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5 de out. de 2011

Perdigão

     Em 1934, as famílias Ponzoni e Brandalise abrem um armazém na Vila das Perdizes, no meio oeste catarinense. Anos mais tarde a sociedade criaria e empresa Perdigão. Em 1941, muda a identificação visual, criando o logotipo que traz um casal de perdizes. As vilas das Perdizes e da Vitória se unem, em 1941, criando o município de Videira que passa a ser a sede da empresa. Pouco depois de meados da década de 1940, a empresa adquire serrarias e entra também no ramo madeireiro.
     O início do abate de aves acontece em 1955 e, três anos depois, a companhia passa a denominar-se Perdigão S.A. Comércio e Indústria. Na década de 1960, há um incremento forte na quantidade de aves abatidas, para a época, que eram comercializadas resfriadas em São Paulo. A década de 1970 é particularmente repleta de realizações como a constituição da Perdigão Rações S.A. (1974); industrialização de soja e seus derivados (a partir de 1975); início da exportação de carne de frango para a Arábia Saudita (1976) e o começo da produção de Chester (1979), com base em matrizes americanas de uma ave especial, que concentra 70% de sua carne no peito e na coxas.
     Em 1981, a empresa abre seu capital e passa a comercializar suas ações em bolsas de valores. O início do abate de bovinos deu-se após a aquisição, em 1986, de um frigorífico em Lages, na Serra Catarinense. A segunda geração assume o comando da empresa em 1987.
     Logo no início da década de 1990, Saul Brandalise, um dos fundadores da Perdigão, morre em Videira. Um ano depois, em 1992, Angelo Ponzoni, o outro fundador, morre no Rio de Janeiro. Atolada em dívidas, a empresa esteve a ponto de ser desmontada. Entre as interessadas na compra estava a Avipal, que depois se tornou Eleva e foi comprada pela própria Perdigão, e a Sadia, que tinha então um faturamento três vezes superior à principal concorrente.
     Em agosto de 1994, depois de grande expectativa no mercado, a Perdigão foi adquirida por um conjunto de fundos de pensão de empresas estatais que assume o controle acionário, encerrando o ciclo familiar. Capitaneados pela Previ, do Banco do Brasil, os fundos deram um sinal evidente de seu poder financeiro ao pagar 470 milhões de dólares pela Perdigão, então já um gigante entre os fabricantes brasileiros de alimentos. Com o negócio, os fundos jogaram para escanteio um consórcio formado pelo banco J.P.Morgan e pelo grupo argentino Bunge y Born, que já se consideravam os donos da empresa.
          Sob o controle do pool de fundos, a Perdigão passou a ter uma gestão totalmente profissionalizada. Os novos administradores cortaram custos, aumentaram a capacidade produtiva, modernizaram as fábricas e diminuíram a participação de commodities no faturamento, investindo em produtos de maior valor agregado. Deu certo: a partir de 1996, ela começou a morder os calcanhares da Sadia. A fatia da Perdigão no mercado de alimentos congelados cresceu de 8,8% em 1994 para 32,4% em junho de 1998.
     Em 2000, a empresa compra 51% da Batávia, se fortalecendo no setor de lácteos e lança linha de pizzas congeladas. Entre 2000 e 2008 adquire várias empresas.
     A partir da profissionalização, a Perdigão iniciou um processo de crescimento que teve como principal suporte a nova planta de Rio Verde, em Goiás. Resultado desta expansão foi o aumento do valor de mercado da empresa, e da receita líquida, ambos multiplicados por dezenas de vezes.
     Em convenção que reuniu 130 diretores e executivos da empresa, em Florianópolis, no final de 2001, a Perdigão adotou o nome Perdix para sua marca no exterior. Como se sabe, para os gringos falarem o nosso "ão" de Perdigão, não é nada fácil. O inusitado é que antes disso a empresa tinha ficado quase dois anos tentando conseguir, sem sucesso, um nome junto a agências de publicidade e especialistas em marcas.
     Mesmo estando fortalecida (com nova planta e profissionalização), o falatório da fusão com a Sadia continuou latente. Ressurgiu em abril de 2001 quando as empresas se uniram para criar a BRF Trading, para exportar carnes congeladas. Três anos depois, uma reserva de caixa de R$ 2,5 bilhões da Sadia levantou novas suspeitas de uma união entre as empresas.
     O sinal claro da intenção de compra veio em 2006, quando a Sadia surpreendeu o mercado e fez a primeira oferta pública de mercado do Brasil, a chamada oferta hostil, para adquirir a Perdigão. Depois de recusada a primeira oferta, a empresa chegou a oferecer R$ 3,9 bilhões para adquirir a concorrente, mas foi unanimemente rechaçada pelos acionistas da Perdigão que a consideraram uma ofensa.
     No final de 2007, a Perdigão adquire a Eleva, dona da Avipal e Elegê por R$ 598 milhões. Shan Ban Chun, dono da Eleva, fica com 8% do capital da Perdigão. Com a aquisição, a Perdigão superou a Sadia pela primeira vez na história. Mas a crise financeira também a atingiu. A queda do preço do leite, as dificuldades de captação de empréstimos, a redução do consumo interno e a retração das exportações fizeram a Perdigão fechar fábricas da Eleva em Ivoti (RS) e Rio Casca (MG).
     Também em 2007, a Perdigão e a Unilever formam uma joint venture para a criação da unidade UP Alimentos, responsável pela produção, venda e distribuição da linha Becel, que, alinhada com a missão de vitalidade, passou a ser a única representante da Unilever no mercado de margarinas. No negócio, as marcas Doriana, Delicata e Claybom foram vendidas para a Perdigão. Pouco depois, a Perdigão enriqueceu a composição da Doriana com uma combinação de nutrientes que reúne ácidos graxos essenciais e vitaminas A, D e E. Isso tornou a nova formulação da Doriana o produto ideal para a alimentação de toda a família. Mas, mesmo assim, a Doriana perdeu a liderança de mercado, cortou investimento em mídia e diminuiu sensivelmente sua linha de produtos. Pouco depois, houve um novo desfecho. Em 2012, a marca passou a integrar a linha de produtos da Seara Alimentos, como resultado de uma troca de ativos exigida pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para aprovação da fusão entre Sadia e Perdigão. Algum tempo depois, com a aquisição da Seara pelo grupo JBS, a Doriana mudou mais uma vez de mãos e passou a pertencer ao portfólio da Vigor, que pertence à holding J&F, também proprietária da JBS.
     Depois da perda de R$ 2,6 bilhões em 2008 com derivativos, a Sadia passou a ser objeto de compra. Em março de 2009, a empresa assumiu em fato relevante que estava negociando uma associação com a Perdigão.
     Em maio de 2009, foi anunciado o acordo de fusão entre a Sadia e Perdigão. Nasce então a Brasil Foods, mais tarde simplesmente BRF (vide origem da marca BRF neste blog), um gigante do setor alimentício. O contrato foi assinado por Nildemar Secches, da Perdigão, e Luiz Fernando Furlan, da Sadia. O acordo criou uma empresa de cerca de 120.000 funcionários, mais de 40 fábricas e faturamento líquido de 22 bilhões de reais.
(Fonte: revista Veja - 07.09.1994 / revista Exame - 02.12.1998 / 20.03.2002 / revista IstoÉDinheiro - 21.01.2008 / jornal O Estado de S.Paulo - 18.05.2009 - partes)

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