Com a crise da dívida externa em meados da década de 1970, levantaram-se sérias barreiras à importação de manufaturados, como forma de acumulação de divisas. Nessa época foi criado o polo relojoeiro na Zona Franca de Manaus, com incentivos fiscais. Esse cenário determinou o surgimento da Technos da Amazônia e da Technos Componentes, passando a empresa de mera importadora a produtora de relógios em Manaus.
No fim de 1996, a capacidade de produção de relógios da Technos já ultrapassava a casa do milhão de unidades, ocupando a liderança do mercado nacional com um market share na faixa de 26%.
A Technos é uma companhia de capital aberto desde 2011, com ações na Bolsa de Valores de São Paulo.
Em Outubro de 2017, o grupo lançou o primeiro Smartwatch full display de uma marca brasileira, o Technos Connect 3.0. Esse lançamento contou com portfólio de dez relógios inteligentes, incluindo versões híbridas, entre elas o Skydiver Connect, linha icônica da Technos há mais de 30 anos que, nessa versão, vem com funções de conectividade.
O lançamento da coleção Essence, em 2018, deu início às comemorações que homenagearam a origem da marca no berço da relojoaria mundial, trazendo uma máquina suíça exclusiva. Foi a celebração dos 60 anos da chegada da marca Technos no Brasil.
Apesar do impacto sofrido pela pandemia em 2020 e dos efeitos no comércio decorrentes da restrição à circulação de pessoas, fechamento de shopping centers e lockdowns, houve avanço na implementação do processo de turnaround operacional.
Atualmente, após revisão que buscou otimização do mix de vendas, o grupo possui um portfólio de 10 marcas – “Technos”, “Condor”, “Mormaii”, “Euro”, “Dumont”, “Fossil”, “Michael Kors”, “Touch”, “Allora” e “Mariner” – bem posicionadas para atender diversos perfis de clientes.
Relógios Technos
Nosso trabalho como investidores não é prever o futuro com exatidão, mas identificar assimetrias - negócios que, mesmo em cenários adversos, sigam resilientes, lucrativos e que, idealmente, encontram-se precificados de forma pessimista demais pelo mercado. A combinação que procuramos é simples, mas rara: boas empresas, tocadas por bons executivos e negociadas a bons preços. E, por experiência, sabemos que é justamente nas companhias pouco acompanhadas que essas três características aparecem com mais frequência. Onde ninguém está olhando, é mais fácil encontrar valor. Foi nesse contexto que, recentemente, nos deparamos com a maior fabricante de relógios do Brasil: a Technos. Uma empresa que muita gente ignora por causa do setor - mas que tem uma história difícil de encontrar em qualquer segmento. Fundada originalmente na Suíça, a Technos chegou ao Brasil em meados do século passado. Poucas empresas no mundo podem dizer que são centenárias, que sobreviveram a duas guerras mundiais e seguem operando, gerando lucro e crescendo. A história da Technos começa em Welschenrohr, um vilarejo de pouco mais de mil habitantes nos Alpes Suíços. Em 1745, a família Gunzinger iniciou ali sua tradição relojoeira, produzindo relógios de parede. Em 1900, abriram um ateliê para relógios de bolso; em 1918, começaram a produzir relógios de pulso; e em 1924, registraram a marca Technos. Em 1930, a fábrica na Suíça já tinha 360 funcionários e, ao longo das décadas seguintes, a marca se expandiu globalmente, alcançando Europa, Américas e Ásia. |
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Em 1956, foi trazida ao Brasil por Mário Goettems, um empreendedor de Porto Alegre. A partir de uma representação local, Seo Mário começou a distribuir os produtos no Sul e expandiu pelo país. Em 1973, o Brasil já era o principal mercado da marca no mundo. Em 1984, foi inaugurada a fábrica da companhia em Manaus. E, na década de 1990, Goettems comprou os direitos globais da Technos, transformando-a, de fato, numa marca brasileira. |
