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5 de nov. de 2020

Celulose Irani

          Em 1939 e 1940, com o início da Segunda Guerra Mundial começavam as dificuldades para exportações e importações de produtos industrializados. O Brasil importava muito papel e pasta de celulose, e o produto estava com dificuldade de chegar aos portos brasileiros. Surge assim, um novo ramo industrial, o de papel e celulose.
          Diante deste contexto, no Rio Grande do Sul, a Companhia Vinícola Rio Grandense de Caxias do Sul viu o mercado de vinhos finos diminuir. Como detinha boa reserva de capital, decidiu investir em outro mercado: o de papel e celulose.
          Para um estudo de viabilização, os diretores da vinícola, Galeazzo Paganelli e José Moraes Vellinho resolveram enviar um emissário em busca de pinheirais nos estados do Paraná e de Santa Catarina. Essa tarefa foi atribuída a Alfredo Fedrizzi, homem de confiança que durante onze anos provara sua dedicação e sua habilidade na sociedade Vinícola Rio Grandense.
          Na madrugada de um dia de inverno em 1940, Alfredo Fedrizzi como líder da expedição, acompanhado de Paulo Pasquali e dos técnicos em araucária João Turra e Emílio Tedesco, partiu rumo ao Oeste de Santa Catarina e posteriormente ao Paraná. A missão do grupo era reconhecer duas fazendas oferecidas à Vinícola Rio Grandense para construir a fábrica de papel.
          O local escolhido foi a Fazenda São João do Irani, no município de Cruzeiro do Sul, em Santa Catarina. Faltava implantar a fábrica. Tarefa difícil, pois na região não havia estradas. O último marco de civilização era Vargem Bonita a 25 quilômetros de distância.
          No início de 1941, em Campina da Anta (local da Fazenda São João do Irani), Fedrizzi construiu o primeiro rancho de madeira lascada a machado à beira do Rio da Anta, pequeno afluente do Rio do Mato. Segundo relatos, Fedrizzi gostava muito de batizar os locais e os animais e por isso mudou o nome do local para Campina da Alegria, nome usado até hoje. Na mesma época, iniciou, à base de pás, picaretas e carrinho de mão a construção de uma estrada de 25 quilômetros, em plena mata fechada. Após 10 meses de trabalho a estrada estava pronta com dois metros de largura.
          Em 6 de junho de 1941, depois de grande jornada, Fedrizzi fez surgir a fábrica de papel que recebeu o nome de Celulose Irani Ltda. A construção do primeiro prédio da Celulose Irani iniciou em 1942, ano em que a olaria já estava em funcionamento. Além dos tijolos, a olaria fornecia telhas e a serraria, as madeiras para a construção da fábrica. Em 1942 foram instalados os primeiros equipamentos industriais: um britador com acionamento hidráulico, as primeiras caldeiras “J. Martins” e a primeira máquina a vapor para geração de energia.
          Após o atraso por causa da guerra, em 1943 foi instalado o primeiro desfibrador a vapor para a fabricação da primeira pasta mecânica. No final de 1943 e início de 1944, foi montada ao lado das caldeiras, outra máquina a vapor chamada Béllis. Era uma máquina usada em navio. Essa máquina, além de fornecer energia para a fábrica, tocava dois geradores que acionariam mais tarde, a primeira máquina de papel.
          Como curiosidade, em 1943 a temperatura baixou para 12 graus negativos. Os tijolos então, muito úmidos com o frio, desmanchavam-se, esfarelavam-se, era preciso fabricá-los novamente. Na olaria, no inverno, o sol chegava à tarde. A sua volta havia apenas mata virgem. Em 1944 iniciou a produção de papel com a utilização da Máquina de Papel número I, inaugurada por Nereu Ramos, então governador do Estado de Santa Catarina. A fábrica começou o seu funcionamento sem produzir celulose, usando papéis velhos e pasta mecânica.
          O primeiro papel, feito com celulose importada e pasta mecânica, foi vendido à Editora Globo, que imprimiu com ele o romance “Um olhar para a Vida”, de Maria Luiza Cordeiro.
          Em 1945, depois de uma visita de “associados” da empresa, Alfredo Fedrizzi iniciou a construção de uma represa e de uma usina de geração de energia no Salto Flor do Mato, em Campina da Alegria.
Nessa época a energia elétrica era gerada por uma termoelétrica própria, acionada à lenha que produzia vapor para abastecer a indústria.
          A maior parte do papel produzido na época era levada para a cortadeira. O restante, para a rebobinadeira Cavalari (máquina italiana para fazer bobinas). Na cortadeira, os papéis eram cortados em vários formatos, e, após esse processo passavam pela sala de escolha, onde eram contados em resmas. Depois de embalados, seguiam para as prensas e formavam fardos de aproximadamente 150 quilos cada.
