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6 de out. de 2011

Karsten

           Durante mais de 27 anos, Marlene Burkhardt repetiu o ritual matutino de montar numa bicicleta e pedalar algumas centenas de metros até chegar ao local de seu primeiro e único emprego. Assim também faziam Alfonso, seu pai, Erwin, seu avô, e o bisavô Nicolau. Os Burkhardt são parte da origem da catarinense Karsten, terceira maior fabricante brasileira de roupas de cama, mesa e banho. A história se repete com outros sobrenomes de origem alemã, como Schlickmann, Gruetzmacher, Weidgenant, Wagenknecht e Stammerjohann.
          Fundada em 1883 em Testo Salto, bairro localizado a 20 quilômetros do centro de Blumenau, a Karsten é um exemplo raro de longevidade combinada com resultados positivos e constantes. Foi fundada pelo imigrante alemão Johann Karsten que sedimentou valores e crenças seguidos no decorrer das décadas que se sucederam. "Não dar passos maiores que as pernas" é um deles, repetido por Carlos Odebrecht, nascido em 1943, bisneto de Karsten. Carlos (primo do empresário da construção Norberto Odebrecht)  foi preparado durante anos para assumir a presidência. No final dos anos 1960, mudou-se para a Alemanha, onde estudou engenharia têxtil. Na volta, cursou economia e passou por todas as áreas da empresa antes de assumir o comando em 1998.
          É a constância de resultados que a diferencia de outras empresas tão ou mais antigas - e em alguns casos maiores - do maior pólo têxtil do Brasil, o Vale do Itajaí. A Hering é de 1880. A Döhler, de 1881, e a Buettner, de 1898. Todas elas passaram por crises das quais na Karsten escapou quase ilesa, como a dos anos 1990, a pior crise do setor têxtil brasileiro, quando muitas companhias mantinham parques fabris obsoletos e foram abatidas pela abertura do mercado.
          O conservadorismo, porém, tem seu preço. A Karsten permaneceu menor em faturamento e menos conhecida que concorrentes como a Teka e a Artex.
          A Karsten é uma companhia formada por famílias - a começar pelos controladores. Trata-se de uma influência da cultura e da história da região, colonizada por imigrantes alemães no século XIX. A maioria dos funcionários mora em Testo Salto e na vizinha Pomerode, a mais alemã das cidades das redondezas. Entre 1914 e 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, a Karsten teve de interromper a importação de fio tinto e anilina, seus principais insumos. A maioria dos funcionários teve de retornar às atividades agrícolas até a situação melhorar.
          O mundo dos negócios mudou muito e não há mais dispensas provisórias nem casa fornecidas pelo patrão mas o vínculo entre empresa e várias das famílias da região permanece. Uma escola de ensino fundamental e um ambulatório, instalados dentro da Karsten, são frequentados por funcionários, familiares e moradores de Testo Salto.
          A Karsten decidiu focar seus negócios na parcela mais sofisticada do mercado. A empresa não produz toalhas e lençóis populares. Atua em nichos específicos, com alta rentabilidade - é considerada, por exemplo, a maior fabricante mundial de toalhas de Natal.
          Em 3 de maio de 2010, sob a presidência de Alvin Rauh Neto, a Karsten fez sua primeira aquisição em seus então 128 anos de existência. Por R$ 28 milhões, adquiriu a Trussardi, fundada pelo casal de imigrantes italianos Matheus e Cristina Trussardi no final do século XIX. O negócio, estratégico para a Karsten, demorou quase um ano para ser fechado. Em 2012, foi inaugurada a primeira loja monomarca Trussardi, dando sequência ao projeto de expansão no varejo.
(Fonte: revista Exame - 12.02.2003 / OESP - 03.05.2010 - partes)

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