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26 de out. de 2011

The Body Shop

          A multinacional fabricante e varejista britânica de produtos de beleza e cosméticos Body Shop sempre foi associada a causas éticas, ecológicas e politicamente corretas. A fundadora, Anita Roddick, pioneira, visionária e inovadora, proibia testes em animais e vetava substâncias químicas em cosméticos. O marido escocês Gordon Roddick era seu sócio. Anita Lucia Perilli (nome de solteira) nasceu em 1942, em Littlehampton, a duas horas de Londres, filha de imigrantes judeus italianos. Trabalhava na cafeteria da família quando criança.
          Anita achava quase impossível ensinar alguém a ser empreendedor. "Não se ensina a obsessão. Dificilmente algum rico se torna empreendedor, eles não têm a fome necessária, nunca estiveram à margem", dizia.
          Quando a empreendedora Anita Roddick abriu a primeira loja da rede Body Shop, ela não buscava riqueza: nas suas próprias palavras, ela trilhava no momento “um caminho hippie”. Viajando por países subdesenvolvidos e vendo seus hábitos para cuidar do corpo e da saúde, Roddick teve a ideia de criar uma linha de cosméticos feita com ingredientes naturais. Ela não venderia vaidade, e sim preocupação com o meio ambiente. Ao mesmo tempo, obteria uma fonte de renda para sustentar suas duas filhas.
         Roddick conseguiu um empréstimo de 6,5 mil dólares, uniu-se a um especialista em plantas medicinais e achou um ponto comercial em Brighton, no Reino Unido. Assim nasceu a primeira loja da Body Shop – uma rede global de beleza que se baseia em uma estratégia inusitada, combinando marketing discreto com conscientização ambiental, ética e social.
         Anita Roddick tinha 34 anos quando criou a Body Shop, na Inglaterra, em 1976. O marido, Gordon, estava longe realizando um sonho antigo. Viajava a cavalo de Buenos Aires a Nova York, projeto que duraria dois anos. Anita teve a ideia de vender cremes e loções para o rosto e o corpo em pequenas embalagens. Usou frascos de plástico, desses usados para coletar urina, amigos a ajudaram a etiquetar e assim lançou modestamente 25 produtos. Além de usar receitas caseiras da mãe, que reciclava tudo desde a Segunda Guerra Mundial, Anita experimentou uma receita da atriz Julie Christie, que batia alface cozida com abacate para passar no rosto. E outra de Marlene Dietrich: cinzas de velas como sombra para os olhos. Para cabelos e pele, testou produtos com polvilho, azeite balsâmico, cânhamo, castanhas.
          As lojas de Anita Roddick tinham um ar hippie. A empresa tinha a cara de sua fundadora. Era informal e combativa como Anita. Ela nunca estudou Administração nem Economia. Com a ajuda do marido que entendia de números e conversava com bancos, ela expandiu e criou o império da Body Shop, em sistema de franquias.
          O Body Shop, em sua gestão, chegou a ter parcerias com 37 comunidades no mundo, estimulando o óleo de gergelim da Nicarágua, a manteiga de cacau de Gana, a juta de Bangladesh, as castanhas dos caiapós brasileiros. Em 2003, Anita deixou de ser presidente da empresa. Sentia-se uma "metralhadora velha", mais radical que seus executivos. Os únicos produtos de beleza em sua mesa de cabeceira, na casa no meio da floresta em Littlehampton, continuavam sendo sal, óleo e mel. "Esfrego para renovar as células e hidrato. É uma estupidez gastar US$ 60 num creme anti-rugas". A única concessão que fazia ao modelo tradicional de beleza era pintar os cabelos, que continuavam fartos e escuros. Jamais se permitiu ficar grisalha.
          No auge, a Body Shop teve mais de 2.100 lojas em 55 países, funcionando em 12 fusos horários diferentes e onde se falavam 24 línguas.
          Em 2006, Anita Roddick vende a empresa que foi sua razão de viver, para a L'Oréal, por 652 milhões de libras. "Acho uma obscenidade morrer rica", disse meses depois de vender a empresa para a L'Oréal. Não se passou um ano, porém, e um derrame cerebral freou Anita prematuramente, em 10 de setembro de 2007. A empresária, que acreditava em paixão e magia no trabalho e queria "fazer algo útil com seu dinheiro" morreu, depois de ser internada com dor de cabeça. Deixou toda sua fortuna, de 51 milhões de libras esterlinas, para organizações ambientais e sociais.
          A rede mundial de cosméticos focada em produtos naturais, The Body Shop, segundo dados de dezembro de 2016, conta com mais de 3 mil lojas em 60 países, sendo 133 unidades no Brasil. Em 2016, a empresa gerou receita líquida de 921 milhões de euros.
          Em 9 de junho de 2017, a empresa de cosméticos brasileira Natura apresentou à francesa L'Oréal uma oferta vinculante para comprar todas as ações de emissão da The Body Shop International e seu grupo de subsidiárias. A oferta avalia a The Body Shop em 1 bilhão de euros.
          Juntas, Natura e The Body Shop formam um gigante: mais de 3.000 lojas em 66 países, aproximadamente 29.000 funcionários e, em números de 2016, um faturamento em torno de R$ 11,5 bilhões.
          Demonstrando a necessidade de abrir lojas no Brasil, inaugura mais uma loja, concomitantemente à inauguração do shopping Pamplona do Carrefour, nos Jardins em São Paulo, no início de agosto de 2017.
          A The Body Shop coletou oito milhões de assinaturas em documento contra testes em animais para entregar à Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. A companhia espera que, com o documento em mãos, a ONU convoque uma convenção para discutir o tema. O documento foi entregue no dia 4 de outubro de 2018, pela youtuber Nataly Neri, a representante brasileira escolhida pela The Body Shop à ONU. Dinamarca, Cingapura e Inglaterra também enviarão representantes para a entrega das assinaturas. A iniciativa tem como objetivo influenciar a legislação dos 189 países signatários da ONU — 80% deles ainda permitem testes em animais na indústria cosmética. No Brasil, o projeto de lei que proíbe uso de animais em pesquisas e testes para produção de cosméticos ainda está em tramitação.
          Bem no início de 2024, a Aurelius, empresa alemã de private equity (especializada na compra e reestruturação de empresas em dificuldades), assumiu o controle do negócio. O grupo europeu comprou a marca britânica por £ 207 milhões (equivalente a R$ 1,25 bilhão) da brasileira Natura, que se desfez do ativo para focar na América Latina. A Aurelius é dona da rede de farmácias Lloyds, no Reino Unido.
          Em 13 de fevereiro de 2024 The Body Shop anunciou que nomeou administradores de insolvência para cuidar de sua recuperação judicial, após anos de dificuldades financeiras. O grupo FRP, contratado pela Body Shop, disse que “agora considerarão todas as opções para encontrar uma maneira de o negócio avançar”. 
(Fonte: Exame.com (via MSN) - Mariana Fonseca - 24.01.2017 / jornal Valor online - 09.06.2017 / 21.06.2017 Exame.com - 04.10.2018 / Estadão 15.11.2023 / 15.02.2014 - partes)

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