          Os papéis eram transportados até Cruzeiro do Sul (atual Joaçaba), onde a empresa mantinha um depósito às margens da ferrovia São Paulo – Rio Grande. O papel ficava no depósito e depois, de trem, era distribuído para os centros consumidores do país.
          Em 1947, foi iniciada a construção do prédio onde seria montada a primeira autoclave de cavacos. O prédio foi construído totalmente de pedras por funcionários da Irani como Antonio Sella, Antonio Silvestrim, Ernesto Prigol, João Panizza, Silvalino e outros. Todos profissionais no manejo de pedras.
          Em 1948, o Departamento de Águas do Ministério da Agricultura era encarregado de fiscalizar a obra. O engenheiro Waldemar de Carvalho deslocou-se do Rio de Janeiro para Campina da Alegria. Ao chegar ao salto, vendo a paisagem cheia de árvores e com muitas flores silvestres, logo percebeu a analogia com Flor de Maria (esposa de Alfredo Fedrizzi). Em sua homenagem registrou o salto (todas as quedas d’água que serviriam para a geração de energia deveriam ter um nome de registro) com o nome Flor do Mato, em homenagem à sua anfitriã. Também em 1948, a Celulose Irani encerrou a fabricação de papel com celulose importada.
          Em 1949, a Usina Flor do Mato já gerava a capacidade necessária para a fábrica e para as casas dos operários em Campina da Alegria. Até então, a energia elétrica provinha de um locomóvel (máquina a vapor sobre rodas). Nessa época, foi contratado o primeiro técnico e especialista na fabricação de celulose e ácido, Max Erold. Segundo Erold, ele foi o primeiro fabricante de celulose no Brasil. Cada cozimento de celulose durava até 12 horas para 80 metros cúbicos de cavacos.
          A década de 1950 caracteriza-se para a Irani pela superação das dificuldades impostas isolamento geográfico e das limitações tecnológicas e de mão-de-obra.
          Em meados de 1950 chegaram da França, as primeiras peças para a montagem de mais uma máquina de papel. Nesse ano, iniciaram-se também as obras de mais uma usina hidroelétrica, a São Luiz, em Ponte Serrada (SC), localidade próxima à Campina da Alegria. Após a montagem da Máquina II, foi concluída a primeira etapa da barragem e da tubulação da primeira turbina de geração de energia no Salto Flor do Mato.
          Em depoimento a Wálmaro Paz, Fedrizzi relata: “Construímos as autoclaves e a barragem no Salto Flor do Mato, onde instalamos dois grupos de geradores com capacidade de três mil quilowatts. Mais tarde, no Rio Irani, em São Luiz do Irani, construímos outra hidroelétrica com o dobro de capacidade. Então ficamos com uma boa potência hidroelétrica instalada”.
          No início do funcionamento da fábrica de celulose, Alfredo procurava comprar aparas de madeira das serrarias existentes na região e recolher pontas de pinheiros abandonadas na floresta. Durante muitos anos, ele consentiu o abate de pinheiros de propriedade da Celulose Irani, mas com um constante reflorestamento.
          Em 1953 iniciou a construção da Máquina de Papel II. Toda a escavação do local foi feita manualmente com pás e picaretas. A montagem foi feita pelos funcionários da Irani, Artur Jonson e os mecânicos Protásio Dosciatti, Silvio Zanonatto, Vitório Zanonnatto, Nelson Varaschim, Alcides Maestri e outros auxiliares. Em 1954, foi montada a Máquina III, que produzia celulose para ser vendida para outras empresas.
          Em 1957, no início da fabricação de celulose, não havia depósitos e por isso os picadores de madeira eram montados dentro dos barracões. Os cavacos eram transportados até os silos por meio de uma tubulação rústica com um ventilador. Quando os silos ficavam cheios, os picadores paravam.
Mais tarde, com novas técnicas, os picadores foram instalados no pátio de madeiras, e o depósito de lascas de madeira ficou ao ar livre.
          Em 1958, o escritório da empresa foi instalado em Vargem Bonita. No início de 1960, a área florestal da Irani começou a ser estabelecida, com sementes de pinus provenientes da Georgia, nos Estados Unidos. As mudas foram produzidas, no viveiro da empresa desde essa época. Inicialmente o preparo do solo era manual e, a partir de 1972, passou a ser mecanizado.
          A maior parte do papel produzido na época era levada para a cortadeira. O restante, para a rebobinadeira Cavalari (máquina italiana para fazer bobinas). Na cortadeira, os papéis eram cortados em vários formatos e, após esse processo passavam pela sala de escolha, onde eram contados em resmas. Depois de embalados, seguiam para as prensas e formavam fardos de aproximadamente 150 quilos cada.
