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23 de set. de 2020

Doutor Coffee

         Hiromichi Toriba, japonês, nascido em 1938, fugiu de casa aos 16 anos e largou os estudos, após uma briga com o pai. Saiu da cidade onde morava, Saitama, na região metropolitana de Tóquio e se mudou para Tóquio. O tema da discussão com o pai era a divisão do dinheiro do trabalho da família, que vendia peças para brinquedos. Depois de alguns empregos como balconista e garçom, ingressou em uma empresa que comercializava café e passou a se interessar pelo negócio.
          Em 1958, desembarcou no Rio de Janeiro, a serviço da Susuki Coffee, e morou no país até 1961. Como representante comercial da Susuki, importadora japonesa de café, recebeu do chefe a incumbência de conhecer de perto o mercado que era o maior produtor do grão. Assim, o jovem de 20 anos, que nunca havia saído de seu país, desembarcou sozinho no Brasil para dar conta da tarefa. Ficou por aqui mais de dois anos, a maior parte deles em São Paulo.
          Entre outras coisas, Toriba trabalhou numa fazenda e realizou negócios na Bolsa do Café, em Santos, no litoral do estado. Realizou estudos intensivos sobre seleção de grãos, misturas e torrefação.
          Em 1962, de volta ao Japão, fundou a Doutor Coffee (assim mesmo, com o primeiro nome em português), cujo nome foi inspirado em seu endereço em São Paulo, rua Doutor Pinto Ferraz, 85, no bairro paulistano de Vila Mariana, onde ele morou durante seu estágio no país.
          A Doutor Coffee começou atuando no ramo de importação e venda de café no atacado. Na década de 1970, depois de visitar a Europa e conhecer de perto algumas cafeteiras da França, da Alemanha e da Suíça, Toriba resolveu copiar o modelo no Japão, entrando para o ramo do varejo.
          A primeira loja Doutor Coffee abriu suas portas em 1980, em Tóquio. Desde o início, o fundador adotou o modelo de fast food. O negócio tinha poucos funcionários, os clientes podiam se servir no balcão em menos de 10 minutos e o cardápio, apesar de reduzido, oferecia outros itens, como lanches e sucos.
          O carro-chefe desde então eram as xícaras de café, vendidas ali por um preço equivalente a 1,50 dólar, numa época em que o mesmo produto chegava a custar quase sete vezes mais em restaurantes da cidade. Com o charme da novidade e um preço imbatível, a Doutor Coffee tornou-se um sucesso no 
Japão.
          A expansão do negócio foi vertiginosa e a rede passou a dominar o mercado. Para atender diferentes tipos de público, a rede reúne seis marcas de lojas. A mais sofisticada foi batizada de Le Café Doutor e fica em Ginza, bairro de Tóquio com um dos metros quadrados mais caros do mundo e que 
concentra as grandes grifes internacionais de moda.
          A multinacional americana Starbucks chegou ao Japão na segunda metade dos anos 1990 e cresceu rapidamente no país, mirando num público mais jovem e com maior poder aquisitivo que a média de clientes da Doutor Coffee. A reação de Toriba foi imediata. Diversificou ainda mais o perfil de suas lojas, lançando marcas como a Excelsior Caffé, mais sofisticada e especializada em café expresso, e a Salon de Thé Madaleine, uma casa de chá voltada para mulheres. Na época do lançamento da Excelsior, a Starbucks entrou na Justiça contra Toriba, alegando que ele havia copiado seu logotipo 
e o design das lojas. O processo não prosperou.
          Toriba manteve-se à frente da Doutor Coffee até 2006, quando passou a presidência da rede para seu primogênito, Yutaka, nascido em 1964. Apesar de estar oficialmente fora do dia-a-dia da operação, o fundador ainda ocupa o cargo de presidente honorário da companhia e é o maior acionista da holding 
que controla a empresa.
          Assim como as maiores torrefações do mundo, a empresa de Toriba mantém o Brasil como seu principal fornecedor. São grãos produzidos exclusivamente no cerrado mineiro, no sul de Minas e na região mogiana do estado de São Paulo. Depois do período em que viveu no Brasil, Toriba apareceu várias vezes por aqui.
          Considerando dados de meados de 2008, a Doutor Coffee tinha 1.500 lojas no Japão.
(Fonte: revista Exame - 04.06.2008)

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