, além de fornecer energia para a fábrica, tocava dois geradores que acionariam mais tarde, a primeira máquina de papel.
          Como curiosidade, em 1943 a temperatura baixou para 12 graus negativos. Os tijolos então, muito úmidos com o frio, desmanchavam-se, esfarelavam-se, era preciso fabricá-los novamente. Na olaria, no inverno, o sol chegava à tarde. A sua volta havia apenas mata virgem. Em 1944 iniciou a produção de papel com a utilização da Máquina de Papel número I, inaugurada por Nereu Ramos, então governador do Estado de Santa Catarina. A fábrica começou o seu funcionamento sem produzir celulose, usando papéis velhos e pasta mecânica.
          O primeiro papel, feito com celulose importada e pasta mecânica, foi vendido à Editora Globo, que imprimiu com ele o romance “Um olhar para a Vida”, de Maria Luiza Cordeiro.
          Em 1945, depois de uma visita de “associados” da empresa, Alfredo Fedrizzi iniciou a construção de uma represa e de uma usina de geração de energia no Salto Flor do Mato, em Campina da Alegria.
Nessa época a energia elétrica era gerada por uma termoelétrica própria, acionada à lenha que produzia vapor para abastecer a indústria.
          A maior parte do papel produzido na época era levada para a cortadeira. O restante, para a rebobinadeira Cavalari (máquina italiana para fazer bobinas). Na cortadeira, os papéis eram cortados em vários formatos, e, após esse processo passavam pela sala de escolha, onde eram contados em resmas. Depois de embalados, seguiam para as prensas e formavam fardos de aproximadamente 150 quilos cada.
          Os papéis eram transportados até Cruzeiro do Sul (atual Joaçaba), onde a empresa mantinha um depósito às margens da ferrovia São Paulo – Rio Grande. O papel ficava no depósito e depois, de trem, era distribuído para os centros consumidores do país.
          Em 1947, foi iniciada a construção do prédio onde seria montada a primeira autoclave de cavacos. O prédio foi construído totalmente de pedras por funcionários da Irani como Antonio Sella, Antonio Silvestrim, Ernesto Prigol, João Panizza, Silvalino e outros. Todos profissionais no manejo de pedras.
          Em 1948, o Departamento de Águas do Ministério da Agricultura era encarregado de fiscalizar a obra. O engenheiro Waldemar de Carvalho deslocou-se do Rio de Janeiro para Campina da Alegria. Ao chegar ao salto, vendo a paisagem cheia de árvores e com muitas flores silvestres, logo percebeu a analogia com Flor de Maria (esposa de Alfredo Fedrizzi). Em sua homenagem registrou o salto (todas as quedas d’água que serviriam para a geração de energia deveriam ter um nome de registro) com o nome Flor do Mato, em homenagem à sua anfitriã. Também em 1948, a Celulose Irani encerrou a fabricação de papel com celulose importada.
          Em 1949, a Usina Flor do Mato já gerava a capacidade necessária para a fábrica e para as casas dos operários em Campina da Alegria. Até então, a energia elétrica provinha de um locomóvel (máquina a vapor sobre rodas). Nessa época, foi contratado o primeiro técnico e especialista na fabricação de celulose e ácido, Max Erold. Segundo Erold, ele foi o primeiro fabricante de celulose no Brasil. Cada cozimento de celulose durava até 12 horas para 80 metros cúbicos de cavacos.
          A década de 1950 caracteriza-se para a Irani pela superação das dificuldades impostas isolamento geográfico e das limitações tecnológicas e de mão-de-obra.
          Em meados de 1950 chegaram da França, as primeiras peças para a montagem de mais uma máquina de papel. Nesse ano, iniciaram-se também as obras de mais uma usina hidroelétrica, a São Luiz, em Ponte Serrada (SC), localidade próxima à Campina da Alegria. Após a montagem da Máquina II, foi concluída a primeira etapa da barragem e da tubulação da primeira turbina de geração de energia no Salto Flor do Mato.
          Em depoimento a Wálmaro Paz, Fedrizzi relata: “Construímos as autoclaves e a barragem no Salto Flor do Mato, onde instalamos dois grupos de geradores com capacidade de três mil quilowatts. Mais tarde, no Rio Irani, em São Luiz do Irani, construímos outra hidroelétrica com o dobro de capacidade. Então ficamos com uma boa potência hidroelétrica instalada”.
          No início do funcionamento da fábrica de celulose, Alfredo procurava comprar aparas de madeira das serrarias existentes na região e recolher pontas de pinheiros abandonadas na floresta. Durante muitos anos, ele consentiu o abate de pinheiros de propriedade da Celulose Irani, mas com um constante reflorestamento.
          Em 1953 iniciou a construção da Máquina de Papel II. Toda a escavação do local foi feita manualmente com pás e picaretas. A montagem foi feita pelos funcionários da Irani, Artur Jonson e os mecânicos Protásio Dosciatti, Silvio Zanonatto, Vitório Zanonnatto, Nelson Varaschim, Alcides Maestri e outros auxiliares. Em 1954, foi montada a Máquina III, que produzia celulose para ser vendida para outras empresas.
          Em 1957, no início da fabricação de celulose, não havia depósitos e por isso os picadores de madeira eram montados dentro dos barracões. Os cavacos eram transportados até os silos por meio de uma tubulação rústica com um ventilador. Quando os silos ficavam cheios, os picadores paravam.
Mais tarde, com novas técnicas, os picadores foram instalados no pátio de madeiras, e o depósito de lascas de madeira ficou ao ar livre.
          Em 1958, o escritório da empresa foi instalado em Vargem Bonita. No início de 1960, a área florestal da Irani começou a ser estabelecida, com sementes de pinus provenientes da Georgia, nos Estados Unidos. As mudas foram produzidas, no viveiro da empresa desde essa época. Inicialmente o preparo do solo era manual e, a partir de 1972, passou a ser mecanizado.
          A maior parte do papel produzido na época era levada para a cortadeira. O restante, para a rebobinadeira Cavalari (máquina italiana para fazer bobinas). Na cortadeira, os papéis eram cortados em vários formatos e, após esse processo passavam pela sala de escolha, onde eram contados em resmas. Depois de embalados, seguiam para as prensas e formavam fardos de aproximadamente 150 quilos cada.
          Os papéis eram transportados até Cruzeiro do Sul (atual Joaçaba), onde a empresa mantinha um depósito às margens da ferrovia São Paulo – Rio Grande. O papel ficava no depósito e depois, de trem, era distribuído para os centros consumidores do país.
          Os anos 1960 foram marcados pelo frio intenso. Em 1965, a neve que caiu chegou a formar 20 centímetros de gelo. A população da Vila Campina da Alegria nessa década era de 5 mil habitantes. Em
1967, caiu em Campina da Alegria a maior nevasca registrada na comunidade.
          Em 1970 depois de mais de 30 anos dedicados à Celulose Irani S.A., Alfredo Fedrizzi decide passar o cargo de administrador da fábrica para Edgar Fedrizzi. Os filhos, estavam todos casados e moravam longe, quase todos no Rio Grande do Sul. Vieram os netos. Muito apegado à família, Alfredo e sua esposa Flor de Maria resolveu mudar-se para Caxias do Sul, após serem homenageados pelos moradores de Campina da Alegria.
          Os cinco anos que deveria passar em Campina da Alegria se transformaram em 31, quase uma vida inteira de trabalho e dedicação. Mas, Alfredo não podia parar. Por isso, foi convidado pela direção da Celulose Irani, na qual já era um dos maiores acionistas, para fundar a Madeireira Rio Irani. Em 1972 é inaugurada a Madeireira Rio Irani Ltda. A Celulose Irani S.A. detinha 50% do capital e a Madezorzi os 50% restantes. A “Maderil”, como era conhecida pela comunidade foi instalada em Campina Redonda, localizada a 10 quilômetros de Campina da Alegria.
          A preocupação com o meio ambiente já existia desde os primeiros anos da Irani. No início do funcionamento da fábrica de celulose Alfredo não permitiu o desmatamento. Procurava comprar aparas de madeira das serrarias existentes na região e recolher pontas de pinheiros abandonadas no mato. Muito antes de existirem leis federais que impunham a plantação de novos pinheiros para cada abate, a Celulose Irani por iniciativa de Alfredo criou um viveiro de mudas de araucária e de espécies exóticas (Pinus Insignes – pinheiro do Chile). As mudas de Pinus Insignes vindas de São Paulo não conseguiram se adaptar ao clima local. Por isso, Alfredo apostou nas mudas de Pinus elliottii e taeda, que se aclimaram muito bem à região e que teriam sido as primeiras de Santa Catarina. Nessa época, reflorestamentos com Pinus elliottii e taeda começaram a ser implantados também na Serra Catarinense, pela Olinkraft.
          “Por volta de 1956 ou 1957 introduzi as primeiras mudas de Pinus insignes e araucárias. Conforme íamos cortando, plantávamos mais pinheiros. Quando saí de lá, em 1971, deixei plantadas mais de 10 milhões de árvores: pinheiros-brasileiros (araucárias), Pinus elliottii, taeda e eucalipto”, disse Alfredo Fedrizzi.
          Em 1975, a Irani inicia a montagem da quarta máquina de papel. Fabricada pela Voith para produzir papel FineKraft e FlashKraft, a MP IV ficou pronta em 1976, produzindo papel com uma velocidade de 80m/min. Também em 1975 é realizada a primeira colheita de madeira.
          O governo do Estado de Santa Catarina construiu um colégio num terreno doado pela empresa. Uma nova igreja foi concluída ainda na gestão de Alfredo. O velho armazém de madeira foi substituído por um moderno prédio de alvenaria em frente à praça e por uma quadra de futebol de salão. Pouco
antes de a família Fedrizzi sair de Campina da Alegria, já havia terminado a construção de um pequeno, mas moderno hospital, ao lado da igreja, cujo nome era Hospital Flor de Maria. Hoje no local há um Posto de Saúde.
          A partir de 1980, o desbaste sistemático de madeira passou a ser seletivo e terceirizado. Nessa mesma época, os caminhões utilizados no transporte da madeira começaram a ser traçados e o carregamento mecanizado, sendo terceirizado no final dessa década.
          Em 1982 são concluídas a fábrica de pasta químico-mecânica e a instalação da segunda Pequena Central Hidroelétrica (PcH) – Cristo Rei, localizada no município de Ponte Serrada (SC).
          Em 1994, o Grupo Habitasul de Participações S.A. assume o controle acionário da Celulose Irani S.A., dando início a um grande ciclo de crescimento.
          Fundada por Péricles de Freitas Druck, a Habitasul apresenta como principais áreas de atuação desenvolvimentos imobiliários e hotelaria e turismo, e tem como holding a CHP - Companhia Habitasul de Participações -, com ações negociadas na bolsas de valores. De origem gaúcha, a Habitasul mantém seu escritório central em Porto Alegre.
          Em 1996, a Irani adquire a Orprin Fábrica de Papelão Ondulado de Santana do Parnaíba, interior de São Paulo. Com a aquisição da nova unidade fabril de chapas e caixas de papelão ondulado, a Irani estabelece um novo marco no processo de verticalização da empresa, que passa a integrar toda a sua cadeia produtiva: da semente à embalagem, produto final destinado ao mercado de consumo.
          Em 1999, a Irani incorpora aos seus negócios, a Unidade Fabril Móveis, em Rio Negrinho (SC). A unidade fabrica móveis destinados exclusivamente aos mercados europeus e norte-americanos.
Os móveis são fabricados sob encomenda para exportação. A divisão móveis tem capacidade instalada para produzir até 800 metros cúbicos mensais. Utiliza como matéria-prima básica madeira de reflorestamento, manejada de acordo com os padrões e as exigências internacionais de preservação ambiental. O perfil da produção é composto por linhas de dormitórios, salas e móveis auxiliares de madeira maciça, atendendo a exigentes mercados mundiais.
