Total de visualizações de página

5 de out. de 2011

Natura

          O nome Natura lembra natural, natureza e assemelhados. A empresa foi fundada em 1969 por Antonio Luiz da Cunha Seabra e Jean-Pierre Berjeaut. Seabra, então com 28 anos, deixara para trás um emprego relativamente seguro na divisão de barbeadores da Remington para trabalhar na administração de um pequeno laboratório do empresário francês Pierre Berjeaut, em São Paulo. Paralelamente ao trabalho no escritório, começou a se interessar por cosméticos e bioestética. Seu interesse chamou a atenção do filho de Berjeaut, Jean-Pierre, que lhe fez um convite: ser seu sócio para montar um novo laboratório.
          Com um capital de 9.000 dólares, um punhado de formulações de cosméticos dadas a Jean-Pierre pelo pai e sete funcionários trabalhando precariamente em um prédio de fundo de quintal no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, nascia a Natura. Interessado em fabricar produtos especialmente criados para a diversa pele do povo brasileiro, o co-fundador da empresa Luiz Seabra escolheu para o negócio um nome que remetia aos hippies da época, além de explicitar um dos ideais do negócio até hoje: o valor da natureza. Mais tarde os dois reformaram uma antiga borracharia e montaram uma lojinha. Ali, Seabra dava consultas estéticas, explicando às clientes como usar corretamente os cremes manipulados. "Foram anos difíceis. Várias vezes não havia dinheiro nem sequer para pagar a conta de luz", diz Seabra. Algum tempo depois, atendiam pessoalmente à clientela numa lojinha à rua Oscar Freire em São Paulo.
          A Natura começou a deslanchar só na segunda metade da década de 1970, quando adotou o sistema de venda direta. Seabra e Berjeaut formaram novas sociedades com outros empreendedores. Surgiram desses arranjos quatro empresas de distribuição e um indústria de maquiagem, a L'Arc en Ciel, que operavam de forma independente. Uma crise acionária no final dos anos 1980 provocou a saída de Berjeaut. As cinco empresas se fundiram. Capitalizada por anos seguidos de prosperidade, a Natura começou a década de 1990 com uma revolução corporativa. Foram recrutados veteranos de multinacionais para integrar a diretoria. A Natura investiu pesadamente em programas de qualidade e tecnologia. Foi assim preparada para enfrentar a competição que se seguiria à abertura de mercado.
          Guilherme Peirão Leal chegou à Natura em 1979. Ocupava uma superintendência da Fepasa quando uma mudança no governo paulista o compeliu a deixar o cargo. Como todo desempregado, calculou na ponta do lápis o fundo de garantia para saber quantos meses teria para buscar uma nova vaga. Em vez disso, acabou montando uma distribuidora Natura em sociedade com seu então concunhado Berjeaut, o primeiro sócio de Seabra. O capital veio de um terreno que vendeu por 40.000 dólares. Lá foi Leal vender potes de creme no Paraná - sem saber que entrava num trem da fortuna. Foi Leal quem trouxe Pedro Luiz Barreiros Passos, engenheiro formado pela Politécnica, para a Natura. Eram parceiros num time de futebol.
          O nome Natura combina com a proposta da empresa de perseguir algo além da beleza: o bem-estar e a felicidade da pessoa. Um exemplo foi a campanha (do final dos anos 1990) Mulher Bonita de Verdade: em vez de vender ilusões, mostra os limites e as possibilidades da cosmetologia. Para o co-fundador Seabra, a indústria de cosméticos em geral aproveita-se do medo que a sociedade tem do envelhecimento (em especial a ocidental), e amplia esta angústia com o culto à juventude. Ao agir contra a corrente, a Natura ganha a cumplicidade da mulher, mostrando a ela que é possível ser bela apesar das imperfeições e da idade.
          Outro co-fundador, Pedro Luiz Barreiros Passos, aponta como outro motivo de admiração o fato de a Natura ser mais que transparente: ela é escancarada, quer mostrar a toda sociedade no que acredita e como opera na prática. A empresa tem como ponto forte o cultivo de relações com a sociedade, sendo fiel ao consumidor, honesta com o fornecedor, prestativa à comunidade (destina um bom naco do lucro líquido a projetos sociais) e criadora de um ambiente de trabalho tido como benchmark no setor.
