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4 de fev. de 2023

VirtusPay

          A VirtusPay é uma fintech que permite compras parceladas no boleto: o cliente faz a compra de um produto em uma das lojas parceiras e emite o boleto para pagamento. Depois, no site da VirtusPay o usuário envia o boleto e escolhe em quantas vezes deseja parcelá-lo. A empresa irá fazer uma análise de crédito e, se estiver tudo certinho, o boleto é autorizado e o cliente, que poderá pagar em até 12x com acréscimo de juros. A Fintech usava o limite de cartões de crédito de clientes, que acumulavam milhas.
          O presidente da VirtusPay é Gustavo Câmara, que foi um dos sócios-fundadores do aplicativo de transporte 99.
          Em outubro de 2019 o jornal Valor Econômico noticiou que a VirtusPay estava prestes a receber R$ 6 milhões em investimentos dos fundos de capital de risco Vox Capital e Kviv Ventures, da família Klein.
          Em julho de 2021, a fintech levantou R$ 25 milhões em uma emissão privada e em novembro fez a emissão de R$ 100 milhões em debêntures, ativos que foram comprados por gigantes do mundo dos investimentos, como Verde Asset, Schroders, Ibiuna, Augme, entre outros.
          Dez em cada dez consultores financeiros são unânimes em dizer "jamais empreste seu cartão de crédito". A chance da outra parte, que não tem compromisso nenhum com a fatura, não dar o dinheiro referente ao pagamento de suas contas antes da data de vencimento é enorme. Mas e quando o empréstimo é para uma startup com investidores de nomes tradicionais no mercado financeiro?
          Foi com essa confiança que milhares de pessoas emprestaram o limite de seu cartão de crédito para a fintech VirtusPay com o objetivo de ficar com as milhas geradas pelos gastos em seu nome. O combinado era de que a VirtusPay enviaria o dinheiro para o cliente que emprestou o limite do cartão até o vencimento da fatura.
          Em meados de julho de 2022, entretanto, o combinado foi descumprido e o valor em aberto chegava a quase R$ 17 milhões, segundo informações reunidas por parte dos (ex)clientes que estão em um grupo do Telegram e que somava quase 1.700 pessoas até a tarde do dia 25 daquele mês. A maior parte (34,2%) dos clientes deste grupo está em São Paulo, mas há outros grupos no Telegram com clientes atrás de soluções divididos por estados.
          O calote veio a público em uma reportagem da Agência Estado em 12 de julho de 2022, mas a falta de pagamentos pode ter iniciado bem antes disso, segundo informações reunidas pelo grupo do Telegram de ex-clientes.
          Em 9 de junho (2022) alguns pagamentos já teriam atrasado e a VirtusPay teria alegado aos clientes estar passando por "problemas sistêmicos", que teriam sido resolvido em 13 de junho, com os pagamentos realizados. No dia 23 daquele mês a opção de cadastrar novo cartão sumiu do site e a companhia teria alegado estar fazendo melhorias nos sistemas, segundo informações dos clientes.
          Depois, os pagamentos referentes a faturas de 1º de julho (2022) teriam começado a atrasar e no dia seguinte a fintech teria anunciado a descontinuidade do serviço. Em 6 de julho a empresa teria dado o prazo de 20 dias corridos para a regularização dos pagamentos. Em 22 de julho começaram a ser feitos estornos nos cartões dos clientes que fizeram as solicitações junto às empresas de cartão de crédito com a alegação de desacordo comercial.
          Em comunicado em seu site em meados de julho de 2022, a VirtusPay dizia que "segue incansável em solucionar todas as questões que envolvem o pagamento dos valores em aberto nos cartões de crédito de seus clientes e que, felizmente, após muito empenho, alguns de vocês já estão recebendo o estorno em suas faturas de cartão de crédito. O processo dos estornos demanda tempo, mas já está ocorrendo e ganhará ainda mais celeridade nos próximos dias. A VirtusPay preza pela transparência, por isso, segue trazendo atualizações para vocês. Trabalhamos avidamente para normalizar os pagamentos que não foram efetuados aos nossos clientes. Alguns trâmites em relação ao pagamento de parcelas em atraso e cancelamentos de parcelas futuras ainda estão em processo de conclusão junto aos credenciadores do arranjo de pagamentos. Em breve esperamos equalizar todos os pagamentos vencidos. Prezamos pela transparência e os manteremos atualizados".
          Ainda que os valores sejam plenamente ressarcidos, vários ex-clientes planejavam entrar com uma ação contra a VirtusPay por danos morais, segundo Pedro Henrique Romanelli Sampaio, sócio da Romanelli Sampaio Advocacia, e que devia representar alguns desses clientes.
          Apesar dos estornos que estavam sendo realizados, muitas pessoas tiveram que pegar empréstimos para pagar a fatura que já venceu para não lidar com os juros avassaladores do rotativo do cartão de crédito. "O limite das pessoas que cederam seu crédito foi aumentando, porque o banco criou confiança naquela pessoa", afirma Romanelli Sampaio, apontando o que pode ter sido o inicio de uma bola de neve para os donos dos cartões de crédito.
(Fonte: ValorInveste - 25/07/2022)

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