O Banco Fator foi fundado em 1967, inicialmente como uma corretora, que foi fundada por Ivan Sant'Anna, em sociedade com a financeira Decred. A Fator Corretora de Títulos S.A. foi fundada no Rio de Janeiro, na travessa do Ouvidor, dentro do conglomerado financeiro, comercial e industrial, conhecido como grupo Ducal.
De início, a corretora funcionava no jirau da loja da financeira Decred. Era somente o fundador, Ivan Sant'Anna, uma secretária e um office boy. Logo o espaço se mostrou insuficiente para a empresa, que se mudou para o número 19 da mesma travessa, onde ocupou um andar inteiro. Agora, havia vários operadores de pregão (Ivan, inclusive), operadores de telefone (que passavam ordens para a Bolsa), brokers, que se comunicavam com os clientes, back office, contabilidade etc. Sempre na travessa do Ouvidor, a corretora se mudou para o nº 23, ocupando todo o prédio (uns três ou quatro andares). Havia uma sala só para as meninas que passavam as ordens para a Bolsa, um salão para os assessores (que foi como a corretora passou a chamar os brokers), mesa de renda fixa, setores administrativos etc. A Fator saiu da travessa do Ouvidor e foi para a avenida Rio Branco, onde alugou, e reformou luxuosamente, dois andares no edifício Martinelli, ao lado do prédio do Jornal do Brasil.
A Fator era ligada a um enorme conglomerado, com cadeias de lojas de roupas (Ducal), de venda de eletrodomésticos (Bemoreira), de fábricas de ternos (Sparta), supermercado (Dado), fora uma série de empresas sediadas no Rio Grande do Norte, entre elas uma das maiores indústrias têxteis do país (Seridó).
Um bull market do mercado brasileiro de ações se iniciou no final de 1967 e foi até o segundo semestre de 1971. Na disparada da bolsa nacional, a Fator tinha que acompanhar o ritmo. Criou o Fundo Apollo de Investimentos, administrado por um sócio egípcio-israelense.
Num dos três andares ocupados pela empresa, funcionava a corretora. Dois andares acima, o fundo, com toda sua estrutura de vendas, além de uma lanchonete onde tudo era de graça para os corretores, que percorriam o Rio de Janeiro batendo de porta em porta. A Fator já tínhamos uns 200 funcionários.
Foi nessa ocasião (a Bolsa só subindo) que a Fator decidiu criar uma modalidade de investimento que consistia em planos de aplicações contratadas, por 60 meses, através de carnês. Os clientes-alvo eram bebês recém-nascidos. A coisa funcionava do seguinte modo: a corretora tinha agentes em maternidades e cartórios de registro civil que coletavam os nomes dos bebês que nasciam.
A Fator assinou contrato com uma multinacional fabricante de artigos de higiene infantil. Ela fornecia, de graça, a título promocional, talcos, xampus, cotonetes, escovinhas de cabelo, tudo isso embalado em graciosas caixas coloridas com os logotipos da empresa e do Apollo (um foguetinho), homenagem à primeira nave a chegar à Lua, em 1969.
Agora, imaginem só a cena: estando o bebê com uns 30 dias, chega na casa onde ele mora uma corretora ou corretor da Fator trazendo um lindo presente para a Soninha. Junto com o estojo, um carnê e um folheto explicativo de como se poderia, através do mercado de ações, garantir o futuro daquela criança. Bastava pagar as 60 parcelas e, com certeza, renová-las, já que a Bolsa de Valores iria subir para sempre – era o que se pensava na ocasião.
Os jornais da época publicavam o ranking dos fundos, não só suas rentabilidades como também os tamanhos de suas carteiras. No primeiro quesito, a Fator não fazia feio. No segundo, éramos disparados o maior. Graças a um estratagema de marketing de meu sócio egípcio: ao invés de passar a carteira do fundo, a empresa enviava às redações o total dos carnês programados, mesmo aqueles que ainda estavam na primeira ou segunda parcela.