          Os papéis eram transportados até Cruzeiro do Sul (atual Joaçaba), onde a empresa mantinha um depósito às margens da ferrovia São Paulo – Rio Grande. O papel ficava no depósito e depois, de trem, era distribuído para os centros consumidores do país.
          Os anos 1960 foram marcados pelo frio intenso. Em 1965, a neve que caiu chegou a formar 20 centímetros de gelo. A população da Vila Campina da Alegria nessa década era de 5 mil habitantes. Em
1967, caiu em Campina da Alegria a maior nevasca registrada na comunidade.
          Em 1970 depois de mais de 30 anos dedicados à Celulose Irani S.A., Alfredo Fedrizzi decide passar o cargo de administrador da fábrica para Edgar Fedrizzi. Os filhos, estavam todos casados e moravam longe, quase todos no Rio Grande do Sul. Vieram os netos. Muito apegado à família, Alfredo e sua esposa Flor de Maria resolveu mudar-se para Caxias do Sul, após serem homenageados pelos moradores de Campina da Alegria.
          Os cinco anos que deveria passar em Campina da Alegria se transformaram em 31, quase uma vida inteira de trabalho e dedicação. Mas, Alfredo não podia parar. Por isso, foi convidado pela direção da Celulose Irani, na qual já era um dos maiores acionistas, para fundar a Madeireira Rio Irani. Em 1972 é inaugurada a Madeireira Rio Irani Ltda. A Celulose Irani S.A. detinha 50% do capital e a Madezorzi os 50% restantes. A “Maderil”, como era conhecida pela comunidade foi instalada em Campina Redonda, localizada a 10 quilômetros de Campina da Alegria.
          A preocupação com o meio ambiente já existia desde os primeiros anos da Irani. No início do funcionamento da fábrica de celulose Alfredo não permitiu o desmatamento. Procurava comprar aparas de madeira das serrarias existentes na região e recolher pontas de pinheiros abandonadas no mato. Muito antes de existirem leis federais que impunham a plantação de novos pinheiros para cada abate, a Celulose Irani por iniciativa de Alfredo criou um viveiro de mudas de araucária e de espécies exóticas (Pinus Insignes – pinheiro do Chile). As mudas de Pinus Insignes vindas de São Paulo não conseguiram se adaptar ao clima local. Por isso, Alfredo apostou nas mudas de Pinus elliottii e taeda, que se aclimaram muito bem à região e que teriam sido as primeiras de Santa Catarina. Nessa época, reflorestamentos com Pinus elliottii e taeda começaram a ser implantados também na Serra Catarinense, pela Olinkraft.
          “Por volta de 1956 ou 1957 introduzi as primeiras mudas de Pinus insignes e araucárias. Conforme íamos cortando, plantávamos mais pinheiros. Quando saí de lá, em 1971, deixei plantadas mais de 10 milhões de árvores: pinheiros-brasileiros (araucárias), Pinus elliottii, taeda e eucalipto”, disse Alfredo Fedrizzi.
          Em 1975, a Irani inicia a montagem da quarta máquina de papel. Fabricada pela Voith para produzir papel FineKraft e FlashKraft, a MP IV ficou pronta em 1976, produzindo papel com uma velocidade de 80m/min. Também em 1975 é realizada a primeira colheita de madeira.
          O governo do Estado de Santa Catarina construiu um colégio num terreno doado pela empresa. Uma nova igreja foi concluída ainda na gestão de Alfredo. O velho armazém de madeira foi substituído por um moderno prédio de alvenaria em frente à praça e por uma quadra de futebol de salão. Pouco
antes de a família Fedrizzi sair de Campina da Alegria, já havia terminado a construção de um pequeno, mas moderno hospital, ao lado da igreja, cujo nome era Hospital Flor de Maria. Hoje no local há um Posto de Saúde.
          A partir de 1980, o desbaste sistemático de madeira passou a ser seletivo e terceirizado. Nessa mesma época, os caminhões utilizados no transporte da madeira começaram a ser traçados e o carregamento mecanizado, sendo terceirizado no final dessa década.
          Em 1982 são concluídas a fábrica de pasta químico-mecânica e a instalação da segunda Pequena Central Hidroelétrica (PcH) – Cristo Rei, localizada no município de Ponte Serrada (SC).
          Em 1994, o Grupo Habitasul de Participações S.A. assume o controle acionário da Celulose Irani S.A., dando início a um grande ciclo de crescimento.
          Fundada por Péricles de Freitas Druck, a Habitasul apresenta como principais áreas de atuação desenvolvimentos imobiliários e hotelaria e turismo, e tem como holding a CHP - Companhia Habitasul de Participações -, com ações negociadas na bolsas de valores. De origem gaúcha, a Habitasul mantém seu escritório central em Porto Alegre.
