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6 de out. de 2011

Ca'd'Oro Hotel (Hotel Cadoro)

          A história do empreendimento começou em Bérgamo, na Itália. Em um dos hotéis da família, Fabrizio Guzzoni (1920-2005) conheceu uma brasileira, com quem viria a se casar. Já em São Paulo, inaugurou o Ca'd'Oro - primeiro, como um restaurante, em 1953, na rua Barão de Itapetininga. Três anos depois, na rua Basílio da Gama, nascia o hotel, com 50 apartamentos.
          Durante muito tempo, foi considerado um dos hotéis mais elegantes da cidade. O Grand Hotel Ca'd'Oro da rua Avanhandava foi erguido em 1965.
          A expansão para a Rua Augusta seria feita em 1970, quando começou seu auge. Quase uma década depois, o hotel de Ca'd'Oro passou a Grand Ca'd'Oro, primeiro cinco estrelas de São Paulo, também primeiro a oferecer uma piscina a seus hóspedes. O prédio branco e azul, com janelas arcadas que remetem ao palácio veneziano Ca'd'Oro (Casa de Ouro) hospedou reis, rainhas, políticos e personalidades que passaram pela cidade, além de anônimos com dinheiro suficiente no bolso para bancar o valor cobrado por uma de suas diárias. Ganhou notoriedade como espaço de elegância e luxo, ponto de encontro da elite.
           No fim dos anos 1980, o hotel recebeu o rei da Espanha, Juan Carlos I. O cantor americano Nat King Cole também dormiu lá. Nos anos 1960 e 1970, os hóspedes podiam topar pelos corredores com Vinicius de Moraes, o tenor Luciano Pavarotti, Gore Vidal e o pintor Di Cavalcanti, que fixou residência num dos quartos espaçosos - mas não no maior deles, a suíte presidencial Dei Dogi, com 420 metros quadrados.
          O serviço discreto e o ambiente tradicional eram atrativos para a classe política. O ativista Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, se hospedou lá. E a predileção do ex-presidente Itamar Franco tem razão de ser: em duas ocasiões o Ca'd'Oro se transformou em sede do governo. Na primeira, o então presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985) passou 15 dias no hotel enquanto se recuperava de um problema de saúde. Um certo tempo depois, Marco Maciel, então presidente quando Fernando Henrique Cardoso estava fora do país, também se convalesceu lá.
          O restaurante, por sua vez, foi por muitos anos o preferido da elite paulistana. Seus pratos clássicos, inspirados na cozinha do Norte da Itália, conquistaram fãs cativos e o bollito misto era o mais afamado. O tradicional risotto alla milanese, feito com açafrão importado, também se difundiu na cidade a partir do Ca'd'Oro.
          Engrenagem do cenário urbano, o hotel foi mudando junto com a paisagem e o eixo financeiro paulistano, que se deslocou do Centro, já em acelerado ritmo de degradação, rumo a avenidas como Brigadeiro Faria Lima e Luís Carlos Berrini.
           Após o período de efervescência, nos anos 1960 e 1970, o local entrou em decadência, a partir do fim da década de 1990. Primeiro hotel cinco-estrelas de São Paulo, o Ca'd'Oro fechou em 20 de dezembro de 2009 e um ano depois leiloou a maior parte do acervo: mobiliário, louças, pratarias, obras de arte, cristais, tapeçarias, roupas de cama e mesa
          O hotel passou mais tarde por uma  remodelação completa - do restaurante aos cerca de 300 apartamentos. A ideia inicial era que ficasse pronto para a Copa de 2014, segundo Fabrizio Machado Guzzoni, neto do fundador e gerente-geral. Mas isso não aconteceu.
          Parte da história de São Paulo, o Ca'd'Oro viveu o auge e a decadência do centro. A reforma pretende recuperar o prestígio de outros tempos e pode ajudar a impulsionar a revitalização do entorno da rua Augusta.
          No início de outubro de 2016, o símbolo da sofisticação da metrópole entre os anos 1960 e 1990 volta a ocupar seu tradicional endereço na Rua Augusta, 129. Resultado de um investimento de cerca de 300 milhões de reais, o empreendimento, fechado desde 2009, reaparece em novo formato, com duas torres (uma residencial e a outra comercial), somando 908 apartamentos. Os 147 quartos para hóspedes estão distribuídos entre o 19º  e o 27º andares de um dos prédios, que conta com uma piscina no terraço. Algumas suítes têm vista para cartões-postais como os edifícios Copan  e Itália. Parte dos objetos de decoração pertence ao acervo original, a exemplo do piano de cauda francês Érard, fabricado em 1860 e único na cidade. Outra característica mantida na versão moderna é o cardápio do restaurante, com pratos da culinária italiana, como a massa recheada casoncelli, a codorna com polenta e as cassatas. Instalado no térreo, ressurgiu também o Bar Ca'd'Oro, com elaborada carta de drinques.
          As tratativas para a reformulação do ponto tiveram início em 2008 e culminaram um ano depois com a venda do terreno para a incorporadora Brookfield, que pretendia erguer um novo prédio. Em 2010, a realização de um leilão de várias peças do antigo estabelecimento, como quadros e mobiliário, causou comoção entre os paulistanos. Surgiu então a ideia de recuperar a vocação original do endereço. Fabrizio Guzzoni, neto do fundador homônimo, que já atuava por ali entre 2000 e 2009, negociou com a construtora para manter as suítes, o restaurante no térreo e o nome tradicional.
          Num sábado, 9 de outubro de 2021, um dia cinza, chuvoso e frio, algumas pessoas se dispuseram a sair de casa só para ver de perto as últimas peças de um tempo que não volta mais: 160 lotes de taças e copos de cristal Hering (extinta), bules, leiteiras, cremeiras de prata da alemã Wolff, e aquarelas com motivos florais, cuja referência máxima é terem sido pintadas por Sofia, neta de Hércules Florence, reconhecido como um dos pais da fotografia. Todas as peças, de cristal ou prata, têm encravado o logotipo do hotel.
          Entre uma e outra observação do tipo "a história do Ca'd'Oro é a história do centro de São Paulo" ou "todo mundo vinha aqui", alguns visitantes comentaram que nada lembrava os velhos tempos. A exceção seria o restaurante, que ainda guarda certo clima de antigamente. E também o piano (Érard).
          Respondendo a alguns comentários de que o acervo exposto era pequeno, as atendentes procuraram explicar que, no primeiro leilão (realizado em 2010), algumas peças foram reservadas ao acervo particular da família Guzzoni. Passado um tempo, entretanto, como todos da família já tinham um pouco de tudo, ficaram os excedentes — então levados a leilão.
 (Fonte: jornal O Estado de S.Paulo - 19.11.2009 - 21.12.2009 / revista Veja São Paulo - 13.04.2016 - 05.10.2016 / TAB-UOL - 11.10.2021 - partes)

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