Total de visualizações de página

3 de abr. de 2022

Etna


Crédito: Fabiane de Paula

DESPEDIDA Clientes fizeram fila para aproveitar os descontos concedidos na loja de Fortaleza, uma das fechadas pela marca no Nordeste. (Crédito: Fabiane de Paula)


          Fundada em 2004, a rede de lojas de móveis e utensílios Etna, homônima ao vulcão que assombra a Itália há milhões de anos, conquistou o mercado ainda na metade da década de 2000 com a proposta de comercializar móveis e utensílios domésticos.
          Pertencente à família Kaufman, também detentora da rede de joalherias Vivara, a Etna chegou a ter 18 unidades distribuídas pelo país em 2015, com faturamento aproximado de R$ 500 milhões, além de 3 mil funcionários. Até então, uma adversária de peso para a Tok & Stok, outra varejista do setor que atende o consumidor desde 1978. Um dos diferenciais da Etna foi o modelo de lojas amplas para facilitar o acesso dos clientes a cada estação onde eram exibidos os produtos. Uma jornada que transportava o consumidor aos ambientes de um imóvel. A principal estratégia de venda da varejista, no entanto, tornou-se o maior entrave para a continuidade do negócio. Possíveis investidores viram no tamanho das unidades um empecilho, pois a preferência na atualidade é por espaços menores.
          Os anos passaram, a estrutura aumentou e, impactada financeiramente por crise econômica, pandemia e adoção do comércio on-line, a varejista se viu obrigada a fechar gradualmente as lojas e, sem compradores interessados, entrou em erupção. Depois de 17 anos de funcionamento, definiu que encerraria as atividades até meados do 2022, por “decisão estratégica”, que vai custar o emprego dos seus últimos 400 colaboradores.
          Com o advento da pandemia, em 2020, as restrições de circulação provocaram o fechamento temporário dos pontos físicos e impulsionaram a adoção do comércio eletrônico, segmento que não era o foco da bandeira. E nem mesmo o aumento da procura por móveis, principalmente os voltados a escritório, após a adoção do home office, beneficiou a empresa, que se viu em desvantagem em relação às concorrentes que já adotavam as vendas on-line, casos da Mobile e da Westwing. A crise econômica de 2015-2016 também teria impactado os negócios da Etna, que teve dificuldade para se recompor e ainda acabou atingida pela pandemia.
          Nelson Kaufman buscou comprador, mas o modelo de negócio foi visto com pouco interesse por possíveis investidores.
          A flexibilização das normas contra a Covid-19 pelo Brasil, segundo a Etna, não implicou no retorno dos consumidores aos estabelecimentos. Com a justificativa de vendas inferiores ao histórico dos últimos anos e da concorrência digital, a empresa optou inicialmente pelo encerramento das atividades das unidades de Belo Horizonte e Campo Grande, em 2020. Já no ano seguinte, 2021, com apenas metade das unidades ainda em funcionamento, pôs fim à atuação no Nordeste com o fechamento das lojas de Fortaleza, Recife e Salvador. A decisão na época resultou na demissão de aproximadamente 150 colaboradores diretos.
          No domingo, 20 de março de 2022, a unidade no Rio de Janeiro encerrou as atividades. A rede seguiu em operação em quatro endereços, três em São Paulo (Capital, Campinas e Sorocaba), além de uma em Brasília. As lojas teriam o funcionamento finalizado gradualmente, inclusive o e-commerce, o último a sair do ar. Segundo a empresa, todos os contratos serão honrados, a exemplo de todos os direitos trabalhistas. “A ideia é encerrar bem uma história de 17 anos da Etna com o consumidor brasileiro.”
          A concorrente Tok & Stok teria demonstrado interesse na aquisição da Etna. Mas as negociações não avançaram após a empresa desistir de ir à Bolsa para realizar uma oferta inicial de ações, segundo o jornal O Estado de S.Paulo. A família Kaufman teria optado por alocar recursos na Vivara, que passou por um IPO muito bem-sucedido e é um negócio mais lucrativo, em vez de manter o plano de expansão e crescimento da Etna.
          Apesar das justificativas da Etna para a queda na demanda, em 2021 o setor moveleiro teve, mesmo que modesta, alta no volume de vendas no varejo na comparação com 2020. 
          Fora dos planos da família Kaufman, rede de móveis e utensílios domésticos fechou gradualmente as lojas para encerrar as atividades até meados de 2022.
          A comparação ao vulcão Etna que assombra a Itália há milhões de anos está restrita ao nome. E, guardadas as devidas proporções, os contratempos decorrentes de suas atividades são capazes de tumultuar a vida de muitos cidadãos.
(Fonte: IstoÉDinheiro - 18.03.2022)

Nenhum comentário: