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6 de out. de 2011

Casa dos Ventos

           Os ventos sopram a favor para a Casa do Ventos, fundada em 2007 pelo empresário cearense Mário Araripe e que desenvolve e vende projetos de usinas eólicas. A empresa se tornou um dos maiores desenvolvedores de parques eólicos do país.
           Araripe, formado no Ita, depois de se formar foi trabalhar em uma empresa da família de seu sogro, a Têxtil Bezerra de Menezes, em 1980. Saiu um ano depois para montar o próprio negócio, a construtora Colmeia, que venderia em 1994. Por essa época o empresário adquiriu duas companhias têxteis, nas quais detém participação até hoje. Araripe ganhou notoriedade em 1997, quando comprou a fabricante de veículos utilitários Troller, que estava quebrada. Reergueu a montadora cearense, chamando a atenção da americana Ford. Em 2006, Araripe vendeu a Troller para a Ford por estimados 700 milhões de reais, em valores do início de 2016. Aqui, uma dose de sorte, pois pouco depois veio a crise suprime nos EUA que fez as grandes montadoras passarem de compradoras para vendedoras.
           De posse dessa fortuna, resolveu se arriscar mais uma vez em um novo negócio. Foi aí que entrou o acaso. Por sugestão de um ex-colega de turma do Ita, Odilon Camargo, o empresário começou a analisar com interesse o setor eólico. Camargo foi responsável pelo primeiro grande levantamento sobre o potencial eólico no Brasil, elaborado para o Ministério das Minas e Energia, e se tornaria o principal consultor de Araripe no novo negócio.
          Quando Araripe decidiu apostar em eólicas, o setor representava 0,2% da produção de energia elétrica do Brasil. No início de 2016 respondia por 6%. Nos últimos anos o mercado de energia eólica se tornou disputado. Endesa, Renova Energia, Iberdrola Renovables, EDP e Duke Energy estão entre a gigantes que se instalaram no Brasil. Araripe, que chegou antes dessa turma toda, conseguiu dar tacadas certeiras porque investe muito dinheiro para encontrar lugares, onde, de fato, venta de verdade. Por isso, construiu uma fábrica de torres de medição e distribuiu mais de 500 delas pelo país. As torres fazem anos de medições e, só depois disso, Araripe decide onde vai investir. Embora os agentes reguladores do governo exijam que os estudos de viabilidade de um parque eólico incluam a construção de uma torre de medição num raio de 10 quilômetros, a Casa dos Ventos adota a proporção de uma torre a cada 3 quilômetros. Isso, é claro, aumenta os custos do projeto (cada torre custa em torno de 300.000 reais), mas diminui o risco de instalar usinas em lugares onde o vento não vai soprar forte e de modo constante.
          Nos dez primeiros anos a empresa vendeu usinas em diferentes estágios de implantação. De todos os negócios que colocou em pé a Casa dos Ventos se desfez, no período, de aproximadamente 70%. E não é pouca coisa - ao todo, a empresa participou do desenvolvimento de um terço dos parques eólicos então em operação ou em construção no Brasil.
          A Casa dos Ventos, cujo pipeline inclui até 20 GW em projetos eólicos e solares, é desenvolvedora de projetos que foram vendidos para empresas interessadas no novo mercado que estava se configurando. Cerca de um quarto dos projetos renováveis ​​em operação tiveram início na empresa. Entre 2013 e 2014, a empresa vendeu 1 GW em leilões de energia, divididos em cinco parques eólicos. As fazendas foram vendidas para a Cubico (empresa formada por ativos que pertenciam ao Santander), Actis (que posteriormente foi renomeada para Echoenergia e vendida em outubro de 2021 para a Equatorial Energia) e uma empresa controlada pela Votorantim e Canada Pension Plan (CPP) – que passou a se chamar Auren Energia após adquirir a Cesp.
          Em 2015, a empresa começou a desenvolver projetos de energia solar fotovoltaica, incluindo versões híbridas que utilizam áreas dos parques eólicos da empresa como forma de reduzir os custos de transmissão. A partir de 2018, a Casa dos Ventos passou a estruturar projetos para venda no mercado livre, tendo como clientes Vulcabrás e Baterias Moura.
          O braço direito de Araripe na Casa dos Ventos é o filho Lucas, um administrador formado na escola de negócios Insper e responsável pela área de desenvolvimento de projetos da empresa. A filha  Virna, psicóloga com MBA na Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos, está à frente da área de suprimentos. A caçula, Lara, trabalha no departamento responsável pela pesquisa das localidades que vão abrigar novos parques eólicos. O outro filho, Tasso, é o único que não trabalha com o pai.