          A Natura é a maior multinacional brasileira do setor de cosméticos e de produtos de higiene e beleza. Sua trajetória sempre foi impulsionada pela venda por relações. Seus milhões de consumidores são alcançados por meio de 1,37 milhão de consultoras no Brasil e 505 mil em suas operações internacionais, na Argentina, no Chile, na Colômbia, na França, no México e no Peru. A empresa conta com cinco fábricas em Cajamar (SP) e Benevides (PA), com capacidade total de produção de 508 milhões de itens por ano - além da fabricação por meio de fornecedores terceirizados na Argentina, na Colômbia e no México. São 7,7 mil colaboradores, no Brasil e exterior (incluindo a fabricante australiana Aesop, onde tem participação de 78,75%).
          Desde 2014 a Natura promove vendas pela internet. Em setembro de 2015 passou a usar o varejo tradicional. Iniciou com as lojas da rede RaiaDrogasil.
          Em abril e maio de 2016, como parte da estratégia de diversificação de canais de vendas, a Natura começa a deslanchar seu plano para o varejo. Abre duas lojas próprias — a primeira da marca Natura e mais uma de sua controlada Aesop,  empresa australiana de cosméticos. A Aesop está com 135 lojas em 18 países. A primeira loja a ser inaugurada será a da marca Natura, no Shopping Morumbi, na zona sul de São Paulo, e a companhia abre a unidade da Aesop na Vila Madalena, na zona oeste da capital paulista. A venda em farmácias e em máquinas de autoatendimento (vending machines) também começa a ser colocada em prática, bem como assinaturas mensais online e parcerias em redes sociais.
          Aesop e Natura são complementares. Enquanto a primeira está concentrada em produtos de luxo, a Natura tem proposta mais abrangente, desde linhas mais populares até cosméticos de alto valor agregado.
          A Natura, além das unidades fabris em: Benevides (PA), Cajamar (SP), Monte Mor (SP), tem parceria com terceiros como Razzo Ltda (SP), Higident (Itajubá-MG) e JBS S.A. (Lins-SP).
          Concomitante a essas mudanças na distribuição de seus produtos, em que entra na seara de lojas próprias, a Natura tem tido uma rotatividade maior em seu comando. De 1996 a 2005, os três controladores - Luiz Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos - dividiram-se no comando da companhia. Naquela ano, o trio passou para o conselho e promoveu o paulista Alessandro Carlucci, que permaneceu no comando por uma década. Pouco mais de dois anos depois de sua saída chegou a vez de seu sucessor dizer adeus. Roberto Lima renunciou ao cargo em outubro de 2016. Cabe ao executivo paulista João Paulo Ferreira, à frente da Natura desde o dia 25 de outubro (2016), a missão de provar que a empresa pode retomar o brilho perdido.
          Em 8 de junho de 2017, a Natura apresentou à francesa L’Oréal uma oferta vinculante para comprar todas as ações de emissão da The Body Shop International e seu grupo de subsidiárias. A oferta avalia a The Body Shop em 1 bilhão de euros.  A rede mundial de cosméticos focada em produtos naturais, The Body Shop, segundo dados de dezembro de 2016, conta com mais de 3 mil lojas em 60 países, sendo 133 unidades no Brasil. Em 2016, a empresa gerou receita líquida de 921 milhões de euros.
          Após a compra, a Natura chegará a 3,2 mil lojas físicas e 17 mil colaboradores — ante cerca de 5 mil funcionários até então. O portfólio terá 2 mil produtos, além da força de vendas de 1,8 milhão de vendedoras por catálogo.
          Em 22 de maio de 2019, a Natura confirmou, após o fechamento do mercado, a compra da Avon Products (a Avon North America foi comprada em abril pelo grupo LG). A nova empresa, denominada de Natura & Co., será formada por 76% da Natura e 24% pelos acionistas da Avon. O acordo avalia a Avon em US$ 3,7 bilhões e o novo grupo em US$ 11 bilhões. Com a nova composição, a Natura se torna a quarta maior empresa do setor de beleza pessoal do mundo, com presença em 100 países. Junto com a Avon, a Natura deve ter um faturamento anual superior a US$ 10 bilhões e mais de 40 mil colaboradores em todo o mundo. Roberto Marques é o presidente executivo do conselho de administração da Natura&Co.