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Fonte: Site de RI da Technos. Na foto está Mário Goettems. Em 2008, a Dynamo comprou o controle da Technos do Seo Mário e ao fazer a due diligence da empresa, percebeu que a Technos também era acionista da Vale. Isso porque o Seo Mário tinha como estratégia usar os dividendos gerados pela Technos para comprar ações da mineradora. A lógica era: como a Technos operava com custos em dólares e receitas em reais, ele via nas ações da Vale - uma exportadora - uma forma de proteger o negócio. “Relógio não é pra crescer rápido, eu não vou fazer maluquice, vou pagando dividendos”, dizia ele. Com a venda da Technos para a Dynamo, as ações da Vale ficaram com o Seo Mário, que se tornou o maior investidor pessoa física da Vale. Em 2011, a Dynamo fez o IPO da Technos na B3. De 2008 a 2014, a empresa cresceu fortemente: de R$ 100 milhões para quase R$ 500 milhões de faturamento, saltando de 7 mil para 14 mil pontos de venda e ampliando seu portfólio com aquisições e licenciamentos. Mas o crescimento veio acompanhado de erros. A Technos tentou diversificar demais, criou novos produtos, canais de venda direta e comprou a Dumont, seu principal concorrente. A aquisição bagunçou a força de vendas e comprometeu a eficiência operacional. O negócio, que nunca precisou de dinheiro, virou uma holding de marcas e se perdeu no processo. Todas as tentativas de modernizar o modelo falharam. Depois do IPO, as margens colapsaram: de 58% de margem bruta em 2014 para 35% em 2019. |
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Fonte: Bloomberg Lucro virou prejuízo, volume caiu, e o mercado abandonou a ação - que foi de R$ 20 para R$ 1. |
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Fonte: Bloomberg Foi só em 2019 que a direção mudou — e a história voltou a se alinhar com suas origens. Joaquim Pedro Ribeiro, que já havia sido CEO da Technos entre 2008 e 2014, retornou ao comando com a missão de reconectar a companhia com sua essência. A decisão foi clara: voltar ao básico. A empresa iniciou um turnaround duro: simplificou a estrutura, cortou headcount, renegociou contratos e voltou ao seu core - relógios. O foco passou a ser eficiência e rentabilidade. A companhia parou de tentar ser algo que não era e voltou a operar como uma varejista disciplinada. O time comercial foi trocado, voltou para a rua, próximo dos clientes, entendendo a demanda, negociando e criando uma rotina de gestão que a empresa havia perdido. O timing não poderia ser pior - logo em seguida veio a pandemia - mas o plano seguiu em frente. A partir de 2021, os resultados começaram a aparecer: recuperação da margem bruta e EBITDA recorde desde 2015: |
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Fonte: Bloomberg Junto com a geração de EBITDA e caixa, a Technos chegou a ficar caixa líquida - abaixo o gráfico da dívida líquida da empresa - e voltou a pagar dividendos |
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Fonte: Bloomberg A Technos vende cerca de 1,9 milhão de relógios por ano e detém aproximadamente 28% do mercado tradicional de relógios no Brasil. Atua com marcas próprias e licenciadas (como Euro, Mormaii, Fossil e Michael Kors), fabrica em Manaus e distribui para mais de 9 mil pontos de venda no país. O canal é pulverizado e pouco sofisticado — o que, paradoxalmente, joga a favor da Technos, que tem escala, marca e capacidade de atendimento que os menores não têm. |
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Fonte: Site de Relações com Investidores da Technos Mesmo com 75% dos custos denominados em dólar, a empresa conseguiu manter sua margem bruta via aumento seletivo de preços, revisão do mix, corte de descontos e maior eficiência na operação. Mas talvez o que mais chame atenção seja o compromisso com o acionista: de 2021 pra cá, a empresa recomprou mais de 17 milhões de ações (equivalente a 20% do free float) e cancelou mais de 12 milhões de ações que estavam em tesouraria. |
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A estrutura acionária é concentrada. Três nomes controlam juntos quase 70% da companhia: Joaquim Ribeiro (hoje CEO e dono de 19,5%), Aymeric Chaumet (investidor francês com histórico no setor relojoeiro europeu e conselheiro da Technos com 33,4% das ações) e Renato Goettems, irmão do Seo Mário e um grande especialista em relógios que contribui muito para a empresa - tendo ocupado os cargos de vendedor, gerente comercial e diretor comercial durante 26 anos e que detém 13,5% da cia). |
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Fonte: Formulário de Referência de 2025 (Fonte: Market Makers - Matheus Soares - 25.06.2025) |
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