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1 de out. de 2011

Leveros

          À primeira vista, o nome é estranho: Leveros. A marca de uma das maiores revendas de aparelhos de ar condicionado do país é um anagrama da palavra “resolve”. Ela resume, segundo Tiziano Giordano Pravato Filho, CEO do grupo e filho do fundador, o objetivo da empresa, que é resolver a vida de quem 
quer ter em casa um aparelho de ar condicionado funcionando.
          A origem da empresa remete à Gelo Som, fundada por Tiziano Giordano Pravato em 1978, em Assis, no interior paulista. Prestava serviço de manutenção de eletrodomésticos até o início dos anos 2000. “Começamos pequenininhos, meu pai, ele mesmo, consertava de tudo”, diz Pravato Filho. O salto veio com o boom da Brastemp, quando a empresa se tornou um serviço autorizado da marca líder de eletrodomésticos. Com a chegada dos aparelhos split de ar condicionado, passou a comercializar o 
produto, fomentada pela indústria.
          Em 2016, o fundo de private equity 2bCapital, do Bradesco, comprou 49% de participação da empresa. Na época, a empresa, que se chamava Multi-Ar. Faturava perto de R$ 300 milhões ao ano e disputava mercado com grandes magazines na venda de aparelhos de ar condicionado – uma
concorrência focada em preço baixo. Hoje a família Pravato detém 51% do negócio.
          Em 2018, a empresa coloca em prática a transformação da forma de comercializar os aparelhos -
quando a companhia trocou de nome (para Leveros).
          Em 2024, seis anos depois de mudar o modelo de negócio, a empresa faturou cinco vezes mais. O pulo do gato, segundo o executivo, foi implementar um modelo de vendas por meio de instaladores, depois de identificar as dificuldades que existiam na venda. Ao contrário do tradicional aparelho de ar condicionado de janela, que, para começar a funcionar, basta colocar o fio do equipamento na tomada, o modelo split requer uma venda técnica. Por isso, as lojas de varejo em geral têm muita dificuldade de comercializar o produto. Foi exatamente por causa desse obstáculo que os instaladores se tornaram 
peça-chave do negócio.
            Por meio de uma plataforma, a companhia conecta os seus estoques aos inúmeros instaladores espalhados pelo país. Muitos deles são pequenos empreendedores que não têm recursos para comprar os aparelhos nem poder de barganha para negociar com os grandes fabricantes. Ligados à plataforma, os instaladores são treinados pela companhia e vendem os aparelhos com o projeto técnico de instalação.
Em troca, recebem da Leveros um porcentual sobre a venda.
          Os produtos saem dos dois centros de distribuição da empresa: em João Pessoa, na Paraíba, e em Vila Velha, no Espírito Santo, e seguem direto para o instalador que fez a venda. Cerca de 4,5 mil instaladores fizeram alguma venda para a empresa em 2024, e perto de 1,8 mil fecham negócios todos os meses. Eles não são funcionários nem têm obrigação de exclusividade. Na prática, são representantes comerciais da loja. Além da guerra de preços com o varejo tradicional e das particularidades do mercado de aparelhos split, que exigem instalação técnica, Pravato Filho destaca outro fator crucial para a mudança no modelo de negócio: a constatação de que o custo para adquirir um cliente final era significativamente maior do que o custo para captar um instalador. “Hoje (março de 2025), 60% do negócio é feito por meio de instaladores e 40% são vendas diretas ao consumidor final, por meio de e-
commerce (15%), marketplace (20%) e na loja física (5%)".
          ”Na avaliação do consultor de varejo Eduardo Terra, copresidente do Instituto Retail Think Tank (IRTT), o grande ativo da empresa hoje é o ecossistema criado. A parceria com os instaladores, que é um misto dos modelos de franchising com venda direta, permitiu o salto nas vendas. “A base disso é construir boas relações com esses parceiros, que são os instaladores que atuam nos mercados locais.” O risco desse modelo, diz Terra, é exatamente o seu ponto forte: não conseguir manter azeitada a boa relação com os instaladores, que são a base do sistema. “O difícil é acertar o ponto”, diz Terra. Ou seja, o dono do negócio precisa ter resultado e margem, mas precisa fazer com que os participantes do ecossistema ganhem também. “Esses ecossistemas, às vezes, nas crises, apertam um pouco. Daí, o parceiro começa a perder dinheiro e a rede é desmontada.”
          A empresa abriu grandes lojas: em São Paulo (SP), Ribeirão Preto (SP), Salvador (BA) e Fortaleza (CE). A quinta unidade está prevista para Recife (PE) em julho de 2025, com investimentos de R$ 4 milhões.
          Em tempos de calor extremo, o ar-condicionado virou objeto de desejo dos brasileiros. Em 2024, as vendas bateram recorde no país. Foram comercializados, da indústria para o varejo, 5,88 milhões de aparelhos, com crescimento de 38% ante o ano anterior, segundo a Eletros, associação que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos. A Leveros, por sua vez, pegou carona no bom momento do mercado. Encerrou 2024 com faturamento de R$ 1,5 bilhão.
(Fonte: Estadão - 15.03.2025)

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