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1 de mai. de 2020

H.Stern

          A joalheria brasileira H.Stern foi criada em 1945, pelo judeu-alemão Hans Stern. Hans tinha 23 anos quando abriu, no centro do Rio de Janeiro, um pequeno escritório de compra e venda de pedras preciosas.
          Para montar seu negócio, Hans - que nasceu cego e só passou a enxergar aos 2 anos, após um tratamento que lhe recuperou parcialmente o olho direito - fez um curso de gemologia por correspondência.
          O capital inicial veio da venda de seu acordeão Hohner, única lembrança da terra natal, e de um pequeno empréstimo bancário. Assim, ele pôde desbravar o interior do Brasil para comprar águas marinhas, turmalinas, topázios e ametistas diretamente do garimpeiros. Naquela época, essas pedras não eram valorizadas pelo mercado relojoeiro, que só dava importância para diamantes, esmeraldas, rubis e safiras.
          Apostando na atração que as gemas nacionais poderiam exercer nos consumidores estrangeiros, Hans começou uma campanha para divulgá-las para os turistas em portos, aeroportos e hotéis. Quatro anos depois, em 1949, ele abriri sua primeira loja internacional, em Montevidéu, no Uruguai. E, 11 anos mais tarde, em 1960, a H.Stern se instalaria em Nova York. Depois, em Tel-Aviv, Israel. A escolha das cidades tinha relação com a nacionalidade dos turistas que mais compravam suas peças no Brasil. Esses primeiros pontos no exterior eram, na verdade, centros de manutenção para dar garantia ao produto lá fora.
          Em 1995, a empresa foi herdada pelo filho, o carioca Roberto Stern, nascido em 1960, quando passou a vigorar uma obsessiva busca por rentabilidade. Sob seu comando, a rede se reestruturou. Foram fechadas 65 lojas deficitárias ou não-estratégicas e abertos 32 pontos-de-venda. Isso resultou num corte de 650 dos 3.350 funcionários. Em seguida ele passou a focar outro ponto crucial: o design. Até então, a maior preocupação era com a quantidade e a beleza das gemas. "As jóias eram desenhadas como suportes tradicionais paras as pedras preciosas", diz Roberto.
          Para se destacar da concorrência, Roberto partiu para medidas radicais. Proibiu seus designers de olhar para qualquer joia que não fosse de sua lavra. Isso mesmo: o antibenchmarking. Nada de ir a eventos do setor, o que, segundo ele, poderia dar origem a cópias involuntárias. A Inspiração deveria partir da natureza, da arquitetura, das artes plásticas, da música e da moda.
          As mudanças coincidiram, porém, com um momento bastante infeliz. No fim dos anos 1990, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), 75% dos consumidores de joias deixaram de usá-las ou passaram a usá-las menos devido à violência nas grandes cidades.
          Dentro da fábrica, passou a vigorar o conceito de célula de produção: pequenos ateliês multidisciplinares fazem um mesmo lote do início ao fim. Aos olhos do consumidor, o resultado é uma linha de 1.500 modelos - a maior variedade do mercado. Essa diversidade teria deixado a H.Stern mais competitiva.
          Numa noite em Nova York, em 2001, a estonteante Sharon Stone atrai todos os olhares ao cruzar, com passos sensuais e decididos, o salão do badalado restaurante japonês Nobu, em direção ao sushibar. Lá, ela se apresenta para Roberto da H.Stern. Num guardanapo Sharon rabisca o desenho de um par de brincos. Os dois conversam sobre generalidades e a loura se despede deixando seu desenho displicentemente sobre o balcão. Algumas semanas depois, ela recebe em sua casa uma caixinha com os brincos exatamente no modelo que desenhara.
          A cena bem que poderia ser de um comercial da H.Stern, mas ocorreu numa das viagens de Roberto aos Estados Unidos. Seu encontro com Sharon Stone é revelador de como a H.Stern (stern significa "estrela" em alemão) vem conquistando o mundo e virando a queridinha de muitas celebridades de Hollywood. Revistas internacionais têm publicado fotos de atrizes como Jennifer Lopez, e Catherine Zeta-Jones usando peças da marca.
          Considerando dados de meados de 2003, a H. Stern atuava em 12 países, com atuação mais forte no Brasil, Israel, Alemanha e Estados Unidos. Possuía 160 lojas, metade delas no Brasil e tinha 3.000 funcionários, 700 no exterior.
(Fonte: revista Exame - 11.06.2003)

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