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4 de out. de 2011

Seara

          Quase ninguém conhecia Seara, uma cidadezinha escondida no interior de Santa Catarina, lá no oeste, entre Concórdia e Chapecó. Mas o nome Seara, então nas mãos do grupo Hering, passou a ficar cada vez mais na boca das pessoas. Seara é a marca de produtos industrializados de carne que, em apenas quatro anos, saiu do oitavo para o terceiro lugar do mercado, com 8% das vendas (dados do início de 1993), atrás apenas da Sadia e da Perdigão. Este salto foi dado no período 1989-1993. Segundo o então diretor geral da Ceval Alimentos, o braço do grupo Hering na área de alimentos, Vilmar de Oliveira Schürmann, o crescimento ocorreu porque a empresa foi ao encontro do que o consumidor queria.
          Emplacar uma nova marca de alimentos não é fácil, mas a Ceval agiu rápido com a Seara. O primeiro frigorífico foi arrematado pelo grupo em 1980, e logo se tratou de encorpar a produção. Em apenas dois anos, de 1988 a 1989, a Ceval incorporou meia dúzia de frigoríficos, como o La Villette, de São Paulo, e a avicultura Contibrasil, do Paraná.
          As primeiras pitadas de pimenta na disputa pela venda de salsichas, linguiças, hambúrgueres e afins começaram a ser sentidas no mercado por volta de 1991. Foi quando a Ceval resolveu encaminhar a marca Seara dos açougues, onde seus produtos são vendidos a granel, para as gôndolas das mercadorias empacotadas, nos supermercados. É nelas que o consumidor costuma prestar bem atenção à marca e, de quebra, é onde os frigoríficos conseguem os lucros maiores.
          Em 1997, o grupo Hering vende a Ceval, então a maior esmagadora brasileira de soja, para o grupo Bunge. A Seara foi junto. Em 2005, a Bunge vende a Seara para a americana Cargill, por 130 milhões de dólares. Em 2012(?), a Marfrig Alimentos anunciou a compra da Seara por US$ 900 milhões. A empresa já era então uma das maiores indústrias de processamento de aves e suínos do Brasil. O negócio incluiu nove unidades de abate, três plantas de produtos industrializados, nove fábricas de ração, seis granjas, um terminal no Porto de Itajaí (SC), as operações de distribuição e comercialização no exterior, além da própria marca Seara.
          O nascimento da BRF, quem diria, contribuiu para (fortalecer) os alicerces para a construção da nova Seara. Seguindo uma determinação feita pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a empresa que surgiu da união de Perdigão e Sadia teve de negociar uma parte importante de seus ativos. Eram 12 marcas, oito centros de distribuição e 19 fábricas de diversos tipos, incluindo seus 9 mil funcionários - um pacotaço que rendia quase R$ 2 bilhões por ano, segundo avaliação do banco HSBC. O conjunto foi arrematado pela Seara por R$ 200 milhões e mais alguns ativos na Argentina. Um valor considerado barato.
          Uma olhadela nos números mostra o tamanho do salto que os novos ativos representam para a Seara. Com as marcas que pertenciam à BRF, sua participação de mercado em alimentos processados passa de 8% para 17%. As novas marcas - que incluem nomes tradicionais como Doriana, Fiesta, Rezende, Excelsior e Wilson - estão  concentradas no segmento de alimentos processados, que geram margem duas vezes maior do que as carnes in natura.
          Em 10 de junho de 2013, a JBS, maior empresa de carnes do mundo, adquire a Seara Brasil, divisão de aves, suínos e alimentos processados da Marfrig Alimentos. O negócio, avaliado em R$ 5,85 bilhões, foi a saída encontrada pelo Marfrig para reduzir rapidamente o endividamento, parte dele contraído para comprar a própria Seara, e ganhar fôlego para voltar a crescer.
          A marca de frangos Macedo, com sede em São José, Santa Catarina, acabou ficando dentro do portfólio da Seara. Era uma empresa independente até ser comprada pela americana Tyson Foods, que chegou ao Brasil em 2008. Em julho de 2014 a Tyson vendeu suas unidades no Brasil para a JBS, incluindo consequentemente a marca Macedo e mais um frigorífico que comprara, localizado em Itaiópolis, Santa Catarina. Um ano antes, em junho de 2013, a JBS tinha comprado a Seara, então pertencente à Marfrig. A frangos Macedo somou-se à Seara mas permanecendo como marca independente.
          A Tyson Foods, então segunda maior processadora de frangos do mundo, chegou a avançar na negociação para comprar a Seara, mas antes de sacar a caneta do bolso quis fazer uma auditoria na operação - como aliás é praxe em transações desse tipo. O JBS entendeu que pressa era um componente fundamental na negociação. A então recente valorização do dólar fizera a dívida da Marfrig beirar o impagável. Não havia alternativa senão vender ativos - e rapidamente.
          Apesar da pressa com que a aquisição foi concluída, os planos da JBS para a Seara eram claros. O objetivo dos irmãos Batista er criar uma empresa capaz de atacar todas as fortalezas da BRF. Os Batista estudavam juntar a Seara à Vigor, empresa de laticínios da família, que já era listada na BM&F Bovespa. O movimento separaria a Seara da empresa de carne bovina.
          O grupo JBS, por sua vez, partiu logo para buscar sinergias. Um exemplo é a margarina Doriana, marca da Seara, que passou a ser fabricada pela Vigor, o braço do setor de lácteos do grupo J&F, que controla a JBS. A distribuição da Doriana continua sendo feita pela Seara.
          Pouco depois de meados do 2016, a Seara passa a fazer comerciais em revistas e televisão de seus produtos gourmet (presuntaria, etc), com o ator americano Robert De Niro. Antes disso, já havia contratado a jornalista Fátima Bernardes como garota-propaganda. Assim que estourou o escândalo, em 17 de maio de 2017, sobre as gravações feitas pelo empresário Joesley Batista, que gravou conversa com o presidente Temer um mês antes, as propagandas pararam de ir ao ar na TV e de circular em revistas.
          A Seara produz também para terceiros, como a pizza Qualitá, para a Cia. Brasileira de Distribuição - Grupo Pão de Açúcar.
          A Seara foi fortalecida com a compra da fabricante paulista de mortadela Marba e dos ativos de margarina da Bunge - anunciado em dezembro de 2019, em negócio de R$ 700 milhões. No início de agosto de 2020, o Cade aprovou a aquisição de ativos relacionados ao negócio de margarinas e maioneses da Bunge. O negócio resultará na ampliação da capacidade produtiva da Seara no negócio de margarinas e sua entrada no segmento de maioneses.
          Em 8 de janeiro de 2020, a Seara passa a ter nova direção. Uma das maiores responsáveis pela reestruturação da empresa, a executiva Joanita Karoleski, de 59 anos, passou o bastão para Wesley Batista Filho, nascido em 1992, em mais um capítulo da ascensão do jovem empresário rumo ao comando do grupo controlado pelo pai e o tio, Joesley Batista.
          No final de novembro de 2020, a Seara Alimentos concluiu a aquisição dos ativos de margarina e maionese da Bunge no Brasil, agregando cerca de R$ 1 bilhão de faturamento anual para a controlada da JBS. O negócio foi fechado por R$ 700 milhões e inclui três unidades produtivas em Santa Catarina (Gaspar), São Paulo (capital) e Pernambuco (complexo industrial de Suape - Ipojuca).
          No segmento de margarinas a Seara possui as seguintes marcas: Doriana, Delicata, Delícia, Cremosy e Primor. Outras marcas relacionadas à Seara, são: Rezende, LeBon, Confiança, MassaLeve (desde 1980), Marba, Hans e Eder (desde 1923).
(Fonte: revista Exame - 03.02.1993 / site insumos.com.br / revista Época Negócios -10.06.2013 / Exame - 26.03.2013 / Valor - partes)

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