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3 de out. de 2011

Sharp (grupo Machline)

          A empresa Sharp Corporation foi fundada em Tokyo em 1912, mas, depois que o negócio do lápis foi destruído pelo Grande sismo de Kantô em 1923, a empresa mudou para Osaka e começou a projetar os primeiros sistemas de rádio japoneses. Até hoje, já fabricou vários tipos de produtos: por exemplo, rádios, televisores, fornos micro-ondas, calculadoras, fotocopiadoras, leitores de DVD e home theater.
          A origem do nome vem de uma lapiseira. Em 1915, Hayakawa Tokuji, com 21 anos, inventou um lápis mecânico, ou lapiseira, que foi comercializada com o nome lápis Ever-Ready Sharp (ou lápis sempre apontado, em tradução livre). Hayakawa viria a fundar a companhia com o nome Sharp.
          Colaborou na fabricação do MSX, um computador que existiu na década de 1980, juntamente com outras empresas.
          Bo Brasil, a Sharp foi criada na década de 1960 pelo empresário gaúcho de Bagé Matias Machline e alcançou um bom naco de mercado no seu setor de atuação (som e televisores). Machline era a Sharp e a Sharp era Machline. Vendedor de máquinas de calcular em Porto Alegre nos anos 1950, ele ergueu em 30 anos um império que chegou a reunir 44 empresas e faturar 1 bilhão de dólares.
          A Sharp do Brasil começou a produzir seus primeiros televisores em 1972, quando os fornecedores americanos dominavam o mercado e os produtos made in Japan eram pouco conhecidos. Em 1992, a Sharp, uma das então 42 empresas do Grupo Machline era líder nacional em videocassetes e fornos de microondas e estava colada na Philips na disputa pelo primeiro lugar nos aparelhos de TV em cores. Matias Machline, costumava, orgulhoso, dizer que durante os vinte anos de sua parceria com a Sharp Corporation foi a marca japonesa que cresceu à sua sombra - e não o contrário.
          Em 1992, quando a Sharp do Japão detinha cerca de 15% da companhia de Machline, técnicos japoneses assessoravam a Sharp Brasil para implementação de programas de melhorias. Eles desembarcaram na empresa em outubro de 1991, quando já se vislumbrava o resultado desastroso que a empresa colheria naquele ano. Se conseguisse passar a tesoura em toda a gastança que tornava seus produtos pouco competitivos, a Sharp chegaria a 1994 numa situação privilegiada. Nesse ano, as alíquotas de importação cairiam 30%.
          Em setembro de 1993, entrou como superintendente da empresa o forasteiro gaúcho Mauro Gonçalves Marques, recrutado da Ripasa. Não de certo. "A Sharp sempre teve uma administração informal, todos se reportavam a meu pai, disse José Maurício. "Um executivo de fora, com outra cultura, sempre terá dificuldade de adaptar-se às normas da casa."
          O executivo Jorge Roberto do Carmo, de carreira no grupo, assumiu a superintendência em março de 1994, depois da curta e tumultuada gestão de Paulo Marques. Carmo se incumbiu de sanear a administração. O grupo tinha 34 empresas no início de 1994. Em agosto, passou a ter 24 empresas, depois de um processo de incorporação ou simples fechamento de unidades.
           A Sharp do poderoso chefão Machline, que havia decolado na época do milagre econômico e, com seu braço na informática, a Sid, tirara bom proveito da reserva de mercado. No início dos anos 1990, porém, o grupo foi duplamente golpeado: pela recessão econômica e pela abertura do mercado.           Em agosto de 1994, quando o helicóptero em que Machline viajava com a segunda mulher, Marina Araújo, sofreu uma pane na rota entre Nova York e Atlantic City, matando o empresário e esposa, a Sharp procurava reestruturar-se para se adaptar aos novos tempos.
          Naquele momento, a brutal morte do empresário foi mais que uma tragédia familiar. Sucessor natural de Machline, o primogênito José Maurício assumiu a presidência cercado de desconfianças quanto a sua vocação para os negócios. O descrédito aumentou em fevereiro de 1995 quando Jorge Roberto do Carmo, o principal executivo do grupo, foi demitido por entrar em choque com José Maurício.
          O "choque" foi algo sui generis. Quando Jorge Roberto do Carmo voltou de férias (fevereiro de 1995), soube que José Maurício Machline pretendia deixar a presidência do conselho de administração do grupo. Sua reação: "Só aceito o Jorge ou quem o Jorge indicar na presidência do conselho". Ele disse isso a Machline (José Maurício), que afirma ter pensado na hora o seguinte: "Que Jorge, o Benjor?". O Jorge, no caso, era o próprio executivo. O episódio terminou com a demissão de Carmo.
          Pouco tempo depois, José Maurício deixou a presidência para dedicar-se ao que mais lhe interessava: os ajitos culturais, como apresentador de televisão e produtor musical. Para o seu lugar, foi trazido dos Estados Unidos o ex-ministro da agricultura no governo Figueiredo, Amaury Stábile, um amigo da família e então empregado no escritório da Sharp em Nova York.
          A ascensão do filho Sérgio Alexandre, em abril de 1996, se deu por consenso entre os herdeiros. Além dele e de José Maurício, Machline teve mais dois filhos - Carlos Aberto e Paulo Ricardo - com Carmem, sua primeira esposa, e uma filha, Sofia, no segundo casamento, com Marina Araújo.
          Ao assumir a presidência , Sérgio deu continuidade ao programa de reorganização que fora desenhado por Matias. O grupo reduziu seus quadros dos 15000 funcionários que tinha em 1988 para os 4300 dez anos depois. Com a reestruturação e um mercado favorável após o Real, a empresa voltou ao lucro a partir de 1994.
          No início de abril de 1997, Manoel Horácio Francisco da Silva deixou a presidência corporativa do grupo Sharp. Segundo Sérgio Machline, presidente do conselho de administração da Sharp, a decisão foi parte de um acordo firmado com o próprio conselho em agosto de 1995. De acordo com Machline, o acordo previa que Silva estaria à frente da presidência corporativa da empresa até a consolidação do processo de reestruturação (que estava quase consolidado).
          Em setembro de 1998, a família Machline detinha 76,5% do capital votante da holding que controla a Sharp e a Sid Informática. As ações estavam repartidas igualmente entre Sérgio, Carlos Aberto, Paulo Ricardo e Sofia. José Maurício vendera sua parte aos irmãos. O grupo tinha também sócios de expressão. O Bradesco detinha 18% do capital votante da holding. Na divisão de produtos eletrônicos de consumo o sócio era a japonesa Sharp Corporation, com pouco menos de 13% das ações.
          Em junho de 1998, a dívida era de 271 milhões de reais. Um ano depois - em parte devido à desvalorização cambial - subia para 447 milhões. Naquele ano (1999), a Sharp fabricou apenas 450.000 televisores - o equivalente a 15% de sua capacidade total de produção.
          Diante dessa situação, o relacionamento com a japonesa Sharp Corporation, dona de 12% da empresa, deteriorou com a redução no fornecimento de componentes para a fabricação dos aparelhos de TV.
          Em fevereiro de 2000, membros da diretoria da Sharp reuniram alguns funcionários para comunicar um assunto que estava sendo tratado já há algum tempo: um projeto de fusão com CCE e Gradiente, empresas também com dívidas problemáticas. O clima era de otimismo. Eles sabiam que a fusão era a única salvação para a empresa. Mas a fusão não aconteceu.
          Em 2002, a Sharp (do Brasil) teve sua falência decretada.
          Em 19 de agosto de 2011, a Sharp Corporation estabeleceu sua primeira subsidiária oficial de vendas no Brasil após fazer a aquisição da empresa MPE (Mitsui Produtos Eletrônicos), que detinha a representação da marca desde 2007.
          Com uma atuação mais tímida, a Sharp Brasil atua no mercado Corporativo com impressoras multifuncionais, monitores digitais interativos, purificadores e ionizadores de ar e monitores de tela grande. Seus principais produtos da linha branca e linha marrom ainda não voltaram a circular pelo país.
          Assim como a Philips, que vendeu sua divisão de televisores para o conglomerado chinês dono da AOC, chega a vez da Sharp/Foxconn fazer o mesmo para a também chinesa Hisense. 2016 marca o fim da fabricação de televisores pela Sharp nas Américas. Entretanto, como também aconteceu com a Philips, a Hisense deve continuar o utilizando o nome Sharp por um período até se firmar no mercado.
(Fonte: revista Exame - 22.07.1992 / 31.08.1994 / 22.05.1996 / Folha de S.Paulo - 03.04.1997 / Exame - 07.10.1998 / 23.03.2000 / Wikipédia - partes)

2 comentários:

VERDESGATOS disse...

Ainda existe algo de Sharp no Brasil ?

Origem das Marcas disse...

Complementamos o texto, a partir da decretação de falência da Sharp (do Brasil) em 2002.