          Em setembro de 2016, a Casa dos Ventos inaugura a operação comercial de seu Complexo Tianguá, no Ceará, com 130 megawatts de capacidade instalada, reforçando sua estratégia de posicionar-se como uma geradora e não somente uma desenvolvedora de projetos.
          Em fins de setembro de 2021, a Casa dos Ventos, então já uma das principais empresas de projetos eólicos do Brasil. e a Unigel, maior produtora de acrílicos, estirênicos e fertilizantes nitrogenados da América Latina, assinaram um contrato de compra de energia de 20 anos avaliado em mais de R$ 1 bilhão. O primeiro acordo da petroquímica brasileira para uso de energia eólica viabiliza a construção do projeto Babilônia Sul de 360 megawatts, na Bahia.
          Em 25 de outubro de 2022 vem a público que a petrolífera francesa TotalEnergies teria adquirido uma participação de 34% no braço de geração da Casa dos Ventos. O negócio seria avaliado em R$ 4,2 bilhões, incluindo caixa e dívidas. A nova joint venture deverá aumentar o potencial de investimento de ambas as empresas em energia renovável. O negócio, considerado um dos maiores do setor de energia em 2022, envolve um portfólio de parques eólicos e solares totalizando 6,2 gigawatts de capacidade instalada, incluindo 1,7 GW de usinas em operação ou em construção e 4,5 GW de projetos em desenvolvimento ou em construção.
          A operação dá à Casa dos Ventos recursos suficientes para construir novos parques eólicos e solares de seu portfólio, já que a geração renovável é vista como suporte para projetos de hidrogênio verde. Ao mesmo tempo, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 690 milhões para quatro parques eólicos que a Casa dos Ventos construirá na Bahia (Ventos de São Januário 16, 17, 18 e 19). Os quatro parques têm capacidade instalada total de 288 MW. Os recursos serão utilizados para a aquisição de aerogeradores nacionais, obras civis e serviços técnicos, informou o BNDES.
          Em meados de novembro de 2022, a Casa dos Ventos e a Mosaic Fertilizantes assinaram um acordo comercial para fornecer 30 megawatts médios (aMW) de energia eólica por 14 anos a partir do complexo eólico Umari, no estado do Rio Grande do Norte, a partir de 2026. Com a parceria, a Mosaic torna-se a primeira empresa de fertilizantes do Brasil a investir na aquisição de energia eólica com possibilidade de se tornar uma autoprodutora com capacidade para suprir 30% da energia contratada no período de 2026 a 2039, além de proporcionando estabilidade no abastecimento. Para a Casa dos Ventos, o modelo de parcerias para autoprodução com grandes empresas fortalece o ramo de geração, que acumula 1,7 GW de ativos em construção e em operação dedicados ao mercado livre. A construção do complexo eólico Umari começou em 2021 e contará com 45 aerogeradores da Vestas com capacidade total de 202,5 ​​MW. É menor do que os megaprojetos que a Casa do Ventos vem implementando, mas é capaz de evitar a emissão anual de cerca de 405 mil toneladas de CO2 equivalente na atmosfera.
          Em fins de março de 2023, a Casa dos Ventos e a Braskem firmaram contrato no valor de R$ 2,1 bilhões para fornecimento de energia eólica dos parques Rio do Vento e Umari, ambos localizados no Rio Grande do Norte, por meio de contratos de compra e venda de energia (PPAs) de até 22 anos.
Este segundo grande acordo entre as empresas torna a Casa dos Ventos a principal fornecedora de energia renovável da Braskem. Em janeiro de 2021, as empresas anunciaram a assinatura de contratos de fornecimento de energia renovável de 20 anos que ajudaram a materializar a primeira fase do complexo eólico Rio do Vento, o maior projeto eólico da América Latina.
          Em abril de 2023, a Casa dos Ventos decidiu formar uma joint venture com a ArcelorMittal Brasil para desenvolver um parque eólico de 557 megawatts. O projeto está previsto para entrar em operação em janeiro de 2026, e até 92% da produção será comprada pela ArcelorMittal Brasil, subsidiária responsável pelo novo negócio. O investimento no projeto Babilônia será de R$ 4,2 bilhões e os 123 aerogeradores serão instalados na região central da Bahia. A ArcelorMittal Brasil terá 55% da empresa. A Casa dos Ventos terá 45%.
(Fonte: revista Exame - 17.02.2016 / jornal Valor International - 13.09.2016 / 28.09.2021 / 25.10.2022 / 17.11.2022 / 29.03.2023 / 19.04.2023 - partes)

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