          Em 2019, a Natura chega com loja própria ao Nordeste. Considerando dados de agosto, a bandeira Natura tem 46 lojas no Brasil e nove no exterior. A franquia "Aqui tem Natura" tem aproximadamente 200 lojas de rua, gerenciadas por consultoras de beleza.
          Em 13 de novembro de 2019 os acionistas da Natura & Co e da Avon Products aprovaram a proposta de aquisição da fabricante de cosméticos americana pela brasileira, que resultará na criação de uma empresa avaliada em US$ 11 bilhões. Com a nova estrutura, a Natura & Co Holding vai abranger as empresas Natura e Avon, além da britânica The Body Shop e da australiana Aesop.
          Em novembro de 2019, o capital social da Natura & Co. Holding fiu aumentado de R$ 405,4 milhões para 1,1 R$ bilhão. E os papeis dessa nova empresa serão negociados na B3 a partir de 18 de dezembro com o código NTCO3.
          Em meados de junho de 2022, Roberto Marques deixou a presidência da Natura e em seu lugar foi contratado o executivo Fábio Barbosa, ex-presidente do Santander Brasil e do Grupo Abril, com a missão de definir nos meses seguintes “uma nova estrutura corporativa”, disse a empresa de cosméticos em comunicado. Ainda segundo a Natura, a reorganização está alinhada à estratégia de “aumentar a responsabilidade de suas empresas e marcas únicas ao fazer a transição para uma estrutura mais simples de holding”.
          Em fato relevante divulgado na noite do dia 3 de abril de 2023, a Natura divulgou que chegou a acordo para a venda da marca de luxo Aesop para a multinacional francesa L’Oréal. O negócio atribui valor de US$ 2,525 bilhões para a marca. Desde o segundo trimestre de 2022, a Natura domenstrara interesse em vender a Aesop. Além da L’Oréal, também estariam no páreo o grupo de artigos de luxo LVHM e a companhia japonesa de cosméticos Shiseido.
          A Natura&Co e a Natura Cosméticos anunciaram, em 14 de novembro de 2023, a assinatura de um acordo vinculante com a Aurelius Investment Advisory para a venda da rede The Body Shop. O negócio é estimado em £ 207 milhões (R$ 1,25 bilhão), valor que será pago em até cinco anos. Um acordo vinculante indica que o comprador tem o compromisso de fechar o negócio indicado no contrato. De acordo com o comunicado da Natura, a conclusão da transação está prevista para ocorrer até 31 de dezembro e está sujeita às aprovações regulatórias usuais. A Aurelius, com sede na Alemanha, é dona da rede de farmácias Lloyds, no Reino Unido.
          Em março de 2024 é divulgado que a atriz, apresentadora e influenciadora Maisa é a mais nova embaixadora da Natura. O objetivo da parceria é ampliar e fortalecer a relação da multinacional brasileira de cosméticos com os jovens da geração Z – um dos principais focos da empresa para 2024. Ao longo do ano, Maisa representará produtos da Natura na categoria de Perfumaria e as marcas Tododia e Ekos. Além da produção de conteúdos e ativações para redes sociais, onde a atriz acumula mais de 100 milhões de seguidores, ela também participará de campanhas e eventos, incluindo a presença em diversos festivais pelo Brasil. Denise Coutinho, diretora de marketing e comunicação da Natura, destaca que a escolha da embaixadora faz parte de um movimento de aproximação com clientes mais jovens, que a marca já vem realizando por meio de ações, como os apoios a festivais de música, como por exemplo o Rock In Rio.
(Fonte: revista Exame - 01.07.1998 / revista Carta Capital 18.08.1999 / notas Balanço - 18.02.2016 / jornal Valor - 25.04.2016 / revista Claudia - 18.08.2016 / revista Exame 09.11.2016 / jornal Valor online - 09.06.2017 / ÉpocaNegócios - 22.05.2019 / Valor - 29.08.2019 / 14.11.2019 / Época Negócios - 15.06.2022 /CNN - 03.04.2023 / Estadão 15.11.2023 /  21.03.2024 - partes)

Nenhum comentário: