Com a proposta de facilitar a comercialização de carros usados nos Estados Unidos, surgiu, em 2012, a Carvana, uma plataforma online. Foi fundada por Ernest Garcia pai e Ernest Garcia Filho. Dado que o potencial de uma nova empresa é proporcional ao valor agregado percebido pelos consumidores, o mercado endereçável americano de 290 milhões de veículos apresentava-se com uma oportunidade formidável. A fim de aliviar a dor dos potenciais clientes, a Carvana desenvolveu um modelo de negócios robusto, fornecendo uma solução ponta a ponta, incluindo inspeção, reparo, recondicionamento, showrooms, estoque de peças e financiamento. Para os compradores, a plataforma verticalmente integrada da Carvana oferecia carros a preços mais competitivos por conta de seu baixo custo operacional já com financiamento pré-aprovado, além de ter uma oferta muito mais ampla do que os competidores tradicionais. Para vendedores, a Carvana eliminava a necessidade de visitar uma concessionária ou negociar uma venda particular. E bastava responder a algumas perguntas sobre a condição e as características do veículo para receber uma oferta firme. A empresa abriu capital em 2017. Em 2020, como resposta às medidas restritivas de combate à pandemia, a Carvana anunciou o serviço de "touchless delivery and pickup", permitindo total autosserviço por parte dos clientes. Com lojas e concessionárias fechadas, compradores e vendedores encontraram na Carvana a solução dos seus problemas e o negócio decolou de vez. O sucesso foi total. A empresa entrou no seleto grupo das beneficiadas do mercado projetado como o novo normal. Seguindo o exemplo de empresas como Zoom, Robinhood, Moderna e Peloton, as ações da Carvana explodiram em valorização. Inesperadamente, a empresa começou a ganhar dinheiro com o seu próprio estoque já que, pela primeira vez na história, carros usados começaram a se valorizar no tempo. No seu pico, em meados de 2021, a empresa chegou a valer mais de 60 bilhões de dólares, valor superior à soma da capitalização de mercado da GM e da Ford combinadas, apesar de ambas terem uma produção de veículos dez vezes superior às vendas da Carvana. Multibilionários, Ernest Garcia pai e Ernest Garcia Filho, aproveitaram a empolgação do mercado para monetizar parte de suas ações. Um ano depois, apesar dos estoques terem parado de se valorizar, com o arrefecimento do mercado, operacionalmente pouco mudou. Com vendas estáveis, Carvana continua oferecendo seus serviços a compradores e vendedores de carros usados, com a impressionante média de 1.000 unidades comercializadas por dia no varejo, além das 500 unidades diárias vendidas no atacado. Se os usuários da plataforma seguem satisfeitos, o mesmo não pode ser dito dos seus investidores. O tamanho da destruição de valor foi algo impressionante. Quem investiu 1.000 dólares na ação em agosto do ano passado, hoje tem menos de 50 dólares. No agregado, cerca de US$ 57 bilhões em valor de mercado foram evaporados desde o pico. O caso da Carvana nos traz um excelente insight no impacto das expectativas exageradas sobre o preço de ativos. As distorções produzidas pela combinação de liquidez abundante de um lado, com extrapolações sobre o que seria um novo normal do outro, foram rapidamente corrigidas. O custo de sonhar com o porvir ficou caro, com treasury bonds de 10 anos pagando acima de 4% ao ano. E note que a Carvana segue tendo um modelo de negócios consistente, o que não é necessariamente verdade para tantas empresas que foram listadas na empolgação recente. (Fonte: Grupo Empiricus (Caio Mesquita) - 22.10.2022) |
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