          Em 2000, a Máquina de Papel número I passa por uma grande reforma. São instalados dois grupos de secagem e dupla filtragem na primeira prensa e um Klupack (equipamento que deixa o papel extensível, corrugado muito utilizado para sacarias pesadas como na indústria de cimento). Nesse
mesmo ano, são inauguradas a Máquina de Papel número V e a Unidade Fabril Embalagem SC, em Campina da Alegria.
          Em setembro de 2002, é incorporada aos negócios da Irani, a Unidade Fabril – Madeiras no Rio Grande do Sul, em São José do Norte.
          As unidades madeireiras da Irani (uma localizada em Vargem Bonita e outra em São José do Norte) produziam madeiras exclusivamente para atender demandas da fábrica de móveis em Rio Negrinho e para a exportação e mercado interno, respectivamente.
          Em 2004 é criado o departamento de Gestão Ambiental, visando o plano de desenvolvimento de projetos de melhoria ambiental.
           A Empresa conquista a aprovação do Instituto Adolfo Lutz para comercializar soluções de embalagens apropriadas para manter contato direto com alimento, o que assegura a presença de produtos com a marca Irani em grandes redes de fast food e padarias. Em 2004, a Irani já estava presente no mercado internacional, em países da Europa, Ásia, África e nos Estados Unidos 
          A Irani inaugura no dia 2 de junho de 2008, a nova unidade fabril de embalagem de papelão ondulado em Indaiatuba (SP).
          Em 2010, a empresa decide encerrar as operações da unidade móveis, em Rio Negrinho e atuar somente na comercialização de móveis por meio da loja digital Meu Móvel de Madeira. Em 2012, após
seis anos da criação da marca Meu Móvel de Madeira e da loja digital, a Irani decide vender a subsidiária para Ronald Heinrichs, ex-diretor de negócio móveis que integrou a Celulose Irani de 2009 a 2012. A MMM, hoje é uma referência no e-commerce de móveis sustentáveis.
          A Celulose Irani anunciou no dia 31 de janeiro de 2013, a celebração do Contrato de Arrendamento de Ativos e Outras Avenças e o Contrato de Reestruturação Operacional e Implantação de Novo Modelo de Gestão com a Indústria de Papel e Papelão São Roberto S.A., empresa com sede em São Paulo e unidades industriais instaladas em São Paulo (SP) e Santa Luzia (MG). A Indústria de
Papel e Papelão São Roberto S.A. foi adquirida pela CCI (Companhia Comercial de Imóveis), controladora indireta da Celulose Irani.
          O contrato de arrendamento destina-se apenas à planta industrial de produção de papel localizada em Minas Gerais. A unidade será utilizada para o desenvolvimento das atividades da companhia, relacionadas ao setor de celulose, papel para embalagens e embalagem de papelão ondulado. O contrato de arrendamento tem prazo de 120 (cento e vinte) meses com início em 1º de março de 2013 e término em 28 de fevereiro de 2023.
          Fazem parte da diretoria atualmente Péricles Pereira Druck, presidente do conselho de administração e Sérgio Luiz Cotrin Ribas, diretor presidente. 
          Desde 2018, o Grupo Habitasul está procurando comprador para a Celulose Irani. O ativo foi oferecido a concorrentes da companhia no Brasil e a investidores estrangeiros.
          Em 9 de dezembro de 2020, a Irani Papel e Embalagem comunicou ao mercado que a partir do dia 14 de dezembro as ações preferenciais da companhia deixarão de ser negociadas na B3. A companhia afirma ainda que a conversão dos papéis preferenciais em ordinários será creditada aos titulares em 15 de dezembro, concluindo a migração para o Novo Mercado.
(Fonte: site da empresa / IstoÉDinheiro - 13.02.2019 / Valor Investe - 09.12.2020- partes)