Total de visualizações de página

7 de mai. de 2020

Bar do Pudim

          O bar já se chamava Pudim por causa do primeiro dono, que o inaugurou em 1968. “Ele adorava essa sobremesa. Numa enquete entre amigos sobre o nome do bar, ficou decidido Bar do Pudim, que funcionou com ele durante dez anos, até que nós entramos”, explica a Dione Cristina Treis, 62 anos, a atual proprietária do bar. O bar está com a família Treis desde 1978 e fica em frente à Praça do Gaúcho, na bairro São Francisco, em Curitiba.
          Dione e seu marido, Hilário Artur Treis, ainda eram namorados na época da compra. Os dois se casaram, tiveram duas filhas, mas Hilário, que tocou o bar até o ano 2000, faleceu em um acidente de moto. “Assumi e toco o Pudim sozinha, desde então”, revela a dona.
          O Bar do Pudim é famoso pelos petiscos que apresenta no cardápio, como a empadinha de palmito com camarão, o bolinho de siri, o pastel de provolone, o croquete de camarão e o pão com bolinho. Além, claro, do cardápio variado de cervejas sempre geladas. “Nunca fechei exclusividade com marcas”, apontou Dione. Esse seria um dos motivos do sucesso do Pudim.
          Ao longo dos 52 anos de funcionamento, clientes famosos passaram por lá, como o poeta Paulo Leminski e o cantor da banda Blindagem Ivo Rodrigues. Skatistas também volta e meia iam no Bar do Pudim por estar na frente da pista da Praça do Gaúcho, como os campeões mundiais Ferrugem e Daniel Vieira. O lutador Wanderlei Silva e artistas, como os atores Luís Melo e Guilherme Weber volta e meia também apareciam.“O Daniel Vieira comeu pão com ovo e tomou um Sprite”, brinca o garçom Milton Soares dos Santos, o Miltinho, 57 anos, referência no atendimento de mesas desde que começou a trabalhar no Pudim há 40 anos, em 1980. A pista de skate, conta Dione, foi inaugurada justamente no ano em que ela comprou o bar: 1978.
          Dione foi bancária por 23 anos, mas havia pedido demissão voluntária na privatização do Banestado, o antigo Banco do Estado do Paraná. “Tocar o bar foi o que se apresentou para mim. Com duas filhas pequenas, encarei o desafio.
          Mas, tinha uma pandemia no meio do caminho. Foram 38 dias com as portas fechadas com o isolamento social de prevenção da covid-19 até que, no domingo, 26 de abril de 2020, uma postagem no Facebook avisou que o Bar do Pudim reabriria segunda-feira (27), mas com prazo de validade: "vai funcionar só por mais 30 dias, finalizando as atividades de vez no dia 26 de maio."
          "O objetivo da saideira é dar chance aos clientes de se despedirem. Justo, já que o Pudim coleciona 52 anos de amizades, tradição e comida boa. Para quem quer dar adeus ao estabelecimento com uma última gelada, o bar passa a funcionar de segunda a sábado, das 15h30 às 21h30.
          "Chegou a hora de parar”, conta Dione. Se vai sentir saudades do Pudim, Dione não sabe dizer. “Tenho pensado nisso, por isso a decisão foi tão difícil”.
          A crise do coronavírus até pesou no aviso de fechamento do Bar do Pudim, mas a proprietária conta que o coronavírus a fez apenas adiantar a decisão que já vinha sendo planejada há dois anos. A pandemia só deu tempo para ela, tomar de vez a decisão. Mas é uma influência mais simbólica do que financeira.
          Conforme Dione, o plano pessoal dela era parar de trabalhar no bar aos 60 anos de idade. Por ser uma decisão difícil, acabou prorrogando o fechamento. Mas aí vieram os decretos da pandemia, proibição de aglomeração e o Pudim paralisou o atendimento no dia 19 de março.
          Desde então, a opção por deixar para sempre a vida no balcão ganhou força. “Crise a gente passa. Quem é que não vem sofrendo com ela desde 2015? Mas não foi por isso. A gente estava levando bem. Foi meu projeto de vida que se apresentou mais evidente no isolamento social. É hora de descansar”, revela a proprietária.
          O Bar do Pudim tem seis funcionários. Eles ainda não sabem o que farão. O mais famoso deles, inclusive, aposta na possibilidade de aparecer alguém para assumir o ponto. “Quem sabe”, diz o garçom Miltinho. Dione confirma que há sim possibilidade de passar o ponto – o que mantém viva a esperança dos fregueses em continuar frequentando o Bar do Pudim.
          “Vou fechar, mas vou manter a empresa aberta por um tempo. Se aparecer negociação nesses próximos 30 dias, pode ser que o Pudim fique aberto”, revela a proprietária.
          Uma coisa que parece não gerar dúvidas é a saudade que a clientela vai sentir do Pudim. Na tarde de segunda-feira, logo que o bar reabriu após o período de isolamento, o empresário Thiago Souza, 36 anos, foi bater cartão no estabelecimento. “Eu lamento que vai fechar. Fiquei sabendo e vim aqui, me despedir”, conta.
          Sobre a violência no entorno da Praça do Gaúcho nos últimos anos e as dificuldades geradas pela crise econômica no país desde 2015, Dione explica que não interferiram na decisão dela de fechar o bar. “Em todos esses anos, é natural que o público mude. Mas meus clientes sempre foram mais presentes por causa da comida, para apreciar um petisco. Muito mais do que a bebida”, aponta.
          No que diz respeito à comida, aliás, a reportagem da Tribuna perguntou se o fechamento do bar faria Dione revelar os segredos das receitas saborosas que são servidas no Pudim. “Por enquanto, não. Vai que alguém assume e não fecha”, brinca.
          Por enquanto, é o que se presume. Um dos mais tradicionais bares de Curitiba, há 52 anos servindo deliciosos petiscos e cerveja gelada no bairro São Francisco. O tradicional Bar do Pudim deixaria saudades na cena boêmia de Curitiba.
(Fonte: Tribuna do Paraná - 29/04/2020 (por Alex Silveira) / Gazeta do Povo)

Nenhum comentário: