A fabricante de tubos e conexões de PVC Tigre, fundada pela família Hansen no início da década de 1940, tem sua sede em Joinville, Santa Catarina.
É possível separar em duas partes a trajetória dos primeiros 60 anos da Tigre. No primeiro meio século, a empresa se desenvolveu sob a égide do empresário João Hansen Júnior, nascido em 1915. Transcorreu nesse período uma típica saga de empreendedor, com traços semelhantes aos de diversas outras histórias de empresas familiares brasileiras. Hansen vislumbrou o futuro de um tipo de plástico, o PVC, e construiu um império com ele. No início dos anos 1980, a empresa chegara aos 60% de participação no mercado.
Aos 76 anos, em 1991, a saúde de João Hansen sofre um baque. A Tigre, então com 50 anos de história, passa a enfrentar uma série de turbulências.
No mesmo ano de 1991, João Hansen doa ações de sua holding, a JHL, aos filhos João Hansen Neto, nascido em 1946 e Carlos Roberto. Carlos Roberto é nomeado o novo líder da empresa, levando dois terços das ações com direito a voto.
Em 1992, após enfrentar uma série de problemas em suas empresas, Eliseth Hansen Batschauer, filha de João Hansen, reivindica uma revisão na partilha feita pelo pai. Numa rodada de doação feita em 1989 pelo pai, Eliseth recebera quatro empresas, um iate, um helicóptero, fazendas e imóveis avaliados em 200 milhões de dólares. O problema é que o quinhão de Eliseth foi diminuindo aos poucos. Seu ex-marido, o empresário Luis Batschauer, pulverizou as quatro empresas que ela originalmente herdara em dezenas de negócios menores, a Corporação HB. Com a recessão do início dos anos 1990, a HB começou a fazer água. A situação se agravou e em 1994 uma das empresas da corporação entrou em concordata. Em 1996 foi a vez da fabricante de acessórios sanitários Cipla, a maior delas. Mais uma, a Interfibra, jogou a toalha em 1997.
Pouco depois de meados de 1993, o grupo Hansen, controlador da Tigre (além da Tigre, inclui uma transportadora e uma fábrica de máquinas), então maior empresa de tubos e conexões de PVC do país, não tinha dúvidas: o mercado virara um selva nos últimos anos. O consumo interno caíra sensivelmente. Para piorar, nesse período trinta novos fabricantes entraram na briga.
Para enfrentar um mercado que estava se tornando cada vez mais disputado, o empresário Carlos Alberto Hansen, nascido em 1951, presidente da empresa, tomou duas decisões. A primeira: investir 8 milhões de dólares na construção de uma fábrica de tubos na Argentina. A segunda: comprar a fábrica de perfis de PVC da Fundição Tupy, sua vizinha em Joinville, onde está sediada. A concretização do negócio ainda não estava confirmada.
A tigre estava mostrando as garras (na publicidade, usa-se a "marca das patinhas") depois de um reestruturação que trouxe fôlego à companhia. No biênio 1992/1993,a empresa estancou sangrias, com o fechamento de fábricas pouco produtivas, lançou novos produtos, reduziu estoques e demitiu 1.000 empregados.
Entre as turbulências dos 50 anos da empresa, mencionadas em parágrafos anteriores, uma foi uma tragédia: a morte num acidente aéreo em abril de 1994 na Colômbia, de Carlos Roberto, então presidente da empresa, o sucessor ungido por Hansen. Em seu lugar, assumiu João Hansen Neto, também acionista da empresa, chamado pela viúva Rosane, sua cunhada, para assumir o comando da empresa.
Em meados de 1994, a empresa se depara com uma participação de mercado de 36%. Foi quando Hansen Neto resolveu tentar voltar à posição histórica da empresa no mercado. Dia 22 de agosto de 1994, os revendedores da Tigre receberam produtos da empresa com preços em média 30% menores. O objetivo da redução era recuperar mercado.
Em meados de 1994, a empresa se depara com uma participação de mercado de 36%. Foi quando Hansen Neto resolveu tentar voltar à posição histórica da empresa no mercado. Dia 22 de agosto de 1994, os revendedores da Tigre receberam produtos da empresa com preços em média 30% menores. O objetivo da redução era recuperar mercado.
Ao transformar a retomada do território perdido em seu mandamento número 1, Hansen Neto direcionou a Tigre a privilegiar o mercado de tubos e conexões para água, esgoto e eletricidade, regido por normas técnicas de fabricação. Nesse setor, como todos os produtos são iguais, vende mais quem oferece o preço menor.
Para diminuir preços, Hansen Neto acionou a tesoura nos custos. Demitiu 500 funcionários, reduziu de 3.700 para 2.500 o número de itens fabricados. Uma fábrica de perfis em Indaiatuba, interior de São Paulo, comprada por 10 milhões de dólares em meados de 1993, foi fechada um ano depois.
Para ficar mais perto dos clientes, toda a diretoria foi transferida para São Paulo em outubro de 1994. Em Joinville, ficaram apenas gerências operacionais. Foi criada uma diretoria de planejamento e os quatro mercados atendidos pela empresa - revendas, órgãos públicos, agricultura e indústrias - ganharam gerentes exclusivos.
Para diminuir preços, Hansen Neto acionou a tesoura nos custos. Demitiu 500 funcionários, reduziu de 3.700 para 2.500 o número de itens fabricados. Uma fábrica de perfis em Indaiatuba, interior de São Paulo, comprada por 10 milhões de dólares em meados de 1993, foi fechada um ano depois.
Para ficar mais perto dos clientes, toda a diretoria foi transferida para São Paulo em outubro de 1994. Em Joinville, ficaram apenas gerências operacionais. Foi criada uma diretoria de planejamento e os quatro mercados atendidos pela empresa - revendas, órgãos públicos, agricultura e indústrias - ganharam gerentes exclusivos.
Em setembro de 1994, mais um lance na guerra deflagrada na família Hansen vem a lume. Eliseth ingressou com uma ação cautelar de interpelação na Justiça de Joinville contra seu irmão João Hansen Neto, presidente do grupo. Ela pretendia que o irmão desse conta de supostas operações de evasão de divisas e de irregularidades na gestão do patrimônio da Tigre. A maioria das questões levantadas por Eliseth faz parte de um dossiê anônimo enviado pouco tempo antes a algumas redações.
Em 18 de janeiro de 1995, morre o patriarca fundador João Hansen Júnior. Rosane briga com João Neto e em abril, ele deixa a presidência. A gestão é então profissionalizada com a promoção de Amaury Olsen ao posto de principal executivo. Eliseth volta a pedir na justiça a anulação da partilha e reclama uma indenização por perdas e danos.
Nos primeiros meses de 1995, a participação de mercado, que chegara a 70%, estava em 32%. Para sair dessa armadilha, a Tigre mudou radicalmente sua diretoria com a contratação de Paulo Russomano e de um diretor financeiro. Depois, vieram mais três gerentes. A meta passou a ser a reconquista de fatias do mercado. Os preços sofreram redução de 10%. As doze filiais espalhadas pelo país foram extintas e substituídas por seis escritórios regionais com apenas um gerente, interligados por computador com as quatro fábricas. O resultado logo apareceu. A fatia de mercado da Tigre aumentou para 50% em meados de 1995.
Em 1997, João Hansen Neto vende sua cota de 25% do capital para o Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Com o dinheiro, compra uma participação na Fortilit, que foi adquirida pelo grupo suíço Amanco em 1991.
Em 1998, é inaugurada a Tigre Argentina. Um ano depois, em 1999, a empresa entra no Chile, ao investir 15 milhões de dólares na compra de três empresas. Em outubro desse mesmo ano o grupo Amanco incorpora a Akros e reforça sua posição de principal concorrente da Tigre.
No início de novembro de 1999, a Tigre firma acordo de cooperação com a Indústrias Vassalo Inc., líder do mercado de PVC de Porto Rico. A Vassallo faria a distribuição dos produtos da Tigre nos Estados Unidos, Canadá, México, Colômbia, países da América Central e do Caribe. A operação faz parte da estratégia da empresa para atuar em novos mercados, seja com fábricas próprias ou por meio de parcerias comerciais.
Em abril de 2000, Lilia, viúva do fundador, reconhece a procedência do processo movido pela filha Eliseth. Na Argentina, a Tigre amplia a fatia do mercado com a aquisição da Santorelli. Na Bolívia, compra o controle da líder local, a Plasmar.
Em abril de 2015, Felipe Hansen assume a presidência do conselho de administração da Tigre, posição que foi ocupada por sua mãe, Rosane Maria Fausto Hansen (esposa de Carlos Roberto), durante 21 anos.
Em 8 de abril de 2021, a Tigre compra a americana Dura Plastic Products, produtora de tubos de PVC para residências, sistemas de irrigação e drenagem. Com a aquisição, a Tigre, que tem outra unidade nos Estados Unidos, passa a ser uma das cinco maiores empresas no segmento no país. Cerca de 80% da produção da Dura é vendida nos Estados Unidos e o restante no Canadá e México.
Em 18 de fevereiro de 2022, a Tigre informa que vendeu à empresa de private equity Advent uma fatia de 25% por R$ 1,35 bilhão. A Tigre planeja usar os recursos levantados para adquirir concorrentes, abrir novas linhas de produção em plantas atuais e construir outras, disse o presidente do conselho de administração da empresa, Felipe Hansen. A Tigre já se expandira para a América Latina, com fábricas em países como Argentina, Chile e Colômbia, e para os Estados Unidos e estaria de olho em um boom (pacote de US$ 1 trilhão do presidente Joe Biden) da infraestrutura nos Estados Unidos, onde tem três fábricas e no Brasil. A Advent indicará dois dos sete membros do conselho de administração da Tigre.
(Fonte: revista Exame - 29.09.1993 / 14.09.1994 / 31.08.1994 / 05.07.1995 / 17.11.1999 / 04.04.2001 / Valor - 09.04.2021 / Reuters - 18.02.2022 - partes)
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