Veio então a virada. Num determinado dia do final de 1971 a bolsa virou e tomou rumo sul. Com ela, o valor da cota do Apollo. Não houve jeito. Primeiro os clientes pararam de pagar os carnês. Depois foram à Fator resgatar o pouco que sobrara da queda. Um corretor plantonista ainda argumentava:
“Mas, meu amigo, é na baixa que se ganha dinheiro na Bolsa. Desista desse resgate, continue pagando suas prestações. Aos 18 anos seu filho terá uma pequena fortuna.” “Meu amigo é o cacete”, respondia o cliente. “Minha mulher e eu economizamos todo mês, já pusemos oitocentos cruzeiros em nome da Marilinha e agora a cota não vale nem duzentos. Passa isso logo para cá, antes que eu me aborreça.”
Foi assim que o Fundo Apollo foi morrendo aos poucos, até que acabou de vez. Muita gente nem foi pegar os trocados que sobraram.
“Mas, meu amigo, é na baixa que se ganha dinheiro na Bolsa. Desista desse resgate, continue pagando suas prestações. Aos 18 anos seu filho terá uma pequena fortuna.” “Meu amigo é o cacete”, respondia o cliente. “Minha mulher e eu economizamos todo mês, já pusemos oitocentos cruzeiros em nome da Marilinha e agora a cota não vale nem duzentos. Passa isso logo para cá, antes que eu me aborreça.”
Foi assim que o Fundo Apollo foi morrendo aos poucos, até que acabou de vez. Muita gente nem foi pegar os trocados que sobraram.
Pois bem, os bebês de 1971 tinham, em 2021, 50 anos de idade. Ivan Sant'Anna diz não conhecer nenhum deles. Ou até pode ser que conheça sem saber. De uma coisa, ele tem certeza. Ou, melhor, quase certeza. Se o Fundo Apollo tivesse durado até hoje, tendo atravessado todos os bull e bear markets da Bolsa nesses últimos cinquenta anos, transposto a hiperinflação, com suas tablitas e confiscos, o cotista recém-nascido de 1971 poderia estar bem de vida graças a ele.
Em 11 de maio de 1977, o Banco Central decretou intervenção no Banco Independência, intervindo no grupo Independência (o antigo Ducal), do qual a corretora Fator fazia parte.
Em 11 de maio de 1977, o Banco Central decretou intervenção no Banco Independência, intervindo no grupo Independência (o antigo Ducal), do qual a corretora Fator fazia parte.
O Independência vendera CDBs do banco para diversos clientes, mas o Banco Central o desobrigou a reembolsá-los, já que não eram papéis de sua emissão. O Independência tinha agido apenas como intermediário.
Mas, Ivan Sant'Anna disse o seguinte: "Acontece que eu tinha um sério problema de consciência. Meus clientes haviam adquirido papéis Ivan Sant’Anna e não Independência. Eles confiavam em mim.
Naquela noite, ao chegar em casa, fiz algumas contas e concluí que meu dinheiro pessoal dava para reembolsar todo mundo. Só que ficaria sem nada, com exceção de nossa casa, por sinal financiada pelo Banco Nacional da Habitação – BNH. Minha mulher concordou que era melhor pagar todo mundo e ir à luta. Procurar um emprego, como as pessoas normais fazem nessas horas. Aliás, ela já tinha o dela, como professora universitária. Pois bem. Paguei".
Mas, Ivan Sant'Anna disse o seguinte: "Acontece que eu tinha um sério problema de consciência. Meus clientes haviam adquirido papéis Ivan Sant’Anna e não Independência. Eles confiavam em mim.
Naquela noite, ao chegar em casa, fiz algumas contas e concluí que meu dinheiro pessoal dava para reembolsar todo mundo. Só que ficaria sem nada, com exceção de nossa casa, por sinal financiada pelo Banco Nacional da Habitação – BNH. Minha mulher concordou que era melhor pagar todo mundo e ir à luta. Procurar um emprego, como as pessoas normais fazem nessas horas. Aliás, ela já tinha o dela, como professora universitária. Pois bem. Paguei".