          Em 1996, a Irani adquire a Orprin Fábrica de Papelão Ondulado de Santana do Parnaíba, interior de São Paulo. Com a aquisição da nova unidade fabril de chapas e caixas de papelão ondulado, a Irani estabelece um novo marco no processo de verticalização da empresa, que passa a integrar toda a sua cadeia produtiva: da semente à embalagem, produto final destinado ao mercado de consumo.
          Em 1999, a Irani incorpora aos seus negócios, a Unidade Fabril Móveis, em Rio Negrinho (SC). A unidade fabrica móveis destinados exclusivamente aos mercados europeus e norte-americanos.
Os móveis são fabricados sob encomenda para exportação. A divisão móveis tem capacidade instalada para produzir até 800 metros cúbicos mensais. Utiliza como matéria-prima básica madeira de reflorestamento, manejada de acordo com os padrões e as exigências internacionais de preservação ambiental. O perfil da produção é composto por linhas de dormitórios, salas e móveis auxiliares de madeira maciça, atendendo a exigentes mercados mundiais.
          Em 2000, a Máquina de Papel número I passa por uma grande reforma. São instalados dois grupos de secagem e dupla filtragem na primeira prensa e um Klupack (equipamento que deixa o papel extensível, corrugado muito utilizado para sacarias pesadas como na indústria de cimento). Nesse
mesmo ano, são inauguradas a Máquina de Papel número V e a Unidade Fabril Embalagem SC, em Campina da Alegria.
          Em setembro de 2002, é incorporada aos negócios da Irani, a Unidade Fabril – Madeiras no Rio Grande do Sul, em São José do Norte.
          As unidades madeireiras da Irani (uma localizada em Vargem Bonita e outra em São José do Norte) produziam madeiras exclusivamente para atender demandas da fábrica de móveis em Rio Negrinho e para a exportação e mercado interno, respectivamente.
          Em 2004 é criado o departamento de Gestão Ambiental, visando o plano de desenvolvimento de projetos de melhoria ambiental.
           A Empresa conquista a aprovação do Instituto Adolfo Lutz para comercializar soluções de embalagens apropriadas para manter contato direto com alimento, o que assegura a presença de produtos com a marca Irani em grandes redes de fast food e padarias. Em 2004, a Irani já estava presente no mercado internacional, em países da Europa, Ásia, África e nos Estados Unidos 
          A Irani inaugura no dia 2 de junho de 2008, a nova unidade fabril de embalagem de papelão ondulado em Indaiatuba (SP).
          Em 2010, a empresa decide encerrar as operações da unidade móveis, em Rio Negrinho e atuar somente na comercialização de móveis por meio da loja digital Meu Móvel de Madeira. Em 2012, após
seis anos da criação da marca Meu Móvel de Madeira e da loja digital, a Irani decide vender a subsidiária para Ronald Heinrichs, ex-diretor de negócio móveis que integrou a Celulose Irani de 2009 a 2012. A MMM, hoje é uma referência no e-commerce de móveis sustentáveis.
          A Celulose Irani anunciou no dia 31 de janeiro de 2013, a celebração do Contrato de Arrendamento de Ativos e Outras Avenças e o Contrato de Reestruturação Operacional e Implantação de Novo Modelo de Gestão com a Indústria de Papel e Papelão São Roberto S.A., empresa com sede em São Paulo e unidades industriais instaladas em São Paulo (SP) e Santa Luzia (MG). A Indústria de
Papel e Papelão São Roberto S.A. foi adquirida pela CCI (Companhia Comercial de Imóveis), controladora indireta da Celulose Irani.
          O contrato de arrendamento destina-se apenas à planta industrial de produção de papel localizada em Minas Gerais. A unidade será utilizada para o desenvolvimento das atividades da companhia, relacionadas ao setor de celulose, papel para embalagens e embalagem de papelão ondulado. O contrato de arrendamento tem prazo de 120 (cento e vinte) meses com início em 1º de março de 2013 e término em 28 de fevereiro de 2023.
          Fazem parte da diretoria atualmente Péricles Pereira Druck, presidente do conselho de administração e Sérgio Luiz Cotrin Ribas, diretor presidente. 
          Desde 2018, o Grupo Habitasul está procurando comprador para a Celulose Irani. O ativo foi oferecido a concorrentes da companhia no Brasil e a investidores estrangeiros.
          Em 9 de dezembro de 2020, a Irani Papel e Embalagem comunicou ao mercado que a partir do dia 14 de dezembro as ações preferenciais da companhia deixarão de ser negociadas na B3. A companhia afirma ainda que a conversão dos papéis preferenciais em ordinários será creditada aos titulares em 15 de dezembro, concluindo a migração para o Novo Mercado.
(Fonte: site da empresa / IstoÉDinheiro - 13.02.2019 / Valor Investe - 09.12.2020- partes)

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