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31 de out. de 2011

Alibaba

           Diz a história que Ali Babá, um pobre lenhador árabe, encontra uma caverna onde 40 ladrões escondem um tesouro roubado. Sozinho, ele descobre as palavras mágicas capazes de abri-la ("Abra-te Sésamo") e recolhe para si toda a fortuna.
           Em 1999, no auge das empresas ".com", mas já com alguns sinais da crise que se avizinhava, o chinês Jack Ma, ex-professor de inglês, filho de músicos, convenceu 18 alunos a fundarem em Hangzhou, na China, o Alibaba, hoje um gigante do comércio eletrônico.
           É interessante frisar quão peculiar é o bilionário chinês Jack Ma – e o quanto ele lutou para ser um empreendedor de sucesso. Apenas para começar, o então Ma Yun não teve uma carreira estudantil de destaque na escola. Ele tentou entrar em Harvard dez vezes – e foi rejeitado em todas. Então, foi para outra faculdade e resolveu procurar um emprego. Ma Yun se inscreveu em 30 vagas diferentes – e, novamente, foi rejeitado em todas (incluindo a rede de fast food KFC).
           Depois do trauma, Ma Yun adotou o nome Jack Ma e resolveu aprender inglês. Por nove anos, ia diariamente ao principal hotel da cidade para conversar e guiar os turistas, de graça.
           Depois que ele criou o negócio de comércio eletrônico Alibaba, o dinheiro demorou para chegar. Quando ia a restaurantes, ele conta que diversas vezes a conta já vinha paga, com uma nota: “eu ganhei muito dinheiro com o Alibaba, e eu sei que você não. Obrigado.”
           Ma gosta de dizer que não entende de tecnologia, mas ele foi um dos primeiros empreendedores digitais do país. Depois de lançar uma espécie de catálogo de empresas chinesas, Ma idealizou o Alibaba, portal de comércio eletrônico entre empresas. A companhia nasceu em seu apartamento na cidade de Hangzhou. Em certo momento, quase 20 funcionários se amontoavam na casa de Ma (um apartamento de dois quartos).
           Mais do que um site de comércio eletrônico para empresas, o Alibaba é hoje um conglomerado de internet. No portfólio, estão companhias como a Taobao ("em busca de tesouros", em mandarim), especializada no e-commerce para consumidores finais e o TaoBao Mall (Tmall) focado na venda de produtos de grandes marcas. Nomes como Adidas, Samsung, Apple, Disney e Nike, abriram lojas próprias dentro do shopping virtual Tmall, lançado por Ma em 2008 como uma plataforma para que as marcas de renome pudessem vender diretamente para os chineses.
           O Taobao nasceu quase como um movimento defensivo. Mas não demorou muito para o Alibaba ver que conhece o mercado chinês melhor que o eBay. E a defesa virou ataque. Ma é um estudioso das artes marciais, e elas têm como um dos princípios usar a força do inimigo contra ele. Quando o eBay chegou, cheio de dinheiro, a estratégia foi deixá-lo gastar para educar o mercado sobre comércio eletrônico. O Aliexpress vende produtos chineses para consumidores no exterior, inclusive brasileiros. O Alibaba é responsável por 60% dos pacotes que transitam pelo correio chinês. Os serviços usam o Alipay, sistema de pagamento online que tem enorme presença em celulares e é usado como cartão de crédito ou débito.
           Com margem operacional em torno de 45% o Alibaba chamou a atenção de investidores para seu IPO (oferta inicial de ações), realizado em 18 de setembro de 2014 na bolsa de Nova York,  em que a companhia levantou US$ 25 bilhões. A abertura de capital é a maior da história mundial, acima dos US$ 22 bilhões obtidos pelo Agricultural Bank of China nas bolsas de Hong Kong e Xangai em 2010 (Facebook levantou US$ 16 bilhões). O grupo tem 322 milhões de usuários de internet (dados de 2011), mas nem sequer metade da população está online - ou seja, uma massa de 600 milhões de consumidores ainda segue inexplorada. Hoje a empresa tem 24 mil funcionários.
           Ma deixou o cargo de CEO em 2013 e assumiu a presidência do conselho. Oficialmente, o novo CEO é Daniel Zhang, mas Ma continua dando as ordens. Na sua ausência, quem assume o comando é Joe Tsai, um advogado formado pela Universidade de Yale que fazia parte dos 18 fundadores. Tsai é hoje o segundo maior acionista individual da empresa.
           E o Alibabá, segundo Ma, tem clara a ideia de prioridades: "Que os investidores de Wall Street nos xinguem se quiserem. Vamos continuar seguindo nosso princípio de clientes em primeiro lugar, funcionários em segundo e investidores em terceiro". Mas, Ma também deverá administrar a ira de fornecedores (e não fornecedores). A Kering, por exemplo, dona de marcas de luxo como Gucci, Puma e Alexander McQueen, processou o Alibaba em maio de 2015, alegando que o Taobao é um paraíso da pirataria. No serviço, a Kering alega ter encontrado 37 mil bolsas Gucci falsas em mais de 2,7 mil lojas. A holding francesa não está sozinha. Um levantamento feito pela State Administration for Industry & Commerce em janeiro (2015) descobriu que 67% dos produtos analisados no Taobao eram falsificados, o que não ajuda nada a credibilidade do site. Cairá sobre os ombros de Ma definir se o Alibaba, tal qual a mitologia árabe, estará vinculado a um grupo de ladrões.
          O setor de tecnologia cresceu tão rápido que, quando o governo chinês se deu conta, já estava fora de seu controle. Uma luz vermelha se acendeu nas salas do Partido Comunista Chinês. Agora, o PCC se movimenta. Vem com uma regulação firme sobre as big techs dentro da Grande FireWall da China. Em abril de 2021, o Alibaba recebeu uma multa de US$ 2,75 bilhões por práticas monopolistas. A Ant, braço financeiro da gigante, foi impedida de fazer seu IPO em novembro de 2020. Se Ma não se preocupava com a regulação, parece que o jogo virou.
(Fonte: revista Exame - 30.11.2011 - pág. 124 / Exame 28.05.2014 - pág. 106 / Exame 17.09.2014 / revista Época Negócios dezembro 2015 / Exame.com (via MSN) - Mariana Fonseca - 24.01.2017 / Época Negócios 10.07.2021 - partes).

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