Como Sant'Anna ainda era dono da carta patente da corretora Fator, e de uma distribuidora do mesmo nome, usou de um estratagema para vendê-las por um bom preço. Pediu a um amigo banqueiro que lhe fizesse uma proposta, por escrito, de compra das duas cartas patentes. Não lembra mais do preço, mas era algo como 400 mil dólares, em valores de hoje. Cada pretendente que chegava com uma oferta menor, ele exibia a carta do banqueiro. “Já tenho essa proposta aqui”, ele dizia. Assim, acabei vendendo corretora e distribuidora por um valor maior, valor esse que lhe permitiria viver uns dois ou três anos sem maiores preocupações.
A concretização da venda da corretora Fator, por Ivan Sant'Anna, ocorreu em 1979.
O Fator transformou-se em banco múltiplo em 1990, quando deixou de ser apenas uma corretora.
Em fevereiro de 1993, depois de dezessete anos como braço direito de Abilio Diniz no grupo Pão de Açúcar, o executivo Sylvio Luiz Bresser Pereira resolveu ser patrão de si próprio. Desde o início daquele mês, ele ocupou a cadeira de sócio-diretor do banco múltiplo Fator, com sede no Rio de Janeiro. No Fator, Sylvio Luiz tinha cinco sócios, com participações praticamente equivalentes.
Hoje, como Banco Fator, a empresa é sediada no bairro Itaim Bibi, em São Paulo.
Hoje, como Banco Fator, a empresa é sediada no bairro Itaim Bibi, em São Paulo.
As principais especialidades do Fator são Investment Banking, Private Banking, Seguros Corporativos, Gestão de Recursos, Intermediação de Títulos e Valores Mobiliários e Fusões & Aquisições.
O Fator é um conglomerado financeiro que visa atender os desafios de seus clientes, especialmente empresas de médio e pequeno portes. A Fator Administração de Recursos faz gestão ativa de fundos de investimento. A Fator Corretora executa intermediação de operações na Bolsa de Valores, com atendimento especializado e completo portfólio de produtos para a execução das estratégias de investimentos dos clientes.
Desde 2008, a Fator Seguradora atua com especialização no mercado de seguros de infraestrutura e seguros financeiros estruturados.
Em maio de 2021, o Banco Fator vendeu a sua corretora para o BTG Pactual.
Em junho de 2021, o Banco Fator nomeou João Antonio Lopes à presidência da instituição. Sob novo comando, o Banco Fator quer voltar no tempo. A nomeação de Lopes é simbólica dessa jornada que redireciona o grupo para atividades de mercado de capitais e reconstrói o modelo de “partnership”. O economista Gabriel Galípolo deixou a instituição após quase quatro anos na liderança.
Lopes já estava no conselho de administração desde o ano passado, mas muito antes disso, em 1996, foi o responsável pela criação do segmento corporate, quando havia apenas a corretora e Walter Appel, hoje controlador, era um acionista minoritário na sociedade, com oito sócios.
A venda da Fator Corretora para o BTG Pactual, em maio de 2021, já foi parte desse redesenho do qual Lopes participou. Embora não abra o valor da transação, os recursos, segundo o executivo, vão ter um efeito saneador no balanço e deixar para trás uma sequência de prejuízos. O banco fechou 2020 com R$ 29,2 milhões negativos, sendo que a corretora sozinha teve perda líquida de R$ 11,2 milhões.
(Fonte: revista Exame - 03.03.1993 / LinkedIn / ValorInveste - 23.06.2021 / 06.07.2021 / Mercadores da Noite/Inversa - 23.10.2021 / 15.11.2021 - partes)
(Fonte: revista Exame - 03.03.1993 / LinkedIn / ValorInveste - 23.06.2021 / 06.07.2021 / Mercadores da Noite/Inversa - 23.10.2021 / 15.11.2021 - partes)
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